Perseu

O Ataque


Percy mergulhou, assustando-se com a explosão e quando emergiu não tardou em procurar por Annabeth. Ele olhava em todas as direções e no último segundo a viu. Seus olhos se fecharam e ela soltou o pedaço de madeira que a mantinha acima da superfície, sumindo de vista.

Percy nadou em direção à princesa que afundava rapidamente, temendo que fosse tarde demais.

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A essa altura, Nico já podia ficar acima das ondas e não conseguia encontrar Percy. Ele havia mandado a Sra. O’Leary retornar ao fundo do mar para que ninguém se machucasse, e ela concordou sem hesitar. De repente, Nico viu Perseu emergir com a humana entre os braços e dos céus algo mergulhava em sua direção. Algo que parecia muito irritado.

— Você não vai fazer mal ao meu amigo.

Nico nadou velozmente até a criatura sem forma e pulou acima da cabeça de Percy, afundando o borrão que mergulhava em direção a eles, afundando-o na água. O borrão se debatia com força até finalmente parar de tentar se desvencilhar e olhar para ele. A criatura olhou para baixo e viu a cauda de Nico. Seu choque foi tão grande que a fez engolir água, consequentemente se afogando e fechado os olhos.

Era uma garota. Mas ela... tinha asas. Não era como Ella, era... totalmente diferente.

Nico levou tempo demais para sair do choque e perceber que ela precisava respirar, diferentemente dele. Ele a levou para cima e tentou fazê-la puxar ar, sem sucesso. Concluiu que a teria de levar até a terra ou então, deixá-la morrer no mar.

— Maldito seja, Perseu. Se as explosões não o matarem, eu mesmo vou.

Seu amigo não se encontrava em uma situação muito diferente. Carregando Annabeth entre os braços, ele nem mesmo hesitou em nadar em direção à costa. Seu pai nunca poderia saber daquela transgressão, mas ele não poderia deixar a bela princesa morrer. Como tritão, ele conhecia as praias com um fluxo menor de pessoas e era para lá que deveria ir caso quisesse que ela sobrevivesse.

— Por favor, não morra agora.

Percy usava do seu poder para trazer a água de dentro dos pulmões da garota para fora, mas ela parecia ter bebido metade do oceano. Ela abria os olhos, revirava-os e fechava novamente. Por que os humanos não podem ter guelras como nós?

A tempestade continuava furiosa ao redor deles, mas Perseu tentava acalmá-la usando toda sua força. Tritão deveria estar realmente possesso no fundo do oceano para que sua ira atingisse a superfície com tanta agressividade.

Assim que Percy se afastou do centro da tempestade, ele reuniu mais poder do que jamais usara e o jogou conta a fonte da ira do irmão. Perseu descarregou toda sua frustração, desespero, raiva e curiosidade sob seus poderes, fazendo a tempestade acalmar. Ele arregalou os olhos com os resultados. Ele nunca tentara algo assim antes, o uso de seus poderes sempre foi supérfluo. Ele não sabia a quantidade de energia contida dentro de si.

Mesmo assim, imaginando que deveria haver outro motivo para a tempestade ter findado, ele segurou a princesa com mais força e a arrastou até a margem após muito, muito tempo de nado.

Ele a observava com uma inclinação quase de adoração. Por que nunca lhe contaram que as humanas conseguiam ser tão belas? Por que nunca o deixaram se aproximar?

Perseu ouvia as histórias que corriam no fundo dos oceanos. Muitos anos atrás, era permitido ao povo do mar subir até a superfície assim que atingissem a idade de dezesseis anos. Eles podiam passar um dia inteiro observando como viviam os humanos e se aproximar o máximo possível do continente, mas algo mudou. Nem mesmo as criaturas mais sombrias se atreviam a quebrar o decreto do Rei Poseidon sobre manter silêncio.

Quando Percy soltou a princesa metade na água, metade na areia, ele suspirou, olhando ao redor.

O sol nascia atrás dele, e finalmente tudo se clareava.

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Ele nunca havia tocado no continente. O mais perto que chegara da terra era pela pedra no meio do oceano onde Ella vivia, mas aquilo... Aquilo era deslumbrante.

Hesitantemente estendeu sua mão até a areia dourada e seca e a segurou entre os dedos. Era diferente da areia molhada: aquela no oceano era pastosa, se unia de forma pegajosa e era nada bela. Mas aquela ali, entre seus dedos, era algo totalmente novo e Perseu só conseguia enxergar a forma como ela escorria de sua mão lentamente e se espalhava ao vento. Ele assistiu maravilhado. O vento era suave, e as cores... haviam tantas cores!

Seu olhar desceu para a humana deitada abaixo dele. Sua pele parecia ser da cor das pérolas do oceano. Sua mão ainda suja de areia desceu até o rosto dela e o segurou. Tão macio! Era tão diferente do corpo dele! Parecia ser dos mais finos tecidos, e não uma pele! E também era quente, contrastando com o gelo que ele próprio era. Percy desceu a mão até o peito de Annabeth. Ele se sentia cansado por usar de repente tantos poderes, mas se não usasse, ela morreria ali. Ele exerceu um pouco de pressão e pediu para a água para sair dos pulmões dela.

Percy não esperava um resultado tão rápido, pois levou um susto quando a garota abriu os olhos e encarou os dele. Ela sentou para tossir, e ele entrou em pânico.

Uma humana o vira, o que ele iria fazer?

— Você... Você me salvou sahib?

Perseu assentiu, mas depois negou. Ele não era um sahib. Quer dizer, era um príncipe dos mares, mas como explicar aquilo? Ele também não pode deixar de notar que ela era uma garota estranha: naquela terra, não havia ninguém com poder acima dela, além dos reis, e mesmo assim ela o chamara de sahib? A garota parecia não ter notado a cauda dele até aquele momento, mas quando ela abaixou os olhos, não pode conter o grito de susto. Ela se arrastou para trás com medo e tentou se levantar, mas as roupas molhadas a puxavam para baixo. Ela estava delirando após engolir tanta água do mar?

Assustado e cheio de dúvidas rondando sua mente, Percy a puxou para si e a beijou.

Havia algo sobre o povo do mar que não era muito comum aos humanos descobrirem. Quando todo e qualquer tritão ou sereia tocava a pele de alguém, podiam apagar qualquer coisa de suas memórias. Porém, quando alguém deles beija um humano, ele pode escolher se apagar completamente da memória daquela que fora beijada. A princesa não se lembraria da sua aparência, nem do que vira, muito menos do seu caminho até ali. Pelo menos, era o que ele esperava. Perseu nunca tivera a chance de testar antes, e nem conhecia alguém já tivera testado. Ele só podia torcer para que as lendas fossem verdadeiras, ou estaria colocando todos em risco.

Assim que Percy a largou, ele saltou de volta para o mar e afundou entre as ondas.

Ele não soube dizer se foi o cansaço, uso excessivo de poderes ou qualquer outra coisa, mas assim que afundou nas águas, seus olhos se fecharam e ele desmaiou.

Longe dali, em uma das elevações rochosas do oceano, Nico observava impaciente a criatura que, literalmente, caíra do céu.

O sentimento incomodo por estar ali com ela não o abandonava nem um único segundo. Ele deveria das as costas e nadar para longe, porém, não podia simplesmente deixá-la ali, sem saber se ela estava bem.

Apoiado nas rochas ele esperou o sol nascer e só percebeu que havia cochilado quando ouviu o primeiro resmungo.

— Minhas asas... Estão tão pesadas! – A garota sacudia as asas, numa tentativa de içar voo, sem sucesso. – Não consigo... Voar!

Nico piscou devagar e sentou, surgindo no campo de visão dela.

— Você precisa esperar elas secarem, se não vão estar pesadas demais para voar.

Ela arregalou os olhos e teria caído dentro d’água outra vez se ele não a tivesse puxado pelos pés: algo que a assustou ainda mais.

— Co-como... Vo-você... Você...

Ele soltou os pés dela e içou o corpo para cima da pedra, esticando a cauda.

— Como eu...?

Ela parecia assustada a julgar pela forma que tentava fugir, olhando de seu rosto para a cauda, e de volta para o rosto dele.

— Como você pode entender a língua celestial? Como você consegue me ver? Como consegue me tocar?

Língua celestial? Interessante. Nico tentou pensar rápido. Aquela curta e nova informação poderia lhe trazer mais clareza e explicações de que qualquer longa frase.

— Ah. Você sabe. Eu só... Consigo. Não existe nenhuma lei cósmica que proíba nosso contato, não é? Afinal, você não é humana, nem eu, deve estar tudo certo.

Ela cerrou os olhos e esticou as asas. O sol já nascera, e agora elas poderiam secar.

— Você não parece ser um anjo. Afinal, tem uma cauda...

Ele a balançou, respingando água e maneou a cabeça.

— Você é muito sagaz.

Ela revirou os olhos e se aproximou, tentando enxergá-lo melhor, a curiosidade substituindo o medo.

— Se você não é um anjo... Já sei! Um dos seus pais era um anjo, estou certa?

Ele fez uma careta e negou.

— Sabe. Nem só os anjos entendem a linguagem celestial.

Ela pareceu confusa e virou a cabeça.

— O que? Só se você estiver falando dos... – Ela arregalou os olhos, o medo voltando a substituir a curiosidade, fazendo-a voltar para trás. – Ceifador! Você é um ceifador!

Nico pareceu ofendido.

— Eu não sou um ceifador. Sou filho de um.

— Mas... Mas como... Você tem uma cauda!

Ele franziu as sobrancelhas.

— Você não pareceu achar isso impossível quando eu seria, supostamente, filho de um anjo.

Ela abriu a boca para responder, mas viu que ele estava na razão. As asas negras combinando com o cabelo faziam uma sombra agradável sobre eles. Ela tentou relaxar um pouco.

— Eu só... Nunca vi nada assim.

Nico suspirou e olhou em volta, supondo que precisava voltar para dentro d’água o mais rápido possível, mas então lembrou de algo.

— Por que você tentou atacar meu amigo?

— Quem?

— Você sabe, o tritão que estava na água na tempestade.

Ela arregalou os olhos, como se só agora lembrasse do motivo de estar em terra.

— Oh, meu Deus. Onde está Annabeth?

Nico deu de ombros.

— Quem? A garota com cabelos da cor dos corais amarelos? A última vez que a vi, ela estava com Perseu. Não se preocupe, ela deve estar bem.

— Você tem certeza?

— Por que você se importa?

Ela respirou fundo pelo que parecia ser a milésima vez naquela manhã e encarou o tritão.

— Eu sou um anjo da guarda. E eu tentei salvar Annabeth.

— De Percy? – Ela assentiu. – E você não viu que ele tentava salvá-la?

Ela pareceu confusa.

— Mas... Mas ele... O relatório dizia claramente que a tempestade foi causada por um tritão! Que um tritão causaria grandes problemas para ela!

— Não era aquele tritão. Na verdade, era o Tritão. Longa história. Não tenho tempo. Aliás, você não está indo muito bem nessa sua função de anjo da guarda, não é?

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As bochechas dela trocaram de cor. Não era fácil ser pega errando no trabalho, ainda mais por um filho de ceifador!

— Eu estava indo muito bem até você pular em cima de mim e tentar me matar afogada!

— Você é um anjo da guarda. Não deveria estar preparada para qualquer coisa?

— Em um mundo onde ninguém deveria me ver ou ouvir? Digamos que eu não ando tão alerta nesse aspecto.

— Pois deveria. Ãn... Seu nome é...?

Ela cruzou os braços e bateu as asas. Quase secas. Nico precisava ir. Ele não sabia a quantidade de força ou poder que aquela criatura podia conter.

— Thalia.

— Ok. Thalia. Anjo da guarda. Aquela que não sabe diferenciar um salvamento de um ataque. Foi um prazer te conhecer, mas preciso voltar para casa. Não ataque meus amigos outra vez, se não irei afogá-la de verdade.

— Na próxima vez você não terá tanta sorte ceifador.

Nico revirou os olhos.

— Eu não sou... Quer saber? Tudo bem. Adeus.

E Nico voltou para o mar.

Não era sempre que Nico encontrava anjos por aí, fora uma experiência interessante. Agora ele precisava torcer para que ninguém descobrisse a infração dele e de Percy, ou estariam ambos mortos antes da próxima aurora.

***

Bom. Ninguém descobrira nada, mas talvez alguém já estivesse morto.

Nico jurava que procurou em todos os lugares.

Ele olhou em todos os comércios do reino. Entrou na caverna misteriosa. Vasculhou todo o palácio. Entrou nos aposentos de Percy. Mas não havia o menor sinal dele em lugar algum. Nico até mesmo subiu na superfície, e Ella dissera que Perseu não aparecera o dia todo, o que só fez Nico pensar o pior.

E se ele tivesse sido atingido por destroços da explosão? E se ele tivesse se ferido, e Nico não vira? E se a humana o prendera? Ou aldeões? Perseu era inconsequente e um pouco rebelde, ele não duvidava nada que o amigo tivesse se descuidado.

Foi por isso que Nico foi até Poseidon.