Pray For Love

Capítulo 6 - Envelheço na Cidade


— Ei, Lucy, terminou? — perguntou Natsu, acenando para ela assim que a loira saiu da loja com uma sacola cheia de sutiãs.

Mais um longo dia de caminhada e os dois finalmente chegaram a uma cidade grande — Lucy desconfiava ser um dos centros comerciais, a julgar pelo grande porto ao final da cidade e os vários barcos lá ancorados. Todas as ruas eram bonitas, decoradas com enfeites coloridos e placas para hotéis, lojas e pontos históricos. Sua parada inicial após encontrarem uma pousada com um bom preço fora a primeira loja de roupas que a recepcionista soube lhes indicar, para a qual a loira voou como um furacão em busca de suas necessidades básicas.

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— Sim, já terminei — respondeu, balançando a sacola cor de rosa nos dedos e sorrindo para o rosado. Natsu levantou as sobrancelhas para sua atitude claramente bem mais relaxada, mas qualquer pensamento ele manteve para si mesmo.

— Então vamos! Eu já sei onde a gente devia ir comer! — afirmou Happy, pulando alegremente pela rua de paralelepípedos. Algumas moças pelo caminho o olhavam com olhos brilhantes e murmuravam entre si o quanto o gato era bonitinho. Lucy sorriu para si mesma. Ah, todos tinham sempre as mesmas reações.

Primeiro de tudo, ele não era um gato. Segundo: ele só era bonitinho até o momento em que te desse algo para comer recheado de peixe cru — e não, não estamos falando de sushi.

Os três desciam a rua calmamente e Lucy aproveitou o tempo para observar as vitrines coloridas das lojas, os enfeites em formatos e cores variados pendurados em fitinhas por cima de suas cabeças, as pessoas conversando alegremente. Aparentemente apareceram em algum momento de festival, e pelo que a recepcionista lhes contara antes de saírem, o mesmo seria realizado na noite do dia seguinte.

Happy parou na frente de um pequeno restaurante numa esquina, sorrindo presunçosamente para si mesmo com as patas na cintura. A loira não demorou muito para entender o motivo de sua felicidade.

Isca de peixe? — leu em voz alta o nome do local, escrito sobre uma placa em formato de peixe com um anzol preso à boca. E então abaixo, em letras menores: — Servimos mais de trinta pratos diferentes com peixe...

— Oh, Happy, bela escolha! — aprovou Natsu, levantando o polegar para enfatizar sua opinião, e então começou a marchar de modo resoluto para dentro do restaurante com o gato em seu encalço, gritando “Aye” a plenos pulmões.

Lucy conteve um suspiro de condescendência e começou a segui-los. O interior do restaurante era de fato bem convidativo: paredes com um metro de madeira decorando-as, a parte de cima pintada com um cenário de dia no mar, com direito a gaivotas e ondinhas. Havia algumas pilastras de madeira aqui e acolá, e algumas cordas penduradas, simulando assim um barco rústico, e os garçons por algum motivo estavam vestidos de marinheiros.

Os três pegaram uma mesa perto da entrada, aproveitando as janelas para observar o ambiente. Tão logo se sentaram, no entanto, Happy pulou de sua cadeira e foi falar com um garçom. Natsu tomou a oportunidade para começar um diálogo:

— Então, Lucy, para onde você acha que nós devíamos ir depois daqui? — Quis saber, a voz não mais do que curiosa.

— Depois daqui? Hm... — A garota reviu em sua mente o mapa que havia feito em sua parede. Ah, as coisas seriam bem mais fáceis se eles tivessem anotado os dados antes de fugirem! — Como estamos ao noroeste, eu acho que devíamos ir procurar a Lisanna e a Mirajane primeiro. Elas estavam ao norte, perto da fronteira de Fiore, se não me engano.

— Mirajane e Lisanna? — ecoou o garoto, apoiando o queixo nas mãos e olhando distraidamente para a janela. — Me pergunto como elas estão...

Lucy o observou, um pouco surpresa. Natsu parecia de fato querer encontrar seus amigos, e sua preocupação era bem justificada, mas isso não queria dizer que ela não podia sentir ciúmes quando ele falava com aquele tom de voz nostálgico sobre a albina!

Não que Lisanna tivesse quaisquer intenções com ele. Certa vez, já deixara bem claro que torcia por Lucy — ou que ao menos não torcia para si mesma — dizendo à loira para permanecer ao lado de Natsu sem demonstrar qualquer sinal de ciúmes ao fazê-lo.

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Lucy também a respeitava profundamente, afinal, a garota já havia passado por muitas coisas, e certamente tinha um coração muito forte. Seu retorno tornara aquela guilda bagunçada ainda mais alegre.

A guilda. Os membros que ela não via havia um ano... Um ano sem eles...

— Natsu, temos um problema! — exclamou Happy, interrompendo seus pensamentos e colocando suas patas na mesa de modo cético. Lucy pulou surpresa e virou para olhá-lo ainda em tempo de ouvir o rosado perguntar de um modo igualmente escandaloso o que havia acontecido. — Eles não têm bolo de peixe! Como vamos comemorar o aniversário da Lucy sem bolo de peixe?

A loira teria protestado dizendo que não fazia questão disso, não fosse o choque por ouvir a última frase do gato. Arregalou os olhos, franziu as sobrancelhas e contou os dias mentalmente.

Ok, definitivamente tinha algo errado ali!

— Natsu, Happy, o qu...

— Isso é horrível! — concordou o dragão de fogo, levantando-se em sobressalto. — Vamos falar com os cozinheiros agora mesmo!

E saíram batendo o pé, atraindo o máximo de atenção possível.

Lucy teria tentado mudar a ideia deles quanto à festa, não fosse porque os dois voltaram com três filés de peixe empilhados com uma velinha no topo e uma trupe de garçons-marinheiros com confete nas mãos e línguas de sogra.

Tentou esconder seu rosto nas mãos quando o restaurante inteiro vibrou em coro o “Parabéns pra você”, a única música universalmente conhecida, e então alguém lhe entregou um garfo e uma faca para que ela cortasse um dos filés e desse para o convidado favorito — afinal, como reza a tradição, o primeiro “pedaço” é sempre para o melhor amigo ou parente próximo.

Lucy retirou um pouco do confete que havia caído na comida e jogou por cima do ombro — problema de quem fosse limpar, ela não se importava! —, cortou uma fatia bem magra e passou para o prato seguinte. Os olhos de Happy brilhavam em expectativa, afinal, ele queria muito aquele peixe, e para puni-lo, Lucy empurrou o resto dos filés para o lado e deu a si mesma o primeiro pedaço.

— Afinal, eu sou a pessoa mais importante pra mim — entoou, ignorando a boca aberta e os olhos úmidos do gato, que rapidamente se virou e saiu correndo, chamando-a de idiota.

Bem, pelo menos ele tinha a decência de parecer mais chateado sobre o fato de não ser o favorito dela do que sobre deixar de comer o peixe. Só parecer.

Natsu devorou o restante da refeição e os três saíram do restaurante já de noite. As lanternas penduradas com os enfeites pela rua haviam sido acesas e iluminavam seu caminho com cores variando entre verde, azul e vermelho, todas meio amareladas devido à chama das velas em seu interior.

Quando chegaram à pousada, Happy mais do que rapidamente reivindicou o banheiro, ainda agindo como se estivesse chateado sobre todo o episódio de mais cedo. Lucy foi deixada sozinha no pequeno quarto de paredes verde claras com Natsu, que prontamente se sentou ao lado dela na cama.

— Então, Luce, agora você pode me perdoar? — perguntou casualmente, dando um sorriso para a garota.

Lucy o olhou um pouco surpresa e franziu a testa ao responder:

— Eu estava de te perdoar por alguma coisa? — E inclinou a cabeça para o lado, tentando se lembrar de algum acontecimento recente. Considerando que só haviam se encontrado novamente havia uns três dias, não havia exatamente nada relevante que poderia ser deixado de lado.

— Você tava brava ontem e brigou comigo... Achei que você tava brava comigo — explicou ele, franzindo levemente os lábios. Os acontecimentos não estavam se sucedendo como em seus pensamentos. Quando exatamente ela ia começar a chorar e pedir perdão por seu comportamento e então os dois iam se abraçar e reafirmar a eternidade de sua amizade e o restante das coisas?

Ah! — Exclamou, batendo um punho na palma da outra mão para indicar que havia compreendido. E então soltou um sorriso, virando-se para ele um pouco envergonhada. — Você não fez nada de errado ontem, Natsu. Desculpa, era eu que estava estranha.

Ok, mas então onde estavam as lágrimas e o abraço?

E... — ele instigou, ficando um pouco impaciente.

— E... Ah, acho que você devia saber. Eu agradeço pela festa, pelo carinho e tudo o mais, mas hoje não é meu aniversário — disse, ainda dando um sorriso um pouco envergonhado e passando os dedos pelos cabelos nervosamente.

— H-hoje não é seu aniversário? — questionou, piscando surpreso. E então... — Ah não! Mas então como vamos nos abraçar?

Começou a olhar de um lado para o outro, parecendo desesperado, e Lucy o encarou de olhos arregalados. Abraçar? Sentiu seu rosto avermelhar.

— O-o que significa isso? — indagou, as mãos em punho agarrando a barra de sua saia em expectativa enquanto seu olhar o fitava intensamente.

— Happy disse... — Por algum motivo ele evitou seu olhar. — Disse que só podemos abraçar as meninas em algumas ocasiões especiais, e uma delas é no aniversário.

Ah... — A Heartfillia se inclinou para trás em realização. Então Natsu queria mesmo abraçá-la... Criou um pouco de coragem. — Se era só isso que você queria, você podia ter pedido, sabe.

— Pedido? Eu posso pedir? — Natsu a estava olhando, ela podia sentir, mas não se atreveu a devolver o olhar, preferindo ao invés disso analisar minuciosamente o padrão da colcha da cama.

— C-claro... — respondeu, por fim.

Tão logo as palavras deixaram seus lábios, os braços de Natsu já estavam ao seu redor, puxando-a de encontro ao peito masculino. Deixou seus próprios braços escorregarem pela cintura dele, moldando seus corpos de um modo tão perfeito que chegava a causar-lhe arrepios.

Ele era quente, gentil, amável... Os dedos masculinos passearam por seus cabelos, enrolando as madeixas louras nas mãos, e então ele disse:

— Posso te abraçar, Luce?

Como negar isso?

Sim... — sussurrou.

Um ano havia se passado. Um ano sem Fairy Tail, um ano sem Natsu. E mesmo assim, esse ano podia ser esquecido tão facilmente... Não era seu aniversário, mas se sentia tão feliz quanto se fosse, e disse a si mesma que envelhecer desse jeito certamente não seria uma ideia ruim. Nos braços de Natsu para sempre...

Algum tempo depois, Happy saiu do banheiro e os dois tiveram de responder a algumas perguntas embaraçosas. Mas tudo bem, porque daquele jeito, tudo parecia exatamente em seu lugar.