Parece meio precipitado confiar em dois desconhecidos, mas, depois que encontramos Enzo, percebemos que alguém que nos salva é alguém que deve ser ouvido.

— Então, ainda falta muito? — perguntou Juan enquanto dobrava mais uma esquina.

— Não. É aquela casa vermelha ali — apontou Rylie do banco de trás onde, ela, seu irmão, Enzo e eu estávamos espremidos.

Quando Juan estacionou o carro, Nick bateu na porta e um menino, que parecia ter a nossa idade, em uma cadeira de rodas abriu-a.

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— Quem são eles, Nick? — o menino parecia nos escanear com os olhos.

— Não se preocupe, eles são como a gente. Vamos, entrem. — Nick fez sinal para que nós o acompanhássemos.

— Eu pensei que seu esconderijo fosse mais... Escondido. — disse Mari.

— Essa casa era do meu pai. Estamos usando como base desde que ele morreu. — o menino na cadeira de rodas falou.

— Seu pai? Então você não acordou em um beco sem memória como nós? — perguntei.

— Sim, acordei. Ele não era bem meu pai, só fiz que ele pensasse que fosse. Aprendi rapidamente como funciona meu poder e o usei para conseguir ajuda já que eu estava... Debilitado. Quando ele me conseguiu essa cadeira de rodas eu pensei em ir embora dessa casa, mas... — o menino baixou a cabeça e ficou com um olhar meio triste. — Foi tarde demais para aquele senhor que me ajudou. Ele foi morto enquanto os seguranças tentavam me capturar. Se não fosse por Alicia nem sei o que teria acontecido.

— Quem é Alicia? — Mari perguntou.

— Sou eu — disse uma menina loira de cabelos curtos que acabara de entrar. — Pablo, temos que conversar agora.

O menino na cadeira de rodas virou-se para ela e depois disse:

— Nick e Rylie poderiam mostrar os quartos para nossos novos... — ele parecia avaliar as palavras. Não éramos amigos, mas acho que, como eu, ele percebeu que não éramos completos desconhecidos. — Convidados.

Seguimos os gêmeos pela casa, deixando Pablo e Alicia a sós na sala. A casa era normal, não parecia mesmo um QG de adolescentes superpoderosos e sim um lar de uma família de classe média.

— Bem, o quarto das meninas é aqui! Nick vai mostra-los onde podem passar a noite. — a menina indicou uma porta para Mari entrar.

— O quê? Eu não vou deixar a Mari sozinha. — Juan parecia um pouco exaltado, mas eu também pensava o mesmo.

— Desculpe, mas não permitimos “festinhas” aqui. — Rylie fez aspas com os dedos.

— Mas, eu não... Eh... — Juan corou.

— Deixa Juan. Eu vou ficar bem! — disse Mari entrando no quarto. — Até amanhã.

— Vamos! Ouviram ela. Não há motivos para se preocuparem, estão seguros aqui. — Nick nos mostrava o caminho que levava ao nosso quarto.

Entramos em um quarto no final do corredor. Havia três beliches. Eles já esperavam encontrar a gente?

— Na carta L dizia que tinham outros como nós, então Pablo se preveniu. — Nick falou, como se deduzisse o que eu estava pensando. — Fiquem à vontade. Tem um banheiro ali e no frigobar tem alguns petiscos. Boa noite.

Ele saiu e fechou a porta.

— Não sei vocês, mas eu me sinto de férias! — Enzo tirou os sapatos e se estirou em uma das camas de cima.

— Eu me sinto enclausurado, mesmo que não tenham trancado a porta. — respondeu Juan sentando em outra cama. — Será que a Mari vai ficar bem? E se for uma armadilha? Ela não pode ficar sozinha...

— Ei cara, você viu ela em ação. Ela sabe muito bem se virar sozinha. Você precisa esfriar a cabeça. — disse.

— Certo. Preciso mesmo de um banho. — Juan foi para o banheiro.

— Não use toda a água quente! — gritou Enzo.

Deitei-me. Estava muito cansado. A viajem foi longa, mas tenho certeza que aquilo que fiz no Lago Black foi o que gastou todas as minhas energias. Mari conseguiu inundar a mente de um dos seguranças com lembranças do passado, isso parecia de acordo com o poder dela, mas como foi que eu fiz aquilo? Em um segundo estava na mira de uma arma, no segundo seguinte estava atrás do segurança. Eu não posso ter simplesmente me teletransportado. Ou posso?

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Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.

— Eu abro! — Enzo pulou da cama e foi em direção à porta. — Ah, eu adoraria gata, mas você ouviu a enjoada, sem “festinhas”. Se ela ver você aqui...

— Não vi nem sinal deles por aqui. — Mari afastou Enzo da porta e entrou. — Julian, estou meio preocupada. Não confio neles. — ela falou se sentando ao meu lado na cama.

— Eu sei. Mas só podemos esperar para ver onde isso vai dar. — tinha que tentar confortar ela, mas não sabia como.

— Mas... e se precisarmos confrontá-los? Você acha que seremos capazes de vencer?

— Bem, seu poder é de curto alcance, mas não acho que eles vão deixar você encostar neles já que viram o que você fez com aquele cara no lago. O Enzo pode tentar manipulá-los, mas só funciona com um de cada vez. Quando a mim, não sei se posso fazer aquilo de novo, nem sei direito como fiz daquela vez. E ainda temos que nos preocupar com o Juan já que ele não tem poderes.

— Tenho certeza que se eu me esforçar bastante eu posso nocautear uns dois, quem sabe três. — disse Enzo.

— E correr o risco de desmaiar no meio do combate? Nem pensar! Nem sabemos direito o que eles podem fazer. Sem contar que aquele menino, o Nick, parece ter o poder de se multiplicar e isso já lhes dá vantagem numérica. — interrompi. Sei que ele estava apenas tentando ajudar, pois estava tão nervoso quanto a gente. Mesmo com um sorriso no rosto ele não parava de girar um anel entre seus dedos.

— Eu ouvi uma batida na porta. Quem era? — Juan saia do banheiro só de toalha.

— Juan! — gritei.

— Mari?! — quando ele viu Mari ficou vermelho e correu de volta para o banheiro.

— Quanta falta de originalidade! — Enzo rolou os olhos. — Cara, não tente pegar carona no meu sucesso.

— Espera, o que? — falei.

Enzo deu de ombros.

— Mari, acho melhor você voltar para o seu quarto. Não queremos causar confusões desnecessárias. — acompanhei Mari até a porta, depois voltei para a cama.

— Juan, sinceramente, até você? — disse.

— Ei eu não sabia que ela estava ai. — Juan falava de dentro do banheiro. — Não é como se eu estivesse tentando manipular os sentimentos dela.

— Espera aí! Aquilo foi apenas meu charme natural. — reclamou Enzo.

— Aham, sei. — respondeu Juan.

— Pelo menos eu não preciso ficar imitando ninguém. I am a sexy machine! Aceite isso! — não sei quem o Enzo estava querendo enganar com aquela dancinha ridícula.

— Já chega! De agora em diante o próximo que se meter com a minha irmã vai se ver comigo! — não sei se deveria ter contado isso, mas aqueles dois já estavam me enchendo.

— A Mari é sua irmã? — os dois gritaram surpresos.

— É sim! Agora assunto encerrado. Boa noite! — virei na cama e coloquei o travesseiro nos meus ouvidos.

Os dois continuaram falando alguma coisa, mas em pouco tempo já estava dormindo profundamente.

***

Nós fomos os últimos a chegar na sala de jantar. Uma mesa estava repleta de comida e encontramos Pablo, Alicia, Rylie e Mari, já que Nick tinha ido nos acordar.

— Isso é o que eu chamo de café da manhã. — Enzo se sentou e já foi preparando um sanduíche.

— Você dormiu bem? — perguntei à Mari, sentando-me ao seu lado.

— Sim. E você. Parecia bem preocupado ontem. — ela disse.

Acenei com a cabeça. Todos estavam comendo quando Alicia puxou conversa.

— Se vocês são iguais a nós, quais são os seus poderes?

Parei minha xícara na mesa e Mari repetiu meu gesto. Juan fez que não com a cabeça sutilmente. Não devíamos simplesmente nos expor. Não conhecíamos nada deles.

— Por que não nos conta o seu primeiro? — Enzo falou quando terminou de engolir um pedaço do sanduíche.

Com um rápido movimento, Pablo fincou a faca do queijo perto de onde minha mão estava.

— A gente salva vocês, lhes acolhe em nossa casa e ainda lhes damos comida, mesmo assim ainda desconfiam de nós.

— Não, é claro que confiamos em completos desconhecidos que tentam arrancar mãos com facas de queijo. — ironizei. — O caso é que não vamos revelar nada antes de conhecermos vocês melhor.

— Aqueles seguranças estão atrás de todos nós. Vocês já viram nosso esconderijo. Temos que nos ajudar mutualmente, pois a gente não vai deixar simplesmente vocês irem e correr o risco de nos exporem. Gostaríamos que colaborassem, não queremos ter que machuca-los para isso. — Nick falou entre um gole e outro de café.

— A gente não vai se tornar prisioneiros. Se for preciso a gente vai lutar pela nossa liberdade. — Mari bate na mesa com força.

— Isso seria muito divertido. — Rylie riu.

— Não percam seu tempo. Vocês não nos derrotariam. — Alicia, assim como seus companheiros, parecia muito calma e confiante. Em contrapartida, nosso nervosismo era visível.

— Como podem ter tanta certeza assim. Vocês não nos conhecem direito. Não há como saber de nossas verdadeiras habilidades em combate. — para um cara sem poderes, Juan parecia o mais calmo entre nós.

— É ai que se engana. Um combate pode ser decidido antes mesmo de uma luta. Primeiro passo. — Pablo falava calmamente enquanto terminava seu café da manhã. — Informação. Vocês mesmos nos contaram suas habilidades.

Todos nós ficamos surpresos. Deveria ser um blefe. Não contamos nada para eles a menos que Mari tenha contado. Olhei para ela, mas ela estava tão surpresa quanto nós.

— E devo acrescentar que você tem um corpão, Juan. — Rylie interrompeu.

— Você! Como eu pude me esquecer disso? — disse Juan. — Ela pode se transformar em outras pessoas, como fez no lago. Não era a Mari ontem. Era você!

Ela piscou para ele.

— Então você não foi ao meu quarto ontem, Julian? — perguntou Mari.

— Não. Pensamos que você tinha ido ao nosso. — respondi.

— Segundo passo, Impedir fuga ou reforços. — continuou Pablo. — Tivemos a precaução de bloquear todas as saídas.

Olhei para uma janela que tinha na sala de jantar e vi dois clones do Nick jogando cartas. Tinha outro clone em uma poltrona perto da porta e outro na frente do corredor que dava acesso ao resto da casa.

— Terceiro passo, aniquilar os inimigos antes que eles tenham chance de revidar. — Pablo pousou a xícara na mesa. — Mas acho que não precisamos chegar a tanto não acham? Afinal, Alicia tem uma mira impecável e suas rajadas de fogo podem lhes atingir em questão de milésimos de segundos.

A mão de Alicia estava em chamas, assim como o seu olhar. Não tínhamos para onde correr. Eles conheciam nossos poderes. Quem sabe se tivéssemos mais tempo... Talvez eu conseguisse bolar algo que nos tirasse daqui.

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— Antes que descubram isso por si só, quero dizer ao seu amigo manipulador que não tente nada com a Alicia, pois no momento que se concentrar nela eu também terei que usar meu poder. Você não será capaz de cuidar de nós dois ao mesmo tempo sem desmaiar. E vocês não querem mais um peso morto na equipe não é? — Pablo olhou para Juan.

Ele estava certo, se ficássemos só eu e Mari não iríamos poder proteger o Juan e o Enzo inconsciente de um exército de clones. Posso estar pegando um pouco pesado como Juan, mas tenho certeza de que ele percebeu que não era páreo para eles sem ter poderes.

— Eu posso usar isso! — Juan pegou a faca do queijo que ainda estava presa perto de minha mão. — Garanto que minha mira também é boa. E se eu cuidar de você Enzo fica livre para manipular sua amiga.

Ninguém falou nada. Juan mirou, como um atirador de facas de um circo, na cabeça de Pablo, que tranquilamente bebia seu café. Nenhum deles parecia se importar com a ameaça de Juan. Será que estavam preparados para isso também? O momento de tensão parecia durar uma eternidade. Era possível ouvir as batidas dos corações de cada um naquela mesa. As deles normais, as nossas aceleradas e quase descompassadas.

— Não. — Mari pegou a faca da mão de Juan. — Eles estão certos. Devemos nos unir e não ficar nos ameaçando de morte. Assim como todos aqui, eu quero descobrir o que está acontecendo. Teremos lutas mais importantes para nos preocuparmos no futuro. E quando esse dia chegar eu quero ter aliados ao meu lado.

Ela estendeu a mão, oferecendo a faca a Pablo que a recebeu demorando um pouco a tirar ela das mãos de Mari. Rylie se assustou e eu percebi o motivo, mas nenhum de nós falou nada.

— Estamos entendidos. — falou Pablo. — Sigam-me, temos um assunto importante para resolver.

Levantei-me repentinamente.

— Espera! Se você conhecia nossos poderes porque aceitou pegar a faca da mão de Mari? Se ela te tocasse, teria nocauteado você. Você poderia ter acabado com seu plano tão elaborado. — disse.

— Pablo parece inteligente, mas às vezes acho que ele é como o meu irmão. Um idiota. — Rylie se levantou.

— Ei, não é idiotice confiar nas pessoas. — Nick a seguiu.

— Bem, acho que Nick falou por nós dois. — Pablo deu um leve sorriso. — Agora se não tem mais perguntas... Temos que descobrir qual deve ser o nosso próximo passo.

***

No cômodo que estávamos tinha duas estantes repletas de livros e uma escrivaninha no meio. Sobre a escrivaninha tinham quatro papéis que logo reconheci. Eram cartas do L. Entretanto elas tinham alguns trechos sublinhados.

— As cartas devem ser algum tipo de pista. Essa é minha carta. — Alicia pegou um dos papéis sobre a escrivaninha e leu:

Querida Alicia,

Queria que você se lembrasse de quem é você. Saiba que você é uma boa garota, nunca deixe que pensem o contrário de você. Saiba também que só fiz o que fiz por amor, acho que foi uma loucura da minha parte, mas não me arrependo do que fiz. Apesar de não saber de nada, saiba que você é especial. Não há nada na natureza capaz de pará-la. Seu corpo se adapta e controla os elementos naturais.

Algum dia, quando nos encontrarmos, poderei explicar sobre quem você é e do que é capaz, mas enquanto isso sobreviva, não faça nada que chame a atenção. Eles podem estar procurando você, não tente lutar contra eles e nem saber quem são.

Uma coisa que deverá saber é que existem outros aí com você, melhor não procurar por eles. Só um conselho de um velho amigo. Prometi a mim mesmo que manteria vocês em segurança, por isso enviei um amigo pra ajudá-los e acredito que ele não seja tão agradável assim. Você poderá encontrá-lo em sua casa em frente à Praça do Memorial Richard Flind. Ele dará uma identidade nova a vocês. A única coisa que você precisa saber é que ainda existe um lar e estaremos te esperando. Alicia, deve estar se perguntando como pode ter sessenta e quatro e aparentar dezenove anos, mais um segredo que deverá ser mantido.

Alicia, o mundo hoje em dia é difícil, mas acredite, ele já foi pior. Tente sobreviver e juro que lhe contarei quem é. Agora tenho que ir. O tempo a mim não é permitido, por isso tenho que me despedir. Então até mais.

— L

— Alicia foi ontem até a casa perto do memorial, mas não tinha ninguém lá. — disse Pablo.

— Esquece. Nós já fomos lá e aquele cara não foi de nenhuma ajuda. — falei. Lembrei da cena que vi quando ele me tocou enquanto saíamos, mas não quis comentar.

— Bem, quando vi a carta do Pablo pensei se tratar de duas cartas totalmente diferentes. — Alicia continuou. — Mas quando nós vimos as cartas de Nick e Rylie, Pablo notou que havia padrões nas cartas.

— Todas as cartas são basicamente iguais, exceto a segunda frase... — Pablo mostrava as frases marcadas em cada carta. — A descrição dos poderes, o nome e idade e essa parte.

Ele mostrou que em três das quatros cartas uma frase havia sido totalmente circulada.

— Parece que cada uma tem uma frase que está fora do padrão. O perigo se encontra sobre a terra; A esperança se encontra sob a terra; A única coisa que você precisam saber é que ainda existe um lar e estaremos te esperando. — Pablo leu umas frases sublinhadas.

— Eu percebi isso. — falei. — A minha carta é parecida com a da Mari, mas a do Enzo era a única que vinha falando sobre o Lago Black.

Enzo pegou a carta amassada de seu bolso e entregou a Pablo, que fez as mesmas marcações na carta dele. Eu e a Mari entregamos nossas cartas também.

Pablo separou as cartas em dois blocos: as que tinham uma frase especial e as que eram iguais, no caso a de Mari, a dele e a minha.

— E o que significa Deixei também algo que talvez possa ajudá-lo no Lago Black? — perguntou Enzo.

— Talvez esteja na ordem errada. Talvez seja uma mensagem secreta. — Juan tentou mudar a ordem e reler as frases para ver se encontrava sentido.

— Acho que não devemos usar o sentido literal de algumas frases. — Pablo mudou novamente a ordem das cartas. — A da Rylie deve estar falando que na superfície é perigoso, por causa dos caras que nos perseguem. A do Nick é sobre procurar algo no subsolo. A da Alicia fala que tem um lugar onde podemos estar seguros e a do Enzo é uma ajuda no Lago Black.

— Devia ser para encontrar vocês já que vocês já estavam lá quando chegamos. — disse Enzo quando Pablo falou sobre sua carta.

— Ah, sobre aquilo... Só queria assustar meu irmão com as histórias de fantasma que contam sobre aquele lugar. — Rylie fez uma voz assustadora e gesticulou com as mãos. — As águas do lago se tornaram negras com o sangue dos que morreram às margens dele. Dizem que as pessoas acabam sendo atraídas para dentro do lago e se afogando por causa do cheiro de morte que impregna aquela região...

— Nós só nos encontramos por coincidência. E não, você não me assustou com isso, Rylie. — Nick cruzou os braços.

— Então a mensagem deve ser: Vão ao Lago Black, mas cuidado com os seguranças. Procurem alguma coisa no subsolo e vocês vão encontrar um lugar para ficarem em segurança. Mas dúvida é: o que estamos procurando? Não podemos simplesmente escavar toda aquela região e esperar dar de cara com alguma coisa. — Alicia falou.

— Essas cartas devem dar mais alguma pista, me deixa ver. — Mari recolheu as outras três cartas da escrivaninha.

Ela pareceu tonta ao tocar nas cartas. Se Juan não tivesse a segurado, ela caído.

— O que foi Mari? Você não parece bem. — Juan a abanava com uma das mãos.

— Essas cartas... — Mari falou ofegante. — De alguma forma, essas cartas ativaram o meu poder. Eu vi alguém escrevendo nelas. Não sei quem estava escrevendo, mas consegui ver tudo o que ele estava escrevendo. E depois ele apaga tudo.

— Você poderia escrever nelas o que você viu? — perguntou Pablo.

— Acho que sim. — ela respondeu.

Mari pegou as três cartas e as colocou na escrivaninha e começou a escrever e desenhar no verso delas. Era alguns desenhos que pareciam um mapa na primeira e na segunda carta. Na terceira era uma série de instruções.

— Temos que ir ao Lago Black. — anunciou Pablo.

— Sinto muito, mas não dá para levar todo mundo no meu carro. — disse Juan.

— E você acha que eu fui ontem até o Memorial de Richard Flind a pé? — Alicia pegou as chaves de carro de seu bolso.

— Eu dirijo! — Rylie pegou as chaves da mão de Alícia e saiu correndo para a porta.

— Ah, eu vou com vocês. — perguntou Pablo.

— Ainda acha que nós vamos fugir? — perguntei de volta.

— Não, mas vocês nunca viram minha a Rylie dirigindo. Além disso, acho que vocês querem me fazer algumas perguntas.

— Está bem. — Mari disse.

***

— Vocês já sabem nossos poderes, certo? Nada mais justo que nós sabermos os de vocês também. — comecei a falar assim que perdemos o carro, que Rylie dirigia, de vista.

— Alicia pode controlar os elementos naturais. Fogo, ar, água, terra... Ela também não se afoga nem se queima. — Pablo estava sentado no banco da frente. Quando perguntamos se ele queria ajuda para entrar ele negou. Ele sentou sozinho e, com um apertar de botão, a cadeira se compactou em uma coisa um pouco maior que uma maleta.

— Nick consegue fazer quantos clones ele quiser de si próprio. — ele continuou. — Rylie pode se transformar completamente em outra pessoa, imitando não só a aparência, mas também a voz.

— E você é superinteligente. — interrompi. — Ou pode ler mentes.

— Não. Leio possibilidades. Tenho uma, digamos, super memória fotográfica. Uso todo o meu conhecimento e raciocínio para elaborar planos do que possa acontecer. — ele fez uma pequena pausa antes do continuar. — Também posso manipular as lembranças das pessoas.

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Todos nós olhamos para ele. Manipular lembranças...

— Não, não fui eu quem roubou suas memórias. — ele falou antes que pudesse falar algo. — Se fui eu mesmo, não lembro. Tiraram minha memória também.

Ele parecia estar sendo sincero.

— Você sempre foi... — Mari tentou falou.

— Paraplégico? — Pablo interrompeu. — Não sei. Foi um susto enorme acordar em um beco escuro, sem lembranças e sem puder mover as pernas. Mas como eu disse, manipulei um homem para cuidar de mim.

— Eu sinto muito. — disse Mari.

— Por que? Não foi você quem me fez isso. Além do mais, não foi de todo ruim. O homem foi muito legal comigo. E se não fosse por isso não teria encontrado os outros.

— E como você encontrou os outros? — perguntei.

— Bem, a Alicia me salvou quando os seguranças mataram meu pai. — mesmo sabendo que não era seu pai de verdade, Pablo ainda se referia aquele homem assim. — Nick e Rylie praticamente esbarraram em nós quando fugiam dos mesmos caras.

— Estranho. — Enzo apoiou o queixo pensando. — Já notaram que sempre tem alguém por perto quando um de nós está em perigo? É como se soubéssemos que precisamos uns dos outros.

— Enzo tem razão. Quando encontramos ele estávamos fugindo desses caras também. E quando a Mari esbarrou em você, Julian, ambos estavam desesperados por respostas. — Juan falava olhando vez ou outra pelo retrovisor.

Esse papo sobre o termos uma atração mútua pareceu surpreender todos, pois ficamos o resto do percurso calados.

Chegando ao Lago Black encontramos um carro estacionado perto demais da margem. Nick parecia reclamar com a irmã sobre seu péssimo senso de estacionamento. Alicia olhava os arredores segurando as duas cartas que formavam o mapa.

— Segundo esse mapa aqui, o que queremos está lá. — Alicia apontou para um casebre no outro lado da margem.

— Por favor me diga que você não está apontando para a casa dos suicidas? — Nick pareceu se lembrar da história que sua irmão contou, só que ele parecia bem mais assustado do que antes.

Seguimos até o casebre. Não sabemos o que o L queria que encontrássemos. Só espero que seja de mais ajuda do que aquele seu “amigo”. Nick ficou um pouco mais para trás.

— Vamos lá, maninho. Não deixarei nenhum demônio das profundezas arrancar sua alma e leva-la à perdição eterna. —Rylie riu e acenou para o irmão a acompanhar