Procura-se Um Final Feliz

Eu me apaixonei pelo teus caos


Capitulo O2

“Eu me apaixonei pelo teu caos, como alguém que ama o abismo”

– Não tem nada nesse guarda-roupa que eu possa vestir. – resmungo jogando-me sobre a pilha de roupa que havia se formado no chão. Olho para o relógio preto e branco pendurado na parede do meu quarto, Noah estaria ali em meia hora e eu nem havia nem começado a me arrumar.

Não sou daquele tipo de garota fresca que sempre diz que não tem uma roupa sendo que o armário estava cheio, sim eu sei o meu armário estava cheio. É só que não havia uma roupa boa o suficiente para esse momento em especial. Ou há uma roupa para vou ter minha primeira vez com meu namorado que tem Aids vendendo por aí? Se tiver, por favor, me avise urgente.

Me levanto decidida a encontrar algo bom o suficiente para mim, fixo o olhar no guarda-roupa praticamente vazio a minha frente, quando percebo lá no fundo um bustiê preto que ganhei da minha prima Amanda no Natal e nunca havia experimentado. Vou logo tirando o roupão e vou vestindo a roupa, olhando meu próprio reflexo no espelho da minha frente. O bustiê tinha um fecho de zíper na frente, ele ficou uns cinco dedos a cima do meu umbigo, na parte de trás ele é composto por duas listras que se unem no pescoço. Não era um tipo de roupa que eu visto no dia-a-dia, mas aquele não era um dia normal.

Abaixo, mergulhando na pilha de roupa no chão, achando o que eu procuro, uma saia branca com uma fina camada de tecido transparente, sobre outra parte mais grossa. Visto, gostando do meu reflexo no espelho.

Noah sempre me diz que adora ver minha nuca, pois quase nunca a deixo exposta. Sorrindo com a mera lembrança dele coloco o meu cabelo preto preso no topo na minha cabeça num coque desarrumado. Faço uma maquiagem simples, tentando disfarçar a minha palidez costumeira. Complemento com um sapato alto preto e pego minha bolsa, gostando do que eu vejo. Não parece ser eu mesma, então realmente estava bom.

– O que acha mãe? – digo aparecendo na porta do quarto dela. Ela estava deitada sobre a cama, com um livro no colo entretida nesse, tirando os óculos de leitura para poder me enxergar. Ela levanta os olhos me encarando de cima a baixo apertando os lábios, costume que tem quando está analisando algo ou alguém.

– Nossa Claire... – são as únicas palavras que ela consegue balbuciar, seu queixo ainda está caído, aquela era exatamente a reação que eu gostaria.

– Obrigada mãe. – desço as escadas correndo, deixando minha mãe confusa no andar de cima.

Acabo de abrir a porta, quando ouço a buzina do Honda Civic, um dos carros mais comuns e baratos aqui. Fechando a porta atrás de mim, entro no banco do carona. Noah está usando uma camisa azul de algodão com um corte U, não muito apertada como muitos garotos da nossa escola usa. O cabelo preto estava despenteado como de costume, sua barba estava por fazer, não tão cheia, porém grande o suficiente para fazer cocegas ao tocar na minha bochecha quando me inclino para dar-lhe um beijo.

– Boa noit... – Noah começa, só então me analisando de cima a baixo, chegando a mesma conclusão que a minha mãe, aquela não sou eu. – Nossa. O que aconteceu com você?

Ergo minha sobrancelha tentando ser sexy, mas só provoca uma crise de riso em Noah me fazendo me sentir completamente ridícula, abaixo a sobrancelha desfazendo o sorriso dos meus lábios, fazendo uma expressão emburrada. Ele ainda está rindo, quando percebe meu olhar de tristeza e vergonha, se controla em seguida.

– Me desculpe, pequena. – ele pede segurando minhas mãos. – É só que você me surpreendeu com o que você tentou fazer. – ele solta minhas mãos, indo em direção aos meus cabelos soltando-os. – Agora sim, bem melhor.

Franzo as testas sem entender.

– Você sempre diz que gostaria de ver mais a minha nuca livre... – ele me cala colocando a mão sobre os meus lábios rindo novamente.

– Eu gosto quando você é você Claire, apenas isso. – ele olha para minhas pernas. – Apesar que essa roupa não ficou nada mal. – briga deslizando a mão para a minha coxa.

Brinco batendo na mão dele me estico para beijá-lo, ele fica um pouco tenso, mas relaxa em seguida, dando a partida no carro.

– Posso pelos menos saber, porque se arrumou assim para passar apenas uma noite assistindo filme na minha casa? – ele diz sem olhar para estrada, dou apenas de ombros, sem querer estragar nada.

Não demora muito até que eu possa ver as luzes da casa de Noah, o verde é absoluto por toda a casa, o jardim mais parecia uma obra de arte, afinal sua mãe era uma das melhores jardineiras da cidade, precisava fazer jus ao seu nome. Estacionamos o carro na garagem, entrando pela cozinha. Não haveria ninguém em casa durante esse fim de semana, os pais deles tinham ido para uma Convenção Internacional de Advogados que duraria quatro dias, afinal seu pai era advogado. Na verdade, eles não eram seus pais biológicos, seu atual pai se casara com sua mãe biológica quando Noah tinha 2 anos, sua mãe também estava infectada pelo HIV e passou para Noah, ela morreu um ano após se casar com o “atual” pai de Noah, este que não deixou o menino ser levado para um orfanato o adotando por amor a sua mãe. Foi seu pai biológico que infectou sua mãe, Noah nunca o conheceu e preferia que isso continuasse assim, pois ele era culpado pela morte da sua mãe e pela doença que ele vivia, tudo por uma irresponsabilidade. Noah jamais se permitiria fazer o mesmo que ele fez.

– Estou com fome. – digo assim que entro, Noah já estava acostumado com minhas crises de desnutrição como ele costuma chamar.

Deixo ele na cozinha fazendo um sanduíche e subo para o seu quarto. Já estou acostumada com a arrumação impecável do meu namorado ao contrário de mim mesma. Colado na parede ao fundo da cama estava uma onda formada por pedaços de revistas selecionados por Noah, ele era muito bom com colagem. Um pequeno computador portátil estava jogado sobre a cama, tudo ao seu redor tinha cara de Noah, era como se ele deixasse uma parte dele por todo o seu redor.

Pego o computador e coloco sobre a mesa branca, alguns CD’S estão espalhados por ali, um estava aberto, viro a capa trata do CD original de Tiago Iorc, um cantor brasileiro, não muito conhecido que era o favorito de Noah.

Me dirijo até sua cama e deito sobre ela, tão perdida em lembranças que mal noto que Noah estrava no quarto trazendo dois sanduíches e dois copos de suco de laranja. Aponto para a mesa, não queria comer agora, agora ela queria outra coisa.

– Claire, você está tão estranh... – ele diz se aproximando de mim, tocando o rosto meu rosto de forma carinhosa. Mas não o deixo terminar, pois o interrompo com um beijo puxando-o para a cama.

Seguro em sua nuca com força a apertando, enquanto peço passagem com a língua logo esta é dada, inclino meu rosto para a esquerda enquanto Noah inclina para a direita.

– Retiro o que eu disse. – Noah fala se afastando um pouco em busca de ar, enquanto sobe na cama, colocando as mãos nos meus quadris.

Volto a beijá-lo com força, mordendo os lábios deste. Cada vez mais o beijo fica mais íntimo e profundo, as mãos de Noah descem para minha coxa por baixo da saia a apertando, enquanto eu cruzo minhas pernas nas suas costas. Desço meus lábios em busca do seu pescoço o mordendo. Consigo sentir o sorriso de Noah, seu pescoço sempre será um ponto fraco para nós dois.

Desço minhas mãos da sua nuca para sua barriga, a arranho de leve e aos poucos desço mais minha mão com medo de assustá-lo, ou que ele percebesse o que eu estou fazendo.

Começo a chupar o seu pescoço fazendo ele suspirar, então sigo minha mão para o cinto da sua calça, o abrindo e tirando em seguida. Inverto a situação ficando em cima dele, descruzando as minhas pernas, literalmente sentando-me nele. Abaixo meus lábios o beijando de fora calorosa e faminta. Sinto minhas mãos abrindo o botão e o zíper da calça dele prestes a retirar essa, quando sinto aos meus de Noah se fechando contra os meus pulsos.

– O que pensa que está fazendo? – ele pergunta afastando os lábios dos meus, sua voz trazia um pouco de frustração, suas pupilas dilatadas, ele também queria, eu sabia. Mas aquele auto controle perfeito era um saco.

– Você sabe... – digo ficando vermelha, levantando mais o meu corpo.

– Você sabe que não podemos, se eu te infectar vou me culpar pelo resto da vida. – ele diz sua expressão ficando cada vez mais dura. – Não posso fazer como o meu pai...

– Vamos arriscar. Estou cansada de ficar me limitando com você. – digo suspirando, aquilo era uma realidade. – Não me beije se estiver com o lábio machucado, não use o mesmo kit de unha meu, não perca a virgindade comigo... São muitos nãos para uma pessoa só. Sou forte para me arriscar Noah.

– Você sabia disso tudo quando aceitou namorar comigo. – diz fechando os olhos, aquele era um assunto complicado para nós, novamente chegávamos a um impasse.

– E continuo sabendo. – vi a testa de Noah relaxar, desço o rosto novamente para selar os lábios com os de Noah, a Aids havia ganhado novamente aquela batalha, mas um dia eu conseguirei convencer Noah.

Saio de cima do garoto e ele levanta pegando os dois copos de suco estendendo a mão para me entregar. Estico minha mão para pega-lo, esbarrando a mão com a ele, deixando o suco cair sobre a minha saia branca, dando um grito de susto.

– Me desculpe. – peço, levantando da cama, a cama estava encharcada assim como a minha roupa. Noah retira os lençóis e saí do quarto levando-os para a lavanderia.

Abro o zíper do bustier ensopado e tiro, só então me lembrando que não havia vestido um sutiã por baixo, pois achei que não precisaria. Suspiro e em seguida retiro a saia, indo para o banheiro para lavar ambos.

Poucos minutos depois, ouço o barulho de uma porta sendo aberta e Noah entra no banheiro dando de cara comigo praticamente nua, só coberta pela calcinha preta rendada.

– Droga Claire. – ele diz sem conseguir se conter me puxa me beijando, sinto meus seios desnudos batendo de encontro com aquele peitoral duro e definido, um arrepio atravessa todo o meu corpo, ainda mais quando sinto a mão dele aperta minha bunda. Pulo no seu colo enquanto ele me segura e me leva até a cama, só então lembra do estrago feito pelo meu suco de laranja. Me carrega sem dificuldades para o quarto de hospedes, me colocando na cama com carinho. Sinto que ele está nervoso, mas não poderíamos parar, não seria justo parar.

Ele deita-me na cama enquanto retira a camisa de algodão azul marinho a deixando no chão, e retira a calça jeans preta, deixando à mostra a cueca preta boxer. Suspiro, aquilo parecia ser um sonho. Noah sobe na cama me puxando para cima dele me beijando com mais carinho, passando então a mordiscar meu ouvido e sussurra.

– Porque entre tantos, você foi escolher logo um cara cheio de problemas como eu? – sua voz rouca me provoca arrepios.

– Eu me apaixonei pelo teus caos. – respondo de olhos fechados, sinto suas mãos tateando o criado mudo ao seu lado, só então percebo o que ele está procurando, uma camisinha. Pego a calça que estava jogada sobre a cama, na carteira dele acho um preservativo e o entrego.

– Você tem certeza disso? – ele fala, esperando um não da minha parte. Coitado, mal sabia que já fazia tempo que eu não poderia voltar atrás. Não consigo responder, apenas o beijo novamente.

Fecho os olhos esperando, mas nada vem. Nem dor nem prazer, apenas um vazio. Abro os olhos em busca de Noah, havia achado que ele havia se levantado para colocar o preservativo, mas o menino só estava parado do lado da cama prendendo o riso.

– Seu maldito! – grito, me levantando ignorando estar semi nua e corro atrás de Noah, este está tendo crises de riso da minha cara.

Finalmente ele para de correr fazendo com que eu esbarre contra ele e me pegando no colo pousando um beijo nos meus lábios.

– Você acha mesmo que eu sou tão fácil de ser corrompido assim Clair? – ele dá risada enquanto me segura no colo enquanto faz espirais com os dedos no meu cabelo. – Não que seus peitos não sejam atraentes – ele desse o olhar para eles e me larga no chão. – Mas já vi muitos melhores.

Dou risada, sem conseguir não deixar de ficar vermelha enquanto vou atrás dele. Sei que não sou a primeira namorada de Noah, isso não me atinge atualmente, confio nele com todas as minhas forças e sei que agora eu sou a única. Sigo ele até o seu quarto, onde ele joga em mim uma camisa branca com os dizeres “Carpie Diem”, aproveite o momento, obrigo a mim mesma a fazer aquilo aproveitar o momento, abraço aquele meu caos particular não sei até quando poderei fazer isso, mas sei que enquanto eu o tiver comigo saberei aproveitar o momento.

*****

Já é quase duas horas da manhã quando chego em casa, havíamos passado o resto da noite assistindo Revolution, um seriado genial, mas não muito conhecido. Parecia uma mania particular “adotar” os menos favorecidos. Estava entrando em casa sonolenta, provavelmente minha mãe já deveria estar dormindo. Estava enganada. Abro a porta dando de cara com ela assistindo um programa qualquer no sofá.

– Filha, acho que você devia ligar para a Britty. – ela diz sem tirar os olhos da televisão. – Ela está te ligando a cada dez minutos se você subir rápido pega o próximo telefonema.

Finalmente ela desvia o olhar e me olha, havia dado propaganda no programa que passava na televisão.

– Clair, vocês...? – ela nem precisa terminar a frase, pois já sei do que se trata, o fato deu estar com uma camisa de Noah leva a pensar que nós chegamos ao finalmente.

– Não, você sabe que não. – digo negando com a cabeça, minha mãe é minha confidente, é a única além de mim e dos pais de Noah que sabem da doença dele.

Minha mãe suspira, não sei ao certo se é de alívio ou decepção, mas antes que eu pergunte escuto o toque do meu telefone, nem precisava pegá-lo para saber que era Britney, minha melhor amiga.

Subo as escadas correndo e alcanço o telefone antes que a ligação caía.

– Oi Brit. – digo recuperando o folego.

– Ah, finalmente Clair. Onde você esteve? Estou tentando falar com você a séculos. – consigo imaginar a cara de estresse de Britney mesmo do outro lado da linha. – Meus pais querem ter outro filho!

– Eu estava na casa do Noah. – respondi, era difícil registrar todas as perguntas. – Como assim?

– Eles nem tem tempo para mim e querem outro filho, que absurdo! – ela gritava no telefone, afasto um pouco o celular da minha orelha, provavelmente até minha mãe no andar de baixo ouvia o que Britney estava falando. – Como assim você estava na casa do Field até essa hora? Finalmente rolou?

– Sabe, quase rolou, estávamos chegando lá, mas tivemos que parar. – digo automaticamente, sem parar para pensar.

– Mas os pais deles não estavam viajando? Porque pararam? Ele deve ser gay de lhe deixar assim no meio do vamos ver. – me xingo mentalmente, Britney não deixaria esse assunto morrer nunca mais.

– Brit preciso que prometa uma coisa para mim. – digo diminuindo a voz para que minha mãe não me escute fazendo a maior besteira da minha vida.

– Claro, qualquer coisa por você Clair.

– Você não pode contar isso para ninguém e quando eu digo ninguém, quero dizer absolutamente ninguém. – coloco ênfase, abaixando ainda mais minha voz e digo. – Noah tem Aids, por isso paramos.

Do outro lado da linha vez um silêncio absoluto, chego a pensar que ela não havia me escutado, mas sabia que tinha.

– Oh Claire, que pena. Realmente. Bem preciso desligar. Pais. Perto. Câmbio. Desligo. – ela fala isso rapidamente e ouço o PI PI PI e jogo meu celular em cima da cama me perguntando que merda eu tinha acabado de fazer.

Nem podia imaginar naquela hora, mas aquilo acabaria com a minha vida. Gostaria de ser um pássaro, afinal eles podem voar para longe quando as coisas ficam difíceis.