Perdida em Crepúsculo

Fogo e gelo.


Trailer

Especial: Edward PDV - Parte 1

"Anjo, soube que você era especial
Desde o primeiro momento em que a vi.
Sinto que você está mais perto cada vez que a chamo
Porque tudo o que vejo são asas,
Eu posso ver as suas asas,
Mas sei o que sou e a vida que vivo.
E mesmo que cometa pecados
Talvez tenhamos nascido para viver,
E sei que o tempo irá dizer se fomos feitos um para o outro,
Mas se não formos,
Espero que você encontre alguém para amar.
Anjo, você provavelmente
Nunca vai me levar de volta, eu sei disso,
Estou tão insensível a estas emoções, querida.
E embora estejamos presos a uma existência perigosamente vazia
Você sempre parece me trazer luz."

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Angel – The Weeknd feat. Maty Noyes

~*~

Liese me dissera que estaria ocupada o restante da tarde, também acrescentou que Charlie logo chegaria e que não seria conveniente que me encontrasse aqui, claro que eu não acreditara em nenhuma de suas desculpas, mas lhe dei o espaço que queria, pois não achava certo criar uma aproximação forçada. Ela tinha a desvantagem de ter um namorado vampiro que a todo instante poderia cercá-la e vigiar, então eu agiria contra o convencional: daria-lhe o espaço que queria.

Sair da casa, refazer meus passos, ligar o carro e me afastar foram as partes fáceis.

A difícil era a que eu enfrentava agora: pensamentos. Mas não dos outros. Meus. Estava claro que ela ficara chateada com a história sobre Tanya, mas eu não tinha idéia de até que ponto isto a afetara. Novamente os pensamentos eram o problema, mas agora era a inexistência deles vinda da parte de Liese, ela era a única pessoa que eu conhecera que era espetacularmente imune ao meu dom. Sua mente era perturbadoramente muda para mim.

Talvez Emmett esteja certo e eu tenha falhado em escolher me relacionar com a única pessoa que não posso entender.

Mas não, eu não acreditava realmente nisso. O que eu acreditava era que de algum estranho modo Aneliese fora designada para mim, acreditava em todo o clichê de par perfeito e almas gêmeas.

Jamais gostara de lidar com a indiscrição de estar ciente de cada coisa pensada próximo a mim, mesmo após tantos anos ainda era muito difícil para minha família conviver com este fato, então sempre me perguntei como seria quando um dia eu também fosse me relacionar com alguém. Agora via que talvez o motivo de jamais ter tido interesse neste assunto era justamente essa preocupação, essa dúvida cruel.

Com Aneliese, porém não havia nada disso, com ela eu me sentia inquieto, era verdade, pois estava acostumado a saber o que acontecia, mas mesmo assim eu estava feliz com a ignorância.

Fazia cerca de meia hora que havia voltado para a mansão, Alice me alertara sobre o pequeno passeio que Liese resolvera fazer, mas apesar de estar muito tentado a segui-la eu me mantive firme, sentado ao sofá assistindo qualquer coisa que estivesse passando na televisão.

– Oh.

Olhei para o lado a alguns metros Alice e Jasper estavam empoleirados no sofá - Emmett próximo a mim era o quarto ocupante do cômodo, Rosalie estava em seu quarto fazendo absolutamente nada e Carlisle e Esme se encontravam no escritório discutindo assuntos pertinentes ao hospital.

– O que foi Alice? – Sondou Jasper.

Minha irmã havia exclamado e ficado em silêncio, os olhos distantes, eu acompanhei a difusão de imagens de sua visão e soube de imediato de que se tratava.

– Aneliese – bufou.

– O que tem ela?

Pelo canto do olho pude sentir o olhar de Emmett sobre mim, mas não dei bola, não era nada relevante e continuei a fingir ver o noticiário.

– Ela escolheu ‘Brilho de uma paixão’ entre tantos filmes disponíveis na biblioteca. – Soltou um muxoxo. – Esse filme é triste, ela vai ficar deprimida.

Achei muita sorte de Jasper que assim como eu sua parceira não pudesse identificar o pouco caso que fez da notícia. Como eu dissera, ela era irrelevante.

O repórter anunciou o final da primeira parte do programa, a segunda era focada apenas em esportes e em geral era o que tinha de mais interessante para se assistir. Carlisle logo se juntou a nós, substituindo o lugar de Alice que não se interessava nisso. Passamos algum tempo discutindo o desempenho dos times e apontando erros e acertos das partidas até que ela voltou e se sentou no chão, novamente próxima a Jasper.

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– Sinceramente: isto já está no fim? Eu não entendo esta fixação de v...

Sua frase ficou pela metade quando ela se calou e tornou a ficar quieta, outra visão, porém desta vez não era sobre Liese. Concentrei-me no que via e logo soube de que se tratava e não fiquei satisfeito com o que vi. Alice piscou e focalizou o rosto do marido, Peter e Charlotte – amigos de longa de data de Jasper – estavam vindo nos visitar, nunca costumavam ligar para avisar sobre sua presença, pois sabiam que Alice os veria com antecedência. Eu gostava deles, mas o que me deixara pouco à vontade era o fato de que a família Cullen não mais contava apenas com vampiros, a existência de uma humana talvez acabasse por ser problemática, já que nossos visitantes seguiam uma dieta diferente da nossa.

– Edward, eles nunca caçam pelas redondezas.

Jasper podia não ler pensamentos, mas era excepcional na interpretação das emoções e logo notara quão inquieto eu estava.

– Sei disso.

– É verdade. Jamais fizeram isso, sabem que conhecemos muitas pessoas dessa cidade – Alice os defendeu. – E estou muito contente de que estejam vindo, quem sabe depois que souberem de sua ligação com Aneliese não comecem a repensar seus hábitos alimentares – sorriu faceira.

– Acho pouco provável – discordou Jasper.

Emmett riu ruidosamente, além de mim Carlisle foi o único a manter a seriedade, como defensor fiel da vida humana para ele era bem mais árduo lidar com este assunto.

– Ah, mas vocês são todos pessimistas, sabem que a possibilidade existe.

– Existe, porém é quase irreal.

Ela estava prestes a dar uma resposta quando outra visão a tirou bruscamente da conversa, sua feição ficando apática. Novamente se tratavam de Peter e Charlotte, estavam quase nos limites de Forks e logo chegariam, mas então as imagens se modificaram, silhuetas tornaram-se vultos e uma terceira pessoa apareceu, um homem que os estava acompanhando, porém ele parecia seguir por outra direção. Outro vampiro que se alimentava de sangue humano.

– Charles! – Esbravejei ao identificar seu rosto – ele também está vindo?

Num átimo eu estava ao lado de minha irmã, quando pôde voltar a olhar meu rosto ela demonstrou profunda preocupação.

– Edward ele vai caçar. Em Forks – sua voz não disfarçou o desespero.

Antes que mais uma palavra pudesse ser dita eu estava correndo, Alice em meu encalço junto de Emmett e Jasper. Ignorei meu carro estacionado no gramado, por mais potente que o Volvo ou qualquer um de nossos veículos pudessem ser, nenhum deles conseguiria me levar a tempo até meu alvo, não tanto quanto meus pés podiam. Esta era a vantagem de ser quem eu era.

– Alice, onde ela está?

Metros atrás de mim ela se concentrou por um segundo, antes que pudesse falar eu já tinha a resposta: Aneliese vinha embora a pé pela beira da estrada, estava sozinha na chuva e tudo isto me pareceu terrivelmente prognóstico.

Correr pareceu ser tudo o que eu podia fazer no momento.

Não parecia que tomava sequer uma decisão correta, mais cedo quando optara por manter distância de Aneliese pensara estar lhe fazendo um favor, mas isto quase lhe custou a vida. Senti-me inútil, de que adiantava tão grande poder se eu não o usava na hora certa? Um segundo, um segundo a mais e teria sido tarde.

Depois de todo o confronto ela havia ido embora aborrecida e só não a seguira após muita insistência de Alice que me convenceu a voltar para casa dizendo que ela mesma vigiaria a amiga e a levaria para a mansão mais tarde; seria onde Charles estaria, mas desta vez eu ficaria ao lado de Liese a todo instante. Eu pessoalmente pedi a Alice que fizesse o favor de trazê-la, não suportava continuar longe dela.

Então agora aqui estava eu outra vez, andava de um lado para o outro no quarto.

Às vezes quando parava e pensava na grande diferença em minha vida antes e depois da existência daquela garota achava incrível que ela tivesse conseguido me modificar em tão pouco tempo. Jamais seria passível deixar uma estranha, uma desconhecida mergulhar em meu mundo e conhecer meus mais profundos segredos, entretanto ela já sabia de todos eles antes que eu lhe contasse. Eis uma parte que nunca compreendi, eis mais um motivo para que me tornasse fascinado por ela desde os primeiros dias: Aneliese sabia sobre minha existência, sabia o que eu era. Seu conhecimento ainda me trazia dúvidas, mas ao mesmo tempo era uma das coisas nela que mais me atraíam.

Antes eu considerara a possibilidade de me unir a outra de minha espécie, o plano teria de ser este, era natural, contudo em um dia comum ela apareceu, esta garota misteriosa de cabelos escuros e olhos azuis, uma aluna nova, uma vida completamente diferente. Nada de absurdo ou impressionante até Alice nos revelar sua predição sobre ela; em uma conversa explicou que não dissera nada, pois achava pouco provável que se realizasse. Tratava-se de uma menina estrangeira que traria consigo uma ameaça jamais vivida: uma humana conhecia nossa real identidade. Lembro-me de que aquele foi um dia excepcionalmente problemático.

Mais tarde Alice confidenciara somente a mim o restante da visão, algo que de fato eu não esperava ouvir: “ela vai transformar você Edward de uma forma que nenhum de nós jamais conseguiu.” Eu não havia lhe dado atenção, pensara se tratar de algo impossível...

Como eu estivera enganado.

Depois que comecei a me envolver se tornou intolerável parar, como um vício, como uma droga designada apenas para mim. A princípio havia prometido investigar mais a fundo, me sentia culpado por não poder usar meu dom e garantir que estaríamos seguros, chegara a pensar que teria de matá-la, parecia o mais aconselhável, entretanto no momento mais cabível simplesmente não consegui. Naquele instante eu devaneei, pensando que se a eliminasse jamais tornaria a ver seus olhos e havia algo neles, uma chama que simplesmente não podia ser extinta.

Não era fácil conviver com a sede intensa, o desejo quase irrefreável por seu sangue, pois além de tudo ele era apelativo para mim como nenhum outro, um perfume enlouquecedor, cada dia ao seu lado me trazia dor, minha garganta queimava, ansiava por alivio, mas eu não me entregava porque tinha conhecimento do preço que teria de pagar.

Muito ao longe, ruídos de pneus fazendo a curva na estrada captaram meu interesse, minha irmã estava voltando, só que ainda era cedo para dizer se estaria sozinha, embora eu verdadeiramente acreditasse que não: praticamente não havia nada que ela não conseguisse.

Pareceu se passar muito tempo até que o veículo parou na garagem e mesmo não lendo seus pensamentos pude ouvir sua voz tão nítida quanto se estivesse no quarto ao lado. Aparentemente estava sem jeito de se reunir aos outros e me perguntei se deveria revelar a ela que ao menos para mim sua presença era a única que importava.

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“Fez-me trazê-la até aqui e nem ao menos vem recepcioná-la? Sei que pensa que ela está aborrecida com você, mas vai lhe perdoar. Agora seria bom se você viesse me ajudar a pô-la para dentro.” A persistência de Alice era irritante, mas por vezes também útil, suas palavras me bastaram para decidir-me quanto o que fazer. Quase que no mesmo segundo eu estava à frente da porta, podia ver Aneliese parada a alguns metros, os braços cruzados sobre o peito indicando que estava aborrecida e decidida a dialogar.

– Eu não vou entrar.

Alice ao perceber minha presença sorriu satisfeita.

“Até que enfim!”

Revirei os olhos para ela, mas não pude evitar compartilhar de seu sorriso e em um único movimento eu estava junto delas, tão próximo a Liese que podia ouvir o som de seu coração batendo. Sim, assim era melhor.

Ela me fitou surpresa e começou a dizer algo, mas já sabendo se tratar de uma pergunta superficial não perdi tempo em me aproximar e tomá-la em meus braços, dizendo seu nome com devoção. A cada segundo era apenas o que queria fazer, o gosto de seus lábios era condenavelmente prazeroso.

“Com licença, será que devo lhes arrumar um quarto?” Alice fez piada. Poderia continuar assim durante horas, mas a provocação de minha irmã mitigou minha determinação e acabei por me afastar, o que a fez rir.

– Leve-a para dentro Edward, Esme quer muito vê-la.

Apesar da brincadeira ela nos deu privacidade e fiquei muito agradecido por sua compreensão.

Não tirei os olhos da garota à minha frente e esperei até que ela fizesse o mesmo. Podia lhe dizer tantas coisas! Que sentia muito, que não queria tê-la irritado, muito menos assustado, que gostaria de poder ter sido mais rápido, mais eficaz em promover sua segurança, que durante o tempo em que correra a seu encontro só o que pensava era em revê-la, em mantê-la bem. Que quase chegara ao ponto de insanidade ao pensar que poderia perdê-la e que agora enquanto a segurava tinha tudo o que poderia querer ou precisar. Eu poderia ter dito tudo isto, mas o que fiz foi sorrir feito um covarde e lhe desejar as boas vindas, talvez eu não soubesse tão bem como me expressar ou apenas tivesse medo.

Depois de me agradecer Liese questionou o porquê de eu parecer tão feliz e me vi confuso com sua pergunta, eu pensava que fosse óbvio, queria que ela estivesse junto comigo a todo o momento, era simples. Este pensamento me fez rir e passei a mão por seu rosto tocando sua pele como se isto fosse me confirmar que ela era real.

Seguiu-se uma curta conversa ainda sobre sua idéia equivocada de que não deveria estar aqui e achei que já era hora de lhe falar abertamente de forma que compreendesse e parasse de duvidar. Levantei seu rosto deixando-o de frente com o meu:

– Estou feliz que esteja aqui. Eu pensei que não fosse falar comigo nunca mais. – Ainda era uma suspeita real, portanto pareceu-me correto acrescentar um pedido de desculpas.

Liese não disse nada a princípio, me olhava, mas parecia perdida em pensamentos.

– Não é você quem tem de pedir desculpas – suspirou e ao fazê-lo ergueu a mão e pôs sobre meu peito, me retesei infinitesimalmente, aquela era a única área em que eu encontrava dificuldade em ser tocado e logo ela compreendeu o motivo, seus olhos ficando grandes de surpresa ao não sentir nada sob seus dedos. Havia um coração, mas estava morto.

– Não há nada – encolhi os ombros desculpando-me.

Desculpando-me por ser um monstro, por não ser humano, por não merecê-la.

Deixei de fitar seus olhos e encaminhei o olhar para longe, era difícil falar sobre aquela parte, esta existência que eu jamais aceitara bem. Agora o que fazia era lidar com ela, mas se pudesse ter escolhido meu próprio caminho ele seria diferente, eu sentia que sempre haveria uma lacuna entre Aneliese e eu, que certas necessidades eu nunca poderia suprir. Gostaria de acreditar que era tão bom para ela quanto ela era para mim, mas isto se tratava de um grande disparate.

– Eu gosto daqui – falou de repente como se o assunto anterior sequer tivesse existido. Vagarosamente tornei a olhá-la. - Quero dizer, de Forks. Eu realmente gosto daqui. De tudo. Desde as lindas paisagens às pequenas poças de lama, é tão diferente de onde venho, é... Não sei. Eu simplesmente gosto.

Ela estava tentando me fazer esquecer, estava tentando me alegrar. Não deixava de me surpreender seu altruísmo, ali à minha frente estava a mulher mais maravilhosa, pensar nisso trouxe um sorriso a meus lábios.

– Parece que está de bom humor, está faladeira, ao menos. Isto significa que me perdoou? – Brinquei.

Pensei que minha tentativa de soar leve a faria rir, mas ao contrário, suas sobrancelhas se franziram em uma careta.

– Edward. Você me salvou. Você vive fazendo isso, não sei como não fui perceber. Você me salvou de uma vida vazia e sem sentido, eu detestava o rumo que as coisas estavam tomando, me sentia sufocada, mas aqui eu sou... Feliz. Eu gosto de Forks. – Então sorrindo, completou - e eu amo, amo você!

Se ela soubesse que o sentimento que eu tinha era assim tão forte e fascinante, se ela soubesse que amor não era a palavra certa para definir o que tínhamos. Minha ligação com ela eu suspeitava poder ultrapassar as barreiras do tempo, era maior do que tudo que já conhecera; por isso jamais dissera que a amava, pensava que não faria jus ao que sentia.

Deixei que ela me trouxesse mais para perto, a palma de sua mão suavemente tocando meu rosto, deixei que me beijasse. Ela era tudo de que eu precisava, sem ao menos fazer esforço conseguia domar a criatura maligna que vivia dentro de mim, conseguia acalmá-la e quase fazê-la se extinguir, como o fogo que aos poucos consome o gelo.

E por ela eu pereceria.