Capítulo 07

“Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente. ”

Coloco novamente os óculos de sol para me proteger e sorrio baixinho encarando a tela do meu telefone, é estranho pensar em sol quando se mora na cidade mais fria dos Estados Unidos.

– Clair vamos logo! – Gritou Britney para mim, apenas levantei os óculos de sol, a presença deles me incomodava um pouco, afinal eu não conseguia enxergar direito sem os meus óculos de grau e sem lentes.

– Já vou! – Grito de volta e continuo sentada embaixo da sombra. Não sei ao certo onde minha mãe estava com a cabeça quando resolveu passar as férias no Brasil, tudo bem que as pessoas aqui são muito agradáveis, as vezes agradáveis demais, lembro-me rapidamente do garçom que deu em cima de mim na noite passada, também tem as praias que são perfeitas, mas quando eu voltasse para o Minnesota estaria vermelha que nem pimenta e com certeza isso não era algo bom.

O bipe do meu celular me fez tirar mais uma vez meus óculos de sol para enxergar a mensagem de Noah.

“Aqui é tão frio sem você. ”

Não consigo evitar o sorriso que brota nos meus lábios assim que leio, talvez essa fosse a verdadeira razão para eu estar reclamando das minhas férias. Noah tão longe de mim.

“Aí sempre é frio, não vale. ”

Respondo com destreza e meu coração palpita mais rápido apenas esperando a resposta, mas antes que o bipe possa animar meu coração minha mãe aparece de algum lugar indeterminado e toma o celular das minhas mãos.

– Não, não mocinha. Eu não te trouxe para o Rio de Janeiro para você ficar conversando com o Noah. Aproveite. – Ela diz sorrindo, ela veste uma canga branca por cima do biquíni florido, me pergunto como ela consegue essa habilidade de ficar boa com qualquer roupa, quando eu tenho que revirar todo o meu guarda-roupa pela manhã para achar uma roupa pelo menos aceitável? Antes que eu possa retrucar ela ter tomado meu celular, ela franziu o cenho me fazendo calar a boca. – Nem comece.

Sorrio rendida e corro na direção da minha mãe, abraçando-lhe pelas costas. Vejo ao longe minha melhor amiga agitar o cabelo conversando com um rapaz moreno bem definido enquanto bebe água de coco direto do coco.

– Se permita um pouco de diversão, só hoje. – Minha mãe sussurra para mim antes de se afastar em direção a nossa casa de praia alugada.

Sigo na direção da Britty sorrindo, sei que faz tempo que não saio com ela ou com qualquer outro amigo. Assim que ela me vê acena para que eu ande mais rápido.

– Claire, este é o Pedro, ele sabe falar a nossa língua. – Ela diz mandando alguns olhares cheios de significado para mim. – Então Pedro, essa é a Claire, minha melhor amiga.

– Olá Claire, gostando do Brasil? – Ele me pergunta com um inglês bem desenvolvido, embora ainda com um sotaque bem característico que eu já estava me acostumando.

– Aqui é muito... – Procuro uma palavra que consiga expressar o Brasil. – Lindo.

– Em todos os sentidos. – Completa Britney sorrindo para o Pedro.

– Vocês sabem surfar? – Pedro pergunta para nós muito mais interessado na resposta da minha amiga do que na minha. Não sinto inveja disso, afinal eu tenho namorado.

Passamos o restante da tarde aprendendo a surfar com o Pedro, descobrimos que ele tem vinte e dois anos, faz faculdade de direito por pressão dos pais, mas o seu real sonho e talento era ser surfista. Ele realmente era bom surfando, eu acabei apenas conseguindo remar deitada sobre uma prancha, o que já foi um grande feito para mim. Já Britney aprendeu bastante rápido, mas eu pude notar que ela deixava-se cair apenas para ser resgatada por um Pedro preocupado. Fingi não notar os fingimentos da minha amiga e até mesmo, fiz menção de estar preocupada.

No fim do dia eu estava exaurida, todas as forças do meu corpo haviam sido levadas de mim com as ondas.

– Você viu? Quando eu desequilibrei e ele me pegou nos braços até a praia? – Britney continuava seu monologo ao meu lado enquanto nos dirigíamos para casa. Apenas confirmo com a cabeça, informando que estou ouvindo o que ela vem dizendo nos últimos dez minutos desde que nos despedimos do Pedro. – Ele está na minha, ele é tão lindo. E você não sabe, ele me chamou para sair hoje à noite, irá ter tipo um luar na praia e ele me encontrará lá. Você tem que vim comigo, ele disse que tem um amigo para não deixar você sozinha Clair. Nós podemos nos mudar para o Brasil? Ele é lindo demais! – Ela grita me fazendo rir.

Depois de tomar um banho bastante demorado saio do banheiro com o cabelo ainda pingando enrolada da toalha, vejo em cima da cama o meu telefone, até esqueço de enxugar o cabelo, apenas corro para ele abrindo as mensagens de Noah.

“Você acaba com o romance. ”

“Encontrou um estrangeiro gato e resolveu me abandonar? Espero que não. Eu te amo. ”

Penso numa desculpa convincente para ele, mas apenas opto por escolher a verdade.

“Tive que passar a tarde dando uma de vela para a Brit.”

Largo o celular em cima da cama e começo a enxugar meus cabelos, mas quase imediatamente o celular toca me interrompendo.

“Então pegue um avião e fuja para cá. ”

Fico tentada a aceitar a proposta, mas a minha consciência apita alertando que aquilo não seria bom, e eu precisava de um tempo só para mim.

“Muito tentador, mas não posso. Prometi a Bri que iria com ela a um luar na praia. ”

Nem tinha soltado o celular quando a resposta chega.

“Depois não se arrependa. Vou ir no Robert. Beijos. ”

Deixo o celular no carregador e volto para me arrumar, escolho uma saia longa branca e um top cropped florido e apenas uma sandália rasteira. Estou secando meu cabelo com o secador quando Britney entra no meu quarto, já pronta.

– CLAIRE! Que demora, deixa que eu termino isso. – Ela diz tomando o secador das minhas mãos e tentando de secar o meu cabelo que imediatamente volta a ficar ondulado.

– Boa festa meninas. – Minha mãe se despede de nós quando passamos pela cozinha para avisá-la que já estamos saindo.

A festa realmente estava agitada, um estilo de música muito boa, música lenta e simples com banda ao vivo. Muita gente dançando ou se beijando próximo ao bar, embora eu previra continuar sentada em cima da toalha de praia olhando a Bri e o Pedro mais à frente se beijando.

– Posso? – A voz desconhecida me faz olhar para cima, um rapaz da minha faixa etária está apontando para o lugar vago ao meu lado da toalha de praia. Ele possui cachos bem feitos no cabelo curto e castanho, um sorriso bonito e brincalhão.

– Claro. – Respondo de volta chegando mais para o lado para dar espaço para ele sentar-se.

– Sou o primo do Pedro. Meu nome é Gabriel. – Ele se apresenta. – Claire, não é?

– Sim. Você não parece ser brasileiro. – Respondo para ele um pouco sem graça.

– Eu faço intercâmbio na Inglaterra a dois anos. Talvez seja por isso. Aceita? – Ele estende um copo vermelho na minha direção.

– Eu não bebo. – Respondo acenando negativamente, nunca gostei de bebida e minha mãe nunca me incentivou a tomar.

– Eu também não, é apenas refrigerante. – Ele sorri me entregando o refrigerante.

Bebo um pouco e coloco o copo ao meu lado.

– Que música é essa? – Pergunto à Gabriel, a música é em português e não consigo entender muito o que ela diz, mas o ritmo é bom.

– Lanterna dos afogados, é uma boa música. – Ele responde. – Fala sobre estar sozinho no meio de tantas pessoas e que apenas uma pessoa pode ajudar alguém a passar pelos problemas. Como se fosse aquela pessoa com quem você pode respirar aliviado. – Ele sorri sem graça. – Desculpe, eu me empolgo falando de música.

– Realmente uma bela música. – Digo encarando ele, me esquecendo um pouco daquilo ali, eu já havia encontrado a minha lanterna e estar longe dela era ruim, tento tirar aquele pensamento da minha cabeça, estou começando a parecer uma viúva de noventa anos.

Sinto lábios encostarem nos meus me fazendo acordar do transe em que eu me encontrara, me afasto imediatamente de Gabriel que me olha confuso.

– Eu tenho namorado. – Digo levantando e correndo para longe dali, deixando para trás os pedidos de desculpas dele. Realmente, eu preciso ir embora do Brasil de volta para a minha lanterna dos afogados.