Perdidos

Capitulo 25


– Molly

Não podia acreditar. Tudo parecia ser um sonho mais que maluco. Quando percebi que Sherlock se lembrava eu fiquei com medo de acordar de novo do coma e isso ficar num círculo sem fim. Porque não fazia sentido. Nada fazia sentido. E eu não estava ligando para isso agora.

Depois que nos beijamos... Oh meu Deus... Pausa para que eu me lembre do beijo. Eu achava que nada podia superar aquela ilha, mas estava enganada. E após o beijo Sherlock me levou, entre risadas, tropeços e esbarrões na parede, até seu quarto. Então eu descobri que não era a ilha, mas sim Sherlock que fazia as coisas ficarem incríveis.

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Não voltei a morar em meu apartamento, só fui até ele uma vez para buscar roupas. Nem sequer conversamos sobre isso, nós já tínhamos a experiência de ficarmos longe um do outro e agora só queríamos aproveitar o máximo, para o caso de um dia abrirmos os olhos e descobrir que estamos separados. Nunca se sabe quando um furacão, terremoto ou tufão irá aparecer e mudar tudo.

Sherlock não atendeu ninguém durante os dias em que ficamos trancados em seu apartamento. Abrimos a porta, ocasionalmente, para receber alguma entrega de refeições da Sra. Hudson, que estava achando tudo perfeito. Parecia que era ela que tinha ganhado o premio, e não eu. Nossos celulares foram desligados, propositalmente. John e Mary tentaram fazer com que atendêssemos várias vezes, inclusive indo até nosso apartamento e eu já esperava Greg bater na porta a qualquer momento.

Alguns dias depois desse retiro quase espiritual nós finalmente saímos do apartamento. Mas só para acertar os detalhes da nossa viagem e fazermos algumas compras. Afinal, não iríamos para um país tropical de casacos. E, infelizmente, não teríamos aquele closet todo nos esperando dessa vez.

Nós marcamos a viagem para o mais breve possível, e quando o dia chegou nós ficamos entusiasmados em meio a muitas malas escada abaixo.

– Hey! Sherlock!

Era John, que quase foi atropelado por Sherlock e uma mala ao passar pela porta.

– Agora não, John. Não é hora.

– E quando é hora? Faz mais de uma semana que estamos tentando falar com você! Aliás, com vocês dois!

John parece bravo. Eu reprimo um sorriso, e me encosto na parede. Estava observando como Sherlock estava indignado em ser interrompido e nem liguei quando John se referiu a mim também.

– Não sei, John. Talvez quando voltarmos. Talvez nunca. Quem sabe?

– Vocês estão indo viajar? Juntos? – John olhava confuso para as malas, mesmo sabendo que eu estava com Sherlock nessa última semana. - Como isso começou?

– Pergunta errada, John.

Não consegui segurar e ri só de imaginar uma explicação de como tudo isso aconteceu. John ficou vermelho, acho que de raiva. E me deu ainda mais vontade de rir.

– Quando vocês voltam?

Sherlock olhou para mim, sorrindo. Nós só tínhamos passagens de ida.

– Quem sabe, John? Quem sabe? Agora, se nos dá licença - Sherlock estende a mão para mim - nós temos um voo para pegar.

Deixamos para trás um John que não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. E acho que era bom a gente correr, antes que fossemos os dois internados como loucos.

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– Sherlock

No avião, eu e Molly estávamos em poltronas lado a lado na primeira classe. Bem, eu não iria viajar horas sem conforto.

Nós passamos uma semana trancados em Baker Street. E essa tinha sido a melhor semana da minha vida.

Ela parara novamente de ter pesadelos ao dormir em meus braços e eu consegui voltar a dormir. Nem preciso dizer que a primeira coisa que pedi a ela foi um bolo de chocolate. Ela sorriu. Maliciosamente. Demoramos bastante para comer o bolo nesse dia. E ele acabou ficando sem a calda.

Observo ela se erguer da poltrona e se inclinar para mim, chegando perto. Perto demais. E só esse tipo de contato já fazia um arrepio subir por meu corpo.

– Eu te espero no banheiro. – Ela sussurrou.

Meus olhos se arregalaram. O que?

– Molly... Não...

– A viagem é muito longa, Sherlock. E se você não vier, eu vou te amarrar de novo quando chegarmos no hotel.

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Eu suspiro e reviro os olhos.

– Você nunca me amarrou.

Claro que me lembro. Mas gosto de fingir que não com várias coisas, porque assim a gente acaba repetindo para que eu me lembre. É uma boa tática e tem funcionado perfeitamente.

– Não me faça ter que lembrar você mais uma vez.

Eu a encaro mais espantado ainda. Comecei a me interessar pela conversa.

– Você trouxe uma roupa igual aquela?

– Talvez...

E dizendo isso, ela saiu. Em direção ao banheiro. Lançando-me um sorriso extremamente tentador. Queria ver como eu ia levantar discretamente dessa poltrona agora, nessas condições.

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Nós conseguimos chegar ao nosso destino mesmo quase sendo expulsos do avião em pleno voo. Era difícil lembrarmos que não estávamos sozinhos agora, depois do tempo passado (ou não) na ilha.

No caminho para o hotel eu avaliava tudo que tinha passado até agora, enquanto olhava para nossos dedos entrelaçados sobre o colo de Molly. Às vezes ela olhava para mim e sorria e eu não tinha como não retribuir. Meu coração disparava só de olhá-la.

Nunca imaginei que me apaixonaria assim. Perdidamente. Contrariando tudo que era racional. E imaginei menos ainda que seria retribuído na mesma intensidade.

Molly está olhando para a cidade que passa pela janela do carro, eu puxo sua mão para o meu colo e ela sorri novamente para mim, aproximando para me beijar. Ela me fazia feliz. E tudo que eu queria era fazer o mesmo por ela.

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Chegamos ao hotel, preenchemos tudo que era necessário e um funcionário nos levou ao nosso bangalô privativo. Os olhos de Molly brilhavam, acredito que tanto quanto os meus. Nós apenas trocávamos olhares e sorriso, não tínhamos palavras.

Ela me puxou para fora, já era fim de tarde e o sol se punha no horizonte. E nós ficamos ali, nossas mãos unidas. Com as cicatrizes, nossa única prova de que tudo tinha sido real, lado a lado. Mas não era em nossa pele que o amor que sentíamos estava gravado. Era em nós. As marcas estavam lá quando ela sorria para mim e quando eu olhava para ela. Quando se agarrava em meus cabelos e quando eu a apertava junto a mim. Quando ela se enroscava em mim para dormir, com medo dos pesadelos. Quando eu tentava melhorar minhas tentativas de fazer café da manhã para ela. Estavam lá quando ela ainda usava minha escova de dentes e quando eu acordava e dava de cara com ela me olhando, rindo.

E as marcas estavam ali. Naquele lugar. Em todos os lugares.

Em todos os lugares que nós estivéssemos. Juntos.