Por Esse Sorriso

Capítulo 6- Gabriel


Durante o percurso inteiro até o aeroporto o coração de Denise parecia se esforçar arduamente para sair do peito, maltratando sem dó as costelas da morena. Não podia acreditar que realmente havia feito aquilo. Claro que ela tinha uma noçãozinha de que era uma louca, mas não sabia que era completamente insana.

Marissa era sua melhor amiga, seu ponto de paz e sentido no mundo e agora tinha feito a proeza de deixar as coisas confusas. Ou não. Elas se entendiam, se aceitavam, se encaixavam. Amavam-se, verdadeiramente. Talvez fossem perfeitas para estar juntas. Sim, talvez. E talvez não. Isso estava enlouquecendo a cabeça cheia de cachos de Denise.

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Conhecendo-a como conhecia, Marissa sabia muito bem disso, então antes que a morena tivesse um colapso nervoso, digitou “Me mande uma mensagem assim que chegar pra eu saber que está bem, okay Sweety? E fique longe da cafeína... Love you... Boa viagem...” e enviou para a garota que fazia seu mundo abalar desde o primeiro “oi”.

Denise saiu de seu surto psicótico para verificar a mensagem de seu celular e riu ao ler “fique longe da cafeína”. Então um momento de clareza se apoderou de sua mente e ela percebeu que se tratando se Marissa, não precisava ter medo. Nunca. E com isso em mente, logo tratou de respondeu um “Okay, mãe... Love you too...”.

Claro que nenhuma das duas estava cem por cento tranquila quanto ao futuro de seu relacionamento, afinal, ainda precisavam conversar para saber o que aquele beijo havia significado, mas por hora poderiam se permitir um pouco de paz. Ou pseudo-paz.

As horas de voo foram bastante cansativas e Denise mal podia esperar para tomar um banho, colocar roupas super folgadas e tirar um longo cochilo. Mas essa ideia logo se apagou de sua mente ao ver seus pais e todos os seus irmãos esperando-a para ir sua casa comemorar sua volta, ou seja, o dia seria muitíssimo agitado.

Assim que entrou no carro, pegou o celular no bolso e o ligou, porém, logo em seguida, sua cunhada Luciana entrou e sentou ao seu lado.

–Nada disso. –repreendeu tomando o celular das mãos da morena. –Hoje o dia é da família, nada de celular.

–Mas...

–Não.

–Mas eu só...

–Não.

–Só quero avisar a Marissa que cheguei bem.

–Essa garota te teve por um mês e meio, agora você é nossa. –Luciana guardou o celular de Denise no bolso enquanto Isabella, sua filha de seis anos, estrava e sentava em seu colo.

–E aí, tia? Ela é tão legal quanto a senhora pensava? –inquiriu a pequena.

–Não. Ela é muito mais. Depois te conto tudo. –Denise piscou e o carro começou a andar.

Ao perguntar sobre como foi a viagem durante o almoço de família, a mãe de Denise, assim como cada pessoa que pensou em perguntar, se arrependeu amargamente por querer saber. Já estavam enjoando ouvir tanta tietagem. Marissa, Marissa, Marissa. E olha que era só o primeiro almoço.

Todos foram embora pouco antes de começar a anoitecer, Denise finalmente pode tomar um longo banho para relaxar todos os seus músculos do estresse da viagem. Apesar de estar incrivelmente feliz por reencontrar sua estranha e amada família, deu graças aos céus quando foram embora. Sentia-se tão cansada que no momento em que seu corpo encontrou a colcha macia que cobria a cama, apagou sem sequer ter tempo de esticar o braço e ligar o ventilador.

A morena acordou no meio da madrugada e foi até a cozinha beber um copo d’água e aproveitou para fazer um lanchinho também. Voltou para o quarto, admirou o teto por alguns minutos deixando que seu cérebro acordasse de fato e só então percebeu que havia esquecido de pegar o celular com Luciana e ligar para Marissa.

Depois disso não conseguiu mais dormir e logo cedo pela manhã pediu a sua mãe para usar notebook, porém a mulher baixinha lhe respondeu “Tá com seu tio, ele só vai poder trazer depois de amanhã”. O que lhe restava era ir àquela lan house, mas nem a pau pisaria naquele local de novo. Ligou para Luciana do celular de sua mãe e a cunhada lhe disse que só poderia levar o aparelho lá pelas 19h30min da tarde.

“Droga! Marissa vai pensar besteira por causa daquele beijo.” Pensou dando um tapinha na testa, como havia conseguido esquecer o celular?

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“Relaxa, é só um dia. Assim que pegar o celular, liga pra ela e explica a situação. Sabe que não tem ninguém mais compreensivo nesse mundo do que a Marissa” rebateu a si mesma tentando manter a calma.

As horas se passaram torturantemente lentas e às 17h45min Denise já não conseguia se impedir de andar de um lado para o outro da sala esperando por Luciana. E foi nesse momento que alguém bateu palmas em frente a casa. A morena olhou no relógio e estranho, mas foi abrir e um enorme sorriso se abriu ao constatar quem estava bem a sua frente.

–Gabriel? –perguntou retoricamente.

–Quase um século sem me ver, nem me avisa que chegou e o melhor que pode fazer é “Gabriel?” –murmurou semicerrando os olhos. –Vem cá e me abraça, minha puta. –sorriu de volta abrindo os braços.

–Meu viadoooooooooooo! –Denise gritou se jogando nos braços de seu melhor amigo.

Gabriel Ferrari. Não, ele não era gay. Os dois apenas eram íntimos o bastante para ter esses apelidinhos super carinhosos. Ficaram um bom tempo nesse abraço até se separarem com um selinho.

–Porque não me disse que tinha chegado, Denise?

–Minha cunhada confiscou o meu celular pro almoço em família de boas vindas e esqueceu de me devolver depois, ou seja, estou incomunicável. Como descobriu que voltei?

–Ora, como descobri. Sua irmã Mônica postou trezentas e sessenta e oito bilhões de fotos no facebook, como sempre. Agora chega de conversa e troca de roupa que eu estou te sequestrando.

–Não, Gabriel, eu...

–Shiiii. Não quero saber, você vai sair comigo. –passou por Denise e seguiu para dentro da casa da morena como se fosse sua.

–É sério, Biel... –tentou argumentar enquanto fechava o portão e seguia o amigo.

–Já disse que não quero saber. Hoje você é minha e eu vou te levar pra sair sim. Sabe que não vou te deixar negar, então se arruma logo que nós dois evitamos estresse.

Denise respirou fundo e esfregou o rosto com as mãos. De fato conhecia Gabriel de outros tempos, tempo o suficiente para saber que sairiam naquela noite de qualquer jeito.

–Tá. –murmurou a contragosto. –Aonde vamos?

–Relaxa, vamos só comer no Bob’s depois dar um rolé na praça. As meninas disseram que talvez apareçam por lá mais tarde, mas você sabe como elas são enroladas.

–São mesmo. Temos que arrumar amigas melhores. –Denise debochou enquanto se encaminhava para o quarto nos fundos da casa.

–E você arrumou, não é? –debochou de volta se referindo a Marissa.

–Ah sim, deixa eu contar tudo. –se empolgou enquanto começava a tira a camisa.

–Negativo! Hoje você é minha, só pertence a mim. Só o Gabriel. Não existe Marisa Amaral nesse planeta. Opa, voltou mais gostosa de Minas. –parou um segundo analisando o corpo de Denise.

–Arn! Tarado! Olha pra parede. –reclamou Denise em tom de ofensa, mas continuou tirando a tirar o short.

–Querida, pra ver mais do seu corpinho do que eu já vi, só se eu visse o seu pâncreas.

A morena riu e revirou os olhos, em seguida pegou a toalha e foi para o banheiro enquanto Gabriel se esparramava preguiçosamente na cama.

Algumas Horas Depois...

A noite estava sendo divertida, mas estava sendo bem difícil para Denise passar mais de dois minutos sem lembrar-se de Marissa por todo e qualquer motivo, mas Gabriel já havia deixado de se irritar com isso e se limitava a rir quando a morena murmurava “Desculpa. Hoje é só Gabriel”.

A praça estava um tanto quanto cheia, como sempre ficava naquele horário, então nenhum dos dois estava se importando em ocasionalmente topar uma ou duas pessoas, apenas desculpando-se rapidamente e voltando a caminhas, mas de repente, Denise topou com uma pessoa que a fez engasgar brevemente com o próprio ar.

–Kit. –disse Thayna animadamente sem perceber que sua presença havia causado desconforto em Denise.

E o sorriso. O maldito bendito sorriso que fazia o coração de Denise disparar estava presente no rosto moreno emoldurado perfeitamente pelo cabelo escuro. O que diabos estava acontecendo?

–Thay. –Denise murmurou nervosa e a próxima coisa que sentiu foram os braços da amiga ao redor de seu corpo.

–Senti sua falta. Acho que precisamos conversar. –sussurrou ao pé do ouvido de Denise sem soltá-la, então completou. –Quer dizer, eu preciso falar com você.

–Conversar sobre o que? –perguntou se afastando um pouco para olhar a expressão de Thayna que parecia ter passado de animada para nervosa.

–Eu prefiro que seja em um lugar mais calmo. –articulou olhando de relance para Gabriel que observava tudo com seu olhar de “Hmmmm. Aí tem coisa”.

–Ah. Claro. –proferiu Denise, virando-se em seguida para o melhor amigo. –Você pode esperar uns minutinhos aqui enquanto falo rapidinho com ela?

–Aaaah. Ela. –a palavra trouxe o entendimento ao moreno que foi um dos primeiros a saber da história depois de Marissa, pouco antes de Thayna. –Claro. Com toda a certeza. Podem conversar a vontade.

Denise fez uma careta com o tom malicioso de Gabriel, mas logo já estava sendo puxada pelo pulso para longe dali. Passaram alguns minutos caminhando até que encontrassem um lugar sossegado. Thayna sentou no banco e deu um tapinha na madeira indicando que Denise deveria sentar ao seu lado.

–Então... Sobre o que quer conversar? –perguntou sentando-se com cautela.

–Sobre o que você me disse no ano passado. –começou em um tom um tanto quanto baixo, pois estava se sentindo desconfortável. –Sobre estar... Você sabe.

–Só porque sou uma garota a palavra “apaixonada” se torna um palavrão? –embora também não estivesse à vontade com aquela situação, Denise tentou sorrir para amenizar o clima.

–Não, eu só... Não sei como abordar o assunto sem ser de forma abrupta. –Thayna mordeu o lábio inferior e respirou fundo. –Sabe eu tenho pensado muito sobre isso desde o dia em que você me disse. Eu não acreditei e depois não sabia o que pensar. Então teve aquele dia um pouco antes das férias começarem. O dia em que você beijou a Jessica. Ela te beijou. Vocês se beijaram. Ah, sei lá. Eu só sei que me senti desconfortável. Depois chateada e depois brava. Eu não sei definir muito bem o que eu senti, só sei que me repreendi por estar sentindo aquilo.

–Aonde quer chegar?

–Chegarei onde quero chegar, paciência. Eu parei de pensar sobre o beijo, até porque ouvi a conversa depois dele. Mas então minha mente se encheu de você, simplesmente não conseguia controlar. Meu relacionamento afundou pouco a pouco até se tornar insustentável. Eu não sabia se me culpava ou se ficava feliz. Ele era o namorado perfeito, mas meu coração estava em outro lugar, eu só não queria admitir isso.

–Está apaixonada por mim? –o rumo da conversa já deixava implícito o foco principal, mas Denise não conseguiu se impedir de arregalar os olhos surpresa.

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–Sim. Não. AH! Eu não sei e isso está me enlouquecendo. Tudo o que eu sei é que eu estava com muita saudade de você e que quando te abracei... Não sei explicar. É como se tivesse sido o melhor abraço que já experimentei. Eu não sei o que sinto, mas está crescendo e eu... Eu quero estar com você. Quero que me ajude a entender isso.

–Eu não posso, Thay. Você tem que se entender consigo mesma e depois falar comigo. Foi o que eu fiz. É o justo. Você pode se confundir e me iludir. E eu também não estou muito entendida comigo mesma agora, então não seria justo pra nenhum dos lados. Mas o que eu disse antes era verdade.

–Se era verdade, como pode ter mudado tão rápido?

–Eu... Nesse momento a minha cabeça tá uma bagunça. Eu gosto de você. Se fosse há um tempo atrás eu nem pensaria, mas agora eu preciso que você me dê um tempo pra pensar.

–Okay, eu... Eu entendo. Você me deu uma chance antes, eu que joguei fora.

–Eu... Eu preciso voltar pra lá com o meu amigo.

–Posso só... Te abraçar de novo?

–Claro.

O abraço de Thayna era daquele tipo de abraço que diz “Eu sei que não posso te beijar agora, mas eu quero muito, muito mesmo”. Denise estava nervosa, seu coração amaçava sair pela boca. Sabia que se permitisse, se beijariam ao fim daquele abraço, então virou com rosto e se separou da outra garota com o máximo de cautela possível.

Ambas estavam desconfortáveis. A conversa havia sido extremamente esclarecedora e incrivelmente confusa ao mesmo tempo. Fora a preocupação com o fato de não ter entrado em contato com Marissa depois de um momento crucial, agora ainda tinha que se preocupar por não saber o que dizer quando entrasse.

Ao reencontrar o amigo, que estava com um sorrisinho de expectativa no rosto, tudo o que a morena conseguiu dizer foi. –Não pergunte.

–Mas...

–Eu disse Não Pergunte.

–Nossa, foi tão ruim assim?

–Gabriel.

–Tá bom, parei. –ergueu as mãos em sinal de rendição. –Mas sabe que uma hora ou outra vai ter que me contar. Nem que seja depois de contar pra sua santa Marissa.

–Quero ir pra casa. Essa noite deixou de ser divertida.

–Tá bom. Vamos.

Continua...