Outubro e Novembro

OUTUBRO

Chegou o dia da grande festa de noivado. Eu fui ao salão me arrumar junto com a minha mãe e a mãe de Miguel. Elas citavam o cronograma da noite enquanto eu fingia que escutava. Quando terminei de cachear meu cabelo e fazer a maquiagem fui levada até uma sala para me trocar. Meu vestido era longo com um degradê de cima para baixo colorido e combinava perfeitamente com um salto simples preto (http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=169426142 ).

Fui levada até o local da festa em um carro grande e sozinha. Assim que cheguei Miguel me esperava na porta. Entramos juntos e esperamos os convidados. Nas duas horas seguintes pessoas não paravam de chegar e a maioria delas eu nunca tinha visto. Meus pais e os pais de Miguel pareciam conhecer todos eles. Logo eu vi quem eu mais gostaria de ver.

Me segurei para não pular nos braços de Felipe. Ele estava lindo. Assim que me avistou me olhou de cima a baixo e sorriu. Ele se aproximou com sua família:

–Milena, há quantos dias! - Ele me abraçou. - Você está linda. Mais do que normalmente. - Ele apertou a mão de Miguel. - Parabéns pelo noivado. Você fez uma boa escolha.

–Muito obrigado, mas eu discordo. - Respondeu Miguel. Os dois ainda apertavam as mãos e se encararam. - Foi ela quem me escolheu, nos amamos muito. Seremos perfeitos juntos.

–Me desculpe, mas é a minha vez de discordar. Não existe amor num casamento arranjado. - Ele disse essa parte mais baixa.

–O amor se constrói com a convivência. - Disse Miguel. Olhei para as mãos deles e os nós dos dedos de ambos estavam brancos.

–Talvez, mas não á força… As pessoas não se apaixonam só porque você quer. Com licença, Milena, mas já dei os meus comprimentos aos noivos.

Uma hora depois decidiram fechar as portas. Meu pai subiu ao palco para fazer um discurso seguido do pai de Miguel e depois era a nossa vez. Eu tinha um discurso pronto em minhas mãos que não dizia absolutamente nada do que eu queria dizer. Eu queria xingar meu pais, gritar e dizer que eu não quero me casar com Miguel, mas sim com Felipe. Meus batimentos estavam acelerados e a folha em minha mão já estava molhada por conta do suor de minhas mãos. Resolvi encurtar o discurso feito pela minha mãe e transformá-lo em algo mais verdadeiro. Subi ao palco e comecei a falar:

“Eu gostaria de agradecer a presença de todos. Há pouco tempo conheci um homem simpático e bonito. Esse homem hoje é o meu noivo. Vocês não imaginam como nossas famílias estão felizes com este casamento. Será uma grande oportunidade para uni-lás. Fico feliz que todos queiram dividir este momento conosco, um momento muito importante para nossas famílias. - Aquilo estava um desastre. Eu estava entregando as cartas para todos. Avistei Felipe em uma mesa com seus pais. Resolvi terminar o discurso falando diretamente para ele e sobre ele. - Acho que dá pra perceber que eu não sou muito boa falando em público, mas gostaria que soubessem que estou apaixonada. - Meus olhos se mantinham vidrados nos de Felipe. - E eu espero ser feliz um dia com o amor da minha vida. Obrigada.” - Todos aplaudiram e foi a vez de Miguel que fez um discurso bem mais convincente do que o meu.

Depois de todos os que precisavam falar algo falarem o DJ começou a tocar “I´m with you” da Avril Lavigne (https://www.youtube.com/watch?v=dGR65RWwzg8) e eu e Miguel dançamos como se estivéssemos dançando uma valsa. Fazíamos passos simples e sorriamos um para o outro tentando manter o teatrinho. Assim que a música acabou uma outra melodia conhecida começou a tocar. Já tinham vários casais na pista e alguém encostou ao nosso lado:

–Você me concede a honra desta dança, senhorita Depuleto? - Disse ele com um sorriso de lado e aqueles olhos azuis me fitando. Me soltei de Miguel.

–É claro, Felipe. - Peguei a sua mão e ele me guiou até o meio da pista.

A voz de Ellie Golding invadiu a pista ao som de “love me like you do”. Ele me conduzia pelo espaço e era como se estivéssemos flutuando. Mantínhamos os olhares fixados um nos olhos do outro e era como se estivéssemos sozinhos. Ele me movimentava e eu parecia prever seus movimentos. No último refrão ele cantou junto ao meu ouvido e eu sorri mais ainda. Quando a música acabou nos afastamos com muito pesar e eu dancei uma música com meu pai.

Depois disso o DJ tocou mais uma hora de musicas agitadas e os convidados foram embora.

NOVEMBRO

No dia do aniversário de Miguel aconteceu uma grande festa em “Nossa Casa”. Ele chamou a família e uns amigos num sábado com um jantar e DJ na casa dele. ( O que significa que eu ficaria duas semanas sem ver o meu Felipe. Eu não aguentava mais ficar tanto tempo longe dele, mas ele precisava do emprego para completar a faculdade e eu não podia ser deserdada da minha família.) A festa estava bem animada. Miguel me apresentou aos seus amigos e algumas meninas me olhavam com cara de nojo. OK, Miguel era lindo, mas elas não precisavam me olhar assim, não é como se ele tivesse escolhido.

Os amigos dele brincavam comigo perguntando o que eu via nele e me jogando cantadas para provocá-lo. Eles pareciam bem legais, mas até aí o Miguel também parecia antes de forçar uma situação.

Finalmente consegui conversar com os familiares dele decentemente. Alguns pareciam esnobes e metidos e outros eram completamente gentis. A avó dele não parecia gostar de mim, mas sua prima era um amor.

***

Depois de muitos dias eu finalmente consegui ver Felipe. Fui até sua casa e ele estava lá, com aquela linda cara amassada sorrindo na porta. Ele me puxou para dentro e me beijou. Ficamos juntos até o fim da tarde quando tive que voltar pra casa. Voltei de taxi, pois depois da festa de noivado meus pais estavam com vista grossa sobre nós dois.