Pra que mudar?

Capítulo 12: O feriado de Gustavo e Roberta. ( Narrado por Roberta)- Parte 1


Não poderia imaginar algo pior do que ficar presa com meus pais e meu irmão caçula na velha casa do lago em pleno feriado.

Todos estavam se divertindo, até Alexia teve permissão para viajar com o namorado e eu aqui feito uma criança que não pode nem sequer decidir o que vai fazer.

— Chegamos! – Mamãe deu um grito de entusiasmo ao ver a casa.

Estava exatamente igual da última vez que estivemos ali. Quando meus pais tinham tempo para nós e minha mãe ainda era uma feliz dona de casa e não uma empresária mal humorada e cruel de Wall Street.

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O lago estava cheio, o calor trouxe todos os donos das casas de veraneio para ali.

— Se troquem crianças, vamos fazer um piquenique lá fora. Está um dia incrível e não podemos desperdiçar. – papai diz animado.

Tinha alguma coisa estranha no ar. Mamãe e papai nos tratavam maravilhosamente bem e estavam sendo mais amáveis do que o habitual, porém evitavam contato visual e toques entre eles.

Estava subindo as escadas correndo junto com meu irmão. Nos trocamos rapidamente e quando descemos papai já estava com a churrasqueira à todo vapor.

— Cadê a mamãe? – Caio, meu irmãozinho pergunta olhando a nossa volta.

— Foi ao mercado, comprar algumas coisas que faltaram, não demora. – Papai responde sem nos olhar.

Passamos a tarde toda juntos e estava tudo incrivelmente tranquilo. Parecia que toda a inquietação que estava sentido era injustificada. Depois de comer muito e tirar um cochilo, resolvo caminhar um pouco.

Nada mudou mesmo por ali. Lembro-me de quando era mais nova, e brincava com as outras crianças que passavam férias por ali também. Me afasto o máximo que posso de casa e quando sinto ter um pouco de privacidade, tiro minha camiseta e meu short e dou um mergulho.

A sensação da água fria em meu corpo quente era maravilhosa. Aprendi a nadar neste lago e sempre sonhei em ter minha casa e morar para sempre aqui. Distraída, fecho os olhos e deixo meu corpo flutuar.

Fico assim por um longo tempo. Abro meus olhos para apreciar o céu azul e dou de cara com enormes olhos me encarando. Assusto-me e afundo de uma vez.

— Calma, não sou tão feio assim. – Uma voz doce e familiar diz, puxando pela cintura para que eu parasse de engolir água.

— O que faz aqui? – pergunto repentinamente constrangida. Estou apenas de biquíni e Gustavo estava sem camisa. Ele envolveu um braço apertado em minha cintura e nossos corpos estavam encostados. Mesmo dentro d´água, sentia minha pele queimar junto a dele.

— Vim aproveitar o feriado com meu pai, aquela casa ali é do meu avô que nos emprestou. – Gustavo responde enquanto aponta um casarão branco e verde próximo.

— Legal. – Digo mais entusiasmada do que gostaria de demonstrar. Ruborizo imediatamente.

— E você? Está com sua família? – ele pergunta repentinamente curioso. Gustavo geralmente era sério e frio comigo, mas ali e agora estava achando-o incrivelmente caloroso e estava amando toda essa mudança.

— Sim, não tive opção. – respondo e rimos um pouco juntos. Gustavo não faz menção de me soltar e assim tão próxima dele, só consigo tentar me concentrar em minha respiração.

Nos encaramos. Encaro seus lábios e ele percebe isso, dando um leve sorriso, que faz meu coração acelerar ainda mais. Tento me afastar, não quero parecer atirada demais, mas ele me segura com mais força.

Forço meus olhos a pararem de encarar seus lábios e olhos em seus olhos. Ele decididamente está diferente, seus olhos até brilham.

— Roberta! – escuto Caio me gritando da floresta. Nem assim Gustavo me solta.

— Quem é? – ele pergunta curioso.

— Meu irmãozinho. – respondo de modo carinhoso. Ele sorri mais ainda.

— Qual idade dele? – ele continua o interrogatório.

— Oito anos. – respondo.

— Você está aqui. – Meu irmãozinho grita de entusiasmo ao finalmente nos encontrar. Caio olha de mim para Gustavo e de Gustavo para mim. – Quem é esse? – ele pergunta desconfiado.

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— Esse é o Gustavo um amigo da escola. Gustavo esse é Caio, meu irmão. – Faço as devidas apresentações me desvencilhando contra minha vontade dos braços de Gustavo.

Saímos juntos da água. Gustavo começa a conversar animadamente com meu irmãozinho e enquanto eu me visto, posso sentir seu olhar em mim.

— Aconteceu algo? – Pergunto a Caio. Não era do feitio do meu irmão vir atrás de mim. Ambos erámos espíritos livres e gostávamos de ficar sozinhos.

— Mamãe chegou e está brigando com papai. – ele responde sem me encarar. Olho desanimada para ele.

— Que tal todos irmos pescar? – Gustavo pergunta repentinamente. Olho para meu irmão, e o enorme sorriso em seu sorriso já é resposta o suficiente.

— Vamos. – respondo.

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O diretor, fora do colégio, era um homem incrivelmente engraçado e animado. Nem em sonho lembrava aquele homem rígido e controlador que víamos todos os dias no colégio.

Ele tinha um barco lindo, que chamava-se Jenny, uma homenagem a mãe de Gustavo que falecera anos antes. Deixei que os três pescassem a vontade e fiquei tomando sol enquanto isso.

Fiquei pensando, qual seria o problema dos meus pais afinal? Nada justificaria o modo estranho que vinham se comportando. Ainda por cima brigar na frente do meu irmão. Assim que tivesse uma oportunidade iria coloca-los contra parede.

Ficamos o resto do dia juntos. A noite fizemos uma enorme fogueira e o pai de Gustavo nos contou inúmeras histórias da época que conheceu sua esposa.

Enquanto escutava seus relatos apaixonados pensei em como a vida era injusta. Eles obviamente se amavam e tiveram pouco tempo juntos para aproveitar este sentimento. Meus pais desperdiçavam o tempo que tinham brigando.

Caio adormeceu e Gustavo se ofereceu para carrega-lo e nos acompanhar até nossa casa.

Não conversamos quase nada no caminho. Fomos beirando o lago, iluminados pela enorme e linda lua cheia. Quando chegamos a minha cabeça, Gustavo me entregou meu irmão e despediu-se me dando um beijo na bochecha.

Combinamos de nos encontrar novamente no dia seguinte.

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Quando entrei em casa, deparei-me com meus pais na sala. Estavam sentados frente a frente e não diziam sequer uma palavra. Nem sequer notaram minha presença ali. Aproveitei para escapulir escadas acima.

Coloquei Caio em sua cama e o cobri. Logo em seguida entrei no banheiro para um longo banho quente. Só o que pensava era em como Gustavo estava mudado. Fiquei ainda mais encantada por ele. Mesmo sabendo que Alexia ainda era sua favorita.

Depois do banho, vesti meu pijama e fui deitar-me. Em meu celular uma mensagem que me deixou radiante:

“Adorei o dia com vocês! Amanhã seremos só nos dois. G.”

Gustavo disse isso mesmo? Amanhã seria só nos dois? Tipo um encontro?

“Obrigada por tudo! Estou ansiosa por amanhã. Beijos”

Respondo.

Sem acreditar em tudo que aconteceu hoje, adormeço e sonho com meu príncipe.

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Acordo em plena madrugada ao ouvir mais uma discussão de meus pais. Eles obviamente perderam a noção, com essa gritaria acordariam Caio e os vizinhos. Pego meu celular e checo o horário, coloco-o no bolso da calça e desço furiosa as escadas.

— Quero ver como vai contar isso a seus filhos! – meu pai esbravejava, enquanto minha mãe chorava em silêncio.

— Contar o que? – pergunto entrando repentinamente na sala. Minha mãe me olha em choque e meu pai simplesmente a encarava friamente. – Contar o que? – Pergunto novamente percebendo que ela não faz menção nenhuma em me responder.

— Filha, melhor você se sentar. – Meu pai sugere.

— Estou bem assim. – Retruco.

— Ótimo, vou deixa-las a sós. – ele diz e retira-se nos dando privacidade.

— Então, pode me dizer agora qual o motivo para toda essa ceninha? São quase cinco horas da manhã. Qual o problema de vocês? – pergunto soltando toda minha irritação guardada.

— Filha, eu cometi um erro, seu pai tentou, mas não conseguiu me perdoar. – ela diz enquanto lágrimas descem descontroladamente por seu rosto.

— Que erro? – pergunto sentando-me ao seu lado e segurando sua mão com força. Não suporto vê-la chorar.

—Bom, seu pai passa mais tempo em casa, ele anda trabalhando muito em seu próximo livro. E eu ando trabalhando muito e viajando bastante. – ela falou tentando obviamente justificar seu erro.

— Fale logo mãe. – ordeno.

— Eu estava tendo um caso a quase um ano, e, há cerca de um mês, seu pai descobriu tudo. – ela finalmente revela a verdade. – ela diz de uma vez.

Olho para aquela mulher, e vejo toda admiração, todo respeito, todo carinho que sentia por ela se esvair. Não consigo olha-la, nem sequer toca-la. Me afasto lentamente. Ela faz menção de levantar-se para me acompanhar, mas meu olhar a alerta que é melhor não fazer isso.

— Como pode? – Deixo essa pergunta no ar, e saio correndo dali.

Corro furiosamente, para longe dali, mesmo de pijama e chinelos, não me importo com mais nada, tudo que quero é sumir. Minha família estava destruída e nada traria de volta o que tínhamos. Entro cada vez mais dentro da floresta e deixo o lago para trás, só quero ficar um bom tempo sozinha.

Tropeço em uma pedra em meio a correria e caio deitada no chão. Não consigo ou melhor não quero levantar-me. Fico ali no chão úmido esperando que tudo isso não passe de um pesadelo.