Porque Nada é tão Fácil

Quase em Liberdade - Parte 2


Hesitei na hora de entrar. Estava muito curiosa para vê-lo mas ao mesmo tempo temia o que eu encararia. Senti seu olhar me seguindo enquanto eu atravessava o quarto olhando para o chão. Me sentei no canto de sua cama e fiquei ali, parada por algum tempo. Nenhum de nós dois falou nada, ficamos apenas ali, estáticos. Talvez, apenas saber que ele estava ali, vivo e bem ao meu lado já era suficiente. Mas eu precisava de mais, eu precisava de detalhes que talvez eu temesse.

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- Não tenha medo de como eu ficarei Jenn. - Quebrou o silêncio Júlio. - Eu ficarei bem, meu fígado já deve estar bem pelo que me disseram.

- Mas e suas pernas? - Eu já estava bem aflita.

- Sair disso tudo ileso seria querer demais não? - Ele falou tão natural e ainda me deu uma piscadela. Eu tive que sorrir, mas meu pai paraplégico não seria uma coisa muito animadora.

- Mas pai... - Quase chorando murmurei. - Eu te amo e nunca sofri tanto por alguém quanto sofri por ti.

Vi seus olhos marejarem também e analisarem todo meu corpo, parando algumas vezes em meu braço. Ele parecia visivelmente horrorizado com meus pequenos machucados.

- Jenn... Me desculpe... - Agora sim ele chorava. - Eu não vou me perdoar nunca pelo o que aconteceu. Eu não suporto te ver aqui por minha causa. E pode ter certeza que saber de seus machucados dói mais do que os meus próprios.

Eu abracei ele cuidadosamente e carinhosamente fechei sua boca com minha mão.

- Chega, não foi sua culpa! E a única coisa que me magoa nisso tudo e saber que perdemos aquele fim de semana juntos.

- Haverão outra oportunidades. Nem que eu te faça me empurrar de cadeira de rodas pela praia inteira.

- Pai, sem humor negro! - Me afastei dele enxugando as lágrimas.

- Agora vá! Eu ficarei bem, sabes disso. Aproveite sua vida, que nos veremos em breve.

Eu hesitei, temia muito aquela separação. Sofria. Eu não queria perde-lo. Nunca. Apertei suas mãos e encarei seus olhos nervosa. Ele sorriu tentando me acalmar.

- Vá filha. Não prolongue seu sofrimento, aposto que várias pessoas ainda te esperam longe daqui. Não é o fim do mundo vai! Você sae que tudo estará bem daqui a um ou dois meses.

Não, eu não sabia. Mas obedeci por mais difícil que fosse. Deixar para trás a pessoa que você mais ama numa situação precária e triste, largá-la a solidão, era muito mais difícil do que eu jamais imaginei. Junto dele eu deixava um pedaço do meu coração, que não se recuperaria tão fácil.