POV Sharon

Ridícula. Era assim que eu estava me sentindo dentro daquela roupa, teria sido melhor deixar que Lauren tivesse a tentativa frustrada de mandar alguém tentar manipular minha mente, assim eu poderia ter usado uma calça rasgada e meus coturnos e estaria muito mais a vontade. Ela parecia satisfeita com seu trabalho de me deixar parecendo uma socialite americana, argh! Caminhei a contragosto para o salão na tentativa de avistar Matt e esperar que ele me convencesse a trocar de roupa, não demorei muito a encontra-lo, estava com Andrew conversando do outro lado do salão. Ao me ver seus olhos se abriram mais em uma expressão de surpresa que me fez sentir ainda pior, ele quase correu ao meu encontro e me olhava como se estivesse tentando me reconhecer:

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- Você está...

- Ridícula. – Completei levemente irônica.

- Perfeita. – Ele me corrigiu com um sorriso. – E eu pensava que você não conseguia ficar mais estonteante... Me enganei.

- Corta essa, a Lauren me fez parecer a versão sombria da Barbie!

- Então a essa altura eu devo estar a versão idiota do Ken que não consegue parar de olhar pra você.

- Ok, já chega, conseguiu me fazer sentir melhor. Ponto pra você. – Sorri.

- Gosto quando você sorri...

Antes que eu pudesse responder Lauren nos interrompeu, pedi a Matt que esperasse e caminhei com ela até uma mesa afastada no salão estranhando as perguntas que ela me fez, eu a olhei desconfiada por um momento:

- Qual o motivo disso Lauren? Ta tudo bem?

- Sharon... Olha, tudo que eu quero é ajudar você...

- Você não pode fazer isso. – Falei convicta.

- Não posso se você não deixar... Me encontre amanhã no salão das escadas.

- Mas...

- Por favor. – Ela pediu docemente.

- Tudo bem...

- Vamos curtir a festa.

- Eu não vou dançar. – Falei recusando.

Saindo ao encontro de Andrew ela me deixou ali pensativa por um momento. Levantei e caminhei em direção à Matt que me esperava no mesmo lugar, as perguntas de Lauren ficaram presas na minha cabeça, mas eu não conseguia desconfiar dela era a única das meninas com quem me sentia a vontade, na verdade ela e Matt eram as únicas pessoas com quem eu conseguia conversar. Ele me olhou um pouco preocupado e segurou minha mão calmamente:

- Ei... Tudo bem?

- Ta sim...

- Quer dançar comigo?

- Eu? Dançar? Confie em mim, sem chance.

- Por favor...

- De jeito nenhum. - Ele me fitou desanimado. – Mas eu tenho uma ideia melhor...

- O que?

- Vem comigo.

Deixamos o salão despercebidos, àquela altura no meio de todos dançando imersos naquele clima de romantismo não dariam por nossa falta. A lua cheia parecia estar ali por nós, para abrilhantar aquele momento, eu me sentia estranha, como se algo em mim tomasse aquele instante como uma despedida. Tentei afastar meus pensamentos e me concentrar em Matt, a presença dele me fazia bem, sentira algo por ele desde que nos vimos pela primeira vez, segurei sua mão e puxei-o até um coreto que estava iluminado no jardim dos fundos, isolado, vazio.

- Quer fazer magia pra mim? – Perguntei sorrindo ansiosa.

- O que? Como? Eu não tenho magia. – Ele riu cético.

- Claro que tem! Vem aqui...

Nos sentamos em um dos bancos do jardim, eu segurei as mãos dele entre as minhas e passei minha energia para ele, dando-lhe acesso ao meu corpo, às sensações e lembranças que eu tinha com ele desde o nosso primeiro encontro. Ele abriu os olhos e finalmente enxergou que nós estávamos flutuando no ar, ele sorria:

- Viu? Você é um aprendiz de feiticeiro. – Falei em tom brincalhão.

- E-Eu fiz isso? Como? – Ele perguntou olhando para baixo, impressionado.

- Todos temos mágica em nós, Matt... É só acreditar que é possível. Agora, quer dançar comigo? – Me permiti soltar um sorriso sapeca e ele me fitou com o rosto iluminado.

- Sera uma honra.

As mãos de Matt me tomaram bem na hora que começou a tocar How Can I not Love You, uma segurou minha mão esquerda elevando-a graciosamente, a outra se posicionou em minha cintura puxando-me para perto do seu corpo a ponto de sentir seu calor nitidamente, minha respiração ficou descompassada por um momento, olhei nos olhos de Matt e ali mesmo, suspensos no ar, nossos passos começaram calmos em direção ao coreto iluminado nossos olhos conversavam sem uma única palavra, a luz refletia sobre os olhos de Matt fazendo-os brilhar intensamente e nesse momento meu coração palpitou, eu queria que ele se lembrasse daquele momento para sempre. Quando nossos pés tocaram o chão e nossos passos tímidos tomaram mais precisão encostei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos nos deixando envolver na música que vinha do salão atrás de nós.

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- Não sabia que dançava tão bem... – Ele falou baixinho, sorri.

- E eu não danço... Enfeiticei minhas pernas para isso. – brinquei.

- Mesmo? – Ele riu. – Eu deveria ter imaginado. – Ele fez uma pausa até por fim falar novamente. – Eu gosto de você Sharon... Muito.

Ergui a cabeça para fita-lo e uma angustia tomou meu coração, minha mão livre até então em seu braço ergueu-se até o seu rosto em um carinho tímido, calmo:

- Eu também... De uma maneira que ainda não consigo controlar direito... Mas Matt... Eu não posso fazer isso?

- Por quê?

- Tenho medo de machucar você...

- Você nunca faria isso, eu sei que não.

- Você não entende... – Eu parei me afastando levemente dele. – Há algo dentro de mim Matt... Algo muito ruim... Algo que se eu não controlar pode destruir todo mundo a minha volta... Quando eu ataquei a Jessica, não era eu, eu nunca machucaria ninguém... Mas eu não consegui evitar, não consigo... Está aqui, dentro de mim.

Ele se aproximou tocando meu rosto, a música ficou mais alta como se quisesse falar conosco, o dedo dele passou suavemente pelas lágrimas que escorriam dos meus olhos e ele sorriu, um sorriso calmo, terno que me acalmou também. Os olhos de Matt tinham uma serenidade invejável, e com a voz mais doce do mundo ele simplesmente me desmontou quando disse:

- Eu não me importo. Não me importaria que você me quebrasse cada osso, desde que eu soubesse que você sente o mesmo que eu sinto.

Nesse instante o rosto dele aproximou-se do meu vagarosamente, e eu não o impedi, calmamente os lábios dele tocaram os meus com gentileza e logo o braço dele puxou-me de encontro ao seu corpo e o beijo tornou-se intenso, apaixonado envolvido naquela música que parecia ter sido escrita para nós, assim como a luz pálida da lua que envolvia aquele momento.

How can I not love you
What do I tell my heart
When do I not want ou Here In My Arms
How does one walks away from all of the memories
How do I not miss you When You Are Gone
How can I not love you…

Não importava o que aconteceria depois, fosse o que fosse que eu tivesse que enfrentar apenas por aquele instante toda a minha vida tinha valido a pena.

***

Cheguei na hora aprazada no salão, era cedo demais até, mas depois da noite mágica que eu tive não me importava com mais nada, nem mesmo essa sensação incômoda de que algo ruim aconteceria. Olhando em volta vi que Lauren, Sophie, Marriete e Jessica estavam sentadas em um canto do chão, me aproximei meio incerta e saudei-as:

- Então... To aqui.

- Que bom que chegou Sharon. – Lauren levantou-se. – Precisamos conversar com você e Jessica.

Olhei para Jessica que deu de ombros também alheia à toda história.

- Vem, senta aqui.

Lauren me conduziu até o chão ao lado de Jessica, me sentei me deparando com os papéis espalhados pelo chão, eram diagramas, havia uma árvore genealógica, algumas pilhas de pesquisas sobre a era vitoriana, nada que me fosse familiar além do símbolo desenhado no estandarte. De início achei que tudo não passava de uma maluquice qualquer delas, mas quando olhava suas expressões sérias eu perdia todas as minhas certezas.

- Nós trouxemos vocês aqui porque nos deparamos com uma verdade que pode chocá-las. – Era Marriete que falava agora.

- O que? – Eu ri.

- Temos evidencias que mostram que vocês duas podem ser as gêmeas Blackmore.

Jessica e eu nos olhamos por um momento e fizemos ambas, uma careta de reprovação, falando em uníssono:

- Eu? Irmã dessa aqui? Enlouqueceram?!

- Olha isso... – Sophie tentou explicar. – Jessica disse que foi adotada pelos pais pouco depois de nascer, mas eles não adquiriram como aniversário a data que ela nasceu e sim a que eles adotaram ela, por isso a diferença de idade. Jess, você nasceu em 31 de outubro de 1994 no mesmo dia em que a Sharon nasceu. Você tem 18 anos.

Ela falou entregando papéis de baixa hospitalar para que olhássemos, havia também papéis do orfanato onde Jessica fora parar, a data em que ela entrou e saiu.

- Como conseguiram colocar as mãos nisso? – Perguntei alterada.

- A Marriete... É haker também. – Falou Sophie.

- Matt me ajudou... Ele é tecnopata. Não teve trabalho algum em manipular as máquinas do hospital e do orfanato... E ainda nos ajudou a entrar no orfanato para ver os arquivos antigos... Ele conseguiu burlar o sistema de segurança.

- O Matt? – Perguntei incrédula.

- Nós sabemos o que está acontecendo com você Sharon... – Lauren falou aparentemente aflita. – Eu soube que você pesquisou sobre o diário de Theodora, mãe da rainha Victória... E... Eu achei onde está o diário. Ele está guardado em um cofre na Irlanda. Ela o entregou para o rei Irlandês pouco antes de ser enforcada por adultério.

- Vocês são descendentes de Esther D’avilla, uma das bruxas mais temidas da Inglaterra medieval, ela era filha bastarda de Alastair e Theodora. Seu poder maligno vem deles Sharon... Alastair traiu Theodora quando Esther era adolescente... Ela o praguejou com um feitiço negro que condenou suas gerações e sua mãe, é uma dessas gerações... – Marriete explicou.

- Por isso ela se afastou tanto de você. Ela repudia essa magia que corre nas veias dela. Jess não tem magia ruim em seu sangue, a magia dela é completamente limpa, mas junto de você há sempre conflitos internos, por isso que ela ‘te odeia’ tanto de graça desde que vocês se viram, você desperta o lado defensivo dela.

- Isso é loucura... – Falei tentando engolir as lágrimas.

- Juntas vocês possuem um poder inimaginável, e é isso que Alastair quer, por isso a mãe de vocês separou-se da Jess, para impedir que vocês dominassem a convergência mágica e também impedir que Alastair as encontrasse e usasse o poder de vocês a seu favor.

- Esse cara ta vivo? – Jess perguntou sarcasticamente.

- Eu fiquei tão surpresa quanto você. – Sophie argumentou.

- Não... Isso não faz sentido algum! – Me levantei dando as costas para elas. Minha mãe me veio á cabeça, eu queria recusar aquelas lembranças, recusar acreditar que ela me omitira da vida dela por algo que eu não tive culpa.

- Eu sei loira, ninguém menos que eu quer ser sua irmã ok? – Jess falou no sarcasmo de sempre.

- Você tenta controlar essa magia negra dentro de você, mas ela só te consome cada vez mais Sharon... – Lauren falou com um peso angustiado na voz. – Não há como fugir disso, você precisa destruí-la e só você pode fazer isso.

- Como?! – Eu me virei e a encarei com o olhar aquoso de desespero. – Como eu posso fazer isso?

- Eu não sei... Mas nós vamos descobrir.

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- Opa! Espera um pouco ai, então é mesmo verdade que eu e a Hermione ali somos irmãs? – Jessica levantou assustada.

- É sim Jess... – Lauren falou levantando-se e caminhando ao seu encontro.

Matt apareceu nesse momento junto com Calleb e Andrew. Eu o fitei ainda chorando sem acreditar que o tempo todo ele sabia o que elas estavam fazendo e não me disse nada.

- Sharon... – Ele falou se aproximando.

- FICA LONGE DE MIM!

Sem querer acabei atirando Matt longe com um escudo de força. Ele levantou ajudado por Lauren que perguntou se estava tudo bem, só então eles tiraram os cristais de dentro dos bolsos e se voltaram para mim, eu o olhei incrédula, me recordando da noite anterior, as lágrimas escorriam pelos meus olhos e aos poucos um ódio sem medida tomava conta de mim.

- Era tudo mentira... – Falei quase num sussurro. – Tudo.

- Não Sharon... – Ele tentou se aproximar sendo impedido por Sophie. – Eu não menti sobre o que eu sentia.

- O que eu sou pra você? – Falei olhando para ele e em seguida para todos. – O QUE EU SOU PRA VOCÊS???

- Sharon a gente pode te ajudar... – Lauren falou calmamente.

- Por favor, você é mais forte que isso... Pode controlar. – Matt tentou falar, eu via a agonia em seus olhos, era tão evidente quanto a apreensão nos olhos dos outros. Jess estava estática.

- E você... Sabia o tempo todo não era? Por isso você me odiava tanto...

- O que? – Ela falou confusa.

- Vocês todos fingiram ser meus amigos o tempo todo...

- Sharon, não é você que está falando... Essa coisa ta tomando o seu controle, lute contra ele, você consegue! – Lauren falou preocupada.

Eu senti algo forte me dominar lentamente como se o meu consciente ficasse distante de mim, e eu estivesse sendo tomada por algo maior, mais forte que eu. Meu corpo tremia e era invadido por uma dor lancinante, queimava por dentro como se eu estivesse em combustão. De repente, por mais que eu estivesse ciente da realidade a minha volta, não era mais eu, só havia ali ódio e fúria, algo que me tomava por completo que eu não conseguia controlar, e a luz parecia se apertar comigo, no fundo, no nada.

POV Lauren

Ficamos um ao lado do outro e juntamos nossas forças com os cristais a fim de deter Sharon, ou aquilo que estava dentro dela, todos nós sabíamos que aquilo poderia acontecer que em qualquer momento de fúria ela poderia ser dominada pelo lado negro que fazia parte da sua magia. Os olhos dela enegreceram, não era mais a Sharon que estava ali, e nós não sabíamos exatamente o que era e nem o que fazer, ela sentira-se traída por nós, ferida e enganada e em um deslize deixara o ódio dominá-la completamente.

-Sharon! – Matt gritou inutilmente.

- Não adianta Matt... – Marriete falou. – Não é mais ela.

Os cristais em nossas mãos começaram a brilhar, e formamos um campo em volta de Sharon, cada um com seu poder formavam algo de uma magnitude impensada por qualquer um de nós, mas Sharon explodiu o campo de força lançando-nos contra a parede, as folhas voaram, e os estandartes pairaram no ar rasgando-se ao meio. Nos levantamos e ficamos em posição novamente.

- O que faremos agora? – Andrew perguntou enquanto recuperava o fôlego.

- Eu não sei... Precisamos pará-la.

- Mas sem machuca-la – Matt disse enérgico.

A apreensão tomava conta de nós, o corpo de Sharon estava ali irradiando poder e uma aura maligna que chegava a nos causar mal, olhei para Jessica que parecia pela primeira vez assustada e vulnerável.

- Jess... Eu sei como tudo isso ta sendo difícil pra você, mas você é a única que pode acabar com isso...

- Eu não posso... Eu não sei como...

Ela falou com os olhos cheios de água se afastando de nós assustada. Era a hora do confronto, e o medo tomava todos, medo por nós, pela Sharon e pelo que poderia acontecer.