Aneliese PDV

"Cinzeiro, cinzeiro.
Meu coração de cinzeiro.
Você é o nascimento e você é o desperdício.
Você é o que tomou o meu lugar.
Você deu um salto em direção ao sempre,
Um salto de fé que eu não pude dar.
E isso foi uma promessa que eu não pude fazer.
Nós estávamos sozinhos antes de nos conhecermos,
Não mais miseráveis do que alguém poderia estar.
Como poderíamos saber que tínhamos encontrado um tesouro?
Tão sinistro e tão correto.
Eu ouvi seus gritos de prazer
E assisti os lençóis se tornarem vermelhos de sangue."

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Ashtray Heart - Placebo

~*~

Eu não sabia como conseguia acertar os passos em meio à mata fechada e lamacenta, mas desconfiava que os braços firmes de Jacob ao meu redor eram grande parte da razão de eu não ceder. Não falava nada, permanecia calada, circunspecta, parecendo ter tantas coisas a considerar quanto realmente tinha, mas o fato era que eu não queria pensar em nada. O que eu vivera de algum modo não parecia ser real.

– Você está bem Liese? Está muito calada.

– Eu estou bem – procurei tranquilizar a ele e a mim mesma.

Tinha a leve suspeita, porém que era mais aconselhável fazer bom uso do silêncio, pois acreditava que a qualquer momento pudesse novamente explodir em lágrimas.

– Você vai voltar para a escola?

– Não – respondi com firmeza. – Preciso ver Charlie.

Ele não pareceu ter dificuldade em entender minhas intenções.

– Sabe, não acho que haja muito que ele possa fazer por você. Essa família é perversa, extremamente maquiavélica, eles sabem que os pobres moradores da cidade precisam do serviço do tal doutor e agora que ele voltou duvido que seja fácil tirá-lo do posto.

– Eu não me importo com nada disto e sinto muito se estou soando individualista, mas nenhum deles terá de lidar com as consequências da forma como eu vou. Não quero que os Cullen fiquem aqui, não é mais possível convivermos em paz e acredito que você entenda e apoie isto.

– Eu apoio você em qualquer decisão que tomar, sabe que sim. Mas Liese tem certeza de que este caminho é o mais indicado a se percorrer?

Parei de andar e o encarei.

– Soa como se não quisesse que eles partissem, até onde eu saiba os vampiros são o inimigo número um dos lobisomens.

– Eu não estou falando em nome da alcateia desta vez, por mais que possa soar imaturo, mas o que tenho em mente é a sua segurança e a chance que você tem de ser feliz. Veja bem, esta batalha que vai travar sei que está perdida. Charlie não vai concordar com o que quer que lhe proponha.

– Eu ainda posso tentar, não posso? – Tentei soar firme, mas pareceu apenas teimosia.

– Pode. Se for o que quer... Parece que não vou conseguir mudar sua opinião, não importa o quanto tente.

– Não, você não vai.

– Ótimo.

Recomeçou a andar e não tive dúvidas de que estava aborrecido.

– Jake. - Ele parou, mas se manteve de costas. - O que está acontecendo? Porque está chateado por eu tentar me livrar deles? Não faz sentido, você deveria estar feliz! É o que quer, não é?

Quando se virou não encontrei sinais de raiva em seu semblante, mas o que vi ali foi pior, ele parecia muito desanimado.

– Se o quer saber é se eu gostaria de vê-los a quilômetros de distância, se desejo poder ser capaz de voltar no tempo e impedi-los de vir, a resposta é sim. Eu gostaria. Mas quando penso só vejo que estou enganando a mim mesmo, você e ele tem uma história, enquanto estávamos os três ali só o que pude fazer foi notar que não faço parte desse embate. E o jeito como ele olhava para você... Não vai dizer que não percebeu. Era como se não houvesse nada mais ao redor, queria poder fingir que não me importei.

O que seria essa atitude afinal? Ciúmes? De toda forma não era justo que ele se sentisse assim e descobri que em seu lugar me sentiria exatamente igual. Edward e eu tínhamos uma história... Sim, era verdade. Mas ela havia ficado no passado e eu não tinha interesse em refazer os laços.

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Andei até ele, ao chegar peguei sua mão e fiquei olhando nossos dedos se entrelaçarem.

– Você e eu somos muito diferentes e eu amo isso. Sinto muito que tenha se sentido mal quando só o que fez foi cuidar de mim. Ainda assim agradeço a você por ter vindo. Só me deixe consertar esta bagunça, está bem? Tudo será mais fácil depois que eu conseguir.

Estava sendo verdadeira, mas não consegui ver a alegria que esperava encontrar estampada em seus olhos, eu não queria vê-lo triste.

Pus a mão timidamente sobre sua bochecha e o fiz me olhar.

– Você é meu melhor amigo. Sabe que amo você.

Suspirou.

– Espero que esse amor seja suficiente. – Abri a boca para argumentar, mas ele foi mais rápido. – Está tudo bem, não vamos mais falar sobre esse assunto, venha, falta pouco para alcançarmos o estacionamento e você poderá ir logo ao encontro de Charlie.

Continuou segurando minha mão e recomeçamos a andar, talvez fosse impressão minha, mas seu toque de algum modo me pareceu um tanto frio.

– Charlie, por favor!

Eu estava na pequena sala que o xerife utilizava como escritório, chegara havia cerca de vinte minutos e desde então só o que fizera fora tentar dialogar com ele, pois assim que soube a que eu viera ele se mostrou indiferente.

– Aneliese, já lhe disse que não há nada que eu possa fazer.

– Como não? Você é o xerife! Não devia ter alguma autoridade sobre esta cidade? Qualquer coisa que o possibilitasse tomar as decisões?

Ele permanecera em pé enquanto eu fora forçada a ficar sentada, pois tinha de controlar meus nervos. Charlie pôs as mãos sobre a cintura e me olhou de cima.

– Não é assim que funciona. Eu não sou o dono de Forks, sou apenas um cidadão que trabalha para a cidade, tenho menos poder do que imagina.

– Mas tem influência, Charlie. Todos eles escutam o que você diz.

– E é justamente isso que você não está entendendo, com efeito, eu conseguiria mudar a opinião dos moradores se de algum modo apresentasse fatos sustentáveis, se tivesse um bom argumento, mas o que posso dizer neste caso? Não há como simplesmente fazer um comunicado apenas porque você está me pedindo, eu sinto muito, mas os Cullen não fizeram nada de errado. Carlisle conversou comigo, me contou suas razões, ele e a família tentaram fazer a vida em outro lugar, mas no final descobriram que aqui é onde mais se identificam, não vê como isso é bom? As pessoas precisam daquele médico, Aneliese, não sabe quantos casos o hospital encontrou problemas em solucionar após a partida dele.

– Mas não é justo!

Baixei a cabeça sem querer deixá-lo ver minha humilhação, Jacob estivera certo, eu teria de dar um jeito de lidar com a derrota. No desespero me dei conta de que havia uma forma de fazê-lo mudar de ideia, se pudesse provar que aquela família podia ser perigosa, se lhe recordasse o que ele viera ignorando sobre a noite do acidente eu não tinha dúvidas de que isto seria suficiente para despertar sua raiva; pensara que jamais fosse ter necessidade de tocar no assunto, fora incrivelmente inconsequente, devia ter lhe dito na primeira oportunidade.

Contudo ainda não era tarde demais, eu podia facilmente lhe revelar tudo agora.

– Olhe, sei que é difícil para você lidar com toda essa complicação envolvendo relacionamentos e apesar de não ter muita experiência posso tentar ajudá-la a superar. Conversaremos sobre isso quando eu chegar em casa, está bem? Sei que entende que tenho serviço a fazer e realmente acho que você deva voltar para a escola, não vou brigar com você por ter saído sem aviso, ligarei para o senhor Greene e lhe pedirei para não repreendê-la.

Não me repreender... Não era possível, era eu quem estava errada? Não parecia certo. O que eu fizera? Só queria resolver minha vida, mas de todo lado não parecia encontrar sequer uma pessoa disposta a me apoiar. Malditos Cullen e seu comportamento impecável, eu parecia puramente alucinada tentando ir contra eles. Mas era a única que verdadeiramente os conhecia, sabia que se expusesse ao mundo seu lado vil as pessoas começariam a pensar duas vezes antes de se aproximar.

Olhei para Charlie enquanto tentava formular a frase e quando estava prestes a falar o ruído crescente da sirene de uma ambulância se fez ouvir, logo o veículo passou veloz pela rua em frente à delegacia e alguns segundos depois houve uma batida urgente na porta.

– Xerife, você tem um minuto? Parece que vão precisar de você lá no hospital, a emergência é de uma briga familiar, os Jensen discutiram novamente e Phillip agrediu o irmão com uma faca.

Charlie soltou um alto muxoxo.

– Sim, estou indo Richard, obrigado. – Antes que o guarda se retirasse por completo ele já se movia ao redor da sala colocando seu casaco e o coldre. – Eu tenho de ir, vá para casa, falarei com o diretor amanhã. – Um minuto mais tarde estava pronto para partir. – Tente esquecer isto, está bem? Acredito que é o melhor para você.

Ao ficar sozinha imaginei que fosse deixar o arrependimento tomar conta de mim, afinal tive chance de acabar com meu sofrimento e nada fiz, mas só então vi que a intensidade dos sentimentos estava me impossibilitando de raciocinar com clareza. Eu não queria ser egoísta, não queria ser essa pessoa que alivia as próprias dores à custa dos outros, podia quase afirmar que se Carlisle estivesse no hospital neste momento seria ele quem atenderia a emergência e tinha mais certeza ainda de que conseguiria reduzir ao mínimo as chances do caso se tornar letal. Sempre soubera o quão bom ele era no que fazia e incontestavelmente os moradores precisavam dele.

Minha desolação não parecia mais tão horrível assim, me soava incrivelmente infantil. Todavia por mais que quisesse dizer a mim mesma que era exagero e que estava fazendo drama eu sabia que a situação era bem mais grave que isso. A influência que Edward tinha sobre mim parecia ainda existir e ela podia ser extremamente prejudicial à minha sanidade.

Analisando o caso desta forma só o que conseguia pensar era que talvez tivesse me precipitado em recusar a oferta de Bella. Se não havia jeito de fazer com que os Cullen se afastassem, para meu próprio bem quem tinha de ir embora seria eu.

– É isso mesmo? Eu vou ter finalmente que abandonar Forks?

Aquela possibilidade parecia absurda.

Notei com surpresa que o que um dia já havia sido estranho para mim agora parecia perfeitamente aceitável. Eu me acostumara a esta vida, na medida do possível conseguia me sentir bem estando aqui e a simples menção da partida fazia meu estômago se revirar desconfortavelmente.

Quanta coisa estaria deixando para trás, era um sonho que de repente se desfazia, mas talvez eu jamais tivesse tido o real direito de sonhar com algo tão grandioso. Talvez por isso tudo tivesse desmoronado, talvez essa ilusão não fosse mesmo para mim ou tivesse prazo de validade. Tentei tornar minha atitude válida ao pensar que qualquer um em meu lugar faria o mesmo, qualquer fã que passasse pelo que passei chegaria ao ponto de dar um basta.

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Eu pensara que seria capaz de fazer mais que isso, de experimentar novas experiências. E um dia verdadeiramente crera ser capaz de morrer pela pessoa que amava. Que ironia. No que dizia respeito a Edward a única pessoa que tinha de ser sacrificada era eu, mas não por conta de seu altruísmo, era o contrário. Ele colocara minha existência à prova por um simples capricho, por um momento de loucura. E agora tentava fazer o trem voltar aos trilhos, tentava fingir que o que fizera não fora grave ou ofensivo.

Quem sabe a resposta estivesse mesmo em outro lugar, em minha antiga casa.

Os pedacinhos que ainda restavam de meu coração puderam bater com mais alegria sob a perspectiva de voltar a ver o sol sem o sentimento de inferioridade pairando em cima de mim.

Não avisei a Charlie ou a Jacob, nem qualquer outro de meus amigos e eu gostava de pensar que sentiriam minha falta. Ao menos tinha a garantia de chegar a ser perdoada por minha fuga, eles entenderiam, poderiam me ver como uma covarde, mas eu já estaria suficientemente longe para lidar com o julgamento.

Vim para casa e comecei a organizar minhas coisas de volta na mala, não tinha pressa, eu tinha tempo de sobra, sabia que estaria sozinha até o anoitecer. Foi enquanto empilhava as peças de roupa na mala que a ficha finalmente caiu e logo me vi lamentando e me desfazendo em lágrimas por ter que partir.

Não podia ser diferente? Não podia ter sido tudo diferente?

Porque namorar um vampiro tinha de ter consequências tão drásticas? Mas sim, havia de ter, o que eu tentara fazer fora demasiado arriscado e o sonho que vivera ao final ainda se mantinha impossível. Foi a coisa que mais quis em minha vida, mas e agora? Será que minhas aspirações e desejos haviam mudado?

Havia me agachado para recolher os pares de sapato que mantinha debaixo da cama, me ajeitei e levantei indo até o guarda-roupa. Disposta a começar a guardar os pequenos objetos peguei dois vidros de perfume e então um barulho baixo chamou minha atenção. Virei minha cabeça no mesmo instante em que Edward entrava por minha janela e com o susto deixei um dos itens cair no chão.

– Mas que droga! – Xinguei observando a bagunça que se formou, o cheiro acentuado imediatamente impregnou todo o quarto e isto me deixou muito aborrecida. – O que você pensa que está fazendo? – Sibilei irritada ao olhá-lo outra vez.

– Me parece que alguém vai fazer uma viagem.

Minha cara se possível se fechou ainda mais.

– Não lhe parece nada, porque sei que está aqui porque Alice deve ter visto alguma coisa e esse alguém a que se refere logicamente sou eu. O que não entendo é em que isto lhe dá o direito de invadir meu quarto, veja só o que você fez, era meu perfume favorito – queixei-me.

– Sim, eu sei.

Fiquei quieta.

– Andou chorando – afirmou com uma exatidão irritante.

– Sim, e novamente sim, a causa é você. Não obtive sucesso em meu pequeno plano de expulsá-lo daqui, mas então me dei conta de que sempre posso ir embora.

– Vai mesmo fazer isso? Sei o quanto gosta de Forks.

Mordi o lábio, seu tom devia soar suave daquela maneira de propósito, Edward sempre fora muito bom em me deslumbrar e ele ainda era um vampiro poderoso, suas habilidades não estavam ausentes apenas porque eu queria que estivessem, era um risco me manter próxima a ele.

– Por favor, vá embora daqui, eu quero sair antes do anoitecer e pelo jeito terei de fazer uma breve faxina no cômodo antes de ir.

– Liese...

– Isto não foi uma sugestão – completei com rispidez. – Eu quero você fora de meu quarto, fora de minha casa e fora de minha vida. Acredito que seja perfeitamente capaz de compreender esta ordem.

Ele aprumou os ombros.

– Sou. Mas você não manda em mim – assinalou com um sorriso enviesado.

Ele está tentando lhe distrair, sabe que nunca age dessa maneira a não ser que tenha um plano, talvez queira atrasá-la para dar tempo de Charlie chegar.

Por sorte minha mente ainda conseguia trabalhar com eficiência mesmo sendo posta à prova e não me ocupei em ir contra o que ela me dizia. Me curvei e resgatei um único caco de vidro do assoalho, Edward me observava curioso.

– Você acha que sou estúpida, não acha? Acha que pode brincar comigo como se eu fosse a mesma menina ingênua e apaixonada que você deixou para trás, que você destruiu! Se acha que é tão esperto então veja como lida com isto.

Num só movimento arrastei o pedaço afiado pela pele de meu antebraço, fiz um corte profundo sentindo imediatamente a ardência excruciante subir por meu braço. O sangue escorreu prontamente, quente e fluido e gotejou através dos dedos formando uma mínima poça no chão.

Edward ficou rígido, sua feição assumiu traços agressivos e seus olhos escureceram.

– Agora você não tem escolha. Saia daqui.

Minha cabeça latejava e da forma que conseguia raciocinar só podia ouvir minha consciência me chamando de louca.

Situações extremas pedem medidas extremas.

Ele não moveu um músculo, pude ouvir quando trincou o maxilar fechando as mãos em punho. Vagarosamente se aproximou, e levantou a mão, por um segundo pensei que fosse tocar o corte e estremeci, mas só o que fez foi puxar o lenço que eu usava ao redor do pescoço, em seguida rasgou-o e usou a tira menor como um torniquete e com a outra envolveu a área ferida me fazendo soltar um baixo gemido de dor.

– Não precisava ter feito isso, porque se machucou? Sabe que vou me culpar pelo que você fez e se seu intuito era me atingir você conseguiu.

Estava boquiaberta com sua iniciativa, no breve momento em que raciocinara – ou não raciocinara, na verdade – a única consequência que esperara fora afastá-lo de vez, eu jamais sequer cogitaria que ele ficasse e tentei ignorar o estúpido lado emocional de meu cérebro, pois ele me dizia que Edward também sentia dor e que seu sofrimento físico de algum modo conseguia ser superior ao meu.

– Onde nós vamos parar? – Murmurei abatida.

– Podemos nos destruir se é isto o que quer. Eu faria por você. Faria qualquer coisa que me pedisse.

– De repente tão solícito – comentei com sarcasmo.

– Estou tentando compensar alguns erros.

– Tente mais um pouco.

Ele estendeu meu braço e contive um novo gemido.

– Está bem ruim Aneliese. Terá de suturar, vou levá-la ao hospital.

– Não. Não quero ter de encontrar Carlisle ou qualquer outro membro de sua família e você me faria um grande favor se me deixasse a sós agora mesmo.

Me desvencilhei de seu contato e dei um passo para trás.

– Seu ódio pode ser bem impressionante.

– Eu não odeio você. Na verdade não sinto mais nada.

– Não sente mais nada por mim?

– Não.

– Entendo. Acredito que tenha feito por merecer esse seu desprezo.

– Correto.

Suspirou.

– Creio que vá me desprezar ainda mais se a obrigar a entrar em meu carro comigo.

Soltei um ruído de desdém.

– Já chega. Estou cheia dessa brincadeira, fique aqui se quiser, pouco me importa, eu não tenho mais um minuto sequer para perder, tenho que partir.

Comecei a andar pelo quarto com pressa, continuando a tarefa que fora forçada a abortar, fiz o possível para ignorar o latejar incômodo em meu braço e fingir que a dor não me dava vontade de chorar.

– Como vai dirigir desse jeito?

– Sempre posso chamar um taxi, mas estou considerando a ideia de andar até a rodovia e pedir uma carona.

– Não está soando muito coerente.

– Acho que deixei a coerência de lado desde que os vampiros retornaram à cidade.

– Basta!

Eu andava de um lado para o outro jogando tudo o que podia dentro da mala e Edward surgiu a minha frente e segurou meus ombros sem esforço em me fazer parar.

– Você precisa ir tratar desse corte imediatamente ou ele poderá ficar infeccionado e o resultado não será nada bonito.

– Para. Para de fingir que você se importa ou agir como se tivesse estado aqui durante todo o tempo, nós dois sabemos que isto não é verdade.

– Eu me importo com você Aneliese. Eu nunca... – Sua voz morreu.

– O quê? Nunca deixou de se importar? – Ri sem humor.

– Não, você está certa, acho que ficou claro que nenhum de nós vai conseguir algo se mentir. Eu falhei com você, fui cego, burro e muito imaturo. Eu não pensei que pudesse estar errado, só agi de acordo com minha concepção e justamente nisto me equivoquei. Eu sinto muito, muito mesmo pelo que causei, gostaria de poder voltar no tempo, mas é impossível. Mas estou te pedindo apenas que me deixe cuidar dessa ferida aparente.

– Sim, pois você tem conhecimento de que essa é a única que vai conseguir curar – assinalei baixinho.

Ele olhou meus olhos e tive certeza de que reconheceu a tristeza neles.

– Eu sinto muito – reafirmou.

Desviei o rosto deliberadamente.

– Está bem, você pode me levar para a emergência, mas depois de me deixar lá quero que vá embora.

Estava sendo inconsequente em prolongar a cura e suspeitei que nessa afirmação pudesse envolver meu corpo e também meu coração.