Prelúdio

Capítulo 16 - Revelações


Capítulo XVI Revelações

Dimitri.

Minha mente simplesmente não conseguia assimilar o que estava acontecendo.

A pessoa em que eu mais confiava... A pessoa em que eu me inspirava — em que eu tinha como exemplo — me traiu. Nos traiu. E o fez por amor...

As pessoas fazem tantas tolices quando estão apaixonadas... Meus pensamentos rapidamente moveram-se para a Stephanie voando ao meu lado. Com certeza eu faria qualquer coisa por ela... Mesmo que ela não soubesse!

Mas o que mais estava me deixando irritado no comportamento repulsivo de Viktor era o fato de que ele estava pondo em risco a vida da minha irmã... Da minha irmãzinha!

Como eu conseguiria cumprir a minha promessa de protegê-la a todo o custo se tudo parecia conspirar contra isso? A Christinne, sem dúvida nenhuma, é um imã para problemas. Tudo o que é perigoso — invariavelmente — vai de encontro a ela.

Isso se deve ao fato de que ela é única, especial e diferente. Vê-se pelo fato de que ela, em somente uma semana, tornou-se mais poderosa do que qualquer outra criatura da vila.

Agora mesmo, enquanto Stephanie e eu corríamos atrás dela ao passo que meu pai procurava ajuda, ela já nos estava deixando para trás. Eu já estava quase perdendo-a de vista.

É esquisito ver a minha irmã desse jeito... Blerg! Logo que adentramos a floresta, Christinne transformou-se em uma gigantesca, assustadora e delicada — acreditem! — lobisomem. Eu não podia reclamar. Se não fosse por sua pelagem branca como a neve que refletia a luz do luar, eu não conseguiria enxergá-la nessa escuridão.

— Faça alguma coisa, Dimitri! Ela está ganhando terreno! — exclamou Stephanie com uma pontada de medo na voz. Mesmo com todas as nossas brigas, eu tinha que dar-lhe um crédito: ela se preocupava com a minha irmã quase tanto quanto eu.

— O que você quer que eu faça? Não vê como ela é rápida? — eu perguntei nervosamente.

Ela franziu as sobrancelhas para mim. Seus olhos azuis límpidos faiscaram nos meus. Eu quase pude ler os seus pensamentos. Ela achava que essa discussão era totalmente desnecessária. Eu também!

Antes que ela pudesse pedir outra vez, eu desacelerei o meu passo, deixando que ela avançasse agilmente na minha frente. Então, eu agachei o suficiente para que minhas mãos encostassem o chão e, depois, saltei o máximo que eu pude.

A transformação foi automática. A familiar e desconfortável sensação de queimação subiu desde o meio de minhas costas até a minha nuca. E, antes que meus pés pudessem tocar o chão novamente, eu estava voando. Gigantescas e monstruosas asas de morcego mantinham-me no ar. Forcei-as violentamente na direção da minha irmã.

Quando passei ao lado da Stephanie, ela sorriu-me encorajadoramente. Ah, se ela soubesse o quanto aquele sorriso fazia a diferença... O quanto eu queria que ele fosse só meu...

Ah... Quem me dera!

Bati minhas asas com força, mais para espantar os meus pensamentos do que para alcançar minha irmã, mas serviu para os dois. Logo eu estava ao lado da Christinne.

— Chris... Você não vai fazer isso, vai? — eu perguntei. Eu batia minhas asas violentamente, forçando-me a continuar ao seu lado, mas nem assim ela diminuiu o ritmo. Seus olhos — verdes mesmo naquela forma estranha — avaliaram-me por um longo segundo. Eu quase pude imaginar o que ela estava pensando. Quase! Ela estava ficando boa em bloquear seus pensamentos. ¾ Por favor!

Implorar não foi uma boa idéia. Seus olhos cintilaram de dor. Ela ama o lobisomem. Mesmo que eu não consiga entender como.

Eu não posso deixá-lo, Di... Você não está ouvindo? — ela perguntou em minha cabeça. Eu sobressaltei-me. Mesmo já sabendo que isso poderia acontecer, eu assustei-me ao vê-la usando dois poderes ao mesmo tempo. Ela não pareceu perceber o meu espanto. — Ele está sofrendo, Di! Acho que eu cheguei tarde demais...

A dor em sua “voz” doeu em mim. Ela realmente ama o lobisomem. Eu me senti mal por tê-la feito passar por aquilo. Senti uma necessidade quase urgente de aliviá-la. De consolá-la.

Não diga isso, mana! Tudo bem! Eu concordo! Vamos salvá-lo! — eu disse mentalmente forçando um sorriso determinado. Seus olhos pareceram brilhar um pouco mais.

Será que vocês poderiam diminuir o passo para eu alcançá-los? ¾ falou outra voz em minha cabeça. Eu virei-me para trás procurando a origem daquele pensamento, mas não havia ninguém. ¾ Ei, Chris... Mesmo que eu não entenda realmente o motivo de você querer salvá-lo, eu vou te ajudar! Desde que eu possa bater em alguns lobisominhos, é claro! ¾ era o Klauss. Toda aquela determinação em matar lobisomens não poderia vir de outra pessoa.

É claro que pode, Klauss! Obrigada! — ela disse. Quase pude imaginá-la sorrindo pelo tom de sua voz.

Disponha, Chris! Disponha!

Um uivo torturado prendeu nossa atenção. Não precisei notar o acelerar desesperado do ritmo da minha irmã para perceber de quem era aquele uivo. Talvez ela tenha razão. Chegamos tarde...

E tudo por causa daquele protelamento desnecessário na casa de Viktor. Urrgh!

Dessa vez, foi impossível acompanhar o passo dela. Christinne avançou ligeiramente — suas patas forçavam-se contra o chão — e a agilidade e sutileza de seus movimentos pasmaram-me. Nem assim, ela emitia qualquer som. Diferente do farfalhar grosseiro das minhas asas. Sem dúvida, ela nasceu para isso!

Não me esforcei para continuar na mesma velocidade que ela, dessa vez. Só tentei mantê-la ao alcance da minha visão. Mas era um pouco difícil... Como um morcego, nessa forma minha visão diminuía consideravelmente.

Eu percebi, pela sutil abertura da clareira e por uma tênue iluminação mais adiante, que estávamos chegando perto. As árvores em volta não me pareciam mais tão apertadas e sufocantes. E, em algum lugar mais a frente, a lua deixava sua marca iluminada. Foi para onde eu corri.

Pouca coisa eu consegui perceber quando entramos na clareira. Eu fui obrigado a parar e olhar em volta. Tinha um lobisomem mais a frente. Josh, talvez... Ele estava parado em uma posição protetora em frente à Carmem, sua esposa. Ela, por sua vez, não parecia precisar de qualquer proteção. Ao lado deles, estavam três prisioneiros: Magda, Vinnícius e Rayanna.

Voltei minha atenção ao que realmente importava: Christinne. Ela não hesitou nem ao menos um segundo e — com um rosnado ameaçador — saltou diretamente onde estava nosso irmão, Mark. Eu preparei-me para ajudá-la, mas seu salto foi tão ágil que ele não teve tempo de reagir. Ela jogou-o diretamente em uma árvore, segurando-o pelo pescoço.

Josh reagiu em defesa de seu amigo, transformando-se em um gigantesco lobo cinza-claro e saltando em direção à Christinne, mas eu segurei-o bem a tempo, rolando no chão e tentando fugir de seus dentes venenosos. Com a minha visão periférica, eu procurei Carmem. Ela parecia estar dividida entre ajudar ou largar os prisioneiros, mas acabou transformando-se e correndo na minha direção na tentativa de proteger seu marido.

Na mesma hora, Josh rolou debaixo de mim e prendeu-me no chão com suas patas. Ele rosnou furiosamente mostrando seus enormes caninos. Pelo canto dos olhos, eu percebi a aproximação furtiva de sua parceira. Ela agachou, a alguns metros de nós, preparando-se para saltar.

Eu fechei os olhos esperando o impacto.

Mas ele não veio...

Ao invés disso, eu ouvi um som como o de uma grande quantidade de líquido batendo com força em algo e, depois, um baque surdo. E, em seguida, Josh soltou um gemido torturado.

Arrisquei-me a abrir os olhos.

Onde antes Carmem estava agachada, agora era Stephanie — inteiramente molhada e com um sorriso triunfante — que estava parada. Carmem fora arremessada — com a força de um jato de água lançado pela Stephanie — em uma árvore uns dois ou três metros à frente.

Josh — paralisado até agora e ainda em cima de mim — soltou um rosnado raivoso para a Stephanie.

Eu aproveitei-me de sua distração para libertar-me.

Encolhi minhas pernas brevemente e chutei-o bem no meio de seu abdômen jogando-o para trás. Com uma agilidade programada, eu fiquei de pé outra vez.

Stephanie sorriu-me brevemente, já se agachando para atacar de novo. Eu movi-me com presteza e facilidade para posicionar-me atrás dela. Nossas costas quase se tocavam enquanto protegíamos um ao outro.

Nossas respirações — apesar de forçadas e ofegantes — estavam sincronizadas enquanto observávamos Josh e Carmem se recuperando do golpe.

— Tentando me controlar, é? — a voz de Christinne chamou nossa atenção. Ela estava tingida de sarcasmo e nunca me pareceu tão assustadora. Até mesmo Mark, sempre tão confiante, tinha os olhos arregalados de puro medo.

Christinne aproximou-me ainda mais dele — de maneira graciosa, mas ameaçadora — e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. Foi baixo demais. Eu não consegui entender o que era. E antes mesmo que eu pudesse tentar entender, um novo som prendeu minha atenção.

Era o som de patas batendo contra o chão. Era um som que eu tinha previsto, mas não desejava... Um som que me fez estremecer.

Os lobisomens tinham mandado reforços. É claro...

Stephanie também ouviu a aproximação deles. Ela arfou de receio e deu um passo amedrontado para trás chocando-se contra mim. Eu quis confortá-la quase que instantaneamente e, sem pensar outra vez, eu entrelacei meus dedos nos seus tentando aliviá-la.

Eu não entendi na hora o que tinha acontecido, mas depois eu percebi que o que eu estava ouvindo eram os pensamentos dela. Dela!

A minha timidez e o meu medo da rejeição sempre me impediram de ver o que realmente se passa na cabeça dela. O que ela realmente pensa de mim. Depois de todas aquelas brigas eu já nem tinha mais esperanças...

Mas seus pensamentos eram nítidos. Stephanie estava se lembrando de algo que aconteceu naquela mesma tarde. Uma conversa entre ela e a Chris... Tantas revelações! Meu peito encheu-se de satisfação e eu quis virar ali mesmo e tomar os seus lábios nos meus.

Outro pensamento me fez parar.

Ela sabia.

Ela já sabia que eu gostava dela.

Que eu sonhava com ela todas as noites...

Que meus pensamentos todos pertenciam a ela...

Ela já sabia...

A Christinne que havia contado. Eu tinha que lembrar-me de agradecê-la mais tarde.

Se houvesse mais tarde...

Eu olhei em volta tentando analisar a nossa situação. Terrível não seria a palavra mais adequada. Aterrorizante também não. Trágica talvez expressasse melhor, mas ainda assim...

Josh encarava-me com um sorriso de triunfo no rosto. E pelos seus pensamentos, Carmem também encarava Stephanie do mesmo jeito. Eles, assim como nós, já tinham percebido o quanto estávamos enrascados. Onde raios está a ajuda que meu pai foi procurar? Onde ele está? E Klauss? Eles não estavam logo atrás de nós?

Calma aí, filho! — falou a voz de meu pai em minha cabeça — Nós já estamos quase chegando!

É isso aí, Dimitri! Agüente só mais um minuto! — disse Klauss.

Err... Pessoal, acho que nós não temos um minuto! — eu pensei.

Um longo segundo de silêncio se passou em minha cabeça. Mas logo meu pai voltou a falar com um ligeiro tom de receio na “voz”.

Dimitri! O que está acontecendo? Me mostre!

Eu quis respondê-lo, mas a nossa situação atual me deixou momentaneamente paralisado. Pelo menos uns dez lobisomens e ogros surgiram de todos os lados da clareira. Eles pararam a poucos metros de nós avaliando a nossa situação com um pouco de arrogância.

Olhei em volta, mas não quis reconhecer os rostos. Os únicos em que eu prestei atenção foram Lohainne — meus olhos perceberam brevemente que ela estava entre eles — e Marcel e Laís — que eu vi pelos olhos da Stephanie. Seu pai e sua irmã. Ela não estava nada feliz de vê-los ali. E muito menos por ter que lutar contra eles.

Eu apertei sua mão com mais força na minha.

Eu procurei minha irmã com os olhos. Ela parecia seriamente entretida com a sua própria luta. Quem sabe, depois que tudo acabar, ela possa fugir. Mas uma breve olhada para o outro lado me fez lembrar que talvez ela não fosse fugir por vontade própria. Matthew estava caído em um canto completamente ensangüentado e, mesmo tão longe, eu pude notar que ele não sobreviveria por muito mais tempo.

Um novo ruído chamou minha atenção. Até os lobisomens e ogros viraram-se na direção do som. Eu quase soltei um suspiro aliviado quando os ouvi chegando. Nossos reforços.

Meu pai, Klauss, Patrícia, Doug e Jonnathan estavam entre os vampiros. Das ninfas, vieram Catherinne, Maia, Fabiana e Jamilly. E, para o meu completo espanto, Viktor também apareceu acompanhado de — acreditem! — Hanna.

A Lohainne pareceu ainda mais assustada do que eu. Talvez eu não seja o único espantado aqui!

Antes que eu pudesse sequer me perguntar o que raios aquela mulher estava fazendo aqui, Lohainne transformou-se em uma imensa lobisomem cor de chocolate e, com um rosnado ameaçador, saltou em direção ao seu irmão.

Essa simples ofensiva gerou uma reação em cadeia. Imediatamente, todos começaram a atacar-se mutuamente. Não tive tempo nem mesmo de ver quem lutava com quem, pois Josh já começara a me atacar novamente.

É difícil lutar contra um lobisomem. Seus poderes, é claro, tornam-se completamente inúteis contra nós. Mas eles tinham uma vantagem: seu poderoso veneno. Uma simples mordida e já era!

Já eu tinha que contar com a minha imprevisível capacidade de ler pensamentos. Mas Josh era esperto. Ele se esforçava bastante para não deixar que eu previsse seus movimentos. Mesmo quando eu o estava tocando.

Eu não posso ler os pensamentos de alguém sem que ele permita. Exceto nos breves momentos em que ele deixa algo escapar. E era nesses momentos em que eu tinha que apostar.

E ainda tinha o fato de que eu, constantemente, olhava para os lados procurando a Christinne ou a Stephanie para me certificar de que elas estavam bem. Mas isso não foi bem um problema, já que Josh também vigiava sua esposa a intervalos regulares.

Minha outra vantagem era o fato de que eu podia voar. Sempre que a coisa parecia que ia ficar feia, eu batia minhas asas e voava alto o suficiente para que Josh não me alcançasse. Era um ato covarde, mas o que mais eu poderia fazer?

Foi em um desses momentos que o jogo virou. Para o outro lado...

Minha pulsação começou a se acelerar e Josh estava com uma grande vantagem em cima de mim, então eu abri minhas grandes asas para voar e poder recuperar o meu fôlego. Eu subi uns dois ou três metros. Foi aí o meu erro: eu baixei a guarda. E Josh, aproveitando-se disso, saltou o suficiente para que suas garras afiadas alcançassem uma de minhas asas. Eu gritei aflitivamente quando senti suas unhas rasgando minha pele.

E, com uma das asas inutilizada, eu caí no chão com um estrondo. Mal tive tempo de preparar-me e Josh já estava em cima de mim. Suas patas dianteiras prendendo meus ombros no chão. Ele arreganhou os dentes, pronto para dar-me a mordida que me mataria, mas algo o fez parar. Na verdade, fez todos nós pararmos em choque.

Um estrondo horrível tomou conta do campo de batalha. Nossos olhos procuraram, em sintonia, a origem do som. Era Mark caído inconsciente de um lado da clareira ao lado de uma árvore partida ao meio. Eu percebi, com um assomo de espanto, que a árvore tinha sido quebrada com o impacto da força com que ele tinha sido arremessado. Foi com ainda mais espanto que eu olhei para o outro lado da clareira. A pelo menos uns dez metros de distância, Christinne estava parada ofegante. Ela tinha usado mais um de seus poderes. Um que ela não tinha treinado ainda. A força extraordinária dos ogros.

Sem dúvida nenhuma, ela jogara-o daquela distância.

O medo transpassou o olhar de cada um de nossos adversários naquele instante. Josh estava paralisado de terror. Ela tinha me ajudado mais uma vez. Meu peito encheu-se de orgulho da minha irmãzinha...

Eu estava pronto para libertar-me, mas um novo som encheu meus ouvidos. Cobriu-me de terror também, mas me deu ainda mais energia para sair dali. Era um grito. Da Stephanie.

Meu coração parou por breves segundos. Segundos suficientes para eu perceber que ela precisava da minha ajuda. Segundos suficientes para que eu pudesse me libertar.

Com ainda mais força do que antes, eu chutei Josh para longe de mim e, antes que ele pudesse voltar, eu acertei um soco em seu queixo, forte o suficiente para que ele caísse no chão outra vez.

Sem dar-lhe tempo de reação, eu corri para a origem do grito. Rezei para que não fosse nada demais, mas a cena que meus olhos encontraram paralisaram permanentemente meu coração. Stephanie estava caída no chão com uma ferida enorme aberta em seu ombro e, ao lado dela, estava Carmem — novamente transformada em humana — limpando o sangue dos cantos de sua boca.

O sangue de minha amada. Ela a tinha mordido.

Não! Não! Não!

Por favor, meu Deus! Isso não pode estar acontecendo...

Antes que eu pudesse reagir de qualquer forma, Lohainne estava gritando no meio da clareira. Seus olhos demonstravam claramente o quanto ela estava assustada com o poder da Chris.

— Vamos embora, gente! A festa acabou! — ela disse, mas seu tom não foi tão animado quanto deveria ter sido.

Os lobisomens obedeceram-na imediatamente. E logo éramos só nós naquela clareira. Eu olhei brevemente em volta. Minha irmã, exatamente na mesma posição que eu, chorava agachada ao lado do corpo sem vida de seu lobisomem. Seria essa a minha sina?

Não! Eu implorei.

— Não morra, Stephanie! Por favor... — eu sussurrei sob lágrimas.

Ela abriu os olhos fracamente. Seus límpidos e calmos olhos azuis.

— Di... Dimitri... — ela suspirou fragilmente. Eu pude ver cada parte de seu ser transbordando de alegria por ter-me ao seu lado. Mas eu não conseguia sentir a mesma alegria. Ela estava morrendo. — Me... Me desculpe...

— Não se desculpe, Steph! Por favor... Eu é que tenho que me desculpar... Por ter sido tão estúpido. Eu... Eu te amo! — as palavras saíram naturalmente de meus lábios. Era como se elas ansiassem por essa oportunidade há muito tempo.

Stephanie olhou-me nos olhos deliciada com o momento.

— Eu... Eu também! — ela disse. Mas sua voz fraquejou de dor. Era o veneno espalhando-se por suas veias. Eu desesperei-me.

— Fabiana! — eu gritei. Era nossa última esperança.

A ninfa do ar olhou-me brevemente e depois seu olhar encontrou a Stephanie em meus braços. Ela correu até nós.

— Ela... Ela foi mordida? — ela perguntou.

Eu sacudi a cabeça impaciente.

— Espere um momento! Eu trouxe o antídoto. Está em algum lugar... — ela disse vasculhando uma mochila. — Agüente firme, Stephanie!

Mas ela não iria agüentar. Eu senti sua vida esvaindo-se rapidamente. Parecia que ela estava levando a minha vida junto.

— Christinne, não faça isso! — alguém gritou.

Isso chamou minha atenção. Minha irmã tinha as mãos sobre o corpo de Matthew e uma luz branca e ofuscante envolvia os dois. Eu, assim como os outros, entendi o que ela estava fazendo. Ela estava ressuscitando-o.

Eu quis gritar também, mas eu não encontrei minha voz.

— O... O que ela está fazendo? — perguntou Stephanie tão fraca e tão baixo que só eu pude ouvir. A dor em seus olhos pelo sacrifício da melhor amiga era tocante. — Ela não pode fazer isso! Dimitri... Faça alguma coisa!

Eu olhei de volta para minha irmã somente para ver seu corpo cair sem vida ao lado do lobisomem.

— Não, Chris! — sussurrou Stephanie aflitivamente. — Não!

E depois, ela desmaiou em meus braços.