Porto Seguro

III. Rodo o mundo, em teus braços me encontro


Estacionou o carro, silenciosamente, nos fundos do grande galpão utilizado como garagem. Conforme se aproximou do lado extremo do portão, a luz tornou-se parca; contudo, ao saltar do carro, não viu dificuldade em adaptar os olhos para a escuridão. Imediatamente, procurou pelo único ponto de luz que lhe interessava.

Ela vinha, como quem aguardava ansiosamente. Talvez como ele aguardou durante dias, embora não pensasse ser possível que uma mulher como ela pudesse retribuir seus sentimentos com um décimo de intensidade.

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O cabelo estava preso no alto por uma fita, e, apesar da luz do sol não alcançar onde estavam, Itachi sempre seria capaz de reconhecer os fios tão negrume que aproximavam-se do azul petróleo. Usava roupas de casa, um vestido esvoaçante discreto, disfarçando as curvas femininas que Itachi cansara de percorrer com seus dedos.

Itachi possuía muitos pecados; mas, em seu interior, sentia o âmago aquecer, como um homem abençoado, merecedor do sentimento maior do mundo, de tamanha dádiva que representam aqueles olhos liláses amorosos voltados em sua direção.

Abriu os braços. Muitas pessoas descreviam momentos de expectativa como uma passagem em câmera lenta. Mas não Itachi; suas células atraíam os corpos, de modo que tudo passou muito rápido. Como um borrão, se deu conta da realidade somente quando ela se chocou contra seu peitoral.

O aroma chegou mais rápido que o tato. O perfume doce enebriou seu nariz, a medida que ele afundava o rosto na curvatura do pescoço fino, aspirando profundamente, como um drogado tendo uma recaída. Ergueu o corpo pequeno, girando-o no ar enquanto o apertava tão forte que quase era possível uni-los.

Ter Hinata em seus braços fazia tudo valer a pena.

Ela permaneceu apertando seu pescoço com força, as pernas erguidas, com todo seu peso suspenso; para Itachi, não era quase nada.

Conheceram-se quando Hinata era apenas uma garotinha. Ela tinha quase 10 anos, e, na época, o homem, recém-formado na academia, voltava para Konoha, mal tendo chegado a maioridade. Não era responsável pela proteção da primogênita ainda. Contudo, costumava observá-la em suas intermináveis aulas de etiqueta, no jardim, ou se escondendo nos galpões.

Agora, era uma mulher. A mais bela mulher de todos, sua; por algum milagre, o amava também. Ele sequer conseguia entender como.

— Você demorou muito desta vez. – Itachi a ouviu murmurar contra seu ombro. Afastou seu rosto o suficiente para poder encará-la com um sorriso tenro.

— Eu posso rodar o mundo, mas é nos teus braços que eu me encontro.

Hinata sorriu, e, mesmo à meia-luz, Itachi podia ver suas bochechas corarem. Uma mulher, com ar gracioso e inocente de menina.

Não importava o quão longe fosse mandado, ele sempre encontraria uma maneira de voltar para casa. Os braços de Hinata eram sua casa.

— Acho que seu pai está me esperando. – comentou, acariciando o canto de seu rosto com carinho. Ela suspirou.

— Provavelmente está. Mas queria te ver antes. – sua voz era quase um sussurro envergonhado.

— Não se preocupe. Nos veremos mais tarde, eu prometo.

Inclinou-se, e, com fervor, a beijou.