Pokémon - Laço Eterno

A estrada para a realeza


— Pronta?

A voz familiar arrancou Calista de seus pensamentos. Olhando para seu irmão mais novo, a jovem respondeu àquela pergunta com um sorriso nervoso. Ash lhe apertou o ombro carinhosamente em um gesto de apoio.

— Honestamente? Não. — Ela confessou com uma risadinha. — Nem um pouco.

— É assim que se fala. — O rapaz aprovou jocosamente. — Boa sorte, mana. Você vai vencer com certeza.

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Calista riu alto dessa vez, passando um braço pelo pescoço de Ash. Ele estava preparado e segurou a mão livre de sua irmã mais velha antes que ela lhe desse um tapa na nuca, empurrando-a sem muita força enquanto os dois caíam na gargalhada.

Sua criançona. O rapaz disse. Cresça, Caly. Nem parece que você é a mais velha.

— Seu garoto babaca.

— Não sou. — Ash rebateu. — Seu noivo é que é.

A menção a seu noivado fez o sorriso desaparecer do rosto de Calista, sendo substituído por uma expressão séria. Não conseguia pensar no assunto sem que sua conversa com Angel lhe viesse à mente.

Por que você é tão contra meu noivado com Gary? Pergunto, curiosa. Está com ciúmes?

É claro que não. — Ela responde, erguendo o queixo e me encarando. — E, mesmo que estivesse, eu jamais seria tão mesquinha.

— Então qual é o problema?

— É aquele garoto. — Angel confessa, dobrando seu corpinho minúsculo para abraçar joelhos enquanto fala. — Ele é ... Arrogante. Um pouco demais, se quer saber.

— Eu sei. Mas me apaixonei por ele mesmo assim. Há mais no Gary do que só a arrogância.

— Talvez, mas ... Ainda acho que você merece alguém melhor. — Minha nova amiga diz gentilmente. — Ele está escondendo alguma coisa, algo grande. Posso sentir.

— Não se preocupe tanto, anjinha. — Eu a puxo para meu colo e Angel se aninha em meus braços. — Seja lá o que ele estiver escondendo, tenho certeza de que é por um bom motivo. Gary jamais faria nada para me prejudicar.

Mas, ainda assim, aquela conversa grudou em sua mente como chiclete, sempre à margem de seus pensamentos. Ela se forçou a ignorar e disfarçar sua hesitação, encarando seu irmão mais novo com um olhar arrogante.

Calista ainda estava rindo consigo mesma ao seguir para os camarins para se trocar. O vestido vermelho que comprara em Alola tanto tempo atrás especialmente para aquela ocasião caiu perfeitamente, e a morena sorriu ao ver seu reflexo no espelho. A combinação de cetim vermelho e renda negra a fazia sentir-se poderosa.

Você está linda. Angel elogiou. Mas tem certeza de que isso é uma boa ideia?

Não tenho certeza de nada. A jovem admitiu, prendendo os cabelos negros em um coque, deixando alguns cachos soltos emoldurando-lhe o rosto. Mas pretendo usar todos os meios possíveis para vencer.

Mesmo que não seja de forma justa?

Claro que não! Calista protestou. Isso não é trapaça, Angel, é simplesmente algo que ninguém nunca pensa em fazer.

A Meloetta ainda parecia insatisfeita, mas decidiu não discutir e pousou no ombro de sua parceira.

— Com licença ... — Uma voz feminina chamou. — Mademoiselle Calista?

Calista se virou e, como já esperava, encontrou uma assistente de palco carregando um já familiar embrulho colorido.

— Ora, ora. — A morena sorriu. — Outro presente. Vamos ver o que é desta vez.

O presente era uma coroa de flores. Rosas, para ser mais específica. Uma suntuosa coroa feita das maiores e mais magníficas rosas brancas que Calista jamais vira, acompanhada por um bilhete que dizia:

A coroa já é sua, não importa o que aconteça. Quebre a perna hoje à noite.

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— É tão lindo! — A assistente de palco exclamou, parecendo mesmerizada ao ver Calista colocar a coroa de rosas. — Alguém deve gostar muito da senhorita.

— Sim. — A irmã de Ash sorriu, girando a cabeça para admirar o contraste entre as flores e seus cabelos negros. — É, acho que deve mesmo.

A morena subiu ao palco logo depois, acompanhada por Inari, Mirabelle e IceFire. A plateia explodiu em aplausos, ao que Calista retribuiu com um aceno. Quando Aria subiu ao palco, porém, a jovem teve que se esforçar muito para não demonstrar sua surpresa.

É claro que já havia visto a Rainha de Kalos em entrevistas e assistido suas apresentações, mas não a conhecia pessoalmente. Aria era muito jovem, com não mais de dezesseis anos, embora seu gracioso rosto em forma de coração a fizesse parecer ainda mais nova. Era baixinha e de porte delicado, como uma boneca de porcelana, e seus grandes olhos cor de âmbar fitavam Calista com franca curiosidade.

Calista! A menina exclamou em voz baixa enquanto Monsieur Pierre anunciava o começo da Classe Mestra. Meus parabéns por ter conseguido chegar tão longe.

— Obrigada. — A morena retribuiu o sorriso, sentindo uma onda de energia selvagem percorrer seu corpo. — É uma honra.

— A honra é toda minha. — Foi a resposta, dada em um tom de absoluto deleite. — Assisti sua apresentação nas semifinais. Você foi incrível!

A irmã de Ash não soube o que responder e, para seu constrangimento absoluto, sentiu suas bochechas esquentarem. O sorriso de Aria se alargou e a menina deu uma risadinha. Não por zombaria, mas como se fossem amigas de longa data compartilhando uma piada particular. Calista não teve tempo de responder, pois o nome da Rainha de Kalos foi chamado. Ela seria a primeira a se apresentar.

— Quebre a perna, Calista. — A ruiva disse baixinho ao passar por ela para assumir seu lugar no palco.

Os pokemon de Aria eram Delphox, Aromatisse e Vivillon. A Pokemon Raposa usou Fogo Místico, que se combinou com o Raio Psíquico de Vivillon para formar um ciclone de fogo. Aromatisse seguiu imediatamente usando Refletir, um movimento geralmente usado defensivamente, que criava paredes invisíveis de luz à frente do usuário como se fossem escudos.

O movimento da Pokemon Fragrância, porém, foi diferente de tudo o que Calista já havia visto, criando focos de luz que pareciam espelhos espalhados pelo palco. Aria saltou sobre eles e sua Vivillon desceu em rasante, pegando a jovem pela cintura e erguendo-a no ar. A pokemon borboleta parou por um instante em pleno voo, abrindo as asas ao máximo de modo que se fundissem com o corpo de sua treinadora. Por um momento, a garota pareceu uma espécie de fada.

Como encerramento da apresentação, Delphox usou Explosão de Fogo na direção do teto. O movimento foi seguido por um Raio Carregado lançado por Aromatisse, que colidiu com as chamas. Vivillon mais uma vez usou seu Raio Psíquico para moldar a explosão, dissolvendo-a em uma cascata de fagulhas cintilantes.

Uau! Angel exclamou. Não era exagero, Aria é mesmo muito boa.

Claro que sim. Ela é a Rainha. Calista respondeu com um suspiro. Essa vai ser uma competição bem difícil.

Deixe que eu a ajude. A Meloetta sugeriu. Eu a vi ensaiar, sei a coreografia de cor. Posso me apresentar com vocês.

Não. A morena rebateu categoricamente. É perigoso demais. Tem muita gente que faria qualquer coisa para pôr as mãos em um pokemon raro como você.

Pensei que você tivesse dito que faria qualquer coisa, arriscaria tudo para vencer.

Isso não. A morena rebateu. Prefiro perder a coroa do que me arriscar a ver você se ferir.

Mas esse é o seu sonho.

Mas não estou disposta a pagar esse preço. Deixe que eu tente com meus próprios meios. Se eu for derrotada, será porque não merecia a vitória.

Está bem. Angel assentiu. Lembre-se: você é tão boa quanto ela, se não melhor. Fique calma e confie em si mesma.

A morena endireitou a postura, voltando o olhar para suas três pokemon. IceFire grunhiu baixo em encorajamento, enquanto Mirabelle enrolava uma de suas fitas ao redor de seu pulso e Inari dava seu melhor para sorrir. As três olhavam para sua treinadora com total confiança, como se já tivessem certeza do desenrolar dos eventos daquela noite. Isso fez Calista se sentir ainda mais determinada. Venceria não apenas por si mesma, mas por elas.

— Muito bem, meninas. — A morena disse. — É hora do show!

Como sempre, o fato incomum de Mirabelle ser uma Sylveon shiny rendeu várias exclamações admiradas da plateia. A pokemon tipo Fada, uma diva por excelência, desfilou até a frente do palco como se estivesse em uma passarela, se exibindo com um largo sorriso.

IceFire abriu as asas, erguendo-as de modo que as pontas se tocassem e formassem um círculo acima de sua cabeça. Mirabelle saltou o mais alto que pôde, usando suas fitas como apoio para dar um salto mortal perfeito através daquele arco formado pelas asas da Charizard, usando Estrela Cadente em pleno ar. Uma chuva de estrelas douradas banhou o palco no exato momento em que ela aterrissava graciosamente sobre as quatro patas.

Calista mudara completamente seu estilo para aquela última performance, todos que a conheciam puderam perceber isso assim que ela e Inari começaram a dançar. A jovem estava determinada a vencer, determinada o bastante para usar sua feminilidade como arma. Seu corpo ondulava sob o vestido justíssimo, o que deixava pouco para a imaginação enquanto ela dançava com a graça sinuosa de um grande felino.

Inari pulou sobre o braço estendido de sua treinadora, disparando um Raio de Aurora que foi dispersado com sopros das asas de IceFire, criando uma bruma azulada sobre o palco. O fraco brilho dourado remanescente das estrelas cadentes contribuiu para formar uma atmosfera ainda mais etérea. A Charizard então chicoteou sua longa cauda rente ao chão. Calista saltou com agilidade sobre o poderoso membro enquanto a Charizard rugia e disparava um ataque Lança Chamas. O ataque tipo Fogo foi acertado em cheio pela Explosão Lunar de Mirabelle, criando uma cascata flamejante.

Rodopiando lado a lado com Mirabelle e Inari sob a luz das chamas, Calista abriu um sorriso malicioso antes de estender uma das mãos para a cintura de seu vestido, adornada por uma vistosa fita dourada. Um simples e rápido puxão fez com que a longa saia se soltasse, revelando uma saia mais curta por baixo. A parte removida foi lançada no ar enquanto Inari usava Extrassensorial e IceFire criava outra rajada de vento com suas asas. Combinados, o vento e o ataque tipo Psíquico fizeram o pedaço de tecido parecer uma borboleta vermelha batendo as asas sobre o palco.

A dança de Calista agora se tornara uma combinação de balé e algo que lembrava tango, sinuoso e sedutor. Combinado com a graciosidade de Mirabelle e a beleza de Inari, era hipnotizante. Ela sabia, porém, que a maioria dos homens na plateia não estava nem prestando atenção na dança. Estavam, isso sim, olhando para suas pernas, que o modelo deixava totalmente à mostra até a altura das coxas. Isso limitava seus movimentos, mas atraía atenção, o que era exatamente o que Calista queria.

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— Não acredito que ela fez isso! — Ash exclamou, chocado.

— Nem eu. — Gary respondeu amargamente. — O que a sua irmã tem na cabeça? Isso está completamente errado!

— Ao invés de julgar e ficar com ciúmes ... — Serena sibilou para os dois garotos. — Vocês podiam simplesmente assistir. A Caly está indo muito bem. Se concentrem nisso e não sejam tão machistas.

Os dois se calaram depois desse comentário mordaz, ainda emburrados por seus próprios motivos, e se concentraram na performance bem a tempo de ver Calista montar em IceFire para o encerramento.

A Charizard decolou, voando tão alto que as pontas de suas asas roçaram o teto. Inari, perfeitamente equilibrada em seu largo pescoço escamoso, usou Neve em Pó, criando uma pista de gelo no palco lá embaixo, sobre a qual Mirabelle deslizou graciosamente como se patinasse. A Sylveon então saltou e usou Explosão Lunar, o que por um momento se refletiu no gelo e criou um efeito caleidoscópico de tirar o fôlego.

A pequena Vulpix de Alola então usou Extrassensorial mais uma vez, erguendo um cristal de gelo perfeitamente circular no ar. IceFire atacou a massa gelada com Garra das Sombras, partindo-a em duas, e Mirabelle usou Voz Ecoante para estilhaçá-la em milhões de minúsculos fragmentos que caíram como uma inofensiva chuva prateada sobre o palco no exato momento em que IceFire pousou.

Por alguns segundos o silêncio foi total, então a plateia explodiu em aplausos e gritos de comemoração. Calista soltou um suspiro de alívio, se dirigindo para o lado do palco onde estava Aria, que mais uma vez lhe abriu um largo sorriso.

— Aquilo foi lindo! — A ruiva exclamou, o deleite evidente mesmo em seu sussurro. — Não é à toa que até mesmo Diantha a apoiou, Calista. Você é muito talentosa.

— Obrigada. — A irmã de Ash sorriu, ainda tomada pela euforia. — Você também. Essa final definitivamente valeu a pena.

As duas performers trocaram mais um sorriso e então aguardaram em silêncio, ansiosas, enquanto todos votavam.

— Calista Ketchum vence a competição! — Monsieur Pierre anunciou momentos depois, sua voz traindo uma sutil nota de incredulidade. — Meus parabéns à nossa nova Reine de Kalos!

Calista não conseguiu acreditar. Por um momento a morena ficou petrificada, pensando que era tudo um sonho enquanto o Klefki do apresentador se aproximava com a belíssima tiara prateada, que foi delicadamente colocada sobre a tiara de flores, seu brilho contrastando suntuosamente com as imensas rosas brancas.

Foi Mirabelle, se atirando em seus braços com um gritinho de felicidade, quem a convenceu do contrário. Era real. Haviam conseguido. A jovem abraçou sua Sylveon sob uma chuva de aplausos estrondosos da plateia, um abraço ao qual Inari e IceFire se juntaram.

— Vencemos. — Protegida pelas asas de sua parceira mais antiga, Calista permitiu que as lágrimas lhe escorressem pelo rosto. — Nós conseguimos, meninas. A coroa é nossa.

Inari lambeu delicadamente a bochecha de sua treinadora, que sorriu e limpou as lágrimas com a mão livre.

— Tem razão, Inari. Isso ainda não acabou. — A morena disse. — Mas não esqueçam que eu jamais teria conseguido chegar tão longe sem vocês.

IceFire soltou um zumbido baixo de satisfação do fundo da garganta enquanto recolhia suas enormes asas para junto do corpo, interrompendo aquele breve momento particular. Calista e Aria então se retiraram para os bastidores para trocar de roupa.

A irmã de Ash, porém, não se deu ao trabalho. Ela simplesmente pegou sua bolsa e correu ao encontro de sua família.

— Aquilo. Foi. Demais! — Bonnie exclamou, se apressando ao seu encontro assim que a jovem saiu do camarim. — Você arrasou, Caly!

— Obrigada, baixinha. Que bom que você gostou.

— Foi incrível mesmo, querida. — Dehlia, que vinha logo atrás da irmã mais nova de Clemont, concordou afetuosamente. — Mas não acha que seu truque com o vestido foi um tanto exagerado?

— Foi vulgar, isso sim. — Gary declarou acidamente. — Ficar exibindo seu corpo daquele jeito não garante a vitória.

O sorriso de Calista desapareceu e ela encarou seu noivo com raiva, pronta para dar uma resposta apropriada àquele comentário machista, o que não foi necessário, pois Mirabelle agiu mais rápido, acertando Gary direto no estômago com uma cabeçada que o fez ofegar e se curvar de dor.

— Já chega, Mira. — A morena ordenou, embora sorrisse a contragosto com a atitude de sua pokemon. — Modos, sua cabeça dura. E você, Gary, bem feito. Aprenda a ficar de boca fechada se não tiver nada de bom a dizer.

— Ash. — Serena disse, interferindo antes que o neto do professor Carvalho pudesse retrucar e começar uma briga. — Sua batalha na Liga é hoje, não é?

— É sim. Em ... — O rapaz se interrompeu, consultando seu relógio de pulso. — Droga, em meia hora. Preciso correr!

A irritação de Calista deu lugar a uma risada. Aquilo era bem típico. Ash sempre estava atrasado para tudo, desde que era criança. Certas coisas, pelo visto, não mudavam jamais.

— Encontro vocês lá. — A jovem disse. — Só vou tirar esse vestido e já estarei a caminho.

— E as entrevistas, Caly? — Serena inquiriu, parecendo muito surpresa.

— Isso pode esperar. Quero estar lá para ver meu irmãozinho batalhar.

— Deixe de ser boba, Caly. — Ash protestou. — Serena tem razão. Você conseguiu o que queria, agora aproveite seu momento. Pode ver uma reprise depois.

— Nem pensar! Vou estar lá e torcer por você pessoalmente. — A morena garantiu. — Se quer saber ... Tenho certeza de que a maioria daqueles repórteres me odeia por vencer Aria. Ela tem sido a queridinha da mídia desde que ganhou a coroa.

— Vá logo e pare de discutir. — O rapaz rebateu. — Você está é com medo, Caly.

— Em parte. — Calista admitiu. — Por isso mesmo fugi dos camarins. Aposto que tem um enxame entrevistando Aria nesse exato momento. Não duvido nada de que me acusariam de trapaça ou alguma coisa do gênero, se tivessem a chance.

— Você não deixa de ter razão, Calista. — Uma voz feminina declarou, denotando um quê de desprezo em seu tom displicente. — Mas esqueceu de acrescentar que só os mais incompetentes agiriam assim. E esses tipos não merecem que você se preocupe com suas opinões.

A irmã de Ash soltou um pequeno arquejo de surpresa e se voltou tão rápido na direção da voz que a coroa, ainda aninhada entre seus cachos negros, escorregou e ficou ligeiramente torta. Ela não pareceu perceber.

— Malva! — Exclamou. — Pensei que você estaria cobrindo os eventos da Liga, e não um "concurso fútil de beleza".

— Certa de novo. — A repórter respondeu com um breve sorriso. — Mas o chefe decidiu que me queria aqui também este ano. Round duplo.

— Uau! Eu não queria estar no seu lugar. — Calista retribuiu o sorriso antes de se voltar novamente para sua família. — Pessoal, podem ir na frente se quiserem. Nos vemos na Liga.

— Certo. — Ash assentiu, já disparando para fora com Serena. — Até mais, mana.

— Espero você lá fora. — Gary disse.

— Não. — A morena rosnou em tom baixo, para que só ele a ouvisse. — Estou uma fera com você, Gary Carvalho. É melhor ficar fora do meu caminho por um tempo, se sabe o que é melhor para você.

O rapaz pareceu desapontado e pronto para protestar, mas foi interrompido por seu avô, que praticamente o arrastou para longe dali. Não que ele tivesse outra opção, é claro. Calista há muito já lhe havia virado as costas, sua atenção mais uma vez focada em Malva.

— Nem pergunte. — A morena disse simplesmente ao ver a expressão de curiosidade naqueles olhos ambarinos. — Por favor. É complicado demais para explicar agora.

A repórter arqueou uma sobrancelha, encarando Calista daquele jeito irônico que a jovem já conhecia tão bem.

— Pela forma como falou, suponho que não esteja se opondo a responder em uma outra ocasião. — Ela disse, seu tom quase um desafio.

— Tem razão, não me oponho. — Calista respondeu. — Aconteceria mais cedo ou mais tarde, mesmo, tenho sorte por ser você. Pode decidir onde e quando.

— Isso depende. — Malva hesitou, dando uma rápida olhada no tablet que trazia nas mãos. — Você vai voltar à Lumiose ainda esta noite?

— Essa é a ideia.

— Então me encontre amanhã de manhã. Às dez, na entrada principal da Torre Prisma.

— Combinado. E ... Tente não ser muito má comigo, está bem? Por favor.

— Isso vai depender de você. — A mulher de cabelos cor de rosa rebateu com um sorriso diabólico. — Sabe o que fazer para garantir isso, não sabe?

— Chegar na hora. — A irmã de Ash respondeu jocosamente. — Nada de atrasos, sei o quanto você odeia isso.

— Ótimo. — Malva assentiu. — Está combinado, então. Mas primeiro ... Ouvi o que Ash disse, e ele tem razão, você devia aproveitar o seu momento. Não era isso que você tanto queria?

— Sim, mas ...

— Pois então ... — A repórter a interrompeu, estendendo uma das mãos para tocar de leve o canto esquerdo dos lábios de Calista. — Tente sorrir. Você está séria demais para quem acabou de ganhar a coroa.

— Será que realmente ganhei? — Calista suspirou pesadamente, deixando sua insegurança vir à tona. — Acho que eu nem estaria aqui se não fosse por você ter votado em mim nas semifinais.

— Eu não o faria se você não merecesse. — A repórter afirmou, dando um passo à frente e endireitando a tiara ainda torta sobre os cachos negros da jovem kantoniana. — Essa coroa é sua, Calista. Não deixe ninguém convencê-la do contrário, está bem?

As palavras da repórter kalosiana fizeram Calista corar. Malva percebeu isso, abrindo um sorriso enquanto recuava. O gesto era ligeiramente mais caloroso do que o sorriso puramente profissional que ela usava em público.

— Malva ...

— Nos vemos amanhã, Menina Fada.

E, tão rápido quanto se aproximara, a repórter se afastou, acenando uma rápida despedida com a mão livre. Calista ficou ali parada por um momento, trocando um olhar incrédulo com Mirabelle, que deu uma risadinha.

Havia sido logo após a primeira vez que enfrentaram Malva, indo contra sua feroz Houndoom, mega evoluída naquela ocasião. Mirabelle se recusara a entregar a luta e no final terminara por vencer disparando uma Explosão Lunar particularmente poderosa.

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Nada mal, Menina Fada. A repórter dissera, esquecendo a compostura e rendendo-se a uma sonora gargalhada. Faz algum tempo que não vejo uma pokemon tão combativa, e muito menos alguém com coragem de enfrentar minha Houndoom. Gosto disso. Nesse mundo, são os corajosos que prosperam.

A jovem sacudiu a cabeça para se livrar das memórias, correu aos camarins para se trocar e escapuliu rapidamente pela porta dos fundos antes que fosse notada. Gary a esperava, apoiado contra a parede externa do teatro.

O rapaz ficou aliviado ao ver que Calista substituíra o vestido da performance por um modelo mais simples, embora também vermelho. Esse era mais comprido e tinha um comportado decote redondo. Seus fartos cabelos negros haviam sido soltos, e apenas a coroa de rosas brancas os adornava. Ela também trocara os sapatos de salto alto por simples sapatilhas pretas.

— Ei, Caly.

A morena o ignorou e tentou passar direto, mas ele a segurou pelo pulso. Ela se soltou com um puxão, virando-se para fulminá-lo com os olhos.

— Me deixe em paz, Gary! Caramba, pensei já ter dito ...

— Disse, mas não podemos ficar brigando o tempo todo. Isso não está certo, Caly. — O rapaz interrompeu calmamente. — Ok, admito: eu fiquei com ciúmes. Fui um idiota. Será que você não pode esquecer o que falei? Nós dois sabemos que sou mestre em falar o que não devo quando se trata de você.

A irmã de Ash hesitou, encarando-o de braços cruzados e expressão irredutível. Os olhos de Gary estavam fixos seus, e aquelas íris castanhas traziam uma súplica que chegava a ser quase infantil.

— Está bem. — Ela cedeu, relaxando com um dramático suspiro. — Você é um idiota, sim, mas ao menos teve a decência de reconhecer seu erro. E está com a razão: não podemos ficar brigando o tempo todo. Desculpas aceitas, por enquanto.

O rosto do neto do professor Carvalho se descontraiu em um largo sorriso, e Calista sentiu seus pés sendo erguidos do chão quando ele a abraçou com força, rodopiando-a no ar.

— Certo, seu bobo. — A morena riu. — Ande logo, ou vamos perder a batalha do Ash.

A jovem tirou IceFire de sua pokebola mais uma vez e Gary a montou, parecendo nervoso ao passar os braços pela cintura de sua noiva.

— Diga a verdade, Gary. — Ela pediu, olhando-o por cima do ombro assim que a Charizard decolou. — Por que ficou tão zangado? Não foi só por causa do meu vestido, foi?

— Não, não foi. Quer dizer ... Você estava linda e tudo o mais, mas ... Mas ... — Mesmo olhando-o apenas de relance pelo canto do olho, Calista pôde ver que o rapaz corara violentamente. — Droga, Caly! Eu não sou mais um garotinho, sabia? Tem ideia do que eu quis fazer com você quando te vi naquele vestido?

A morena moveu uma das mãos de modo a colocá-la delicadamente sobre as dele, que estavam cruzadas sobre sua barriga.

— O que você quis fazer?

Gary corou ainda mais, incerto se deveria responder. Ele conhecia bem aquele tom de voz, um quase ronronar com um toque de malícia. Era um sinal de perigo, de que não seria preciso muito para irritá-la. Calista certamente lhe daria um sonoro tapa se ele lhe respondesse honestamente. Mas o assunto já havia surgido, e não havia como recuar. O rapaz então cedeu, se inclinando para sussurrar no ouvido de sua noiva.

— Eu quis arrastar você para fora daquele palco. — Ele confessou. — Te levar para casa, direto para o meu quarto, trancar a porta e ... E ...

Silêncio. Gary imaginava a expressão de Calista com tanta clareza que quase podia vê-la, furiosa com a implicação de sua frase inacabada.

Ela não disse uma palavra até pousarem na frente do estádio onde estava sendo realizada a Liga de Kalos. Quando ambos haviam pulado para o chão e IceFire fora posta de volta em sua pokebola, Gary ficou surpreso ao ver que a irmã de Ash sorria.

— Você é um tarado, Gary-Ados. — Ela declarou, balançando a cabeça em uma reprovação brincalhona. — Ande, vamos ver as batalhas.

Gary não pôde deixar de rir com ela enquanto entravam juntos no estádio, de mãos dadas. Como se fosse obra do destino, Cynthia foi a primeira pessoa que Calista viu ao se aproximarem das arquibancadas, e a jovem retribuiu o aceno da loira com um enorme sorriso.

— Legal! — Exclamou. — Cynthia guardou lugares para nós. Vamos nessa!

— Olhe lá, tem dois lugares vagos perto do vovô e da sua mãe. — Gary disse, fingindo não tê-la ouvido. — Vamos correr antes que ...

— Gary! — A jovem repreendeu, ligeiramente exasperada. — Qual é o seu problema com a Cynthia, afinal?

— Nenhum. — Ele respondeu, no que obviamente era uma mentira deslavada. — Só acho que sua mãe e o vovô iriam gostar se nós ...

— Não acha, não. Só está usando isso como desculpa. — Calista foi incisiva, soltando sua mão e ficando de frente para encará-lo. — Vamos lá, uma resposta honesta. Não adianta tentar mentir para mim, conheço você bem demais.

— Está bem! — Ele cedeu, sua voz se tornando um rosnado. — Quer saber qual é o meu problema com a sua nova amiguinha? Ela é uma mulher arrogante, prepotente, mentirosa, mimada, que faria qualquer coisa por poder. E você só compactua com isso para pegar carona na fama!

— Quanto a isso, nem vou me dignar a responder. — Calista disse calmamente, no mesmo tom gélido que a própria Cynthia às vezes usava. Somente seus olhos, que luziam de raiva, mostravam o quão furiosa a jovem realmente estava. — Esse é o problema, não é? Poder. Você nunca foi forte o bastante para se tornar um campeão, e se ressente disso. Pois bem, faça como quiser. Não quero lidar com você enquanto estiver sendo tão mesquinho.

Assim que terminou de falar a morena girou nos calcanhares e marchou imperiosamente pela escadaria que conduzia aos lugares mais altos das arquibancadas. Gary bem que tentou impedi-la, mas ela não lhe deu chance.

— Tudo bem, Cal? — Cynthia inquiriu quando a jovem sentou ao seu lado.

— Claro. — Calista respondeu, se esforçando para sorrir. — Tudo bem, sim.

— Mentirosa. — A campeã acusou gentilmente, olhando-a com preocupação. — Já conheço você bem o bastante para saber quando algo a incomoda, por mais que você não queira admitir. Vamos, diga. Sabe que pode confiar em mim, não sabe?

— Gary é um idiota, só isso. Ele tem ciúmes de você.

— Ele ainda é jovem. — Cynthia respondeu, pousando uma das mãos no braço de sua amiga em um gesto de apoio. — Dê-lhe algum tempo, talvez as coisas se acertem.

— É, talvez. No momento, tudo o que quero é torcer o pescoço daquele pirralho.

— Eu sabia. — A loira provocou, rindo. — Você não muda nunca, cabeça de pedra.

A provocação teve o efeito desejado: fazer Calista dar um sorriso sincero.

— O que eu faria sem você, sua loira irritante? — A jovem disse jocosamente.

— Assassinato em massa. — Cynthia respondeu sem hesitar, fazendo Calista soltar uma sonora gargalhada.

— É, talvez. Não seria uma ideia ruim.

— Falando nisso ... — Os sorriso brincalhão da loira se tornou mais caloroso. — Meus parabéns, Rainha de Kalos. Aquela performance não foi nada má.

— Fui muito melhor do que "nada mal", loira, e você sabe disso muito bem.

A única resposta da campeã foi uma risada mal disfarçada.

— Vai começar! — Ela exclamou minutos depois. — Espero que o Ash vença.

Calista assentiu, deslizando a mão de modo a segurar a de Cynthia, que ainda estava apoiada em seu braço. A loira pareceu não se importar, e as duas amigas assistiram ao começo das batalhas finais da Liga de Kalos de mãos dadas.