Trailer

"Olhos de caçador,
Eu estou perdido, dificilmente notado, um simples adeus.
Quero rasgar seus lábios em minha boca.
E mesmo em meu melhor momento, dúvida.
A linha entre o engano e o agora.
E se eu estiver errado e ninguém se importar de mencionar?
E se fosse verdade, e tudo que pensávamos estar certo, estava errado?
Eu implico que, para atenuar a culpa nós poderíamos criar
Um álibi perfeitamente construído,
Para acalmar a violenta culpa que come e nunca morre.
Matemática simples,
É como nossos corpos sequer chegaram aqui.
Matemática pecaminosa,
A verdade não pode ser modelada."

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Simple Math - Manchester Orchestra

~*~

Assim que me acomodei o professor reivindicou a atenção dos alunos para uma importante explicação sobre mitose, eu havia estudado um pouco daquilo, mas não o suficiente para deixar de fazer anotações; eu realmente me concentrava no que ele dizia, porque como já havia deixado claro, de forma alguma eu voltaria a bombar em uma matéria, fosse em Forks ou em São Paulo.

Um quarto de hora depois ele nos passou exercícios do livro para serem entregues em folha à parte na próxima aula e nos deixou para resolver algumas pendências com o diretor. Eu me apressei com meu material, eram muitas questões e eu queria adiantar o que pudesse, era uma atividade individual, apesar de todos estarem sentados em duplas e por isso o professor havia permitido que os alunos trocassem idéias com seu parceiro, mas eu me via em desvantagem neste ponto, já que meu parceiro me dava a leve impressão de não gostar muito de mim.

Com esforço, muita pesquisa no livro e revirando o que me lembrava sobre o assunto consegui grande avanço na resolução dos problemas, mas ainda tínhamos alguns minutos de aula quando cheguei a uma questão difícil de solucionar. Eu podia simplesmente passar para a próxima e resolver aquela depois, mas eu era filha de minha mãe e era teimosa como ela.

– Ah, mas não é possível – sibilei contrafeita ao chegar novamente à resposta errada.

– Precisa de ajuda?

Meu corpo gelou, eu estivera tão absorta no que fazia que conseguira ignorar Edward sentado a meu lado, pelo menos até agora. Eu levantei o olhar para ele, em seguida fitei a folha à sua frente constatando que ele devia ter terminado o dever a consideráveis minutos, quando o olhei novamente procurei ignorar a insinuação de um sorriso que teimava em brincar em seus lábios. Que tipo de jogo ele estava jogando? E porque ele não podia ser mais humilde? Depois de longo silêncio eu me aprumei na cadeira e respondi sem muita cortesia:

– Não, obrigada.

Ele riu baixinho, eu continuei tentando desvendar o exercício – desta vez sem tanta facilidade em me concentrar.

– Todas as duplas estão debatendo entre si, é o jeito mais fácil de terminar este trabalho, às vezes seu colega pode ter exatamente a resposta que necessita, não precisa ser tão orgulhosa.

Eu falhei em esconder o ultraje em meu rosto, quem ele pensava que era? Me insultando em menos de cem páginas de história! Era mesmo eu a convencida aqui?

– Não estou sendo orgulhosa, estou sendo... – Precavida, eu quis dizer, mas imaginei que isto nos levaria a assuntos não muito agradáveis.

– Orgulhosa – ele finalizou a frase por mim e quando o fez se aproximou alguns centímetros, não muito, já que estava claro que ele procurava manter distância, mas foi o suficiente para que seus olhos prendessem os meus como um imã poderoso.

Eu tive que piscar algumas vezes para conseguir me centrar. Por sorte eu estava bastante exasperada para o efeito de deslumbramento não pegar como deveria.

– Você não devia brincar assim comigo, não acho que seria aconselhável – falei sem pensar e vi claramente sua feição se escurecer graças as minhas palavras. Era estranho, em um momento ele estava brincalhão e no seguinte me fitava sombriamente, aquilo me deu arrepios e quase suspirei quando o sinal soou me dando chance de me afastar e guardar minhas coisas.

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Eu demorei alguns minutos fazendo anotações finais antes de enfiar com pressa o livro na mochila e me levantar disposta a seguir a turma para a próxima aula. Eu não me dera conta de que demorara o suficiente para que os demais alunos já não estivessem aqui, mas quando olhei para a porta notei que, ao contrário do que pensava, eu não estava sozinha.

Edward bloqueava a passagem e talvez não parecesse tão assustador se eu deixasse de pensar no perigo que era estar sozinha com ele. Eu não conseguia olhá-lo, fitava o chão, minha respiração alta em meio ao silêncio da sala. Eu estancara no lugar, porém os poucos metros entre nós de nada me protegiam, eu não tinha outra saída, mas eu queria viver.

Acalme-se Liese, talvez ele não lhe faça nada, deve ser apenas fruto de sua imaginação, mesmo a voz de minha consciência pouco me convencia. Fruto de minha imaginação, como se aquilo pudesse significar que eu estaria a salvo, há poucos dias eu não considerava todo esse universo uma coisa ilusória e agora aqui estava eu vivendo uma vida que parecia tão real quanto a minha própria, não, era tolice me apegar aquilo, eu já tivera provas suficientes de que Forks era legítima, eu não iria brincar com a sorte desta vez, porque desta vez era inegavelmente real.

Mas eu não tinha muitas escolhas, Edward não se mexia e percebi tardamente que ele apenas esperava por minha atitude. E o que eu poderia fazer? Nada além de tentar seguir o conselho alucinado de minha mente e fingir que tudo aquilo não estava acontecendo.

Com muita dificuldade consegui mover minhas pernas, caminhando em direção à porta, eu ainda não o olhava, esperando que talvez no último minuto ele simplesmente desaparecesse, mas não aconteceu. Quando cheguei perto o suficiente para não poder dar mais um passo eu tive que parar.

Finja! Meu subconsciente gritava. Faça o que uma aluna normal faria, ele não sabe que você conhece o segredo.

– Pode me dar licença? – Procurei soar confiante, duvidava que tivesse sido convincente.

Edward não se moveu. O que ele estava esperando? Porque não acabava com aquilo logo? Eu não queria morrer, era o oposto, mas a espera unicamente estava me agonizando. Um longo minuto se passou até que ele finalmente falou.

– Você tem medo de mim?

Estranho, pensei que ele não pudesse ler minha mente.

– N-Não – blefei.

– Não é o que parece. – O tom leve havia definitivamente o abandonado, quando falava era como um silvo mortal.

Eu não conseguia encontrar a voz, aquilo não era excitante e surpreendente como os momentos até agora tinham sido. Era apenas perigoso.

– O que você tanto teme? Suas palavras há pouco me soaram como uma ameaça: ‘não brinque comigo’. Porque não seria aconselhável que eu a provocasse? Há algo que você possa contar aos outros? Será que você representa uma ameaça para mim?

Eu franzi o cenho enquanto analisava sua pergunta, quando entendi do que se tratava descobri porque ele ficara tão esquisito com o que eu dissera, ele interpretava da maneira errada.

– Não sou uma ameaça para você Edward – dizer seu nome com ele aqui jamais deixava de me arrepiar. – Acredito que se trate do contrário, não é você quem vai me matar?

Seus olhos se semicerraram, ele não parecia muito contente. Será que não era esta a resposta que ele queria ouvir? Mas era a verdade, quando o aconselhara a manter distância eu me referira ao fato dele ser um vampiro e eu a presa. Apesar de eu ter falado aquilo sem pensar não imaginei se tratar de algo tão importante e descobri que era porque no fundo eu realmente acreditava que os Cullen já estavam cientes de que eu sabia. Entretanto agora que analisava os acontecimentos e principalmente a postura defensiva de Edward constatei que estivera errada, isto, porém, não parecia significar uma boa notícia.

Eu não me equivocara em uma coisa: eles não estavam nada satisfeitos com o conhecimento excessivo que eu tinha. Se Edward comprovasse que eu possuía alguma informação comprometedora me mataria sem pestanejar, isto então significava que eu teria de mentir?

– Porque eu mataria você? Porque eu faria isso?

Ele estava perto demais, mas não satisfeito ele continuava a se aproximar enquanto aguardava minha réplica. Eu não tinha muito tempo, já vira que Edward não blefava, ele iria me matar e talvez o fizesse de um jeito ou de outro porque se me deixasse viva eu poderia contar aos outros sobre sua estranha atitude.

Eu não significava para ele o que eu gostaria de significar, então porque eu sequer me ocuparia em mentir? Não queria morrer como uma mentirosa, eu não era santa, mas nesta situação me via apenas como vítima, não era justo que ele me matasse, por mais predador e letal que pudesse ser. Minha vida para ele podia não ser nada, mas não era assim que eu pensava. Eu seria fiel à verdade a qualquer custo.

Seu rosto agora estava tão próximo ao meu pescoço que eu sentia seu hálito quente em minha pele, quando seus lábios finalmente o tocaram eu falei, tremendo.

– Porque você é um vampiro.

Quase como se tivesse levado um choque elétrico ele se afastou, a expressão num misto de surpresa e temor.

– Como você pode saber?

Eu não entendia, porque ele reagira assim? Aquela não deveria ter sido a deixa para que ele fincasse de uma vez seus dentes em mim? Como eu decidira me apegar à verdade e acabara recebendo o efeito contrário?

Ele parecia perdido, já distante de mim me sobressaltou quando num átimo tornou a se aproximar, sua face quase tocando a minha, seus olhos amargurados continham a fúria que eu podia sentir dentro dele.

– Como você sabe? – Sibilou.

Eu não tinha escolha senão lhe dar o que ele queria, mas não porque temesse, eu o fazia por alguma estranha razão, de algum modo me incomodava que ele parecesse tão vulnerável, eu quis ajudar, mas não pude fazê-lo por completo.

– É complicado – suspirei. Antes que ele pudesse me questionar eu emendei: - Eu apenas sei...

Edward se esforçava para manter sua feição composta, mas eu podia ver que estava perturbado. Eu entendia que fosse demais para ele ter sua máscara tirada com tanta facilidade, a parte a que me faltava compreensão era a razão dele ainda estar me mantendo viva.

– Mas como pode saber? Nós nunca nos vimos antes e você já sabia de tudo desde o começo. – Ele riu, mas não havia humor. – Inacreditável! Alice esteve certa sobre você todo o tempo.

Alice. Claro que ela devia estar um passo a frente de todos.

Edward levou as duas mãos aos cabelos e olhou para o chão, sua boca era uma linha fina, ele já não mais se importava em disfarçar a frustração. Eu estava perplexa e ainda atemorizada, mesmo estes sentimentos não me impossibilitavam de manter a admiração longe de mim, enquanto o olhava tornava a afirmar a mim mesma que duvidasse poder encontrar alguém tão perfeito como ele era.

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– Eu... Eu não sei o que fazer – disse por fim.

Eu franzi o cenho, mas não consegui falar nada. Há quanto tempo os Cullen sabiam do que eu escondia? Aquele dia no refeitório... Agora que refletia sobre ele via que pouco fizera sentido, um vampiro dificilmente era pego de surpresa, então Edward não havia esbarrado em mim por acidente, havia sido tudo premeditado; um teste para medir minha reação e estava claro que eu falhara, eu imaginava que só continuara viva até agora por intervenção de Carlisle, talvez Esme. O trato devia ter sido desvendar o que eu sabia antes de me eliminar. Ao que parecia apesar dos claros indícios Edward até agora fora descrente.

Eu acreditava que ele era um bom rapaz, o que era irônico já que ele estivera prestes a acabar comigo. Talvez por isso ele ainda demonstrasse dúvida, talvez assim como eu ele esperasse por um milagre no último minuto, entretanto como não viera aparentemente lhe faltava coragem de executar o combinado.

Pelo sim, pelo não as alternativas a meu ver pareciam limitadas: se eu soubesse de algo eu morreria para proteger o segredo; se eu não soubesse de algo eu morreria para preservar esta peculiar conversa. Em que Edward via tanta dificuldade? Porque ele continuava me perscrutando com seu perturbador olhar dourado?

Antes que mais uma palavra pudesse ser dita ele desapareceu, tão rapidamente que me perguntei se ele realmente estivera ali.

– Aqui está você! – Me virei espantada, mas era apenas Mike Newton. – O professor me mandou lhe procurar, o que aconteceu? Você está pálida, se sente bem?

– Sim – respondi num fio de voz, limpei a garganta e respirei fundo procurando me refazer. – Sim Mike, eu estou bem, obrigada. Eu estava terminando uma questão do exercício de biologia e não percebi que acabei me atrasando demais – tagarelei. Detestava mentir, mas eu não estava disposta a responder um questionamento agora, meu cérebro ainda não se recuperara completamente do choque.

– Tudo bem, mas então vamos ou você vai ter problemas.

Assenti e o acompanhei a passos rápidos, eu estava levianamente feliz por estar na companhia de um humano outra vez, imaginei que fosse culpa da adrenalina que ainda corria por minhas veias e não deixava o medo recente me abandonar.

O professor me lançou um olhar mal-humorado quando surgi na quadra e só não me puniu pelo atraso por intervenção de Mike, eu seria eternamente grata a ele por ter me livrado de ter que lidar com mais problemas agora. Ainda assim fui obrigada a colocar o uniforme de educação física e jogar a última partida de vôlei, eu fazia tudo no automático, minha cabeça estava distante revirando incessantemente as cenas de agora há pouco.

Com um pouco mais de sobriedade eu me perguntava o que seria de mim. Será que eu devia contar a Charlie? Dizer a ele que corria risco de vida? Logo que cogitei a idéia a afastei, pois parecia exagerada, mas ainda assim eu sabia que não era. O que acontecera com Edward na sala de biologia não fora qualquer coisa e eu tinha a suspeita de que ainda não havia terminado.

Seria muito mais fácil se ele pudesse ler minha mente, assim saberia que eu jamais seria capaz de dizer uma sequer palavra a alguém.

O sinal anunciando o fim das aulas soou e depois de me trocar fui caminhando em direção a picape com passos vagarosos, eu me dei conta de que não era uma atitude inconsciente, eu me sentia mais segura em meio ao aglomerado de gente, em meio a tantas pessoas que podiam servir de testemunhas. O que eu faria? Me mudaria para uma loja de conveniência, onde dia e noite haveriam passantes?

Eu tinha que me centrar, com a cabeça distraída seria alvo mais fácil de acidentes. Olhei ao redor do estacionamento e lá estavam eles, entravam no Volvo com a maior tranqüilidade do mundo, como se não fossem letais, como se não fossem os responsáveis por eu agora estar paranóica. Senti muita raiva dos Cullen, algo que eu não pensara poder sentir, não por eles. Mas como eu pensara mais cedo, me matar não era justo, eu não estava fazendo nada que pudesse lhes prejudicar, eu não era culpada de saber o que sabia.

Mas eles mal pareciam se importar. Eu fiquei ali, parada ao lado de meu carro, observando-os com rancor, o último do lado de fora era Edward e quase como se sentisse minha presença ele se virou e me olhou impassível. Eu me senti frágil sob seu olhar e não quis continuar com aquilo, me virei e caminhei até o banco do motorista, fechando a porta com ruído.

O veículo prata brilhou ao passar a minha frente, e logo desapareceu de vista roncando com potência estrada afora.

– Talvez eu vire assombração e acabe voltando para perturbar estes vampiros egoístas – desabafei enquanto girava a chave na ignição e manobrava para longe destes tão conhecidos muros.

Eu só cheguei em segurança até a casa porque já conhecia bem o caminho, já que minha concentração era inexistente, eu não pensava em nada em particular, na verdade eu refletia ao mesmo tempo sobre inúmeras coisas o que queria dizer que eu estava confusa. Era árduo tentar simplesmente seguir com uma rotina, aqueles poucos minutos haviam me modificado e se até agora eu conseguira evitar e conter o medo ele acabara de me dominar.

Não fiquei pensando no perigo de estar sozinha em casa, entrei e subi para meu quarto às pressas, quase como se fugisse de minha própria sombra. Meu quarto. Este não é meu quarto e esta não é minha vida! Soava muito ingrato de minha parte, e fiquei triste por isso, eu realmente estava disposta a tentar levar vida nova, mas por quanto tempo mais eu teria uma vida?

Fui até o banheiro e lavei meu rosto com a água fria, depois fiquei me olhando no espelho e a menina que eu tão bem conhecia me contemplava esperando que eu reagisse. Eles estavam em toda parte, a todo o tempo, eu conhecia sua capacidade de amedrontar alguém, eu estava perdida então será que realmente compensava continuar remoendo o horror?

– Não, não compensa – murmurei fitando meus próprios olhos.

Depois de conseguir reunir alguma calma eu resolvi descer e preparar algo para comer, meu almoço não havia sido dos melhores de qualquer jeito, porém ao olhar a despensa notei que estava quase vazia. Talvez já tivesse chegado a hora de ir ao supermercado, Charlie guardava o dinheiro para a comida em um pote no balcão, peguei a quantia que achei necessária e subi para pegar minhas chaves. Não me demorei um minuto mais, não se tratava novamente da história das testemunhas, pois eu sabia que se quisessem mesmo me matar podiam até fazer isto no centro da cidade e fazer parecer acidente; o que eu queria era desesperadamente encontrar um passatempo.

Foi mais divertido fazer compra sozinha, mas pareceu se passar rápido, antes do esperado eu já estava de volta em casa, mas a parte boa era que podia caprichar no jantar, pois tinha tempo de sobra. Terminei de guardar as coisas e subi para lavar as mãos, um barulho baixinho vindo de meu quarto me fez ir para lá checar o que era. Abri a gaveta e peguei meu celular vendo com surpresa que ele estava ligado e tinha mensagens.

“Liese, você está em Forks? Mas por quê? Está tudo bem com minha mãe? Sei que ela não está aí porque ela simplesmente detesta esse lugar. O que aconteceu? Quis lhe perguntar antes, mas esqueci de mencionar que meu celular só funciona quando quer. Bella”

Nossa, eu deixara aquilo passar, coitada da Bella, estava preocupada por minha culpa. Me empoleirei em cima da cama enquanto digitava a resposta.

“Bella, está tudo bem. Me desculpe por não ter esclarecido as coisas antes... Sim, eu estou em Forks, Phil e sua mãe estão na Flórida, houve uma oferta de emprego para ele lá e eles tiveram de viajar. Em troca acabei vindo morar com seu pai na boa e velha Forks.”

Decidi ser breve porque temia que o aparelho parasse de funcionar de novo, menos de cinco minutos depois que enviei a mensagem obtive resposta.

“Ah, fico feliz por Phil, espero que ele consiga o emprego, e quanto a minha mãe agora eu sei que não há com que se preocupar, ela adora viajar. Então você está com Charlie. Faz algum tempo que não o vejo, espero que esteja bem. E devo admitir que você é a única pessoa feliz de estar aí, sou do time de minha mãe, Forks não me agrada em nada. P.S.: Alex foi a escola hoje, conversei um pouco com ele e acho que sente mesmo sua falta Aneliese. Você ainda gosta dele? Me perdoe se estou sendo intrometida, mas ele falou que vocês foram namorados.”

Isabella Swan não gostava de Forks. Parecia quase crime conjugar uma frase dessas e eu não me sentia bem por não me ocupar em dissuadi-la de sua aversão. De qualquer modo, a última parte da mensagem exigia um pouco mais de minha dedicação: Alex. Como era possível que ele ainda me procurasse? Nunca imaginei que pudesse ser grande o interesse dele em mim. Bella me perguntou se ainda gosto dele...

– Gosto? – Prendi os lábios ponderando a resposta. Eu tivera um dia incomum que me fez ver as coisas de outro panorama, e se minha decisão de me afastar de meu ex também fosse equivocada?

Mas eu não voltaria com ele, refleti, porque sei que não o amo. Era tão grande a importância que eu dava ao amor, será que valeria a pena?

“Charlie está muito bem, acho que o trabalho o mantém sempre alerta e parece ser algo bom para ele. Bella, por favor, sei que devo estar te pedindo demais, mas diga ao Alex para me esquecer, faça isto com carinho, mas faça. Eu não posso falar com ele agora, acho que você sabe bem o por que. Ele é uma boa pessoa e quero que seja feliz, mas acho – pensei bem sobre a palavra, eu teria de ser mais exata – quer dizer, eu sei que não pode mais ser comigo. Obrigada.”

Selecionei a opção enviar e assim que fui informada de que a mensagem chegara com êxito o aparelho apagou. Revirei os olhos e levantei da cama, jogando-o de volta na gaveta enquanto bufava, eu já devia ter esperado por isso.

Desci as pressas para a cozinha e comecei logo o jantar, era uma atividade simples e me deixou com a mente livre para pensamentos não tão agradáveis. Só o que concluíra era que tudo só estava acontecendo comigo por eu ser a pessoa errada, talvez se Bella estivesse aqui ela pudesse me ajudar servindo de escudo para possíveis ataques vampirescos.

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Terminei de preparar a comida e subi para tomar banho, logo que me aprontei tornei a descer, mas estava sem fome, eu passara tanto tempo em jejum que ela desaparecera. Tampouco quis iniciar alguma atividade como assistir televisão ou ouvir rádio então o que fiz foi ficar sentada à mesa da cozinha, fitando a chuva fina que molhava a janela. Estremeci várias vezes, mas não deixei de pôr a culpa apenas no frio, novamente a noite era a parte mais difícil de lidar, eu olhava as sombras do lado de fora e não parava de dar significados bizarros a elas. Os faróis luminosos da viatura apareceram então no jardim e espantaram as criaturas míticas que eu imaginava poderem estar á espreita no escuro.

Charlie adentrou a casa e veio até a cozinha.

– Olá, está tudo bem?

O olhei e procurei sorrir.

– Está. E com você?

Ele fez uma careta o que eu imaginei estranhamente se tratar de um ‘sim’, em seguida subiu para lavar as mãos e logo voltou parecendo ansiosa por se alimentar. Fiquei parada até que ele se acomodou com o prato de comida ao meu lado.

– Charlie, se importa se eu for pra cama mais cedo hoje?

Ele estudou minha expressão com cuidado.

– Não, de forma alguma, mas está tudo bem?

– Sim, está. Eu só estou cansada, foi um dia puxado na escola – expliquei, procurando acalmá-lo.

Sabia que ele era muito perspicaz e talvez desconfiasse que eu tivesse algo a esconder, mas não questionou e agradecida eu lhe dei boa noite antes de subir outra vez para meu quarto, curiosamente ansiando pelas sombras de lá, querendo apenas me esconder nelas.