Poemas ou Travessuras?

Capitulo 03 - Se as árvores tivessem boca.


Ser o filho do meio não é legal. Meu irmão James é o filho perfeito, minha irmã mais nova é Lilly, a adorável menina da mamãe. Meu pai é meu melhor amigo e confidencio tudo para ele. Isso é ótimo porque as vezes tenho meu pai só para mim, enquanto meus irmãos procuram sua atenção e tem que brigar por isso. Mas aqui estava eu, seguindo os passos de toda minha família, indo para Hogwarts. Temia entrar em Sonserina, temia ser como quando meu pai entrou, e quando disse ao meu pai, ele foi o melhor e me apoiou.

Foi quando subi no trem, olhei para minha família que percebi que agora não teria meu pai. Apenas o chato do meu irmão, que gostava de me irritar. Todos me consideravam gentil e exatamente igual ao meu pai. Era uma honra, mas, eu viveria as margens da imagem do herói Harry Potter? As pessoas saberiam quem eu era? Eu tinha o nome de dois grandes bruxos também, mas… E eu?

Estava devaneando quando a porta do meu vagão abriu. Um garoto da minha idade, Scorpius Malfoy parou com o olhar arregalado. Ele seria de Sonserina. Com toda certeza ele sabia o caminho que tinha, o que iria fazer. Scorpius pareceu engolir em seco, curvou a cabeça e virou-se para ir embora.

“Espere!” Por que não conversar com alguém que sabia que seria da casa que queria ser. Ele poderia me contar o que sabia sobre Sonserina, afinal até agora eu só sabia sobre Grifinória.

Scorpius me olhou sobressaltado com meu pedido. Pareceu pesar as consequências, e me senti com vontade de ter um pouco de sua independência, especialmente quando ele finalmente entrou no vagão e sentou-se à minha frente. Nós conversamos sobre tudo e sobre nada. Falamos sobre as casas e nossas escolhas. Ao final daquela conversa, percebemos que faltava pouco para chegar, e só o fizemos porque Scorpius lembrou-se do porque tinha aberto a porta do vagão. Ele pediu desculpas e correu para conseguir fazer seja lá o que precisava. Eu dei risada da forma como ele parecia perdido, e por alguns instantes eu pensei, que se eu pudesse escolher um irmão, seria alguém como ele. Não como James que vivia para me fazer a caveira, ou como meus primos que eram meio agitados. Scorpius era o equilíbrio excelente, eu poderia crescer como deveria e....

E a ideia genial veio a minha cabeça. Eu PODERIA crescer sim, bastava ficar longe de James. O que significava: Não entraria em Grifinória. Iria contrariar todos. Meu pai disse que o chapéu levava em consideração o coração. E no momento meu coração estava longe de Grifinória.

♣♣♣

Ela me abandonou. Ela realmente não veio para a minha casa? Como isso? Eu sempre achei que não importa para onde fossemos, ficariamos juntos. Quando vi que todos que entraram em Sonserina era sua maioria garotos eu senti meu coração murchar. Scorpius entrou comigo, mas por instantes eu achei que ele não viria. Primeiro Scorpius havia ficado parado quando o chamaram, depois ele caminhou como um príncipe até a cadeira. Todos ao meu lado estavam cochichando. Comentavam que ele era um Malfoy e era o nome de alguém que vinha de classe, alguém que sempre esteve em Sonserina. Então porque o chapéu pareceu conversar com ele? Vi que ele franziu a boca e achei engraçado o quanto o mundo dava voltas. O que meu pai diria quando soubesse, que além de entrar na casa que temia, eu fiz amizade com o filho de seu “arqui-inimigo” a ponto de saber que ele estava aflito. Por alguns instantes ele olhou para todo o salão e por fim o chapéu disse Sonserina. Quando ele se sentou ao meu lado, enquanto todos aplaudiam, encostei a mão em seu ombro e perguntei “Está bem?”. Ele me olhou com um assombro no olhar. E naquele momento eu sabia, seriamos como irmãos separados por mães e sangue. Scorpius deu de ombros, sorriu e por fim acenou que estava bem.

Não demorou muito para nos acostumarmos com o ritmo da escola. Era tudo “fácil” para nós. O que tinha dificuldade ele me ajudava, e por sua vez, retornava o favor. A única coisa que parecia contra o nosso favor era Poções (Quem precisa disso, alias?). Eu poderia pedir ajuda a Rose, mas meu orgulho estava falando mais alto. Estava procurando por alguém que pudesse me ajudar, qualquer um. E depois ajudar Scorpius de escanteio.

Andei pelos corredores de Hogwarts sem rumo, com o pergaminho de poção praticamente arrastando pelo chão, até que vi uma movimentação agitada de fantasmas. Haviam aquelas mulheres com saias rodadas do século retrasado. Eu poderia ter continuado, mas o som de uma risada me fez parar. Eu conhecia o tom daquela voz, mas não havia ouvido ela rir em nenhum momento em que estive no colégio. Era pouco tempo, porém, ainda assim era impossível não ter rido antes. Me esgueirei pelos grandes arbustos para não assustá-la, mas ela não poderia estar mais avoada do que uma nuvem. Libusee estava deitada de bruços contra a grama fazendo várias coroas de flores. E quando as flores acabavam as fantasmas traziam mais e o gramado parecia uma super coleção de coroas. Elas pegavam uma coroa e colocavam sobre a cabeça, que fixavam com um feitiço que a menina fazia. Elas desfilavam, sendo aplaudidas pela garota. Um riso sincero, enquanto ela rolava pela grama e estendia as mãos, como se fosse fazer um anjo de neve, mas ao invés disso fazia um anjo de flores. Ela parecia iluminada com seu sorriso e os fantasmas sobrevoando ao seu redor, dançando e cantando.

Estava me sentindo como os homens do passado, quando as mulheres brincavam separadas dos homens e eram símbolo de pureza. Libusee levantou-se e colocou ela mesma uma coroa de flores. Ela curvou-se em uma perfeita reverencia e começou a dançar com as fantasmas. Alguns dos outros fantasmas paravam para observá-las, e senti-me como um intruso. Ela dançava sob o olhar protetor da Dama Cinzenta e lembrei das histórias que meu pai contava, e de quem era a Dama. Olhei de uma para a outra e pensei se coincidências existiam. Estava olhando maravilhado para ela, que nem percebi que todos os fantasmas tinham parado de movimentar-se e estavam me olhando. E obviamente com o silencio sepulcral (não consegui evitar o trocadilho), Libusee parou de dançar. Ela me encarava e novamente havia aquela máscara que ela usava, sem sorrisos. Um olhar apreensivo e curioso. Como eu gostaria de conhecê-la. Como gostaria de poder vê-la sorrir novamente.

“Senhor Potter, há que devemos a honra?” Uma entre os fantasmas se aproximou, e me segurei para não recuar com o frio que exalavam. Me perguntei como Libusee aguentava.

“Eu..estava...Ahn…” Olhei para os lados procurando uma saída ou uma desculpa. Não havia nenhuma. Na pior das hipóteses eu poderia sempre falar a verdade não? “Eu estava com dificuldade na lição. E encontrei Libusee e… Queria...Mas eu não queria atrapalhar seu momento de descontração e… Eu volto mais tarde.”

A fantasma que havia me questionado bateu palmas. “Oh! Vão te procurar como procuravam Rowena… É obviamente a Roweninha”

O semblante de Libusee fechou imediatamente e senti que a entendia. Acima de todos nessa escola, eu sabia o que era ser comparado com alguém.

“Rowena quem? Estou falando de Libusee, não é?” Pisquei para ela.

A fantasma riu e tentou estapear minhas costas. Tempo para arrepios.

“Senhor Potter, você é tão adorável quanto seu pai Harry.”

Libusee dessa vez aproximou-se e com o rosto corado - provavelmente de brincar e dançar - abriu um sorriso que iluminou todo seu semblante.

“Harry Potter quem? Estou falando com Albus, não é?” E ela piscou para mim.

Senti como se conhecesse uma fada pela primeira vez.