Primavera

Lua nova.


Enquanto tomava banho não conseguia tirar Taylor dos meus pensamentos.

A expressão dele – talvez fosse isso que tivesse me comovido. A dor aparente em seus olhos, a raiva nos tremores violentos que sacudiam seu corpo. Suas mãos em punho, controlando-se para não fazer um estrago ainda maior do que já tinha feito.

A noite de ontem talvez, tivesse sido a pior da minha vida.

Parece que, em todo lugar que eu vou, encontro um canto só meu. Estou indo para a ponta de um penhasco onde a lua estava coberta pelas nuvens carregadas que – assim como o céu – assumia um tom marrom. As pouquíssimas estrelas brilhavam no céu quando o vento forte chicoteava meu rosto enquanto me sentava no chão frio da ponta do penhasco.

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Comecei a sentir um cheiro – um cheiro muito bom, amadeirado e doce ao mesmo tempo – eu não o reconheci, mas o barulho das patas pesadas o denunciou.

Eu não me virei, não queria saber o que Taylor fazia lá, muito menos em forma de lobo. Qual era o sentido daquilo tudo? Eu não sabia. Só ouvi sua transformação e ele, tentando em vão, não fazer barulho enquanto colocava suas roupas.

Eu ainda olhava fixamente para o horizonte quando senti Taylor se sentar ao meu lado e me observar. Lógico, ele adorava me olhar quando eu não parecia ser feita de espelhos coloridos.

Eu não olhei para ele e ele continuava com seus olhos grudados em mim.

- Juliet? – Ele chamou.

Balancei a cabeça.

- Tudo bem?

Dei uma silenciosa risada cínica, eu sabia que ele podia me ver tão bem quanto eu via ele – apesar da escuridão.

- Tudo ótimo – murmurei sentindo o gosto do meu sarcasmo ácido.

- Posso te dizer uma coisa? Você me ouviria se eu dissesse?

- Sim, fale – eu disse ainda sem olhar para ele.

- Eu vi o quanto você ficou magoada ontem e... – ele se interrompeu – olhe para mim, por favor.

Com muito pesar o olhei para seu rosto. Sua expressão era nervosa, frustrada, amedrontada e hesitante.

- Você tem noção do quanto é linda? – Ele me perguntou, as palavras saindo como um jorro – Você tem noção de como eu fiquei quando te vi daquele jeito ontem? Foi demais para mim Juliet! Eu não agüentei! A raiva que senti de mim mesmo ontem era devastadora!

Eu olhava para ele sem compreender, o que ele estava dizendo?

- Ontem, quando te vi... Brilhando, eu senti algo terrível. Eu queria poder te tocar, poder pegar seu rosto em minhas mãos e depois ver se a minha mão também brilhava; eu queria te fazer sorrir e saber que aquele sorriso era meu. Só isso. E naquela hora, quando te vi tão linda que não parecia ser real, parecia ser só mais um dos meus sonhos com a mulher perfeita, eu senti raiva, ódio e dor principalmente. Pois era só por minha culpa que eu não podia fazer tudo isso com você, não podia nem te dar um abraço direito por causa da minha timidez. Eu fiquei com raiva de ter te feito chorar por causa da minha reação e destruído por não poder te consolar e dizer que você era a coisa mais bonita que eu já tinha visto.

Eu olhava para ele sem expressão. Ele abaixou a cabeça e começou a olhar as mãos. Era estranho ver um homem tão grande, tão envergonhado.

- Eu não estou pedindo que fique comigo para sempre, só estou pedindo que me perdoe – ele mal sussurrou – você pode me perdoar? Eu não consigo viver sem você Jules, eu... eu tive o imprinting por você.

Meus olhos se arregalaram. O imprinting, por mim? Alguém precisava de mim na vida e esse alguém era a única pessoa de que eu precisava para sobreviver. Eu sorri e peguei seu queixo com os dedos, levantando seu rosto.

- Você aceitaria ficar comigo para sempre Taylor?

Ele olhou para mim assustado, sem entender o que eu quis dizer.

- Sabe o que é engraçado? – eu disse olhando as estrelas do céu e deixando toda minha vergonha de lado – Eu nunca fui sortuda mas hoje eu tive a sorte de descobrir que você teve o imprinting por mim...

Ele me olhava com expectativa.

- E eu tive o imprinting por você – sorri.

O sorriso que ele deu foi de tirar o fôlego, meu coração batia irregular enquanto Taylor pegava meu rosto em suas mãos e colava seus lábios quentes e desconcertantemente macios nos meus. Eu segurava em seus cabelos e suas mãos do meu rosto passaram a minha cintura. O calor dele era como o sol e seu beijo era tão ansioso, seus lábios tão urgentes nos meus que até doía pensar em quanto tempo ele queria ter feito isso.

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Ele parou de me beijar e me colocou de pé. Abraçou-me por um bom tempo, nenhum dos dois dizia nada. Por fim, beijou meu cabelo e suspirou.

- Há quanto tempo eu queria ter feito isso – sussurrou.

Ele me pegou no colo e eu dei um tapa na cabeça dele. Ele ainda não tinha minha permissão para fazer isso, mas ele me colocou gentilmente no chão e depois deitou-se ao meu lado.

Ele não fazia nada além de me olhar e sorrir. Eu já estava ficando sem saber o que fazer até que me lembrei de algo que me intrigava desde o momento em que nos conhecemos.

- Taylor – comecei a dizer sem graça – por que você nunca olhava nos meus olhos? Toda vez que eu te olhava você desviava o olhar.

Eu ouvi o coração dele acelerar.

- É que, bom... – ele não sabia como dizer – os seus olhos são muito intimidadores – ele riu nervoso – já ouviu falar que os olhos são a porta da alma? Então, eu conseguia ver a sua pelos seus olhos e ela era tão linda! Eu tinha medo de olhar muito e definitivamente não poder viver sem eles. Ter que aceitar a verdade de que te perdi para alguém que nunca iria te amar tanto quando eu te amo.

Eu sorria sem graça com tantos elogios, eu não merecia nenhum deles.

Eu olhei em seus olhos e dessa vez ele sustentou meu olhar.

- Taylor – eu disse, me aproximando – eu sou sua desde a primeira vez que te vi.