Capítulo 5 - Mercy & Peter

Mercy acordou mais tarde do que queria. Se arrumou, e desceu as escadas. A televisão noticiava a morte da campeã, Cynthia Strauss, que acontecera algumas horas mais cedo. Era realmente triste ver que outra figura importante tinha morrido, ainda mais alguém amada por todos como Cynthia. Ela sempre visitava as cidades de Sinnoh, até mesmo as esquecidas pelo tempo, como a de Mercy. Checou o relógio na parede. Eram 12h27min. Tentou passar despercebida por sua mãe, mas era inútil. Assim que colocou a mochila nas costas, foi indagada:

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— Aonde pensa que vai, Gum? — perguntou a dona de casa. Chamava Mercy de Gum por conta de seu cabelo rosa.


— Colher algumas flores. — mentiu. Nunca dizia para onde ia realmente, e sua mãe sabia disso.


— Não está com fome? — tentou persuadir a filha a ficar, como fazia todos os dias, retrucando suas mentiras. Já era um discurso de praxe naquela casa.

— Eu posso pegar algumas frutas, também.


— Tome cuidado. — pediu Rose, a mãe de Mercy.

— Como se eu pudesse me machucar em algum lugar aqui nessa vila no fim do mundo. — A garota de cabelo rosa morreria de tédio se não tivesse seu pequeno amigo Bruce, um Machop criativo e agitado. Com a mochila nas costas, subiu na bicicleta e Bruce pulou na cesta. As pequenas estradas eram cercadas de flores, assim como toda a cidade. As casas eram simples, de madeira, feitas das árvores que foram plantadas há centenas de anos, cercando a cidade. Ao sul, alguns montes e um grande rio, que dava energia para s as casas e estabelecimentos. Era para lá que ela ia, a hidroelétrica de Floaroma. Desde algum tempo, começou a ir lá e treinar Bruce para participar de batalhas. Claro que nunca tivera a chance real de lutar, mas mesmo assim treinava.


Queria ter a coragem de entrar no PokéMart e comprar pokébolas, para capturar pokémon selvagens, mas não saberia como explicar para sua mãe. Ainda mais nos tempos atuais, onde os líderes de ginásio estavam sendo assassinados, e a Campeã estava morta. Era um caos por toda Sinnoh, portanto não era uma boa ideia sair em uma jornada. A viagem até a hidroelétrica era tranquila, e Mercy cumprimentava todos na ida, e também na volta. Isso quando voltava ainda pela tarde. As vezes passava a tarde treinando. Se não fossem as pequenas janelas na torre da hidroelétrica, poderia passar a noite ali sem se dar conta do tempo. Bruce era um ótimo companheiro e confidente, tão valente que chegava ao ponto de ser tolo. No primeiro dia que treinaram ali, o Machop tentou descobrir de onde vinha o barulho. Assim que viu as pás do moinho, de onde vinha a força para transformar em energia, tentou atacá-lo com toda a força, e se machucou feio. Foi a primeira vez que Mercy entrou no centro pokémon. Ele tinha a cicatriz deste incidente até hoje, um corte diagonal no tórax que ia de ponta a ponta.


— Bruce, Karate Chop! — Mercy gritava, o suficiente para que seu pokémon ouvisse mesmo com o barulho; que não incomodava mais, depois de tanto tempo indo ali quase todos os dias. O Machop lançou um soco no ar, enquanto seu punho brilhava de poder. Mercy o imitou, tentando dar socos potentes também. Achava que se imitasse ele, conseguisse aprender a lutar. Se sentou no chão de pedra, e olhou pela pequena janela. Viu algo estranho, algo grande batendo suas asas para minimizar a queda. Caiu e rolou por cima de um barranco no meio da vila. Observadores curiosos se aproximaram do que parecia ser um pokémon caído, com grandes ferimentos, protegendo algo com sua asa vermelha.

A garota de cabelo rosa sentia o cheiro de queimado dali, há quase duzentos metros de distância. Pensou em se aproximar, mas tinha medo de ser perigoso se aproximar de um pokémon que parecia ser agressivo. É, uma futura treinadora pokémon com medo de um. Mercy não se orgulhava disso, mas nunca tivera contato com nenhum pokémon selvagem. Na verdade, ninguém tinha pokémon em Floaroma além dos treinadores que passavam por ali, e as enfermeiras do Centro Pokémon. O pokémon se levantou, e abriu os olhos. Seu rosto estava franzido, e ele demonstrava raiva. Abriu sua asa, e mostrou um garoto de cabelo castanho, com uma roupa estranha, que se levantava tossindo. Tinha pavor em seus olhos. Checou o céu, como se estivesse sendo perseguido, como se estivesse correndo perigo real. Mercy nunca saberia o que era aquela sensação, e aquele olhar logo a atraiu. Queria ajudá-lo de alguma forma. O garoto percebeu que todas aquelas pessoas estavam encarando-no, e saiu correndo, na direção da hidroelétrica. Mercy se escondeu. Estava no segundo andar quando ouviu a porta se fechando atrás dele. Seu pokémon do tipo dragão estava dentro da pokébola. A garota desceu as escadas com cuidado, e Bruce ao seu lado. O garoto estava de costas, esbaforido pela corrida, quando ela encostou em seu ombro. Ele gritou, e ela o socou.

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Um mês antes, acima de Pastoria...

Peter Dubois montou em seu Salamence e o ordenou levantar voo. Fugiria dali o quanto antes, sabendo do que aconteceria em seguida. A Ordem Galactic apareceria e cumpriria seu trabalho. Simples, rápido, e eficiente. Mas não eram baratos. Peter ia para casa nesse momento, encontrar seus familiares e comemorar o sucesso do primeiro passo para que eles retomassem o controle político do país. Peter foi até Pastoria para assegurar que Crasher Wake estaria no coliseu na hora do ataque. A Ordem Galactic era cara, e precisavam ter certeza que não teriam motivos para não cumprir seu trabalho. Já estava vendo de longe a cordilheira de montanhas que abrigava o palácio, quando seu celular tocou.

— Peter. — anunciou. Sabia que era seu pai, ninguém mais ligaria para ele no meio de uma missão importante, a não ser alguém que quisesse que ele falhasse. Queria seu filho longe dessas coisas perigosas, mas sabia que não podia impedi-lo de voar. Mesmo tentando proibir ele de ver seu pokémon, era impossível. Peter sempre dava um jeito de vê-lo. Tinham uma conexão especial, algo além do que é visível, e todas as pessoas que pisassem no palácio saberiam disso.


— Tomando como verdade que você obteve sucesso nesta operação, preciso que vá até o Cristal Reluzente e destrua tudo. Sem o herdeiro da magia ancestral ali, o local está vulnerável. Vai ser fácil, volte assim que acabar. — disse Antoine Dubois, seu pai. Um homem ganancioso e ríspido que faz qualquer coisa para atingir seus objetivos. Um péssimo pai, como era de se esperar. Vindo de Kalos como um ladrão, fez de tudo para limpar seu nome, e em seguida começou sua fortuna. Construiu seu palácio, Fleur d'hiver, alguns anos depois de se casar com Lucia Harringer, mulher com quem teve seus dois filhos, Peter e Louis. Era comum na cultura de Sinnoh as famílias nobres, mesmo as que não sejam da nobreza, como a Dubois, darem nome para seus palácios. O da família Novek era chamada Cristal Reluzente, o da família Dubois, Fleur d'hiver.

Salamance estava a toda velocidade, rumando para Cristal Reluzente. Peter não se importava com os motivos do pai, e destruir o palácio de seus principais inimigos não era contra sua conduta, então não tinha nenhum problema em fazer aquilo. Já tinha quase dezessete anos, e treinava junto a seu Salamence desde os nove. Tinham sido amigos desde então, talvez o único além de sua família com quem Peter tinha um vínculo. Para falar a verdade, Peter considerava-o alguém da família. Previa que chegaria no Cristal Reluzente na próxima meia hora, e observava a vista do Mt. Coronet, as grandes montanhas com neve nas pontas, e do outro lado, as grandes florestas com árvores escuras, e a praia de Sunyshore, dita como a mais bela de Sinnoh. Ver tudo aquilo dali de cima era nostálgico. Fechou os olhos para aproveitar o aroma, quando algo aconteceu.

Um barulho fino e contínuo, cada vez mais alto. Peter olhou ao redor, tentando ver de onde era, mas quando percebeu, era tarde demais. Uma poderosa esfera acertou a barriga de Salamence, que demorou para estabilizar o voo novamente. Quando ocorreu, estava próximo de um bosque, próximo do autor do ataque. Peter ouviu um zumbido, e desceu de seu pokémon para checar. Seria bom dar um tempo para ele se recuperar, de qualquer jeito. Explorou pelas árvores, sem nenhuma arma em mãos. De acordo com sua experiência, estava perto de Hearthome, mas nada podia confirmar. Checou o celular naquele meio tempo, sem sinal. Tentou correr, mas um raio elétrico foi disparado em sua direção, e Peter foi lançado para trás. Tentou se levantar rapidamente e montar em Salamence, mas seu inimigo já estava muito perto. Não fazia ideia de como ele chegara ali tão rápido, mas ele estava: Um Magnezone, e ao seu lado, o que parecia ser seu treinador, que rapidamente se pôs a falar:

— Olá, Peter Dubois. — disse o homem de uniforme camuflado. Com uma voz dura e direta, como alguém do exército provavelmente teria, ameaçou o garoto com cada palavra pronunciada. — Sou o Coronel Thomas Surge, e minha missão é te caçar. Dez segundos para chegar o mais longe daqui, e lembre-se que é mais fácil vê-lo no céu. — Peter se levantou rapidamente, e teve que fazer uma escolha. Abandonar seu pokémon e correr, ou subir e morrer no céu. Esperou os dez segundos, e rolou quando o Magnezone estava prestes a atacar. Bateu com a mão logo abaixo da asa direita de Salamence, um sinal para que ele voasse para longe, e correu o mais rápido que pôde.

Flamethrower! — Gritou, agredindo suas cordas vocais. Nunca sentira tanto medo quanto agora. Seu corpo inteiro suava, e a adrenalina corria em suas veias tão rápido como um Arcanine. Felizmente, seu pokémon ouviu, e atacou. Thomas Surge, porém, não seria derrotado tão facilmente. Apertou uma pokébola, e liberou um Slowbro, tal qual comandou usar Protect. O pokémon de Peter pousou ao lado do treinador, que subiu nele rapidamente. Voaram para longe, mesmo tendo a certeza de que estariam sendo seguidos pela pior pessoa que poderia ser contratada para "caçá-lo": Thomas Surge, filho de Martin Surge, líder de Vermilion e administrador da extinta Team Rocket. Thomas não acredita que seu pai era um bandido, e luta para recuperar o legado do nome Surge como um mercenário que trabalha pelo exército.

Sua família só se deu conta de seu desaparecimento quase cinco dias depois. Peter tinha a mania de fugir com Salamence e só voltar depois de algum tempo, mas ele sempre avisava seu irmão. Isso acontecia tão regularmente que os pais se esqueciam de perguntar para Louis aonde seu irmão estava. Antoine, mesmo sendo um péssimo pai, se esforçava. Queria a segurança de seus filhos, não apenas por que eles são o futuro de seu nome, mas por que tinham seu sangue. O sangue que Antoine considerava sagrado, por ser seu. E talvez não estivesse errado, considerando o que aconteceria algum tempo depois. Na verdade, toda a história da família Dubois era conturbada. Desde o modo que Antoine usou para conseguir a fortuna da família, até a mulher com quem casou. Seus filhos não sabiam de nada disso, apenas viviam a vida proporcionada por esse dinheiro, vivendo nas montanhas, com visão para toda Sinnoh, tanto para o leste quanto para o oeste.