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— Burguerpants? - ofegou a garota.

Não lembrava em nada o tímido e inseguro gato que havia conhecido na pousada de Toriel. Seu sorriso era sinistro, e seu olhar atingia a criança como o gume de uma faca.

— Tinha certeza que não esperaria me ver por aqui… - o monstro inclinou a cabeça, soltando um muxoxo desdenhoso.

Frisk sacudiu a cabeça, aturdida.

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Aquilo não fazia o menor sentido.

— Mas… - disse, ainda mergulhada em um torpor de negação – Riverman…

Garlic ergueu a cabeça, emitindo uma sonora e arrepiante gargalhada, cujo som ecoou sombriamente dentro da sala.

— Riverman? - sibilou – é… misterioso, reservado… ele faria bem o tipo de pessoa que uma garotinha confundiria com um vilão, não é mesmo? É só um lobo solitário cheio de amargura, no fim das contas. Ninguém jamais teria sido capaz de imaginar que eu – inclinou a pata na própria direção – o professor bobo e inocente… seria escolhido para tamanha honra.

— Não… não pode ser – guinchou, incrédula – o senhor… pareceu tão gentil…

— Era a única forma de conseguir a confiança daquela cabra velha, não é mesmo? - rilhou os dentes - e de fazer com que Undyne não ficasse me vigiando – riu-se cinicamente – são sempre os pálidos de carinha triste, não são? Aqueles fracos, que ninguém teria coragem de desconfiar, que tem a oportunidade de servir os maiores monstros deste mundo – seu tom era quase desvairado – meu mestre sabia que eu a encontraria aqui.

As mãos da menina se fecharam em punhos.

— Seu mestre…?

Piscou, compreendendo, sentindo seu peito gelar ao confirmar suas suspeitas.

— Gaster.

Os lábios de Garlic se comprimiram numa linha rígida.

—Vejo que não tem medo de chamá-lo pelo nome.

— E por que teria? - Frisk grunhiu, enfurecendo-se – ele matou meus pais.

— Sim, de fato – prosseguiu o monstro – e nunca teve curiosidade de saber o porquê, minha criança? - ergueu a mão para Frisk – pois eu irei te mostrar…

Antes que a menina pudesse reagir, várias medunhas mágicas emergiram do teto, enlaçando Frisk em suas vinhas esverdeadas, imobilizando-a completamente.

— Ahh! - debateu-se, tentando se soltar.

— Não adianta tentar fugir, menina… essa magia é muito mais poderosa que a sua – aproximou-se, apontando a varinha para o rosto de Frisk – ao contrário… do que você traz dentro de si… algo que meu mestre tentou extrair há onze anos… e que eu conseguirei para ele agora.

— O… o que? - parando de se debater, Frisk o encarou, perplexa.

— O dispositivo – rosnou o gato – entregue-o para mim.

Contraída, Frisk fitou-o por um momento. Por que Garlic achava que ela, que havia vindo até ali para proteger o dispositivo, estaria de posse dele?

— Eu não tenho nada! - piscou, confusa – viemos até aqui...

— Não... eu vim até aqui... todo esse teatro subterrâneo - Garlic rosnou – era apenas uma armadilha para um seguidor incauto de meu mestre. Alguém que não tivesse ligação direta com ele... que não soubesse que o que Terso havia tanto procurado no passado... estava o tempo todo... bem aqui.

Concluiu, pousando – para o choque de Frisk - a própria varinha sobre o coração da criança.

— O que... minha... a minha...?

— Sim... a sua alma, minha jovem – inclinou-se para ela – seu traço distinto... a Determinação - gracejou odiosamente – o poder que faz sua alma perdurar, mesmo após o corpo ser destruído... o poder que permitiu que você sobrevivesse ao Blaster da Morte... - acrescentou, segurando-lhe rudemente o queixo – o único poder... capaz de alterar o Tempo e Espaço.

Frisk sentiu um soco na boca do estômago.

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O dispositivo não era algo físico... era um traço. Uma essência de alma.

Como não havia pensado naquilo antes?

— Não... - ofegou.

— Não se preocupe, minha menina – o gato sussurrou - não tenho nenhuma intenção de perdurar seu sofrimento. Serei rápido... - recuou alguns, passos, erguendo a varinha rente ao corpo – afinal...

Assombrada, Frisk assistiu Garlic contorcer-se por um momento, contraindo-se.

O horror a dominou quando viu a pelagem do gato começar a deslizar por seu corpo como cera. O monstro gritou, sacudindo-se de um lado para o outro convulsivamente, conforme seu exterior se desfazia, escorrendo-se como um tecido gosmento em direção ao chão, transformando-se lentamente em poeira.

Em seu lugar – surgindo aos poucos, à medida que o corpo anterior evaporava – outra figura surgiu, gravando-se de forma atemorizante na visão da garota.

— ... agora você está sozinha. E não cometerei o mesmo erro.

O esgar medonho e congelado. O olhar dúbio e corrompido. As vestes negras. As mãos esburacadas, erguidas em posição de ataque.

Enfim, Frisk estava defronte à criatura que havia ceifado a vida de sua familia.

A menina soltou um arquejo alto.

— Wing Ding Gaster.

Gaster sorriu para Frisk.

— Finalmente, Frisk – sua voz era tão distorcida e fria quanto havia visto em sua lembrança, corrompendo-se em algumas sentenças, de maneira extremamente arrepiante – acho que Gerson realmente nos subestimou, minha criança.

Tremendo de raiva e medo, Frisk levantou a cabeça, a tempo de ver um gigantesco crânio brilhante surgir acima dela, expandindo seu afiado maxilar ósseo para baixo, conjurando, em seu interior, o laivo de um raio destrutivo.

— Isso não precisa terminar desta maneira – sussurrou – eu só preciso de uma parte dela, Frisk. Me dê apenas uma parte de sua Determinação. E poderemos fazer o impensável. O impossível. Poderemos, até mesmo... trazer seus pais de volta á vida – ergueu lhe uma das mãos - juntos... poderemos mudar este mundo. Destruir o que é inútil... e dar aos monstros a vida em um lugar melhor.

Por um momento, a ideia de rever seus pais pareceu atrair Frisk.

Mas ela sabia a verdade.

Jamais poderia – jamais deveria – modificar o seu passado. Um poder daqueles devia ser mantido onde estava... a salvo.

E longe de Gaster.

— Nunca! - exclamou, decidida.

A expressão de Gaster não se alterou. Ele havia previsto aquilo.

Uma risada sibilante escapou da boca do monstro.

— Quanta... determinação.

Num movimento veloz, Gaster fechou a mão, continuando a rir sadicamente. O Blaster estremeceu, expelindo um jorro ofuscante de luz contra a menina.

Frisk fechou os olhos, resignada com o seu destino.

E então, tudo desapareceu.