Perdidos

Capítulo 7


– Molly

Apesar de querer isso, eu me surpreendi quando vi Sherlock tirando a camiseta e entrando na água. As coisas pareciam ter normalizado entre nós, ou estávamos numa nova trégua. Eu esperava, sinceramente, que isso durasse. Ia ficar louca se não tivesse alguém para conversar nessa ilha.

Agora parecia que nenhum de nós sabia exatamente como agir. Observei Sherlock mergulhar e dar umas braçadas embaixo d'água, vindo em minha direção. Não tive muito tempo para refletir sobre o que ele faria antes que ele me agarrasse pela cintura e me puxasse para baixo. Por um segundo achei que ele estava tentando me matar, então ele me soltou e nós subimos. Eu cuspindo água e ele rindo. Ser odiável!

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Não consegui manter a expressão de brava por muito tempo. Vê-lo aparentemente se divertindo fez com que eu me derretesse toda. Era tão raro ver Sherlock rir assim, solto, que tive que aproveitar o momento.

Ri junto com ele, deixei que o momento passasse e esperei a oportunidade certa para me aproximar. Quando ele estava distraído o suficiente eu pulei sobre ele e afundei sua cabeça na água. Olho por olho, dente por dente.

Agora sim eu pude rir de verdade. Principalmente porque ele não esperava, e nada nesse mundo paga a cara de incredulidade com a qual ele me olhou quando voltou à superfície.

Eu tentei fugir, mas meus movimentos estavam lentos na água. E de novo Sherlock me alcançou e me puxou para o fundo da piscina. Mas dessa vez eu esperava. Voltei já lançando com as mãos uma verdadeira onda sobre ele.

Mais uma coisa que eu posso riscar do meu caderno de "Coisas que nunca farei com Sherlock Holmes". Nem nos meus mais profundos sonhos imaginei brincar numa piscina com ele. Não, eu não tinha um caderno de verdade.

Continuamos nessa até que cansamos. Eu saí da piscina, ainda rindo e me sentei no sol. Sherlock ficou boiando sobre um colchonete e um sorriso lindo estava em seus lábios.

Esperei até meu corpo secasse um pouco, coloquei meu vestido e entrei na cozinha. Improvisei alguns sanduíches e levei para o jardim. Nem me atentei que provavelmente já estávamos no meio da tarde.

Coloquei os sanduíches em uma mesa e Sherlock se juntou a mim. Confesso que as gotinhas brilhando sobre o corpo dele e seus cabelos molhados me causaram coisas. Engoli um pouco a seco e peguei meu lanche. Sentamos e comemos em silêncio, trocando risadinhas eventuais.

O dia que sair dessa ilha tentarei levar uma amostra do ar. Porque tem algo muito errado nisso aqui.

Depois de comer nós sentamos em espreguiçadeiras e ficamos tomando sol. Talvez tenha sido a ameaça de uma congestão que nos fez não entrar na água. Vai que Sherlock tivesse razão.

Não voltamos para a água. Quando o sol começou a se por, nós ficamos observando-o e eu me perdi em pensamentos. Onde estava? Por que estava? Como iria embora? Por que Sherlock não estava sendo tão desagradável? Como eu podia gostar dele?

Ele sempre dominava meus pensamentos. Sempre.

– Vamos lá para dentro. Vamos ver um filme.

A voz dele me tirou de meus devaneios e me fez entrar em outros. Ele estava me chamando para ver um filme? Será que ouvi direito?

– Filme?

– Sim, Molly, filme. Aquele negócio gravado em que pessoas representam e tem atitudes idiotas.

– Tudo bem, vamos.

Sim, eu estava entorpecida e agindo como um robô.

Levantamos e seguimos para a sala. Em um dos cantos havia um confortável sofá em frente a uma enorme TV. Na estante, uma coleção de filmes nos esperava.

Deixei que Sherlock escolhesse um filme, afinal, que diferença faria? Ele não gostaria mesmo. Enquanto ele olhava os filmes, corri para a cozinha e fiz uma pipoca no micro-ondas. Filmes sem pipocas e ainda por cima sem beijos não iria rolar.

Voltei e assumi meu lugar ao lado de Sherlock, que já me esperava impaciente.

Mal o filme começou e Sherlock enfiou a mão no meu saco de pipocas. Dei um tapa em sua mão e ele me olhou de uma forma engraçada.

– Vai monopolizar?

– A cozinha está cheia delas.

Ele arrancou as pipocas da minha mão e virou-se para o filme.

– Faça outra para você, então.

Sherlock sorria ao dizer isso. E não, não iria para a cozinha fazer outra pipoca só porque ele roubou a MINHA. Me aproximei ainda mais dele, o suficiente para que minha mão alcançasse as pipocas. É, a proximidade era algo delicado, ao mesmo tempo que me agradava.

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Tive que assistir o filme todo com Sherlock resmungando do meu lado, e é claro que ele deduziu o final e fez questão de me contar antes da metade do filme.

– Se você assistisse mais filmes, saberia quem era o Khan e o Little Charles.

Ele olhou querendo me matar, lembrando do nosso pequeno joguinho onde eu o sacaneei. Voltei meus olhos para a tela antes que ele me enforcasse.

Quando o filme acabou, eu estava faminta novamente. Fui para cozinha preparar algum alimento decente dessa vez e me surpreendi com Sherlock atrás de mim. Enquanto eu lidava com os ingredientes e as panelas no fogão, Sherlock me deixou chocada ao começar arrumar a mesa. Nossa. Vai cair um temporal nessa ilha e vamos morrer numa enchente.

Encarei-o por alguns instantes. Caramba, esse momento mereceria um registro.

Ele acabou de arrumar a mesa e ficou me olhando também. Vamos ver até onde essa maluquice iria.

– Sherlock, você podia me ajudar com as cenouras, o que acha?

Ele ainda me olhou chocado por alguns segundos antes de concordar. Agora eu tinha certeza que a qualquer momento um tsunami invadiria essa ilha, porque eu não poderia sair viva daqui para contar essas cenas.

Expliquei rapidamente o que ele precisava fazer, antes que ele desistisse da ideia, e sorri quando vi que as cenouras ficariam prontas daqui uns três séculos se dependessem da rapidez e habilidade dele.

– Você já pensou na possibilidade de nós termos morrido, Molly?

Encostei na bancada da cozinha, avaliando essa ideia. Já tinha passado vagamente pela minha cabeça. Peguei um pedaço da cenoura que ele cortava e comecei a mastigar.

– Mais ou menos. Não faz muito sentido também. Quer dizer, não sei, nunca ninguém voltou para contar. Exceto você.

Ele riu. E eu também.

– Infelizmente eu não fui parar numa ilha assim da primeira vez. Não sei. Já pensei em várias alternativas. Podemos realmente ter perdido a memória, podemos ter sido drogados, estarmos mortos, em coma, mas todas as teorias têm falhas enormes.

Concordei com a cabeça. Nada fazia sentido nesse lugar, muito menos Sherlock cortando cenouras.

Quando vi que aquelas cenouras não sairiam de jeito nenhum, ajudei-o a terminar. Nós jantamos em um clima agradável, tentando achar explicações de como paramos ali. Terminamos e Sherlock educadamente levou seu prato para a pia. Outra surpresa.

Ele foi para o quarto e eu fiquei arrumando a cozinha. Na verdade, precisava pensar, ficar alguns minutos sozinha. É, até agora a pouco eu não queria ficar sozinha, mas agora quero. Essa proximidade com Sherlock estava piorando meus sentimentos. Ainda mais com ele sendo gentil. Me peguei pensando que poderia ficar nessa ilha para sempre. Nossa, eu iria enlouquecer se continuasse com esses pensamentos e isso não demoraria muito. Se é que já não estava acontecendo.

Vi Sherlock passar novamente para a sala, aproveitei e fui para o quarto tomar banho e trocar de roupa. Isso seria um problema de novo, não tinha o que vestir para dormir que não deixasse 80% do seu corpo a mostra.

Quando cheguei ao quarto, no meu lado da cama estavam dobradas a calça e a camiseta de um pijama. Sorri.