Caminhei com uma enorme caixa de papelão rumo à campanha de caridade do Shopping, pesada de roupas. Enquanto a maioria de patricinhas se esbaldava em compras, eu doava as minhas, não que eu não gostasse amo comprar roupas e sapatos caros, por que é claro não sou de ferro, mas tudo tem um limite e a coisa mais importante na vida não é ficar bonita ao “extremo”, é claro que se eu falasse isso a Rebeca e Beatriz elas me dariam um banho de loja pensando que me tornei uma daquelas garotas que elas definem como desleixadas. Elas sabem que contribuo para essa campainha todo mês e ate me apóiam. Encaro isso como uma terapia “Nunca devo ser uma consumidora assídua de marcas de grifes”, e então só doou marcas bem caras para a caridade, isso começou o ano passado. E desde então compro uma roupa bem cara uso uma vez e doou.

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A administradora sorriu para mim a me ver, ela tinha cabelos loiros e aparentava ter uns trinta e poucos anos, junto dela sua ajudante Daniele, que na maioria das vezes falava comigo agradecendo.

–Boa tarde. –Cumprimentei entrando no pequeno espaço, que ficava dentro de uma loja de roupas.

–Boa tarde. –As duas me responderam.

–As roupas desse mês. –Devolvi o sorriso, colocando a caixa em cima de um balcão.

–Muito obrigada pela contribuição. –A administradora parecia realmente agradecida. –O que acho mais curioso, e que algumas roupas estão com etiquetas...

–Não tem problema. –Interrompi, não queria explicar da terapia. –Então... Acho que já vou indo.

–Obrigada. –As duas gritaram enquanto eu já estava na porta.

–Por nada. –Disse, e sai andando.

Não havia nada de bom para fazer, então resolvi pegar um cineminha. A sala estava quase vazia, duas garotas que imaginei ter uns catorze anos, um menino de uns quinze sozinho assim como eu solitário que até passava despercebido, um casal de namorados que me atrapalharia a ver o filme, por que esta meio que obvio que eles não vieram para assistir o filme, e algumas pessoas normais que nem me chamaram atenção.

O filme se chamava Os dilemas de Bia, entendi já nas primeiras cenas. Bia tinha vinte três anos, e sua vida era cheia de problemas, além da própria Bia se preocupar mais com os problemas da sua família do que com os dela. Trabalhava em uma agencia de moda, e fazia questão de repeti que escolheu a profissão certa. Seu namorado era um completo idiota que nem a amava como ela merecia, mas é claro ela nem via isso, pelo menos não no começo. Ate que em um belo dia conheceu um homem, que aos poucos conquistou seu coração. Ela então terminou com seu namorado, que disse coisas horríveis, e ela respondeu com uma frase bem interessante “Sou muito mais que isso”. Amei essa frase, combina muito comigo, sou muito mais que uma patricinha sem sal, mais do que as pessoas imaginam que sou.

Bem, e como qualquer filme rolou muito problema até Bia ficar com o lindo mocinho da historia.

Voltei para casa a pé. Resolvi dar uma olhadinha nas redes sociais pelo meu celular. Opa! Novidade fresquinha: Rebeca está em um relacionamento sério.

Já no meu quarto reconsiderei que poderia ser mentira, por que se não ela faria questão de mostrar o garoto, ou só era por que ele era feio. Gargalhei sozinha com esse pensamento.

Foi dormi cedo, pelo menos dessa vez estava um pouco mais feliz. Feliz em aspas.

Apesar disso acordei atrasada corri para me arrumar, e nem tomei café da manha. Pequei uma maçã, às pressas e sai correndo, minha sorte é que Cesar, nosso motorista, já estava prontinho para me levar. Já na porta da escola Rebeca e Beatriz me esperavam, tive a leve impressão que já havia tocado o sino.

–Pensei que não viria dorminhoca. –Rebeca disse sorrindo, quase dizendo “Me deseje os parabéns, estou namorando!”

–Bom dia Clarinha! –Beatriz me disse implicando, ela sabia que eu não gostava de Clarinha, Clara estava passando de bom.

–Oi Bia, sabe que ontem assistir a um filme que se chamava Os dilemas de Bia. –Disse enquanto passávamos pelo portão.

–Eu sei, eu sei. Meu nome é lindo. –Beatriz alargou o sorriso. Falar em convencida...

–Namorando em Rebeca. –Felicitei e logo ela ajeitou o cabelo loiro, e sorriu. –E sou a ultima, a saber.

–O nome dele é Eduardo. –Ela tratou logo de dizer, para que não tivesses duvidas. –Ele não tem Facebook.

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–Serio, em que mundo ele vive? –Eu e Beatriz rimos Rebeca não ficou muito feliz, mas acabou rindo para disfarçar. Obvio que era mentira, ela estava fazendo isso só para os garotos que conhece achar ela desejável. Era como inventar um admirador secreto, quantas garotas já não fizeram isso, para conquistar alguém.

Chegamos à sala, com a cara brava da professora Thelma, fingimos não notar e entramos.

–Vamos à chamada. –Ela disse seu olhar ainda bravo, talvez fosse só a cara dela mesmo. –Não será preciso, apenas Ethan faltou hoje. –Ela concluiu.

Olhei para trás, constatando o fato Lisa na terceira cadeira, e a quarta o lugar de Ethan, mas era ocupada por Rafa.

O dia na escola passou rápido, para minha sorte. Cada vez mais me desmotivava com o ensino médio, os alunos são uma droga, os professores são uma droga, o diretor é uma droga, e eu sou uma droga se reclamar de qualquer coisa.

Depois do almoço solitário, resolvi dormir, até Rebeca e Beatriz chegarem para a gente tomar banho na minha piscina, a situação estava tão feia, que não estava reclamando das duas virem aqui hoje, era melhor do que não ter nada para fazer, isso até a pessoa que me ouvirá ser contratada. Não foi nem dois minutos até eu estar completamente desligada dos meus pensamentos e cochilar.

Fui acordada pelo som do meu celular, Denise me ligando, ou alguma visita, ela então me avisava, pois só eu estava à tarde em casa, para recebê-la. Arrestei-me a até o celular na mesinha encostada na parede da porta.

–Sim?

–Clara, tem um garoto aqui para trabalhar como o limpador de piscina, mas como sua mãe não esta... –Denise me despertou quase como mágica.

–Vou descer. –Disse antes mesmo de ela terminar.

Como já havia alguém?!... Não tinha nem preparado o que iria dizer. E ainda um garoto, não que preferisse uma garota, mas não era alguém mais velho. Denise tinha dito um garoto.

Desci tremula, não tinha razões para estar nervosa, mas seria uma situação constrangedora, até para mim que não senti vergonha do sorriso do meu vizinho quando me pegou no fraga o espionando.

Denise estava parada, penso eu tentando adivinhar se eu estaria aprontando alguma.

–Onde ele esta? –Antes mesmo de não descer todos os degraus da escada, não me contive.

E se ele fosse “mal encarado” sabia bem o que fazer. Já demos o emprego à outra pessoa.

–Estou aqui. –Uma voz reconhecível disse, e então apareceu no meu campo de visão.

–Ethan.