Pela minha experiência em ser perseguido e em me dar mal, sabia que essa perseguição não seria fácil, principalmente por se tratar de um animal sagrado. Que voa.

Se ele tentasse sair do acampamento sem ser capturado ele certamente conseguiria, e levaria as alianças com ele.

Agora eu tinha que persegui-lo e atraí-lo para baixo, só assim eu conseguiria pegar as alianças de volta. Comparando com o caso do macaco azul de Hermes de alguns anos atrás, o que me encontrava agora era ainda pior. Os macacos eu ainda conseguia atrair com facilidade e correr atrás deles pela cidade, mas esse gavião era uma pedra no meu sapato- ou melhor- uma montanha.

Peguei algumas pedras soltas do asfalto e arremessei em direção ao gavião, duas das pedras passaram longe, mas a terceira o fez voar para o poste seguinte.

– Ei seu monte de penas! Porque não fazemos uma troca?- Peguei contracorrente do bolso e destampei. Se funcionou da primeira vez talvez da segunda funcionasse também.

Ele grasnou.

Deixei que a espada brilhasse no sol. Ele seguiu o brilho com os olhos, mas não se moveu.

Comecei a ficar desesperado, se ele resolvesse sair de cima do poste e desaparecer, teria levado meses de economias e atrasaria o meu noivado. Tinha quer ter algum jeito de pará-lo e atraí-lo para baixo, ou encontrar uma maneira ou alguma coisa para fazer uma troca.

Se fosse Annabeth no meu lugar ela teria encontrado uma maneira fácil e rápida, e com certeza já teria as pego de vota. Tentei pensar como ela, olhei em volta e procurei alguma coisa que fosse interessante para um gavião. Nenhum pet shop com coelhos por perto... Nada brilhante e nada atraente. Olhei dentro do carro, ainda de olhos presos ao enorme pássaro com o raio nas costas.

Depois de procurar dentro do carro algo que pudesse chamar sua atenção, voltei para fore e me encostei na lataria e o observei por um instante. Quais motivos levariam um gavião- que provavelmente era uma dar criações de Zeus- para um acampamento que não tem absolutamente nada que o atraísse?

O gavião bateu suas grandes assas e grasnou, olhou para mim e a espada, e deu um rasante em direção ao chão. Ele parou á poucos metros de mim, ao lado de um hidrante.

Abanei o ar e água explodiu para os lados, acertando-o.

Corri até ele enquanto se debatia para fora da cachoeira. Seus olhos muito amarelos encontraram os meus, ele grasnou e bateu suas assas mais forte, sem soltar a caixa das alianças.

Apertei as mãos e a água ficou mais forte, o gavião tentou voar, mas acertei a parte de baixo de seu corpo cheio de penas e suas patas com contracorrente, ele rolou para o lado e se levantou, saindo de baixo da água.

O gavião voou para longe, em direção á prefeitura. Entrei no carro e o segui até o centro da cidade, onde infelizmente havia uma aglomeração de carros e pessoas.

As ruas estavam cheias e praticamente paradas. Peguei uma expressa até uma avenida próxima a praça central, que ficava á uma quadra da prefeitura. Os carros estavam quase parados a essa altura. Vi a sombra de um grande pássaro negro refletir no chão, olhei para cima e segui o gavião até o mastro da bandeira dos acampamentos unificados, ele olhou para baixo e depois para os carros, limpou as penas sem se importar de estar sendo vigiado.

Parei o carro no acostamento e corri em direção ao mastro, passando pelos carros que buzinavam um para os outros.

Haviam pessoas com comportamentos estranhos espalhadas pela região da prefeitura, elas olhavam para tudo e todos como se suspeitasse que levassem a carta de independência no bolso. Elas usavam branco dos pés á cabeça, além de elmos prateados e espadas. Parecia um encontro de médicos gladiadores no centro da cidade.

–Com licença- chamei, uma mulher oriental com olhos cor de âmbar se virou, ela trazia nas mãos uma bolsa de couro marrom presa por uma alça no ombro. Seus coturnos eram da mesma cor, embora estivesse suja de barro. Ela vestia as mesmas roupas brancas que o resto do grupo- O que está acontecendo?

–Somos do esquadrão de proteção e artigos mágicos- ela abriu a bolsa e me entregou um folheto- Fomos chamados para investigar o caso do objeto perdido. Suspeitamos que Zeus tenha perdido algo por aqui, bem no centro de Nova Roma...

–E vocês já tem alguma novidade?- Não estava tão interessado em saber, mas se Zeus tinha perdido alguma coisa, provavelmente aquele gavião tinha haver com isso, e quem sabe aquele esquadrão, o EPAM, como dizia no folheto, não pudesse me dar uma ajuda.

–Tudo o que sabemos é que não se trata de algo perigoso ou muito importante, caso contrário Zeus teria mandado sua própria fonte de busca.

–E essa fonte de busca- olhei para o topo do mastro, onde o gavião estava empoleirado- poderia ser um animal? Ou melhor, um pássaro?

A garota seguiu meu olhar, ela colocou a mão na espada quando encontrou o gavião, e chamou alguns de seus amigos que estavam perto.

–Quando é que você encontrou esse pássaro?

–Hoje de manhã- respondi- Estava indo para o trabalho e ele roubou as alianças que eu daria para a minha namorada- apontei para a caixa presas pelas garras do bicho.

– Ele pensa que se pegar algo que te pertença, você vai devolver o que Zeus mandou ele procurar- falou um cara ao lado da garota oriental

–Mas não peguei nada!

–Nós sabemos, senhor!- O cara fez sinal para que eu me acalmasse- Mas o pássaro não sabe! Ele não quer saber quem pegou ou onde é que está essa coisa, ele quer que nós o entreguemos. Só assim o senhor terá suas alianças de volta.

–Então vou ter que procurar um objeto e devolver para um pássaro gigante que pode me matar?

O cara fez que sim.

Ótimo. Estava entrando no mesmo jogo de dez anos atrás. Naquela época, com doze anos, eu não tinha outra escolha a não ser recuperar o raio mestre de Zeus e devolver antes do solstício de verão. Caso contrário minha mãe faria parte do exercito de mortos de Hades. E isso estava fora de cogitação. Mas agora, com vinte e dois anos, á meses de me formar na faculdade, morando numa cidade completamente segura – ou quase- eu podia escolher entre chutar o pau da barraca e ir para meu trabalho na prefeitura, que por sinal estava muito atrasado, ou percorrer a cidade em busca de um objeto importante de Zeus e fazer uma troca com seu gavião de estimação.

– O que vamos fazer?- perguntou a garota para o cara ao seu lado- precisamos tirar esse pássaro daqui antes que ele atraia mais problemas.

–Vamos constatar os pretores e chamar a equipe de captura- O cara, Miguel, dizia seu crachá, retirou de sua bolsa de couro -a qual era idêntica a da garota oriental -e tirou de dentro dela um telefone celular. Ele digitou um único numero e colocou sobre a orelha- Fique aqui com o rapaz, Sandra. Peça informações sobre o comportamento do nosso amigo de penas...

Miguel correu para dentro da prefeitura e chamou por alguns dos caras de roupas brancas na escadaria.

–Bom...-começou Sandra- O que pode me contar sobre...- ela olhou para o gavião- esse animal.

–Tudo o que sei é que ele está com uma coisa que me pertence- tentei parecer irritado- e não vou á lugar nenhum sem ela.

Sandra me encarou, séria, depois pegou um celular do bolso frontal da bolsa.

–Alô, aqui é a Sandra do EPAM, preciso de uma equipe de captura...- Sandra conversou alguns minutos com a equipe de captura de animais mágicos, o ECAM, dando-lhes algumas informações sobre o gavião. Ajudei com o pouco que sabia, falei sobre seus não–interesses, como objetos brilhantes.

–Ótimo- disse ela de repente- Estaremos esperando.

Ela desligou o celular e o guardou na bolsa novamente, bem na hora que Miguel e mais três caras se aproximaram. Ambos vestidos de branco.

–Falou com o ECAM?- perguntou ele

–Falei. Já estão á caminho.

–E enquanto isso...- indaguei

–Enquanto isso? Esperamos.

Bufei. Não tinha todo tempo do mundo para esperar que a equipe de captura chegasse- Isso se conseguisse passar pelo engarrafamento.

Liguei para meu chefe e expliquei a situação que me encontrava. Contei sobre o gavião e as alianças. Pedi que ligasse a televisão e comprovasse o que eu dizia. Ele aceitou minhas desculpas e me liberou para ajudar nas buscas.

Essa parte foi fácil. O difícil seria encontrar o que Zeus desejava para que seu gavião de estimação me devolvesse às alianças.

Pensei em Annabeth, sentada em frente á uma criança banguela, ensinando-a a juntar silabas. Aquilo era muito desgastante, e a única coisa que eu queria era poder leva-la ao melhor restaurante da cidade e pedi-la em casamento, não queria ter que adiar até que juntasse dinheiro para comprar alianças de noivado novas. Esperei anos por esse momento e pássaro nenhum me faria esperar mais.

–Não posso esperar- Disse eu para as pessoas de branco em minha frente- Tenho que voltar ao trabalho. Vou encontrar esse tal objeto mágico e devolver logo para esse saco de penas.

–Não sabemos que tipo de coisa esse gavião pode fazer!

–Vamos deixar o gavião com o ECAM, vocês do EPAM podem me ajudar a procurar o que ele quer. Sabemos que caiu na região central da cidade, podemos começar a procurar pela prefeitura e pela praça em frente. Vocês não tem nada que possa nos ajudar? Algum equipamento ou sensor?

Eles trocaram olhares estúpidos, do tipo porque não pensei nisso antes? Então se levantaram e correram para a vã estacionada do outro lado da rua. Ela era branca assim como suas roupas, e nas laterais haviam letras enormes e azuis que diziam EPAM de Nova Roma. Dentro era como um quartel general móvel, rádios comunicadores presos junto às paredes, televisores finos presos por suportes e computadores e câmeras. Na parte de trás havia armas de fogo e choque, juntamente com equipamentos de raio-X e GPSs.

–Charlie, pegue o numero seis, Michel e Brandon, ajude Charlie com os equipamentos. Eu e Miguel vamos pegar umas redes e dardos de soníferos- Sandra se virou para mim- E o senhor...

–Percy Jackson.

–Percy, por favor, fique aqui dentro e deixe nossa equipe trabalhar.