Sul – 11h04min 09/11/2629

– Não... Não, de novo não...

– Cancela...

– Tarde demais. – Ligia disse vendo o homem dentro da incubadora colapsando, tremendo como um epilético durante um ataque, sangue saindo de sua boca e subindo pelos canos da máscara, então a tela do computador com as leituras cardíacas zerando.

– Mais uma cobaia. – Vitor bufou.

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– O que tem de errado? – Ligia levou a mão nos olhos enxugando a lagrimas por baixo dos óculos. Se apoiou na mesa ao lado e desabou em lágrimas.

Vitor não respondeu, não tinha tempo para gastar com conversas, cada dia que passava era mais um dia perdido, era mais tempo gasto longe de quem amava, cada que passava era mais um dia que matava da vida dela.

– Vou refazer a sequência, do zero.

– Isso via demorar...

– Não vai! –Vitor berrou batendo as mãos na mesa, estava nervoso, cansado e triste com o fracasso. – É a única chance que temos. É o que faremos.

Vitor voltou para os cadernos e tela sensível ao toque, começou a desenhar e programar, escrever e detalhar, códigos genéticos inteiros, criados a partir da ponta de um lápis, informação, bits, tudo isso dentro de um robô, um minúsculo e invisível robô, milhões deles. Milhões e mais milhões de robôs deste tipo, juntos enchiam tubos de cinquenta mililitros, os tubos ligados a mangueiras que passavam para dentro das incubadoras onde na outra extremidade uma agulha estava inserida nas veias de cobaias.

Os dois trabalhavam arduamente, dia e noite para fazer dar certo, para conseguir com sucesso criar o soro perfeito, a arma perfeita.

Então a porta se abriu.

Ligia limpou os olhos ouvindo o som de espadas colidindo uma contra outra quando a porta se abriu, lá fora Crisfim e Celina treinavam, Takano estava fora em uma missão no Norte.

Ligia se virou tentando simular um sorriso, falhou terrivelmente nessa tarefa, assim como vinha falhando nas outras.

– O que é isso? – O homem, velho de pele manchada cabelos brancos faltando em tufos, corcunda e de um olho branco, disse. – Novamente?

– Não conseguimos controlar como o corpo vai reagir, cada DNA tem suas peculiaridades...

– O soro Eligio funcionou em dez pessoas! Porque não conseguem fazer este funcionar em uma? – Parecia nervoso, mas não estava, ele nunca ficava nervoso.

– Senhor, é mais complicado...

– Eu sei das complicações. – Ele bradou se virando. – Não terão outras cobaias, faça funcionar. E Faça Logo!

O homem, velho, saiu do laboratório, a porta se fechou atrás dele. Andou arrastando os pés até o jardim onde as espadas se chocavam em pleno ar, em pleno chão, um combate fascinante.

– Mestre! – Celina parou os golpes assim que viu o homem, velho, parar ali. – Está tudo bem? Deseja algo?

– Não. – Respondeu, em seu típico mal humor.

Celina compreendia que ele não possuía motivos para estar de bom humor.

Então os dois voltaram a treinar batendo as espadas, faiscando pelo jardim.

Sul – 03h17min 21/11/2629

Ligia olhou para a cobaia dentro de outra incubadora, não tremia, não vomitava sangue, os olhos não se abriam, os batimentos estavam estáveis... Ela levou as mãos na boca em uma onda de felicidade, soltou um grunhido involuntário

– O que foi agora? – Vitor Bom Aro disse olhando para trás então percebeu.

A felicidade tomou conta dele como não lembrava ser possível, uma onda de calor subiu pelo seu corpo, uma sensação de vitória, de conquista.

Enquanto ele e a mulher observavam, a cobaia dentro da incubadora, um homem velho nos setenta anos de idade para mais, rejuvenescia rapidamente, a pele perdia rugas, os cabelos ganhavam cores, outros caiam, o tom da pele ficava mais forte, os músculos cresciam, era lindo de se contemplar.

Ligia e Vitor Bom Aro eram cientistas, os responsáveis pelo Projeto Eligio há mais de duas décadas. Eles estavam mortos, pelos menos para o mundo. Mas Isaquias tinha poupado ambos, Ligia estava gravida, mas era uma mulher velha para suportar a gravides, quase morreu ao dar à luz a uma garotinha, se não fosse por Vitor, e pelo que ele criou, hoje Ligia estaria morta de verdade.

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Após o nascimento da criança Isaquias foi ver os cientistas, e se deparou com uma mulher desconhecida, um fantasma do passado, Ligia estava nova como se tivesse seus vinte e cinco anos novamente. E foi só então que percebeu o que eles tinham feito. Isaquias possuía acordos sujos, conhecia pessoas e fechava contratos, e foi assim que Vitor e Ligia acabaram parando ali, tendo que recriar o soro dos Eligios, do zero, praticamente. E não só isso, dessa vez teriam que mudar o soro, o mesmo que Vitor usou em sua esposa e depois em si mesmo, mas aquilo era diferente, o soro tinha sido montado para o DNA deles, usando o DNA misturado dos dois retirado da própria filha, o que aquele homem queria era quase impossível, e custou a vida de muitas cobaias, mas finalmente tinha dado certo, um soro que não só faz parte do Programa Eligio, como também rejuvenesce, revitaliza, melhora o homem.

Era isso o trabalho da vida deles, o trabalho que garantiria a vida da filha deles.

Ligia olhou para o marido então correu até ele e abriu os braços, os dois se abraçaram e se beijaram.

– Conseguimos. – Ela disse sem folego, parecia ter corrido uma maratona.

Vitor fez que sim com a cabeça, tinham conseguido sim.

Mas isso era só o começo do trabalho que tinham pela frente.