O sargento Lorenzetti levou-os até o escritório da Guarda Suíça, uma sala ampla onde a movimentação dos oficiais de terno era intensa.

Ele fez sinal para que os quatro se sentassem nos bancos junto à parede divisória. O oficial se afastou em direção a um colega, sentado numa escrivaninha mais adiante. Trocou algumas palavras com ele, gesticulou e indicou o grupo formado pelos bruxos e por Langdon.

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Matt pode perceber que os oficiais tagarelavam bastante em italiano, mas que uma palavra era presente em praticamente todas as frases: cardinale. Cardeal.

Nem precisou deduzir o que estavam discutindo.

Lorenzetti terminou de conservar com o superior, e este se levantou, olhando para os recém-chegados. Langdon observou que esse oficial era de etnia germânica, louro e de olhos azuis.

Reconheceu-o imediatamente.

Quando eles se aproximaram, Langdon foi o primeiro a se levantar.

— Ora, se não é o tenente Chartrand – comentou.

Chartrand não demonstrou emoção alguma ao ver que o americano o reconhecera.

Comandante Chartrand para você, senhor Langdon.

— Nossa! Passamos dez anos sem nos ver e você é promovido. Ainda fuma?

— Minha vida pessoal não lhe diz respeito, Langdon. – Stick reparou que o comandante ajeitou o terno para encobrir um maço de cigarros preso ao cinto ao lado do comunicador. – O que importa é o que vocês estão fazendo aqui. O camerlengo nos informou da sua vinda, mas é melhor serem francos conosco. Aqui na Igreja, não toleramos mentiras.

O olhar dele era ameaçador, mas Vivian se encheu de coragem e disse:

— Comandante, meus amigos e eu só viemos ajudar. Trouxemos o professor porque ele tem certo envolvimento com o assunto.

— Que assunto? – trovejou Chartrand.

Vivian estava trêmula e não conseguia esconder. Mas o chefe dos aurores, para surpresa de Langdon, tomou as rédeas.

Stick cochichou algo rapidamente para Thaila e encarou Chartrand.

— Comandante – ele começou -, sou Matt Stick, chefe desta equipe. Eu e minha esposa Thaila somos da Scotland Yard.

Langdon não esperava que Matt acreditasse que o oficial suíço fosse engolir aquela afirmação, mas nesse instante, algo estranho aconteceu.

Thaila trocou um rápido olhar com Vivian. Então, as duas levaram as mãos à boca e bocejaram, sem aparentarem estar com sono. Mas o movimento foi suspeito: como se tivessem combinado. Langdon sentiu o ar vibrar entre elas e Chartrand, mas o comandante e Lorenzetti não pareceram notar.

Isso foi um bocejo? Langdon seria capaz de jurar que tinha ouvido as duas falando baixinho e rapidamente ao bocejarem. Esses bruxos vão me fazer pirar.

— Sim, perfeitamente – assentiu o comandante, como se nada tivesse acontecido. – Pode me dizer o motivo de sua visita, Sr. Stick...?

— Nossa agência teve acesso a informações sigilosas relacionadas ao sequestro de seus cardeais – prosseguiu Matt, hábil como um chefe deveria ser. – A Srta. Vermelo é uma de nossas agentes no estrangeiro. Ela recebeu denúncias e comunicou-nos que os responsáveis pelo desaparecimento dos cardeais são seus velhos inimigos, os Illuminati.

Chartrand e Lorenzetti trocaram olhares de apreensão.

— Pelo conhecimento e pela experiência prévia que teve com a irmandade, nós decidimos contatar o senhor Langdon – Stick indicou o simbologista. – Creio que já conheçam a história do grupo...

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Lorenzetti fez menção de interromper, mas seu superior o calou com um gesto.

— De fato, estou a par da história – afirmou Chartrand. – Prossiga, chefe Stick.

— O professor Langdon sabe como detê-los – afirmou Matt -, mas para isso precisamos...

— De acesso aos Arquivos Secretos – completou Langdon. Estava mesmo se acostumando a usar essa frase.

O comandante observou-os por um instante.

— Apesar das circunstâncias, não posso lhes dar autorização para entrarem nos nossos Arquivos. O senhor já sabe disso, professor Langdon. A autorização só pode ser dada pelo curador e pelo Conselho dos Bibliotecários Vaticanos.

— Ou por mandado papal— enunciou Langdon.

As narinas de Chartrand se alongaram.

— Caso ainda não tenha sido informado, professor, o Santo Padre está morto.

— E quanto ao camarista do Papa... Il camerlengo? – arriscou Matt. Langdon olhou-o surpreso, então se lembrou de que estava viajando com um bruxo católico. – Não é ele quem assume a administração do Vaticano durante o tempe sede vacanti?

Chartrand trocou um rápido olhar com Lorenzetti antes de responder.

— Isso está certo... Mas o camerlengo é apenas um padre. Não possui conhecimentos sobre o andamento da segurança nesta cidade, e é inelegível para o papado, e é isso que garante a imparcialidade do conclave. Mesmo que tenha realmente algo a ver com os Illuminati...

Então o estranho fenômeno ocorreu de novo. Thaila e Vivian trocaram um rápido olhar, mas desta vez, ao encenarem o bocejo, não fecharam os olhos. Novamente, Langdon sentiu o ar tremer na direção dos guardas suíços, sem que estes percebessem.

Mas desta vez, o sargento Lorenzetti pareceu realmente confuso.

— Estou sentindo algo estranho, senhor. Acho que estou tonto...

— Também sinto algo estranho, Vicenzo – afirmou o comandante, levando a mão ao rosto.

— Senhores – falou Langdon.

Os bruxos olharam desconfiados para ele, mas o americano apenas formou com os lábios as palavras: Confiem em mim.

Matt e Thaila pareceram ficar satisfeitos com a atitude de Langdon. Ele se lembrou de que ambos podiam usar a Legilimência nele. Tentou ignorar essa realidade.

— Sua segurança está seriamente comprometida hoje – afirmou. – Os Illuminati voltaram dispostos a executar sua vingança, derrubando moralmente a Igreja. O senhor Stick e sua equipe me chamaram, acreditando que eu teria uma facilidade maior em encontrar a chave, o segno, o sinal da fraternidade... É a única chance que temos de enfrentá-los a tempo.

Chartrand ainda parecia desconcertado, mas sua expressão suavizou-se.

— Pois bem. Vicenzo, peça ao tenente Welbeck para encaminhá-los ao camerlengo... Ele dirá o que é certo.

Os dois oficiais deram rapidamente as costas ao grupo, mas Matt e Thaila puderam direcionar olhares de agradecimento e empatia para Langdon.

...

...

...

...

Bertoni Tarso fora um dos sobreviventes da crise do início do milênio entre a Igreja e os Illuminati, quando ainda era clérigo da Igreja Santa Maria della Vittoria, incendiada na ocasião. O cardeal Mortati manifestou o desejo de tê-lo como camarista após ser escolhido no conclave. Homem íntegro e reto, Tarso aceitou o cargo como uma dádiva.

Oriundo da Toscana, de uma família de agricultores, ele ingressou cedo no seminário e mudou-se para Roma, onde se tornou padre. Tivera uma vida tranquila... Até aquele triste episódio do conclave.

E hoje, ao receber aquela ligação do homem chamado Hassassin, o camerlengo temia estar diante de uma situação semelhante.

Tarso era um homem corpulento, que já sofria de calvície, na meia-idade em que se apresentava, de olhos castanhos profundos. Sua fisionomia era de alguém que não se abalava facilmente, mesmo diante da batida surpreendente na porta do gabinete papal.

Signore— disse a voz do tenente Welbeck. – O comandante Chartrand lhe envia a Srta. Vermelo e sua equipe.

— Estou indo – respondeu Tarso.

Welbeck, um germânico alto de olhos verdes, abriu as portas para que o camerlengo saísse. Tarso visualizou seus convidados, e fez sinal para que Welbeck esperasse do lado de fora.

Trancou a porta do gabinete e dirigiu-se a Vivian.

— Espero que tenham um ótimo motivo para me chamarem, minha jovem.

— Camerlengo, eu já adiantei que a Igreja está ameaçada pelos Illuminati, e que necessitamos do senhor para dar prosseguimento a nossa missão.

Necessitam de mim? – indagou Tarso. – Em que sentido?

Ela suspirou e indicou o grupo ao lado dela.

— Estes são Matt Stick, Thaila Fadden e Robert Langdon – ela apresentou. – Minha equipe, que veio da Inglaterra.

— Britânicos? – indagou o camerlengo.

— Não todos nós, senhor – falou Langdon pela primeira vez na presença de Tarso. Este, ao focalizar Langdon, deixou o queixo cair.

— Ah... Você é Robert Langdon. O homem que nos ajudou... Da última vez.

Langdon assentiu respeitosamente.

— Fiquei ressentido quando soube do Papa. Meus pêsames – disse. – Era um bom homem.

— De fato. Não era menos que um pai para todos nós – afirmou o camerlengo Tarso. – Mas a Srta. Vermelo não tinha me avisado que o senhor estava metido nessa história, professor. O que, na realidade... Deixa-me um pouco mais tranquilo.

— Sério? – disse Langdon, surpreso.

O camerlengo começou a andar pela antessala do Papa.

— Pelo que escutei do sequestrador e da Srta. Vermelo, os Illuminati planejam desmontar nossa estrutura moral de Igreja. O senhor já os impediu de destruir nossa Igreja uma vez, portanto já conhece o caminho.

Signore— Matt tomou a palavra, enchendo-se de uma coragem que jamais utilizara. – Receio que não esteja informado de toda a situação.

— Como não, Sr. Stick? – rebateu Tarso. – Sei que nossos quatro preferiti foram sequestrados e que o grupo denominado Illuminati, aparentemente extinto, assumiu a autoria do crime.

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— Isso não é tudo que o senhor precisa saber, padre – disse Matt. – Os Illuminati não estão agindo sozinhos. Estão sendo influenciados pelos Guerreiros do Apocalipse.

— O que em nome de Deus... – começou Tarso.

— É um grupo de bruxos das trevas – disparou Thaila.

O camerlengo franziu a testa para a moça.

— Bruxos das trevas? Devem estar brincando.

— Claro que não – retrucou Matt. – Nós mesmos somos bruxos, senhor, servindo ao Ministério da Magia...

— Chega – disse o camerlengo. – Isso é ficção. Fantasia. Não é real. Não esperem que eu acredite...

— O professor Langdon sabe – afirmou Vivian. – E nós podemos provar.

— Thaila – orientou Matt.

Ela puxou a varinha, e com um gesto baixou as cortinas de todas as janelas da antessala.

O camerlengo recuou assustado, e se benzeu.

— Isso era mesmo necessário? – indagou Langdon.

— Se ele acreditar em nós dessa vez, sim – afirmou Matt.

Tarso fez menção de falar, mas o chefe dos aurores cortou-o com rapidez e eficiência.

— Ouça, padre. Thaila, Vivian e eu somos tementes a Deus como o senhor, e nosso Ministério da Magia está sofrendo com as mesmas ameaças dos Illuminati que a sua Igreja. Nós estamos dispostos a ajudar.

— Já deixamos tudo claro ao senhor – disse Vivian. A coragem de Matt e Thaila diante do comandante e do camerlengo parecia tê-la afetado. – E o professor Langdon também está de acordo em nos ajudar e em ajudar o senhor.

O camerlengo pareceu se recompor, e olhou para cada um dos presentes.

— Meu Deus... Perdoem-me. É muita coisa para eu absorver... Mas vou fazer um esforço.

Langdon e os bruxos sorriram, aliviados, para o padre.

A voz de Tarso ainda estava trêmula, mas ele parecia buscar coragem.

— Então, meus filhos, o que posso, hã, fazer para ajudá-los? – ele indicou as cadeiras do gabinete papal ao grupo, mas permaneceu de pé. – Nunca imaginei que um dia fosse me aliar a bruxos para salvar minha Igreja.

— Sua tarefa é simples, signore— falou Vivian. Ela continuava de pé, bem como os demais, mesmo após o convite do camerlengo para que eles se sentassem. – Deixe-nos entrar nos Arquivos Secretos do Vaticano.

Tarso olhou-a, incrédulo.

— Os Arquivos? E como entrar neles vai fazê-los encontrar nossos cardeais?

— Dentro dos seus arquivos há um livro de Galileu – explicou Langdon. – Eu e o chefe Stick acreditamos que esse livro possa conter informações que irão nos ajudar a localizar seus cardeais.

O camerlengo olhou penosamente para cada um deles. Parecia alguém se debatendo num conflito interno.

— Filhos, o que me pedem é algo complicado. – Tarso enxugou a testa. – Não posso simplesmente autorizar a vossa entrada nos Arquivos... Por mais bem intencionados que estejam, vocês ainda são leigos, e os Arquivos estão repletos de manuscritos antigos, que representam a história da Igreja.

— Padre, eu já entrei lá uma vez – argumentou Langdon. – Posso não ter sido exatamente cuidadoso, mas não agi de má fé com seus documentos.

O camerlengo pareceu considerar o argumento. Depois de estudá-los por um instante, ele apontou para Langdon e Stick.

— Por favor, os dois. Peço que entrem em meu escritório. Darei a vocês minha palavra final, mas antes quero fazer algumas perguntas, se me permitirem. Quanto às duas moças, não saíam daqui. Nossos soldados estarão monitorando-as.

Dito isso, o camerlengo abriu as portas do gabinete e convidou Stick e Langdon a entrar, enquanto os oficiais da Guarda Suíça permaneciam de guarda na antessala, vigiando Thaila e Vivian.

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Entrementes, Harry, Rony e Hermione continuavam caminhando pela Praça de São Pedro, em meio aos fiéis que aguardavam algum resultado do conclave, atentos à movimentação, esperando algum sinal de seus amigos ou da presença de seus inimigos no local. Até ali estava tudo calmo, mesmo eles tendo conhecimento de que os Guerreiros do Apocalipse podiam estar em qualquer lugar, à espreita, esperando para se mostrarem e espalhar o caos.