12 – O Anti Olimpo

Durante o tempo em que dormiu, Percy foi assolado por sonhos estranhos. Eram muito reais, mas como memórias que ele não tinha. Num deles o garoto encarava uma garota loura no alto da maior colina do Acampamento Meio-Sangue. Annabeth estava à sua frente. Eles discutiam sobre algo.

–Vou perguntar novamente, aonde está indo Perseu – ela rosnou as últimas palavras.

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–Estou apenas indo – ele tentou passar, a garota o empurrou.

–Para onde, idiota? – ela estava se irritando, Percy já notava seu peito subindo e descendo por baixo dos agasalhos.

–Estou de protegendo, e protegendo a todos aqui...

E o sonho mudava. Percy estava num corredor iluminado por archotes.

As paredes eram marrons da cor de terra , e o chão era verde como grama. A parede do corredor era dividida em blocos. Todos com o mesmo entalhe.

Um Ômega flutuando acima de uma mão que saía da Terra.

O garoto começou a correr na direção do salão. Ele parou na entrada. Definitivamente não era nada comum. Sem outras saídas , apenas um túnel seguia para cima , até o céu estrelado no alto.

Era Pentagonal. Em cada um dos lados havia um pedestal. No primeiro havia uma pequena fonte de água que formava um chafariz singelo. No segundo bruxuleva uma chama vermelha contida.

No terceiro crescia grama em um pequeno monte de terra.

No quarto havia um anemoi thuellai , menor por sinal. Ele rodopiava no pedestal freneticamente.

Mas o que havia chamado a atenção de Percy não era aquilo. E sim o que estava no meio do salão , sendo iluminado diretamente pela lua.

Um pedestal de mármore branco estava grudado no chão. Percy subiu o olhar. Ele viu um livro , mas não um livro comum. Esse livro era de um material marrom , como terra. Ele se aproximou. Era literalmente terra pura. A capa tinha a mesma estampa das paredes do salão. Um Omega flutuando acima de uma mão que saía da terra.

O garoto se aproximou e tocou o livro. Imediatamente ele se tornou concreto. A terra pareceu se solidificar , o livro foi ganhando cores e vida , como se estivesse extraindo a água , a terra , o fogo e o ar dos pedestais do salão.

Ele ouviu uma risada feliz.

–Os deuses sejam louvados , é verdade então.

Percy se virava. Um homem oencarava sorridente. Ele tinha barba grisalha assim como os cabelos em corte militar , mas os músculos ainda estavam definidos , como um Rocky Balboa envelhecido.

Percy já o havia visto em um sonho anterior. Mas não tinha idéia de quem fosse.

Os olhos do garoto se abriram vagarosamente. Suas energias estavam renovadas. Fazia tempo que ele não tinha uma noite de sono tão boa. Contando que num lugar como o Tártaro houvesse noite ou dia.

O calor agradável o fazia se lembrar das horas anteriores a seu sono. A maldição de Luke.

Percy ergueu o corpo rapidamente. Não havia mais ninguém na cama. Ele andou rapidamente até a fogueira. Ninguém.

Um grasnado terrível encheu os ouvidos do garoto. Ele foi correndo até a porta da cabana e achou seus amigos aplaudindo de costas a uma cena sanguinária de batalha.

Damásen matava o Drakon maeônio e o fincava novamente na terra com o carvalho.

Ele se aproximou. Nico notou sua presença.

–Bela adormecida – ele brincou e esboçou um sorriso. Percy ficou sério.

Algo chamou sua atenção. Luke estava de pé, apoiado em Beckendorf com pouca dificuldade. Percy ainda podia ver o ferimento às suas costas, não estava cicatrizado, mas não vertia sangue e estava com uma aparência bem melhor.

–Graças aos deuses – ele deixou escapar, Beckendorf ajudou Luke a se virar.

Ele analisou Percy, sustentando o olhar melancólico do garoto. Quando ele fez menção de responder um vulto vermelho-cereja passou por eles bufando.

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–Deuses uma ova – Damásen resmungava sempre no tom impaciente – Fui eu quem fez isso, seus deuses nunca conseguiriam retardar uma maldição das arai.

Ouvir aquelas palavras fez o coração de Percy pesar uma tonelada, lembrando ele de sua culpa.

–Me descul...

–Não – Luke interrompeu – Nada disso é culpa sua, sei que você nunca faria isso, foi apenas o seu eu passado... ele me odiava pelo que fiz, e não me perdoou ao que parece – ele fitou o horizonte sombrio das montanhas íngremes que quase já não eram vistas graças à névoa do pântano.

Percy apenas assentiu com a cabeça. Ele ouviu um pigarro às costas.

Dámasen carregava uma espécie de mochila de couro verde numa das mãos. Ele a estendeu para Nico. O garoto a prendeu nas costas.

–Suprimentos para a viagem, e isto aqui... – ele remexeu no cinto e retirou algo.

Era uma espécie de adaga. A lâmina era feita de couro de Drakon, aparentando ser mortalmente afiada. O cabo era de couro simples, com um guarda-mão de madeira.

–Não é grande coisa, mas serve tanto para monstros como para humanos, se precisar matar um – ele a jogou para Percy, ele a prendeu no cinto.

–Muito obrigado, lamento por você não vir conosco, mas me lembrarei de você quando empunhar essa arma.

Eles se cumprimentaram com um olhar.

–Garoto – Damásen bufou, mas o olhou sério – Quando enfrentar meu pai, não tenha piedade, mate-o, não perca nenhuma oportunidade.

–Eu irei – ele assentiu – E quando eu o matar, irei libertá-lo de sua maldição.

Damásen riu com gosto.

–Como são engraçados os mortais...

Um estrondo de terra encheu os ouvidos de todos, o gigante aguçou os sentidos e os olhou sombrio.

–Corram, é sua deixa, eu irei contê-los por enquanto, fujam! – ele gritou e correu pântano adentro.

“Quando sentirem seus corações explodindo e a lava do rio não curá-los, estarão próximos à Órion! Não confiem em Nyx e só perguntem o que realmente precisarem saber.

***

O pântano do gigante era denso e fechado, o chão lamacento parecia sugar os pés deles para a terra. Luke aguentava bem, por vezes se desequilibrava e apoiava o braço em Beckendorf. Nico seguia à frente.

Quando Percy finalmente via a claridade avermelhada do Tártaro por entre as árvores ele se animou, o urro dos irmãos de Damásen já estava muito ao longe. O garoto se perguntou se o gigante era capaz de derrotar todos os seus irmãos. Percy não queria que ele morresse defendendo um bando de meio-sangues, muito já havia sido tirado de Damásen. Percy não queria ser o responsável pela destruição do resquício de vida dele.

Na medida que o chão se tornava mais sólido Percy vislumbrou um penhasco.

Parecia ser o último grande degrau colossal. Um redemoinho de raios amarelos circundava o cume com uma névoa cinza-alaranjada tenebrosa.

O coração de Percy estava com dificuldade de bombear o sangue. Suas mãos formigavam e o pulmão explodia de ardência. Ele não tomou lava do Flegetonte. Queria acreditar que estavam perto do destino final. A vida de Luke dependia disto. E a missão também. Descobrir como trazer os traidores e Annabeth de volta ao lado do bem.

Ele sentiu uma lufada de ar quente vinda do norte e pôde ver formas negras bruxuleando no ar. Asas de passáros esqueléticos. Sua espinha congelou ao pensar nas arai, ou Éris.

As criaturas notaram a presença deles e voaram velozmente em sua direção. O garoto soltou a respiração ao perceber que eram apenas galinhas voadoras.

–Alguém aí já cavalgou uma harpia? – ele retirou o arco de Épiro das costas.

Não houve resposta.

–Que pena – ele atirou numa delas. Ela se aproximou grasnando esganiçadamente.

–Você já? – Nico se pronunciou.

Percy retirou as duas facas presas horizontalmente na base da cintura e as girou na mão, se colocou em posição de ataque.

–Não.

Quando a harpia deu um rasante Percy se jogou do penhasco. Ele fincou as duas adagas uma de cada lado da barriga do monstro. Ela grasnou e ele desferiu um soco em sua cabeça.

–Arre! – com esforço ele conseguiu mantê-la no ar girando as adagas – Vocês não vem?

Seus amigos olhavam surpresos para Percy. O garoto retirou novamente o arco das costas e acertou mais três harpias.

Elas voaram na direção dele. Percy as guiou para a borda do penhasco, onde Nico e os outros as laçaram. Luke teve dificuldade em subir na sua, mas foi amparado pelos garotos.

No fim todos cavalgavam as harpias em direção ao Coração do Tártaro.

Quanto mais desciam mais ícor dourado da harpia vertia da lâmina e manchava a pelagem horrorosa do monstro.

O calor já castigava a pele de Percy. O suor não chegava a empapar sua roupa. Cada gota que escorria do rosto do garoto tocava sua camisa e evaporava logo depois.

A névoa já cobria sua visão por completo. Ele não conseguia ver seus amigos, mas sentia a brisa quente que soprava do bater de asas das harpias deles.

Agora seu coração estava morrendo de verdade. Seus pulmões não conseguiam retirar oxigênio daquele ar hostil. Só podia ser o lugar certo, mas Percy teve medo de morrer antes de chegar até o gigante traiçoeiro.

Quando ele viu o chão se animou.

Os rios do submundo agora corriam próximos uns dos outros descendo até uma planície que desaguava muito à frente.

Percy retirou as duas facas da barriga da harpia e rapidamente as estocou em sua cabeça, descrevendo uma cambalhota no chão antes de se por de pé perfeitamente. Ele limpou o ícor dourado da lâmina na camisa. Um calafrio percorreu sua espinha ao comtemplar o rio das almas à esquerda. Seus olhos estavam incandescentes graças à lava do Flegetonte à direita.

Seus amigos pousaram atrás dele logo depois.

–Até que não foi tão ruim – a voz de Luke era fraca, mas arrancou sorrisos de todos eles, que assentiram com a cabeça.

–O que é aquilo? – Beckendorf apontava para uma enorme construção próximo dali.

No fim da planície arenosa os rios do submundo desaguavam um no outro para então caírem juntos num penhasco.

Uma ponte negra salpicada com pedras preciosas ligava o penhasco até uma grande montanha.

Um palácio estava disposto sobre ela. Um palácio sinistro.

Era inteiramente negro e se erguia pelas beiradas da montanha solitária. Os templos, as colunas, escadarias e salões, tudo feito de rochas negras, parecidas com meteorito ou basalto. Era todo incrustado e entalhado com ametista e rubis do tamanho de crânios humanos, alguns até tinham esse formato. Archotes queimando fogo grego ardiam nas escadarias que levavam mais acima na montanha, nos pavilhões ao ar livre e nos templos gregos.

Se Percy chutasse em que contrução essa era baseada, diria que se tratava de um Monte Olimpo ao inverso.

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E ele não gostaria que os habitantes daquele palácio também fossem o inverso dos deuses.

–Vamos, é o único modo de chegar ao Coração – ele disse.

Os garotos se puseram a andar atentos pela planície macabra. Rapidamente a ponte negra foi ficando próxima, e nas extremidades queimava fogo grego. Tingindo as roupas e os olhos deles.

Mesmo com a luz emanando das chamas, a cada passo que davam em direção ao palácio mais escuro parecia ficar, fazendo a escuridão do Tártaro parecer clara comparado àquele lugar.

Os templos deveriam ter trinta ou quarenta metros de altura. Não era um lugar para semideuses, nem mesmo deuses.

Aquele lugar era sombrio demais, perverso e hostil demais. Mas o silêncio era quase palpável. O único som era o crepitar do fogo.

Os olhos de Percy pareciam pesar com o escuro, como se a morte estivesse apenas esperando ele os fechar.

No fim da ponte uma presença emergiu do chão, do ar e das rochas escuras. Tão vasta e sombria que fez seus ossos se arrepiarem.

–Não é comum ver semideuses aqui embaixo – uma risada estrondosa ecoou por todo o lugar – Serei uma boa anfitriã.