Penumbra

Capítulo 2


— Não! Meu menino não! — chorou Rhea Dragomir — Isso é mentira! Eu quero meu filho de volta! Eu quero meu filho de volta!
Rhea Dragomir estava chorando e gritando aos sete ventos a quase cinco horas,desde que tinha ouvido que seu filho estava morto.
Agora estávamos no cemitério dos Dragomir,enterrando o corpo do jovem dragão. Devido ao ataque,não podemos ir a Corte enterrar o jovem,mas também não podíamos receber ninguém. A cerimônia fora simples e restrita. E acima de tudo,triste.
Eu estava encostada em uma árvore observando tudo de longe. A dor estava mim,assim como a culpa. Mas eu não iria chorar. Eu sabia.
As lágrimas cairiam nesta noite. Quando fossem enterrar Alberta. Quando seu funeral,só tivesse quatro guardiões — incluindo eu — três funcionários e talvez,por sorte, alguns cães. Eu iria chorar por minha treinadora. Pela imagem mais próxima de mãe que eu alguma vez tivera.
— Triste,não?
Virei abruptamente para a voz ao meu lado e encarei Stan. Embora fôssemos guardiões,nunca nos demos bem.
— O que você quer?
Ele arregalou,os olhos em inocência.
— Ei,Hathaway,tenha calma! Eu só vim chamá-la. A rainha Tatiana quer falar com você.
Franzi a testa
— E porque diabos a rainha quer falar comigo?
Ele revirou os olhos frios.
— Francamente,Hathaway,acorde! Sem Alberta,a nova pessoa no comando aqui é você.
Chocada,levei a mão ao peito.
— Eu não tinha pensado nisso. — admiti
Ele acenou,parecendo pela primeira vez abatido.
— Ninguém teve tempo para pensar nisso.
Balancei a cabeça atordoada.
— Vá Rose. Eu fico de guarda. — Stan falou,apoiando a mão em meu ombro.
Anui,e o deixei em meu lugar,caminhando até a torre de vigia ou QG dos guardiões.
Encontrei Ambrose parado na entrada. Ele sorriu quando me viu e logo cumprimentou.
— Oi Rose.
— Olá Ambrose. Stan me disse que fui convocada por forças maiores.
Ele concordou.
— Tatiana esta na linha lá em cima. Me acompanhe.
Assenti.
Subindo os vários degraus da torre,eu prestei atenção em sua fisionomia.
Embora ele quisesse esconder,Ambrose estava com uma aparência horrível. A tristeza e pesar marcava cada feição perfeita de seu rosto. Seus cabelos geralmente alinhados estavam bagunçados como um ninho e seu rosto inchado. Mesmo que para mim fosse impossível ver a cena,eu podia apostar que ele havia chorado.
Mas pudera,o dia havia sido terrível.
Entrei na pequena sala cinzenta. Uma parede era completamente coberta com um monitor tecnológico,e nele estava o rosto pomposo da rainha com as jóias da coroa reluzindo .
Fiz uma referência mal feita.
— Vossa Majestade.
— Guardiã Hathaway,fui informada sobre o recente ataque de Strigoi. Duas pessoas mortas,certo?
Assenti.
— Sim,majestade. Mas já temos as coisas sobre controle. Iremos aumentar os turnos e as rondas. Também aumentaremos as wards.
Ela sorriu,condescendente.
— Eu entendo o que a senhorita quer dizer. Também entendo que esta tentando proteger os Dragomir,mas isso não será suficiente.
Cerrei os dentes. Como assim não será o suficiente? Ela esta duvidando de minha capacidade? Ah,não! Ninguém dúvida de Rose Hathaway!
— Eu posso garantir a senhora que será mais que o suficiente... Majestade.
Ela gargalhou.
— Me chamar de Majestade não remedia sua petulância,guardiã Hathaway. Sei que é conhecida pela sua impulsividade,mas nesse caso,isso não bastará.
Cruzei os braços
— O que propõem então?
Ela uniu as mãos e se afundou mais no trono.
— Sei que você foi treinada por Petrova,mas ainda não é ela. Petrova sempre manteve seu trabalho muito restrito. Pretendo mudar isso.
Controlei minha vontade de brigar. Alberta nem havia sido enterrada e essa rainhazinha metida a besta já começava a acusá-la! Cerrei minhas mãos em punho e disse a contragosto:
— Continue.
— Irei lhe mandar reforços. Arranjarei mais guardiões para vocês. Afinal,estamos falando da família Dragomir,os mais raros e nobres das doze famílias
— Mas não precisamos de mais reforços,esta tudo...
— Basta! — vociferou a mulher — É uma ordem. Entrarei em contato essa semana ainda já com os nomes.
— Sim vossa majestade. — respondi contrariada.
— Ótimo — respondeu satisfeita — Dê meus pêsames aos Dragomir.
Assenti e comecei a me virar para ir.
— Guardiã Hathaway.
Me virei para encarar o monitor.
— Sim?
— Sinto muito,por Petrova.
E ai a tela escureceu,anunciando sua ida.
*******************************
As terras dos Dragomir sempre foram extensas e impressionantes. A mansão da família era enorme e luxuosa e tinha quartos demais para os moradores.
A alguns quilômetros estava o dormitório dos funcionários,um pequeno complexo cheio de pequenos apartamentos. E a poucos metros desse dormitório,estava o refeitório que continuava igualzinho a mais de um século.
Nós — ou eu — havíamos apelidado carinhosamente o refeitório de Toupeira. Afinal,o recinto era sujo e peludo e em alguns anos estaria debaixo da terra.
Escuro e mal iluminado,o Toupeira era mais um bar do que um refeitório. Nos juntávamos quase todas as noites para conversar a fio. Mas hoje era diferente.
Todos beberiam. Alguns,em homenagem a Alberta e Andre. Outros só para acabar com o estresse. No meu caso,eu fazia pelos dois.
A forma festiva com que comemoravam para mim era indevido. Mesmo assim,não hesitei em beber.
Com os copos cheios e erguidos para cima gritaram:
— A Alberta!
— A Alberta!!! — gritaram os outros em resposta.
Virei um copo de vodca pela garganta e a senti rasgar minhas entranhas. Aquilo era reconfortante.
Eu ainda podia ver Alberta ser enterrada em uma cova qualquer. Sem nada que comprovasse que ela estava ali,se não fosse as pedras que havíamos colocado. Nunca vira minha mentora tão serena,tão frágil.
Suspirei
— Me de mais um copo Eddie.
Ele franziu os lábios,mas mesmo assim voltou a encher meu copo com vodca.
— Você não devia beber tanto Rose — falou Mia que estava sentada a minha frente com Mason.
A ignorei e engoli aquele copo em um único e mísero gole.
— Agora você é nossa guardiã chefe Rose. Estamos a seu dispor. — brincou Mason.
O fuzilei com os olhos. Eddie pigarreou.
— Ouvi falar que Tatiana quis falar com você. — disse Eddie
Assenti
— E? — falou Mason
— E o que? — esbravejei
Eles bufaram
— O que a rainha disse?
Franzi o nariz e murmurei a resposta.
— O que você falou? — perguntou Mia se aproximando.
Perdi a paciência
— Ela não acha que vou conseguir administrar tudo sozinha. Vai mandar reforços.
Mason bateu na mesa com o punho.
— Mas isso é desnecessário. Não precisamos de reforços.
Gargalhei sarcasticamente
— Diga isso a rainha. Eu juro que tentei dizer.
Mia gargalhou
— Imagino como.
— Eu não acredito que deixou que isso acontecesse. — falou Mason irritado.
Me ergui na mesa e o encarei de perto.
— Olha aqui... Eu fiz o que pude. Mas eu não tenho culpa. Se você tem alguma reclamação diga a Tatiana e não a mim. Caso ao contrário,eu quebro a sua cara.
Peguei a garrafa de vodca e sai bufando do Toupeira.
Eu não iria levar desaforos,nem mesmo de um Mason bêbado.
Apertei o gargalho da garrafa em meus lábios e engoli metade da garrafa. Caminhei até meu quarto fervendo de raiva
Eu não precisava de reforços.E mostraria aquilo a rainha.
Bufando,peguei as chaves do quarto para abri a porta. E xinguei quando as chaves caíram de minha mão. Talvez eu estivesse mais bêbada do que pensava.
Abaixei-me para pegar as chaves e reparei no envelope branco que repousava no chão gasto.
A caligrafia bem feita fez com que eu soubesse imediatamente quem havia escrito a carta.
Lissa.
Abri o apartamento e logo sentei-me em uma cadeira,atenta nas palavras que marcavam o papel.
Rose,
Sei que não tivemos tempo para conversarmos direito ainda. Eu sinto muito por Alberta,queria ter ido em seu enterro, mas minha mãe estava em colapso.
Sinto muito pela morte dela. Ela era uma mulher maravilhosa que eu admirava fortemente. E você sabe disso.
Sinto também pelo meu irmão. E se bem a conheço,não se culpe. Você não tem nenhuma culpa disso.
Também fiquei sabendo da rainha Tatiana,eu também sei que nesse momento você esta a chamando de vaca e de outros adjetivos nada bons. Mas você vai conseguir amiga. Sei que vai.
Não fique imaginando que essa carta é porque não vou falar disso com você depois. Eu vou. Mas sei que vou deve estar estressada e sem rumo. Eu conheço você melhor que qualquer um. E estou escrevendo isso para que você fique mais tranquila,as coisas vão melhorar.
Até logo,
Da sua melhor amiga,Lissa.
PS: antes que você fique perguntando como fiquei sabendo de tudo isso,eu conversei com Ambrose. E NÃO. Não estamos tendo um caso.
Fiquei dividida entre sorrir ou chorar. Acho que fiz os dois ao mesmo tempo. Cansada,apenas deitei em minha cama,sendo assombrada por olhos vermelhos escarlates.
*******************************
Corri pelo longo jardim dos Dragomir,para chegar o mais rápido possível no QG no guardiões.
Subi as escadas feito um raio,e lancei apenas um sorriso a Ambrose. Quem ela pensa que é? Eu sei,a rainha. Mas isso não é motivo para atrapalhar meu almoço. Sabe como foi difícil guardar toda aquela comida?!
Sem nem ao menos ofegar,me postei a frente da enorme tela e do rosto calmo da mulher que eu xingava internamente.
Fiz uma reverencia zombeteira,se ela percebeu,nada disse. Já se fazia uma semana desde que havíamos nos falado,no entanto minha raiva não diminuíra.
— Guardiã Hathaway,é um prazer revê-la.
Eu não podia dizer o mesmo.
— Vossa excelência — disse áspera
Ela franziu a testa,e continuou a falar.
— Acredito que a senhorita lembre que eu fiquei de lhe arranjar reforços.
E como esqueceria?
— Sim
— Pois bem,creio que já tenha escutado o que aconteceu com a família Ozera.
Todos ficaram sabendo sobre os Ozera. A família havia sido atacada por um exército de Strigoi a três dias atrás. As terras Ozera haviam sido completamente destruídas,e apenas um herdeiro sobrará,o Lorde Christian Ozera. Junto com ele,restará três guardiões. Tudo se perderá,eles estavam em estado mais raro do que os próprios Dragomir. A mídia humana enlouquecera.
— Sim,majestade.
Ela sorriu,algo entre maléfico e malicioso.
— Lorde Ozera,precisa de um lugar para ficar já que sua casa foi demolida. E como ele tem três guardiões,as coisas acabaram se encaixando.
Isso não podia estar acontecendo!
— Esta querendo dizer que Lorde Ozera e seus guardiões vão ficar aqui? — perguntei com a mão na cintura,despois lembrei: —Majestade.
Ela revirou os olhos.
— Você é mais inteligente do que eu pensava Hathaway! — ela gargalhou e eu fiz uma careta — Sim. A família Dragomir irá acolher o último Ozera.
Controlei a vontade de suspirar.
— E os funcionários irão acolher os guardiões Adrian Ivanshkov,Mikhail Tenner e Dimitri Belikov. Não me decepcione Hathaway.
Anui e fiz uma reverência para sair.
— Ah,e só mais uma coisa. Conte para os Dragomir a novidade. Estarei muito ocupada.
Cerrei os punhos e vi a tela escurecer.
Vaca!

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