Progênie Maldita

O acordo de Adam


Adam Campbell nunca tivera uma vida fácil. Nascera um aborto numa família de bruxos que nunca conhecera. Eles o abandonaram num orfanato Trouxa; certamente envergonhados por aquele que trouxera desgraça, ao que deviam considerar sua preciosa linhagem. Adam nunca soube a qual família bruxa pertencera. No breve contato que tivera com aquele mundo, não lhe fora fornecida qualquer informação sobre sua ascendência. Os responsáveis pelo Ministério da Magia apenas o deixaram num outro orfanato, tomando o cuidado de mantê-lo sob certa vigilância. Apesar disso, ele cresceu mesmo foi nas ruas, vivendo do que poderia conseguir no dia-a-dia, exposto a uma série de riscos, passando por situações difíceis. Ainda assim, se a vida lhe pregara uma peça, por outro lado, também lhe deu algumas compensações. A melhor de todas foram os seus instintos, e todos eles lhe diziam que era possível lidar com os dois bruxos diante dele.

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— Por que devo acreditar na suposta bondade dos senhores? – ele perguntou para o bruxo que alegava ser ele, e seu parceiro, a sua única esperança de sobrevivência.

— Quem falou em bondade aqui, rapaz? – o bruxo, que Adam notou, tinha uma grande cicatriz na parte direita do rosto, fez questão de responder – nós temos um interesse aqui, e você pode nos ser muito útil para que este interesse seja atendido.

— Há outra questão também, é claro – o outro bruxo interveio – o bruxo para quem você e seus associados estão trabalhando é alguém muito perigoso, uma pessoa realmente sádica. Eu e meu amigo aqui, por outro lado, somos pessoas muito mais razoáveis.

— E como eu poderia confiar nessa sua afirmação? – Adam olhou fundo nos olhos verdes do homem ao perguntar. Ele sorriu para o jovem aborto, havia algo de confiável naquele sorriso, mas isso não foi suficiente para tranqüilizar Adam, principalmente quando ambos os bruxos trocaram olhares um para o outro.

— Eu diria que você já formou uma opinião a nosso respeito rapaz – o bruxo que tinha a cicatriz no rosto fez questão de olhar nos olhos de Adam enquanto falava.

— Por que você acha isso? – Adam notou uma inquietante certeza na maneira como o bruxo falou, como se soubesse algo que lhe era desconhecido.

— Não importa o porquê – disse o bruxo com a cicatriz – o que importa é que você irá ajudar a manter algo que me é muito precioso.

— Do que está falando?

— Estou falando de um objeto que me pertence – o bruxo com a cicatriz respondeu para Adam – algo que eu soube, estão tentando roubar de mim a pouco mais de 2 anos.

— E o que eu ganho com isso?

— Você ganha algo igualmente precioso – agora é o bruxo com o sorriso confiável quem responde – nos ajudando nós garantiremos que você e seus amigos saiam vivos de tudo isso.

— Seus amigos lá fora contam com você, rapaz – o bruxo com a cicatriz no rosto olha por uma pequena fresta na porta, visualizando os companheiros de Adam – principalmente aquela linda jovem por quem você tem fortes sentimentos.

BAIRRO NOBRE NA LONDRES TROUXA – TEMPO ATUAL

— Ainda deve ter gente lá dentro, Adam – Ivy falava bem baixo, praticamente sussurrando, o nervosismo bem presente no tom de voz – eu ainda acho muito arriscado entrar nesse lugar se ainda tem gente nele.

— Você conhece a rotina dessa gente, Ivy – Adam respondeu – alguns costumam virar a noite em discussões idiotas sobre o que eles acham ser ocultismo, bruxaria e sobrenatural.

— Nós nunca fizemos as coisas desse jeito antes – Albert interveio – sempre invadimos os lugares quando estavam sem ninguém. Sem falar que nunca invadimos esse lugar antes. Por que mudar tudo agora?

— A dica que eu recebi é muito boa; como todas as outras anteriores – Adam respondeu – é nesse lugar que encontraremos o que precisamos. Não vamos recuar agora que chegamos até aqui.

— Eu não estou falando em recuar, mas podemos esperar até todo mundo ir embora – Albert pondera – pela nossa experiência, do tempo que trabalhamos aqui, não é sempre que fica gente virando a noite. Às vezes o costume é ficar até por volta da meia-noite, antes de irem embora.

— Tudo bem então, nós esperamos todos irem embora e os criados do lugar se recolher aos seus quartos – Tom percebe o imenso alívio que todos ali sentem, diante da resposta de Adam – assim que o local estiver sem ninguém nós entramos.

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BAIRRO NA ÁREA PORTUÁRIA – LONDRES TROUXA – HORAS ANTES

— O que querem de mim? – Adam perguntou, sem se preocupar em definir para qual dos dois bruxos era dirigida a indagação. É o bruxo de sorriso confiável quem responde.

— O bruxo que realmente contratou os serviços do seu grupo está atrás de algo que não pode de forma alguma cair nas mãos dele.

— Queremos que nos ajude a impedir isso – o bruxo com a cicatriz complementou – e também queremos que nos ajude a pegá-lo.

— Como eu poderia fazer isso?

— Nesses quase dois anos, você e seu grupo tem invadido residências de Trouxas atrás de objetos, principalmente manuscritos de origem bruxa – o bruxo com a cicatriz disse – você tem alguma idéia do objetivo por trás disso?

— Me parece óbvio que esse bruxo, seja quem for, está procurando uma informação – Adam respondeu, fazendo com que o bruxo do sorriso confiável o alargasse ainda mais ao ouvir aquilo.

— Muito bem meu caro.

— É ele percebeu tudo. Vai dar 10 pontos a ele por isso? – o bruxo com a cicatriz interrompeu – preste bem a atenção, rapaz. A sua vida, da sua namoradinha, bem como de seus outros amigos dependem disso.

BAIRRO NOBRE NA LONDRES TROUXA – TEMPO ATUAL

Já passara muito da meia-noite quando eles viram o último carro sair da propriedade. Era uma noite sem estrelas quando o grupo comandado por Adam Campbell saiu do carro, caminhando juntos até o murro da propriedade. Jovens e ágeis, não tiveram qualquer dificuldade em pular até o outro lado, se vendo numa extensa área arborizada, com pomares e jardins bem cuidados. A mansão ficava a pouco mais de 50 metros de onde estavam, mas se mantiveram em silêncio até estarem convictos de que não havia vigilância externa. Seguiram com rapidez até aos fundos. O barulho do canil, no outro lado da propriedade, ganhou um aspecto perturbador, como se os animais pressentissem algo estranho. Tom percebia o nervosismo geral, principalmente de Albert e Sam. Adam se mantinha com uma frieza absoluta e Ivy tinha nisso o seu porto seguro. Tom estava nervoso, mas procurava demonstrar o mesmo sangue-frio de Adam.

— Isso está muito estranho – disse Albert, o som de sua voz denunciando um medo bem palpável – o que significam esses latidos? E por que ninguém apareceu para verificar?

— Todos já foram embora e os criados que ficam aqui devem estar dormindo, depois de um dia inteiro servindo esse bando de esnobes – Adam respondeu - vá em frente Sam – o outro rapaz hesita brevemente, mas o olhar de Adam se mantém firme e ele acaba utilizando suas habilidades para abrir a porta.

A porta produz um leve rangido enquanto abre. Os 5 jovens decidem entrar, apesar no nervosismo entre eles, se dando conta de que estão na cozinha. Adam acende uma lanterna, iluminando um ambiente amplo e bem decorado. Eles seguem em fila, Tom é o último, irritado por ser colocado nessa posição. Eles seguem por um corredor até chegar a um amplo salão de reuniões. Tom nota o reconhecimento no rosto deles, em todos refletido um desagrado. As lembranças do local, certamente não são muito boas. É Adam quem interrompe o breve momento de recordações.

— Todo mundo prestando atenção – ele fala sussurrando, e todos precisam chegar perto para ouvir – com a exceção do moleque Ridlle, todos aqui sabem que no andar de baixo só tem esse salão, a cozinha e os quartos dos criados que ficam no lugar.

— Do que me lembro desse lugar, são quatro os cômodos lá de cima onde pode estar o que procuramos – Ivy sussurrou também.

— Vamos nos separar para diminuir o tempo de procura – Adam apontou primeiro para Tom e Ivy – vocês dois vão para cômodo que fica na ala leste. Sam e Albert procuram no cômodo da ala oeste. Eu procuro na ala norte. Se não encontrarmos nada, vamos todos para o cômodo da ala sul.

Eles subiram juntos por uma escadaria ricamente decorada. A subida foi ligeiramente demorada, devido ao esforço de não fazer barulho. A última coisa que queriam era chamar a atenção dos que estavam dormindo nos quartos dos criados. Os três grupos em que se dividiram se separaram no andar de cima. Com gestos silenciosos, Adam orientou seu grupo para seguir os caminhos indicados. Ele e Ivy deram um último olhar para o outro, com ela com indo Tom pelo corredor que levava a ala leste. Albert e Sam também seguiram pelo seu caminho, com Adam fazendo o mesmo.

O pensamento de Tom Ridlle Jr. vagava. Ainda faltavam algumas semanas para ele voltar à Hogwarts, pensando nisso enquanto se esgueirava por um corredor iluminado apenas por velas. Era uma dessas raras noites quentes de verão na Londres trouxa, enquanto a lembrança da primeira vez que fez isso surgia em sua mente. Ele ainda tinha 12 anos, e já se envolvera em situações que preferia ter evitado, correndo riscos desnecessários, tomando decisões impulsivas. Até conhecer Ivy, nunca fizera isso antes. Impossível para ele, mesmo naquele momento, deixar de imaginar o porquê de tudo isso.

Esgueirar-se por aquele corredor, roubar algo que nem sabia o que era, nada disso o entusiasmava. Não era por medo, menos ainda por alguma ridícula prevenção moral em roubar. O que ele não gostava era do papel secundário que estava desempenhando, de receber ordens. A adrenalina que sentia naquele momento não compensava a frustração de ainda não poder usar magia, uma frustração que só aumentava ao sentir sua varinha no bolso longo de sua calça. Sentia-se fraco por não poder fazê-lo, e ele odiava sentir-se fraco. O jovem bruxo sabia que não tinha escolha quanto a isso. Aos 12 anos, ele já tinha seus planos, e não poderia se dar ao luxo de colocá-los em risco chamando a atenção do Ministério da Magia, além, é claro, de Dumbledore. Tudo o que lhe restava fazer era contar com o aprendizado que teve desde que conhecera o jovem que liderava o grupo.

Adam Campbell era apenas 4 anos mais velho que o jovem aluno da Sonserina, mas Tom via nele todas as promessas da adolescência que esperava para si próprio. O controle que tinha dos jovens presentes no grupo era total. Por mais que não gostasse de admitir, o próprio Tom não era totalmente imune ao poder que dele exalava com grande naturalidade. Em verdade, o jovem bruxo via tudo como um aprendizado, um que ele já se via pondo em prática na escola. Mesmo em seu primeiro ano, já fizeram alguns contatos, alunos que ficaram impressionados com as incríveis habilidades mágicas que demonstrara, desde as primeiras aulas. Ele, Ivy, Sam e Albert estavam igualmente hesitantes sobre entrar no casarão esta noite, mas aqui estão todos, seguindo a determinação de Adam. Enquanto caminhava no corredor mal iluminado, Tom se dá conta que quer isso para si, ansiando pelo dia em que exerceria tal poder sobre outras pessoas também.

As poucas semanas desde o seu retorno ao orfanato, mostraram para Tom o controle que Adam tinha sobre os garotos de lá. Havia, é claro, a promessa de ganhos fáceis, uma grande tentação para jovens sem maiores perspectivas na vida. Mas Tom sabia que não era o único motivo. Havia também o medo que ele incutia nos jovens, tudo a partir de pequenos exemplos de bem aplicadas crueldades sobre os que se atreviam a opor resistência. O próprio Tom pôde experimentar um pouco disso na própria carne. A lembrança do momento fere o seu orgulho, o enfurece por dentro, uma fúria aplacada pela lembrança do toque dela depois do soco. Novamente é uma decisão impulsiva que toma, se colocando à frente de Ivy no corredor, justo quando ambos vislumbram a porta do cômodo que irão invadir.

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Um meio sorriso surge no rosto de Ivy quando vê o garoto tomando a frente dela no corredor. Não há nenhum sentimento de orgulho ferido, ao contrário. Ela não se incomoda com a necessidade de satisfazer o orgulho masculino, pois sabe dos sentimentos que desperta nele. Mesmo na escuridão do corredor ela sente o rosto corar um pouco, ao lembrar as reações involuntárias que provocara, num corpo ainda infantil. As más lembranças do tempo em que teve de trabalhar neste lugar surgem em sua mente, da época em que descobriu que era capaz de despertar os desejos masculinos. Ela aprendeu de maneira muito difícil que era capaz disso. Pelo menos uma vez isso teria sido trágico para ela se não fosse por Adam.

São pensamentos desagradáveis e Ivy trata de expulsá-los, fazendo-os se perderem nas profundezas de sua mente. Estão bem próximos da porta agora e ela percebe que precisa assumir o comando outra vez. O toque de sua mão no ombro dele é o mais delicado possível, mas ela pôde sentir o forte arrepio percorrendo o jovem corpo. Ela sentiu um misto de lisonja e embaraço por ter provocado isso em Tom, para logo depois se assustar um pouco com o olhar que ele lhe dá, ao mesmo tempo corado e com raiva. Ela retira a mão do ombro dele, tratando logo de falar.

— Essas portas costumam ranger um pouco – ela disse – temos que abri-las bem devagar

— Faça isso então – Tom responde, seu olhar encontrando o dela – o que está esperando?

Ivy começa a abrir a porta, o fazendo com muito cuidado. Ainda assim, um leve ranger se ouve. Qualquer um que olhasse para o rosto de Tom não notaria nada, mas por dentro ele sentia a tensão se avolumando. Nenhuma informação foi dada a respeito do que seria roubado nessa mansão. Os próprios cúmplices de Adam pareciam receosos. A invasão desse local, contra tudo o que eles já tinham feito antes, e que vinha dando certo até então, só confirmava que Adam Campbell vem escondendo informações importantes. Tom até conhecia algumas delas, mas no que se referia ao fato de terem que invadir um lugar com pessoas dentro, ele estava tão no escuro quanto os outros.

Tom sabia que havia mais gente naquela sala onde Adam e Fineus entraram horas antes, mas nada foi dito do que fora conversado lá dentro. Era assim que Adam mantinha o controle sobre o grupo, contendo a informação para seus próprios fins. Ivy seguia abrindo a porta com uma lentidão e cuidado que já deixava o jovem bruxo ansioso e irritado. Mesmo pela fresta da porta, já era possível ver que não havia luz no cômodo, não tinham, portanto, como saber qual parte da casa era, se estava mesmo vazia. Ainda assim empurraram a porta de vez e entraram. Tom e Ivy acenderam as lanternas que ambos tinham. Embora preferisse um bom feitiço Lumus, ele sabia que não poderia abrir mão desse recurso trouxa.

Os dois já estavam dentro do cômodo agora, Tom se colocou à frente de Ivy mais uma vez. Uma parte dele dizendo a si mesmo que queria assumir o comando, mas em seu íntimo, ele sabia que a queria segura. As luzes das lanternas iluminavam um pequeno escritório, ricamente mobiliado. De maneira muito silenciosa, ele e Ivy verificam o local, em busca de algo que pudesse ser um cofre. A escuridão ainda tomava conta da maior parte do ambiente, pequenos barulhos, como madeira estalando, parecendo vir de lugar nenhum, gerando alguma tensão nos dois jovens. Tom continuava a iluminar o local com sua lanterna, até que esta lhe mostra um rosto hostil. O grito de Ivy quase não é ouvido por ele, pois sente uma dor aguda em sua cabeça. Ele não tem tempo para discernir a natureza do objeto que o atingiu, uma vez que logo depois se viu envolvido em verdadeira escuridão.

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A pontada de dor em sua cabeça era muito aguda quando ele acordou. Seus olhos levaram alguns segundo para se acostumar à luz incidindo sobre eles. A primeira visão de fato foi dela. Ele notou o alívio em sua face ao vê-lo acordar, o sorriso que lhe era dirigido provocando nele uma sensação de leveza e felicidade que só sentira nas vezes em que aprendia um novo feitiço. Não foi capaz de evitar retribuir o sorriso dirigido a ele, odiando-a mais uma vez por ela ter esse poder sobre sua pessoa. Sentiu uma dor em suas costas, um chute não muito forte fora dado contra elas, fazendo com que percebesse finalmente que não estavam a sós.

— Até que enfim você acordou moleque – o homem que disse aquelas palavras tinha um rosto macilento, as marcas da idade por toda a parte – acharam mesmo que podiam invadir uma propriedade particular seus pequenos marginais?

— Nos deixe ir, por favor – o tom de súplica na voz de Ivy poderia quebrar a resistência de muitas pessoas, mas Tom Ridlle Jr. conseguia ver o engano por baixo da voz melodiosa, do rosto adoravelmente simétrico, escondendo a dissimulação. Infelizmente para os dois, ele não era o único com esse discernimento, nesse momento.

— Essa voz de anjo não me engana docinho – disse o velho, que dá um tapa violento em Ivy.

Tom se levanta de imediato e agarra o velho pelo colarinho, mas é jogado facilmente no chão por outra pessoa. Era um homem alto e atarracado, uma expressão de cruel divertimento no rosto. Ele era mais jovem que o agressor de Tom, mas já era possível ver as marcas da idade em seu rosto. O jovem bruxo notou que ambos estavam vestidos praticamente iguais. Tom estava muito irritado, a vontade de pegar a varinha queimando dentro de si, mas tratou de se conter. Uma nova olhada pelo ambiente lhe permitiu notar que ainda continuavam no mesmo cômodo em que entraram. Num canto da parede ele viu Sam e Albert encolhidos, quase abraçados um ao outro; tão patéticos e assustados que Tom lhes dedicou pouco mais do que breve olhar. Diferente era com Ivy, pois logo deu de si colocando seu próprio corpo entre ela e os dois homens, o velho e o sujeito alto e atarracado.

— Veja só Garrett – disse o velho, um tom de voz divertido ao falar – o jovem cavaleiro está se colocando protetoramente entre a jovem dama e nós.

Ele não sabia o que mais o irritava nas palavras do velho. O riso zombeteiro que se seguiu a elas, junto com o riso do outro homem cujo nome ele acabara de descobrir, ou o quanto a verdade naquelas palavras o machucavam por dentro. Ele não tinha certeza se a zombaria deles o deixava mais ou menos furioso do que a sensação de fraqueza que sentia ao se descobrir protetor em relação a Ivy. Não demorou a concluir pela segunda hipótese. Aqueles homens descobriram uma fraqueza dele, sabiam que poderiam usar a jovem que, contra tudo o que ele prezava em sua vida, queria desesperadamente proteger. Tom sentiu os dedos dela em seus ombros, sua respiração estava tensa, bem próxima do seu rosto, lhe provocando sensações diversas e perturbadoras.

- Olha só para ele Garret – o riso zombeteiro do velho enchendo-o de fúria – acha mesmo que pode proteger a jovem dama, seu moleque? Talvez eu mostre uma coisa ou outra a ela enquanto você assiste. O que acha disso Garret?

— Ela é muito linda, com certeza faz valer a pena uma noite inteira de vigília nesse mausoléu – o olhar dele para Ivy não deixava dúvidas sobre suas intenções.

— E você não poderá fazer nada por ela se for o nosso desejo tê-la para o nosso prazer, seu moleque imundo – era a vez agora do velho pegar Tom pelo colarinho e empurrá-lo contra a parede. Ele sentiu algo duro como aço em suas costas. Era uma espada – o que acha Garret? Devemos desfrutar da jovem ladrazinha?

— Não creio que qualquer um dos dois terá condições de desfrutar de alguma coisa.

A voz que Tom ouviu despertou-lhe sentimentos muito contraditórios. Tais sentimentos, no entanto, ficaram de lado, ao ver o homem chamado Garret se virando, pronto para enfrentar quem acabara de falar. A mão direita dele se perdendo dentro da vestimenta, com certeza em busca de uma arma. Ele não teve a chance de sacá-la, pois uma faca penetrou a carne sob o terno elegante, fazendo o sangue manchar o tecido, quando o objeto pontiagudo foi retirado com a mesma rapidez com que entrara. Tom viu o medo estampado na face, até então zombeteira do velho. Ele rapidamente esqueceu Tom e Ivy, sacando uma arma e apontando para Adam Campbell, este ainda com a faca ensangüentada em sua mão. O destemor na face de Adam impressionava o jovem junto a parede. Um sorrido discreto em seu rosto, ao encarar frente a frente, o que poderia ser a sua morte.

— Sua mão está tremendo meu velho. Com certeza não estava esperando nada disso quando aceitou esse trabalho de vigilância – disse Adam, o olhar dele voltado para Ivy. Tom a viu sorrindo, aliviada e feliz. A expressão assustada sumindo totalmente de seu rosto, expressando uma confiança que Tom, odiando-se terrivelmente, desejava ser dirigida para ele – está tudo bem Tom?

— Está sim Adam – ele respondeu, ao mesmo tempo em que captou no olhar dele o plano. Tom surpreendeu-se com a facilidade com que percebera o que Adam queria dele, quase como se tivesse lido os seus pensamentos.

— Quem vocês pensam que são para vir aqui seus marginais? – o velho procurou emprestar um tom de ameaça na voz, mas falhou terrivelmente – tratem de ir embora.

— Não é da sua conta quem nós somos, velho – Adam retrucou. Tom viu o olhar dele de novo para si; sabia o que tinha de fazer – e não iremos embora antes de levar o que viemos buscar.

— Se não saírem agora eu atirarei em você, eu... – a sentença não foi concluída, pois sentiu uma violenta dor no braço que usava para segurar a arma.

Tom Ridlle Jr. ficou bastante decepcionado ao ver que não decepara a mão dele logo no primeiro golpe. A espada estava visivelmente afiada, mas a verdade é que os filmes e livros sempre nos enganavam sobre esse tipo de situação. A lâmina afiada cravou contra a carne e os ossos. O som de um barulho seco, misturado ao grito lancinante do velho toma conta da sala, somado aos gritos de Ivy, Albert e Sam. O velho não foi capaz de se manter em pé, o corpo se ajoelhando enquanto a arma caia no chão. Adam não perdeu tempo, logo afastando o revólver para longe com um dos pés. Após alguns segundos de choque, eram só os gritos do velho que podiam ser ouvidos agora, o sangue se espalhando em volta dele.

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Tom olhou para a criatura que zombara dele, viu a dor e o desespero estampados naquele olhar. Era um olhar de súplica, que pedia por piedade, aumentando ainda mais a fúria do jovem com a espada. Ele descobriu-se com uma enorme vontade de matá-lo, mas queria fazer isso com um feitiço. A espada em sua mão era pouco mais do que inútil, pois o que ele queria era pegar sua varinha e lançar no velho asqueroso uma maldição da morte. Mas não o fez. O olhar cheio de ódio ainda voltado para o velho gritando de dor, enquanto a espada é baixada lentamente, à medida que o braço dele relaxava. Tom mal sentiu quando Adam a tirou de sua mão, não hesitando em cravá-la no pescoço do velho, que caiu inerte no chão.