Porque Eu Não Vou Ficar Com Sasuke Uchiha

Motivo Treze: Reorganizar a própria vida não é um motivo, mas podemos fingir


Por onde eu começo? Caramba, eu sinto como se estivesse flutuando em uma nuvem de torpor por dias e dias adormecida quando na verdade só se passaram alguns minutos desde que eu provei a melhor torta do mundo inteirinho. Oh céus... Eu precisava de outro pedaço. Um enorme. E eu ganhei um que voltei a atacar com voracidade porque caramba, era muito bom!

Sasuke sorriu todo danadinho ao meu lado porque eu provavelmente parecia muito engraçada comendo igual um bichinho esfomeado. Eu olhei pra ele como um filhotinho de chihuahua olha quando alguém se aproxima da sua ração e isso era a minha mensagem nada educada pra que ele me deixasse em paz e pare de rir. Então, entre uma colherada e outra de torta, eu notei como o ar frio do lado de fora da doceria bagunçava o cabelo de Sasuke e deixava os lábios dele rosados assim como um pouco das suas bochechas. Que garoto arrogantemente lindo!

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— Hum... - ainda tinha torta na minha boca - Você é muito lindo.

Ele me olhou como se tivesse um gremlim emparelhado ao meu ombro.

— Ah, obrigado pelo elogio totalmente fora de contexto.

— Eu preciso de contexto pra elogiar alguém?

Agora parecia que dois gremlins estavam sobre meus ombros.

— Geralmente sim, Sakura. Principalmente se tratando de você.

Como assim? Do que ele estava falando?

— Ah, o quê? Eu sempre elogio você.

Ele riu enquanto bebia um pouco do seu macchiato.

— Não, não elogia não. As garotas da escola me elogiam o tempo todo, mas você não costuma dizer que eu sou bonito, pelo menos não sempre. Aliás, eu achava que estava abaixo do radar pra você, que você gostava de caras como Sasori... É Sasori, não é?

Sasuke estava comendo pelas beiradas como sempre faz, sutil como um filhotinho de cobra. Ele queria me sondar sobre o Sasori e eu iria respondê-lo como prometi, entretanto percebi que ele estava certo, eu quase nunca o elogiava. Eu apenas tinha a sensação que sim porque na minha cabeça a ode à beleza de Sasuke Uchiha era feita vinte e quatro horas por dia. Então era fácil pra ele presumir que eu não tinha tanto apreço pela aparência dele. Coitado.

— Então eu digo agora, você é muito bonito, Sasuke. Muito mesmo, uma beleza que chama a atenção o tempo todo e te torna deslumbrante de uma maneira que eu mal posso descrever.

Eu o deixei sem palavras e ele realmente parecia impressionado, mas isso foi apenas pelos poucos segundos que a sua arrogância permitia, logo ele recuperou a compostura e me ofereceu um sorrisinho pretensioso.

— Eu realmente agradeço, é por isso que trabalhamos.

— Ridículo.

Eu retruquei, porém o sorriso divertido não largou o meu rosto.

— Então...

Ergui uma sobrancelha pra ele em sinal de curiosidade para o tom especulativo. Eu queria outro pedaço de torta, mas meu corpo atlético gritava um sonoro não pra mim me magoando no processo.

— Sasori sei lá o quê não é o seu tipo ideal?

Eu ri.

Akasuna, Sasori Akasuna. E sim, ele é totalmente o meu tipo ideal. Você sabe que eu curto caras como Domhnall Gleeson, o Domhnall Gleeson mais especificamente.

Ele não gostou da resposta e eu sabia que teria que contornar a situação.

— Você deveria superar o Domhnall Gleeson, Sakura - ele retrucou todo chateado não por Domhnall Gleeson, mas pelo Sasori. - Eu ainda não esqueci todas as vezes que tive que assistir a cena do casamento de Gui Weasley por causa da sua paixão por esse cara.

Eu comecei a rir desistindo de lutar contra meu Id e pedindo logo a droga do terceiro pedaço de torta. Superego, nós tentamos, meu velho.

— Isso é porque você ainda não me viu fazendo maratona dos filmes dele quando eu fico em casa. Eu minto pra você, minha maratona de Keeping Up With The Kardashians na verdade é uma maratona da filmografia de Domhnall Gleeson.

Sasuke quase gargalhou ante a minha confissão.

— Sua danadinha mentirosa. Você realmente precisa parar com esse lance com irlandeses.

Eu concordei apenas pra desencargo de consciência, enquanto pensava que seria bom rever o General Hux no episódio VII de Star Wars. Eu não tenho conserto.

— O Sasori é irlandês, Sakura?

Ele não desistia.

— Eu não perguntei - e era verdade. - Mas já que você quer tanto saber, ele me ajudou no corredor, eu não estava me sentindo bem e antes que você reclame sobre eu não ter te procurado, é, eu tô vendo essa sua cara, não era nada tão sério assim. Ele foi muito legal comigo, conversamos bastante e acho que seremos ótimos amigos, Sasuke, amigos - eu tinha que deixar isso claro afim de me livrar daquele vinco ciumento na testa do meu garoto bobo.

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— Hum...

Eu ri um pouco alto. O açúcar da torta devia ter me deixado eufórica ou talvez fosse a vaidade presente na ideia do Sasuke sentindo ciúme de mim.

— Nós prometemos manter contato e eu vou apresentá-lo aos meus pais.

O moreno engasgou.

— Vai levar pra sua casa um cara que você mal conhece?! E com qual intenção? O pobrezinho parecia indignado e eu resolvi parar de brincar com ele.

— É, eu pretendo conhecer a família dele também e se possível o namorado que parece ser um cara legal.

— Isso não significa na... Espera, namorado? Tipo gênero masculino?

Eu rolei os olhos.

— O que você acha?

Ele piscou rápido.

— Não sei, me diz você que conhece ele.

— Sim, Sasori tem um namorado se você quer saber.

— Isso é... Isso é legal, bem legal - ele falou com um sorrisinho presunçoso de quem não se sentia mais ameaçado por um garoto lindo que claramente não parecia interessado em mulheres e por alguma razão eu me senti chateada.

— Então agora você não está mais preocupado com um completo estranho perto de mim e da minha família, não é? Por quê? Só porque ele é gay?

Sasuke estreitou os olhos e me encarou cauteloso.

— Ah, Sakura, você tem que admitir que isso me dá certa segurança. Saber que o cara que está perto de você não vai tentar te agarrar quando eu não estiver olhando me deixa tranquilo.

Eu fiquei furiosa.

— Eu tô indo pra casa - levantei e tirei algumas notas do meu porta-moedas -, aqui a minha parte da conta.

Saí de lá pisando fundo pela calçada da rua ao lado e espumando com a vontade de acertar a cabeça do Sasuke na parede, aquele idiota patético. O que era bem surpreendente porque não parecia a mesma sensação de quando éramos apenas amigos e brigávamos por coisas à toa, era uma raiva entranhada por todo o meu ser que me fazia querer gritar com ele bem alto, o que eu fiz quando senti alguém puxando o meu braço sabendo que era ele.

— O QUÊ?!

— Sakura...

Um fio de seda banhado em um silêncio cheio de tensão parecia nos conectar naquele momento. Acho que qualquer pessoa que passasse por ali podia perceber isso sem esforço. Sasuke respirou fundo antes de começar a falar:

— O que aconteceu, Sakura? Eu não quis falar nada ofensivo sobre seu amigo, se eu passei essa impressão...

— Sasuke, em primeiro lugar não é legal você olhar para o Sasori como se ele fosse um ser à parte, ele ainda poderia ser uma ameaça pra mim, sabe?

— Espera, tá com raiva porque eu não me preocupo com seu novo amigo?

Eu passei a mão na testa exasperada enquanto ele ficava com aquela cara confusa.

— Me deixa terminar, você não tá entendendo. Eu sabia que você tava com ciúmes do Sasori, mas me chateou muito saber que era sua única preocupação, que a única ameaça a mim é um cara hetero sendo meu amigo e não o resto da minha segurança. Não era sobre me proteger, era sobre proteger você mesmo e o seu lugar na minha vida.

Ele suspirou e se encostou na parede do prédio ao nosso lado.

— Sakura, é claro que eu me preocupo com você em todos os outros aspectos da sua vida, é só que nenhum cara gosta que outro cara fique perto da garota dele, você sabe.

— E o que isso tem a ver? Você tem que confiar em mim e saber que eu vou ter vários amigos homens e que alguns deles vão gostar de garotas, garotas como eu. O que importa de verdade é que eu gosto de você, Sasuke, então não existe razão pra você implicar com as minhas amizades com garotos que eventualmente vão acontecer você gostando ou não, à propósito.

— Sakura, eu confio em você, muito, eu não confio nesses caras. Qualquer amigo seu pode querer mais que amizade qualquer dia desses, não é algo improvável.

Eu definitivamente queria pisar no pé dele.

— Então quando isso acontecer eu lidarei com a situação como a garota esperta, madura e de princípios que eu sou. Além disso, o único amigo que já quis mais que amizade aqui foi você, seu cabeçudo idiota!

Ele coçou a cabeça desconcertado e irritado e eu me senti repentinamente cansada de tudo aquilo e pensei que precisava ir pra casa sozinha pra respirar um pouco.

— Sasuke... Olha, eu vou pra casa sozinha, acho que se continuar aqui a gente vai brigar mais e eu não quero isso, sabe? A gente pode se falar mais tarde quando não estivermos de cabeça quente.

Ele não relutou como eu pensei que faria, o que me fez pensar que ele também precisava reorganizar a cabeça depois da nossa primeira briga feia como algo mais que amigos.

— Tudo bem, você tem razão. Tenha um bom dia, Sakura.

E assim foi, sem pedidos de desculpas de ambas as partes.

Eu voltei pra casa andando e pensando no que faria pelo resto do dia enquanto o doce daquela torta na minha boca tornava-se amargo.

***

Por fim, decidi que a melhor maneira de reorganizar a cabeça era reorganizando a parte externa da minha vida. Então comecei a arrumar meu quarto e limpar meu equipamento de hóquei, o que parecia ser um reencontro com um velho amigo já que aparentemente eu esqueci que sou uma jogadora durante esse tempo.

Pensando nisso, interrompi a arrumação do quarto e me exercitei com alongamentos, agachamentos e abdominais, também pulei corda. Pumpkin parecia muito surpresa com a minha audácia de atrapalhar seu descanso com a minha barulheira, mas não podia evitar. Uma hora e meia depois tomei um banho e voltei a arrumar o quarto, dessa vez organizando meus livros, souvenires, filmes e CDs. Essa parte me fez pensar em Sasuke já que metade dessas coisas eram presente dele e muitas delas compartilhavam nosso gosto em comum.

A nossa discussão passeava na minha mente com um andar debochado de quem quer atenção, então eu suspirei reclamando entredentes:

— O que você quer de mim?

A verdade é que minha raiva do Sasuke veio da desconstrução da imagem principesca que eu tenho dele e eu me dei conta disso ao recapitular o que senti na hora.

Sasuke é o garoto mais maduro que eu conheço, ele não é como o Naruto ou o Neji, sempre com aqueles ciúmes bobos alimentados pelo ego de ambos. E isso me fazia vê-lo como uma pérola em meio a pedrinhas que brilham falsamente nas margens de uma praia, então, saber que ele não era tão diferente assim de qualquer garoto do mundo era como cair do cavalo. Essa noção me deixou pra baixo porque toda desilusão dói.

Entretanto, outra coisa me veio à cabeça: Sasuke não é responsável pelas minhas expectativas sobre ele, assim como eu não devo ser do jeito que ele quer que eu seja. Essa era a coisa especial sobre nós, certo? Nós gostávamos um do outro pelo que cada um era essencialmente e não por uma versão manufaturada de acordo com a convenção de cada um.

E depois, eu também fui ciumenta e agi mal quando o vi conversando amigavelmente com a Anna, não é? Eu sei que ela gosta dele, mas também sei que ele gosta mesmo é de mim e mesmo assim eu fui ciumenta e verbalizei isso quando tive vontade, era quase a mesma a situação.

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Ainda achava que Sasuke agiu mal e minhas ponderações não justificavam a atitude dele, mas me faziam refletir que talvez eu tenha sido impulsiva ao brigar com ele quando poderia fazê-lo entender meu ponto de vista através de uma conversa sem brigas.

Esse tipo de coisa é totalmente complicada, amor romântico é totalmente complicado. Você assume responsabilidades sobre coisas que ninguém tem domínio completo na espera de não magoar outro alguém com quem você se importa muito e não quer ver sofrer por nada, ao mesmo tempo que deseja que as coisas sejam satisfatórias pra você também porque as suas necessidades sentimentais precisam ser saciadas. Mas o que esperar de uma série de códigos de conduta criado pra que soldados medievais não avançassem em moças da corte como neandertais quando queriam transar? Eu ri alto pensando que Sasuke ia gostar de me ver criticando os códigos do amor cortês.

Caramba, eu sentia a falta dele. Muito.

Sendo assim, resolvi que era a hora de ligar.

Pumpkin, como vingança pela bagunça de mais cedo, deitou em cima do meu celular e não queria sair. Eu ri e entrei na brincadeira fingindo que ela era muito pesada pra eu tirá-la de cima dele e comecei a empurrar a barriguinha gostosa dela enquanto fazia cócegas naquelas gordurinhas. Porém eu cansei e a levantei logo pra não adiar a ligação que faria para Sasuke.

Desbloqueei a tela e nossa foto no dia das abóboras surgiu e eu sorri, que bom que eternizamos esse momento lindo. Procurei o número dele e aparentemente ele queria falar comigo também já que atendeu no primeiro toque quando liguei.

— Sakura...

— Oi... Hum... Me desculpa.

— Me desculpa.

Falamos ao mesmo tempo daquele jeito tão clichê e bobo que se não fosse pelo clima cauteloso iríamos rir bastante.

— Não, olha... Você tinha razão, eu estava errado. Não deveria ter dito as coisas que disse e nem ficar com ciúmes de você com um possível amigo. Eu confio em você.

— Sim, eu sei e não estou me desculpando por isso, Sasuke. Estou me desculpando por ter discutido com você quando poderia ter iniciado uma conversa séria sobre o que eu pensava.

Eu só ouvia a respiração dele no outro lado e pensei que talvez ele estivesse decepcionado por eu não me sentir errada no meu ponto da questão.

— Tudo bem, acho que você teve um dia cheio mesmo. Tá melhor agora?Não tá mais doente?

Doente? Olhei pra Pumpkin confusa como se ela pudesse me lembrar do que ele estava falando, não que ela ligasse ou pudesse me responder. Aí lembrei da mentira de ontem e o estalo veio na cabeça.

— Ah, sim! Estou, tomei um remédio... - rezei mentalmente pra não parecer falsa enquanto falava, então resolvi mudar de assunto. - Escuta... Também queria pedir desculpas por ter sido hipócrita porque senti ciúmes de você com a Anna mais cedo e agi mal também. Sinto muito.

Ouvi sua risada rouca na outra linha e isso lançou choque nos meus tímpanos que se propagou pelo resto do meu corpo. Esse garoto...

— Tudo bem, eu nem tinha associado uma coisa à outra, mas fico feliz que você tenha feito isso e pensado à respeito.

— Hum, certo...

De repente eu não sabia o que dizer e se tinha algo mais para dizer. As coisas pareciam estar resolvidas, mas ainda havia um desconforto entre nós.

— Sakura?

— Sim?!

— Vamos nos ver amanhã? - ele parecia tão desconfortável quanto eu, talvez resolver tudo por ligação não tenha sido a melhor das ideias.

— Você pode vir aqui em casa agora, não é como se você morasse longe - eu dei uma risadinha sem-graça pra tentar dissipar a tensão.

— Não posso, jantar em família - ele soou chateado.

— Oh, tudo bem, nos vemos amanhã então.

— Sim, talvez depois a gente vá pra sua casa se estiver tudo bem pra você, eu quero ver a Pumpkin.

Eu sorri singela.

— E ela quer ver você, sabe? É uma gata muito chata e mimada.

Ele riu mais tranquilo.

— Não implica com ela, talvez eu leve um presente.

— Isso explica ela ser mimada.

— Não vamos brigar sobre a criação das crianças, querida.

Nós dois rimos alto pela primeira vez e meu coração acelerou.

— Okay, querido. Então tenha um bom jantar, eu vou desligar.

— Certo, até amanhã. Um beijo, Sakura...

— Um beijo, Sasuke.

Eu suspirei apertando o celular com força no peito.

O amor romântico pode ser uma convenção social inventada pelo homem, mas queijo também foi inventado pelo homem e é muito bom, não é?

Meu Deus, o que eu tô dizendo?

***

Percebi no meio da arrumação que alguns álbuns de fotos estavam desorganizados e me pus a ajeitá-los e olhei as fotos. Alguns eram do começo da minha vida, da época em que eu era tão pequenina e morava nos Estados Unidos. Caramba, eu sou americana e quase não lembro disso na maior parte do tempo. Eu não cresci como um indivíduo bicultural, o que é bem engraçado porque eu fui muito relutante em olhar para a Inglaterra como o país que eu queria viver e agora, anos depois, eu pareço mais britânica que a Bridget Jones. Como as coisas são...

As próximas fotos já tinham a presença de Sasuke, Itachi e até os pais deles. Eram bem fofas e engraçadas e eu mal podia me reconhecer com um cabelo que não era rosa. Sasuke era como uma daquelas crianças que todos achavam lindas demais e sorriam gratuitamente na rua e Itachi tinha um charme juvenil que apenas se sofisticou com a idade mesmo que eu relutasse em admitir.

Virando um pouco mais as páginas de um álbum grande, Naruto surgiu como o loirinho expressivo e espevitado que era, eu sorri pensando que ele era uma criança muito fofa. Fiquei triste pensando em tudo que deu errado na nossa relação.

Falando em relação que deu errado, outras fotos mostravam Ino e eu fazendo diversas coisas com sorrisos no rosto. Uma em particular me arrancou algumas gargalhadas: nós duas fantasiadas como fadas Winx no Halloween, mesmo que já fossemos adolescentes. Foi em uma festa à fantasia na casa do Neji, em que pudemos dar vida ao nosso sonho infantil de brincar de fada.

Não vou mentir, ainda doía. Só porque Ino foi desleal, não significa que os momentos que passamos juntas não foram divertidos. Eu sentia falta dela ainda que não sentisse vontade de vê-la. E isso me machucava muito.

— Sakura?

Eu olhei alarmada para a porta e vi minha mãe lá.

— Sim?

— Oi, querida. Eu vim avisar que vai ter bolo de carne pro jantar. Ei! Arrumou seu quarto? - seu rosto se iluminou.

— Sim, achei que precisava.

— Isso é ótimo porque estou fazendo um quadro novo pra você e seria legal se tivesse algum espaço pra colocá-lo na parede - ela sentou-se na cama e começou a olhar algumas fotos com um sorriso bonito no rosto. Eu a fitei surpresa:

— Sério? Nunca mais você me deu algum quadro.

— É, eu ando inspirada e enquanto fazia um esboço percebi que era pra você. Aliás, você está bem? Eu sinto que você anda estranha ultimamente, quer me contar algo?

Eu ponderei enquanto a olhava e não senti vontade de me abrir com ela, não era o tipo de coisa que eu costumava fazer, então era estranho.

— Não, eu tô bem.

Ela apertou os olhos me analisando e suspirou.

— Sakura, lembra quando você era bem criança e seus colegas de jardim de infância eram malvados com você por causa da sua testa grande?

Eu sorri sarcástica, mas assenti.

— Eu te disse que você não devia tomar uma parte sua como ponto fraco, principalmente uma parte do seu corpo. Então eu te mostrei a Monalisa e expliquei o fascínio que ela exerce sobre a humanidade e falei sobre a testa grande dela.

Nós duas rimos porque não era uma argumentação típica dos pais para uma criança.

— Sim, eu lembro. Também lembro que anos depois você estava conversando com alguns dos seus amigos e argumentando que o fascínio da Monalisa era meramente pelo mistério construído em volta dela e não pela beleza que sinceramente não era tanta assim. Eu fiquei bem magoada porque me sentia deslumbrante como a Monalisa, embora não a ache tão bonita hoje em dia.

— Eu sei, sinto muito - ela se desculpou mesmo que estivesse rindo. - A grande questão, Sakura, é que na época eu não achava que uma simples conversa fosse resolver suas inseguranças em relação a si mesma, até porque você era muito novinha e mesmo para adultos isso não é tão fácil.

Eu balancei a cabeça concordando.

— Eu achei que isso seria um trabalho à conta gotas, mas você me surpreendeu indo pra creche no outro dia com uma faixa prendendo o cabelo pra trás e de nariz em pé. Naquele dia eu percebi que minha filhinha era uma pessoa que conseguia lidar com as coisas sozinha e sua criação foi baseada nessa ideia.

Eu não sabia disso e me vi surpresa e sem ter o que dizer.

— Só que agora eu me sinto arrependida porque você é exatamente do jeito como eu esperava que fosse.

— E isso é ruim? - eu arqueei uma sobrancelha.

— De forma alguma - ela segurou as minhas mãos nas suas -, mas me deixava com uma sensação de impotência. Como se eu tivesse feito a pintura perfeita e ao terminar perceber que ela não precisa de retoques ou reparos. E então pensar: não há mais nada que eu possa fazer aqui.

Oh, Deus! Parecia que eu estava no meio da conversa mais importante do mundo com a minha mãe.

— Toda vez que eu te via sendo toda independente eu pensava que não havia nada que eu pudesse fazer pela minha própria e única filha. Só que eu percebi que você não é uma pintura, é um ser vivo cheio de particularidades com uma estrada da vida cheia de bifurcações e cada vez que você escolher uma rota, isso vai alterar parte do seu caráter, de quem você é.

Eu comecei a chorar porque embora não entendesse onde minha mãe queria chegar, aquilo me impactou muito e sabia que aquelas palavras seriam muito preciosas pra mim.

— E isso, Sakura - ela prosseguiu -, é a prova de que você ainda precisa de ajuda pra prosseguir no seu caminho, você ainda precisa da minha ajuda e de todas as pessoas que te amam. Isso me dá um grande alívio, eu não quero que você não precise de ninguém ao seu lado e seja solitária.

Eu me arrastei até o colo dela e a abracei.

— Ah, mamãe, eu não sabia que você se sentia assim...

— Tudo bem, querida. Eu só quero que você se sinta bem.

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Eu me afastei dela e sequei minhas lágrimas porcamente.

— Não tenho nada pra dizer agora, mas quando tiver, deixarei você saber, okay?

— Okay, meu doce - ela se levantou afagando minha cabeça. - Depois desça, estamos esperando você para jantar.

— Tudo bem.

Quando estava só novamente, olhei para o teto pensando um pouco sobre o que mamãe me disse. Eu não deveria ter medo de pedir ajuda pra resolver meus problemas. Nisso, um rosto me veio à cabeça.

Peguei meu celular e abri o Instagram. Digitei um nome na barra de busca e não foi difícil achar quem eu queria com um nome e um rosto tão característicos.

Sasori Akasuna.

Antes de fazer o que eu queria, mandar uma mensagem, resolvi olhar suas fotos, felizmente seu perfil era aberto. Ele definitivamente era tumblr boy dream com aquela aparência etérea e as fotos outonais com filtros muito bem escolhidos. Imaginei quantos fakes com fotos dele não existiam por aí.

Em uma foto em grupo algo me chamou a atenção: ao lado dele um loiro solar e deslumbrante sorria abertamente, ele parecia aqueles caras que participavam de editorial da Vogue Teen desde cedo e logo conseguiam editorial na revista mãe pela beleza implacável. Mesmo que houvesse mais três pessoas na foto, eu sabia que aquele era Deidara, seu namorado. Eles nem se olhavam, mas a linguagem corporal de ambos os denunciava com algum tipo de conexão especial que mesmo uma foto entre amigos conseguia denunciar.

Só pra checar, toquei na foto e esperei as marcações identificarem quem era quem, a arroba spicetongue apareceu em cima do rosto do loiro e ao clicar no perfil o nome Deidara Holt apareceu. Bingo!

Mas o que eu tô fazendo? Eu deveria só mandar mensagem pro Sasori e eu já estava stalkeando o perfil do namorado dele. Foco, Sakura. Voltei ao perfil do Sasori e comecei a seguí-lo. Logo uma notificação de que ele estava me seguindo também surgiu e eu não perdi tempo, enviei uma mensagem:

"Oi, Sasori!
Desculpa a inconveniência, aqui é a Sakura. Eu estava pensando que não trocamos contato, então resolvi te procurar aqui. Espero não estar sendo invasiva."

Não muito tempo depois recebi uma resposta.

"A cereja do bolo, hum? Adoro users de personalidade. Não está sendo invasiva, na verdade eu estava pensando que tinha que te pedir um contato quando nos víssemos de novo no colégio."

Eu sorri feliz.

"Olha quem fala, The Great Red Artist! Adorei seu user também. Estou aliviada que não causei nenhum incômodo porque queria pedir um favor."

A resposta veio bem rápida.

"Qual?"

Eu suspirei.

"Queria ver sua avó"