Cidade Arquivo – 17h41min 16/04/2631

Os Eligios se espremeram na passagem do esgoto saindo em um amplo salão subterrâneo onde o som de cascatas de água inundava o ambiente, o cheiro não era dos mais agradáveis, mas ali eles estavam seguros.

– Vocês sempre se encontram em lugares assim? – Angelina indagou, andando no chão molhado ouvindo os clacks, clacks dos seus passos e dos outros enquanto água suja escura e fétida respingava em seus saltos.

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Aquele não era o cenário que imaginou quando decidiu partir naquela aventura, também não usava as roupas que, agora, desejava usar para a situação.

– Finalmente reunidos. – Anur disse encarando Salazar como quem alcançou a vitória. – Você conseguiu Sal!

Salazar limitou-se a uma tosse de desconforto com o apelido, que não ouvia ser pronunciado há alguns anos. Angelina girou em círculos olhando ao redor. Então Alanor voltou, ele estava apressado.

– Vamos andando, não quero topar com o Wastron de novo. – Ele disse em um tom de aspereza, então viu a mulher.

– Essa... Quem é ela? – Perguntou parando, de repente sua pressa desapareceu, os olhos de viés para a moça e então para os Eligios mostrava preocupação e desconforto.

– Angelina Mason, repórter investigativa e redatora. – Ela se apresentou levantando a mão, Alanor a cumprimentou sem retribuir a gentileza da troca de nomes.

– Algum de vocês?

– Eu falei que era melhor se livrar dela. – Anur sorriu vendo que não era o único incomodado com Angelina entre eles.

Derik então tomou a frente, observou Alanor movendo os olhos para Angelina, então se virou e encarou por alguns segundos Salazar, que não parecia querer se envolver.

– Eu estou a mantendo como refém, ela possui uma promessa conosco.

Alanor pareceu disposto a ouvir, mas Anur não parecia disposto a deixar que Derik explicasse.

– Ele acha que ela vai escrever mil maravilhas sobre a gente quando tudo acabar, e que isso vai limpar nossa barra. – Anur disse, então olhou para Salazar. – Você sabe que isso não vai acontecer!

– Anur...

– Não começa! – Anur explodiu em uma fúria sem sentido. – Não vem com essa, vocês, um pior que o outro, quer levar ela... Uma, uma, mulher... Com a gente, você continua insistindo em ir atrás de um defunto...

– Ela não morreu. – Salazar retorquiu em um tom rouco de quem não quer falar muito sobre.

– Susan Está Morta! – Anur berrou, sua voz ecoou pelos tuneis do esgoto. Por um momento todos ficaram parados feito rocha.

Alanor e Derik trocaram olhares, Salazar abaixou a cabeça ficando vermelho, estava nervoso.

– É isso? Ninguém vai fazer nada? Falar nada? – Anur girou, encarando um por um e parando de frente para Alanor, Derik a esquerda, Angelina mais à esquerda e Salazar nas suas costas. – E você Alanor? Também vai ficar aceitar ordens do cara que deixa uma mulher normal entre pessoas como nós?

Alanor deu de ombros, ele era um soldado, um ótimo soldado, e soldados seguem ordens, no caso dos Eligios todos eles deveriam seguir as ordens de Salazar. Foi assim que eles foram criados, foi isso que lhes foi ordenado.

– Boa sorte caçando seus fantasmas. – Anur bradou girando para trás olhando Salazar. – E tomará que ela esteja viva. E que ela ainda prefira o Derik...

Foi a gota d’água.

Salazar deu um pulo como onça atacando presa, atravessou o pequeno corredor de água entre eles quase que voando, os braços esticados mirando o pescoço de Anur que se encolheu levantando os próprios braços... Tinha ido longe demais, percebeu.

Então as mãos de Salazar pararam de se aproximar, foi um único segundo, Derik agarrou os pés de Salazar e o jogou no chão, a força necessária para tal ação fez que ambos caíssem, Alanor puxou a jornalista para trás dele em um instinto de proteger os indefesos, o chão tremeu com a pancada de Derik e Salazar contra o concreto.

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Salazar rolou se levantando e Derik o puxou pela perna de novo, deslizou pelo chão se pondo na frente do amigo.

– Salazar! – Derik berrou e ele parou assim que se levantou e ia avançar novamente. – Chega.

Salazar fechou os olhos e em três segundos os abriu de novo, empurrou Derik para o lado ficou frente a frente com Anur, Salazar tinha consciência que seu rosto estava vermelho de fúria e ódio.

Anur tremia, todos podiam ver isso. Então Salazar agarrou-o pela camisa e jogou Anur para o outro lado, o lado pelo qual eles vieram.

– Você acha que o que estamos fazendo é tão errado? Que você está tão certo querendo matar inocentes e abandonar seus irmãos e irmãs... Então vai! Porque não precisamos de alguém como você entre nós.

Angelina saiu de trás de Alanor querendo ver o que Anur faria, percebeu que Salazar era extremamente mais forte que o tal Anur caso contrário o mesmo não teria tremido tanto com a simples possibilidade de uma luta entre eles.

– Não vão fazer nada? – Anur berrou, os olhos ardentes cheios de água, punhos cerrados querendo socar algo.

Alanor e Derik se olharam, ambos olharam Salazar.

– Fracos! – Anur berrou. – Vocês vão morrer, assim como os outros...

– Cala a boca Anur. – Derik respondeu percebendo que a coisa toda já passava do limite.

– Você disse que não ia obedecer ele. E agora Derik? Vai ser soldadinho de novo? E brincar de casinha com a jornalista? Acha que vai ter filhinhos e viver...

Desta vez foi Derik quem avançou, um único impulso e parou na frente de Anur, o susto fez que Anur tropeçasse e caísse no chão, mas com a raiva Anur chutou a perna de Derik que desviou, e puxou Anur para cima, os dois brigaram colados um ao outro por instantes até que Derik o rende-se.

– Me escuta bem porque eu só vou falar uma vez. – Derik segurava Anur de forma que este ficava paralisado, ambos de costas para os outros. – Se você falar mais uma vez da Susan ou da Angelina, eu mesmo vou te matar.

– Pede pro Salazar! – Anur retrucou. – Ele não é seu dono?

Derik riu na orelha de Anur.

– Você é só mais um que na próxima chance que tiver vai nos trair. E eu vou estar olhando tudo, pronto para terminar com o show, – Derik soltou Anur o empurrando, Anur cambaleou indo para frente, se virou e olhou eles mais uma vez. – vai.

Anur continuou parado por uns instantes arrumando as roupas bagunçadas.

Derik o encarou por alguns momentos então retornou até Salazar Alanor e Angelina. Olhou para Salazar pensando nas palavras de Anur, ele não estava seguindo Salazar, estava junto de Salazar, havia nisso uma diferença.

– Eu vou fazer isso sozinho, já que meus irmãos me abandonaram. – Anur disse por fim olhando para eles, para Salazar em especial. – Foi atrás de mim primeiro Sal, eu fui o primeiro, sempre...

– Não confunda distância com importância. – Salazar disse sem sentimento algum, mas seu coração estava pesado.

– Como disse antes, no final tudo vai se ajeitar, de um jeito ou de outro. Vocês vão ver!

E com isso Anur se virou e saiu andando, os três permaneceram em silêncio por um bom tempo até que Angelina voltasse a falar.

– Pensei que fossem mais unidos.

– Éramos. – Alanor disse indo a frente e entregando um papel a Salazar. – Peguei isso da estação, é nossa carta branca.

Salazar não desdobrou, apenas encarou Alanor.

– O que é isso?

– Uma lei. Esquecida.

Salazar desdobrou então, leu e passou para Derik, Derik leu e passou para Angelina, Alanor esticou o braço e retirou o papel da mão dela antes mesmo que ela pudesse ler o título.

– Se mostrarmos isso para os mestres... – Alanor começou.

– Não acho que mudaria muito. – Salazar o interrompeu.

– Eles têm que seguir as leis que criaram. – Derik respondeu.

– Mesmo que assim seja, seria um consolo inútil, um remédio sem efeito. – Salazar se explicou.

– Não é só isso. – Alanor apontou para cima, para as ruas sob a cabeça deles. – Somos caçados dia e noite, com isso poderíamos ao menos ter paz, e seria muito mais fácil encontrar Centinel sem Wastron atrás de nós dia e noite.

Angelina puxou Derik pelo braço com delicadeza.

– O que é isso afinal?

– Isso? – Salazar disse apontando o papel nas mãos de Alanor. – É o que nos faz heróis, uma vez mais