Pare! Não se aproxime

23 - Help! Eu não sei nadar


Capítulo vinte e três

Help! Eu não sei nadar

"Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.
Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também!"

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(Tati Bernardi)

Passei o sábado com o que a Megan Queen havia me dito na mente. Seria eu assexuada? E o mais estranho era eu me importar com isso, como se quisesse sentir atração por alguém. Justo eu que sempre quis ficar sozinha e apenas pensar no estudo e na minha profissão futura.

Henry ligou para mim e parecia aliviado ao perceber que estava viva e nem chorava mais. Não sei o motivo, mas tinha muita vontade de me abrir para ele e contar que eu não tenho tendências suicidas e nem sou muito depressiva. Só que quando ia falar algo dentro de mim me impedia.

O domingo passou rapidamente, com o moletom dele e o Sinistro me acompanhando fiz uma surpresa para a volta da Dona Diná. A segunda-feira chegou, junto com a desanimação. No intervalo Jully não apareceu e nem sequer me cumprimentou quando a vi, e foi o que mais achei esquisito. Sendo que agora, infelizmente, era aula de educação física. E o pior era que teríamos natação, e nem nadar sei.

Ortiz, está aqui um maiô e uma toca, acho que te servirá. – declarou o professor.

Fui em direção ao vestiário e me tranquei na cabine por conta da vergonha, trocando-me em um toque e colocando o apertado apetrecho na cabeça. Marchei até o local onde havia uma piscina e me sentei no banco.

Percebi ao longe que o Nagel me mirava e piscou em minha direção. Vi que as três inimigas estavam lá também, e tinha a certeza que tinha a ver com um certo moreno dos olhos azuis. E até eu, que estava distraída até então, surpreendi-me ao me pegar o observando tirá-lo a camiseta de maneira lenta e um pouco sensual demais.

– O Amélia em? Não sabia que era assim tão gostosa. Se eu tivesse noção disso já teria te pedido em namoro. – gritou um garoto.

– Só para a comer não é? – disse o amigo.

Já eu estava em não sei quantos tons de vermelho aparecendo em meu rosto.

– Esse cara me conhece. – respondeu aos risos.

Notei que meu parceiro ia em direção aos dois com irritação.

– Por favor, todos venham aqui para eu explicar o que iremos fazer hoje. – declarou.

Todos nós fomos e ele disse que primeiro ia os meninos e ia fazer uma competição, depois seria a nossa vez. E foi por conta disso que fiquei sentada no assento com nervosismo, até porque disse que eu teria de entrar em algum momento mesmo com a minha dificuldade.

Para o professor tudo é questão de treinamento.

Se eu vencer dedicarei a você Amy. – sussurrou o castanho ao chegar perto de mim.

E realmente parecia que ele estava se esforçado para conseguir ganhar, mas ficou em segundo. Só que ao subir no pódio improvisado apontou para mim e deu um sorriso capaz de congelar as calotas polares. Só que eu sou feita de pedra, e só abaixei a cabeça e torci para que nenhum das garotas que me batiam tivessem visto isso.

– Agora é a vez das gurias. – exclamou quando os do sexo masculino começaram a se secar.

Fui a passos de tartaruga, lesma ou outro animal deste porte até a borda. Aquela água um pouco transparente e azul ao mesmo tempo me dava ânsia de vomito e uma vontade tremenda de correr para o mais longe possível. Eu estava mais que nervosa e aterrorizada, sem saber o que fazer.

Percebi que várias colegas já se preparavam e outras falavam com o professor sobre o que poderiam fazer. Enquanto eu fiquei isolado naquele canto e um frio na barriga crescendo a cada segundo dentro de mim. Enquanto várias pessoas ficam desta maneira ao ver quem gostam, eu sou um pouco diferente.

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Vadia. – declarou uma voz.

Senti empurrarem minhas costas e um baque forte com a água deixou meu corpo mais dolorido, contudo nada foi pior do sentir o chão por um segundo e depois não conseguir voltar. Senti o liquido entrar pela minha boca e uma falta de ar agonizante, tanto que não pude gritar nada ou pedir por socorro. Sabia que eu talvez fosse salva, mas não por quanto tempo ficaria consciente.

Sim, foi bem depois disso que apaguei, não ouvindo nem vendo nada ao meu redor. Só senti alguém me pegando antes de tudo ficar preto.

Acordei com duas pessoas do meu lado, a enfermeira e um garoto que eu acho que se chama Leo ou Leandro. Tossi algumas vezes por conta de um mal-estar e uma vontade imensa de colocar tudo para fora, como se tivesse algo me incomodando. E eu tinha certeza que era por causa do afogamento.

– O que aconteceu? – questionei primeiro.

– Você é sortuda não? Primeiro aquele garoto maravilhoso, agora esse... – começou.

Não aguento essa bajulação toda.

– Eu quero realmente saber qual é o meu estado. – cortei-a com rudez.

– Você se afagou e ele pulou para te salvar, mas como tinham me chamado já eu vim e a trouxe para cá e fizemos o que é de praxe: respiração boca-a-boca e massagem peitoral. – explicou.

Respiração boca-a-boca? Como assim? Quem o fez?

– Não se preocupe, fui eu que te “beijei”, por assim dizer. – falou em divertimento.

Mais ou menos aliviada fiquei. Até porque seria estranho ter praticamente um desconhecido tocando meus lábios, além de constrangedor.

– Estou liberada?

– Claro. Mas primeiro queria saber se viu quem te empurrou. – parecia ansiosa.

Talvez soubesse, mas não tinha certeza.

– Na verdade não, estava de costas. – declarei em tristeza.

Levantei-me em um pulo e fui em direção ao corredor, mesmo sabendo que estava sendo seguida.

– Olá. Você é a Amélia não? – disse o menino que me tirou da piscina.

– Sim, e seu nome é Leo ou Leandro? – meio confusa.

Então gargalhou ao me ouvir, tão alto que me deixou envergonhada.

– É Lorenzo, mas pode me chamar de Enzo. – respondeu depois de um tempo.

O silêncio se formou e eu percebi que estava apenas de maiô, o que me fez meu rosto ficar rubro que nem o tomate. Tanto que corri como se fosse um guepardo até a enfermaria novamente.

– Aconteceu algo? – preocupada.

– Tem uma veste para me emprestar? – perguntei ao apontar para o que estava usando.

Pegou um roupão e me deu, que eu coloquei com o maior gosto. Pelo menos era melhor do que ficar desfilando com uma que aparecia praticamente tudo.

– E a minha mochila? – lembrei-me de repente.

– Aquele de olhos azuis e cabelo praticamente preto ficou com ela. – explicou.

Henry? E por que não ficou do meu lado? Não, ele faz o que quiser.

– Obrigada. – soltei sem querer e sumi.

Caminhei pelo pátio, vendo que faltavam 10 minutos para o final das aulas. Será que fiquei tanto tempo desacordada? Ou demoraram muito para me pegar? O fato é que eu me posicionei na porta da minha turma para esperar a pessoa que estava com a minha bolsa de maneira impaciente.

E, droga, ainda estava com aquela vestimenta.

Aquele tal de Enzo apareceu perto de mim e sorriu, dirigindo-se a minha direção.

– O que está fazendo aqui? – declarou.

– A minha pasta ficou lá dentro. – respondi, dando de ombros.

Não ia perder meu tempo sendo arisca.

– E então... já terminaram aquele trabalho de literatura? – começou.

– Sim, somos o terceiro grupo a se apresentar. – comentei.

Deu aquele sorriso de vitória.

– O nosso é só na semana que vem. – falou.

– Prefiro ser uma das primeiras. – constatei.

– Um dos últimos é melhor, porque os outros que já se apresentaram podem te dar mais dicas do que fazer para se dar bem. – debateu.

Pensando bem, até que é verdade.

– Nem vou discutir sobre isso. – rebati.

– Até que tem razão. – praticamente riu.

Íamos parecer duas crianças se continuássemos a discutir.

E foi neste instante que o sinal da saída tocou. Os alunos que apareciam ficavam nos olhando com uma expressão maliciosa, como se tivéssemos feito algo para estarmos do lado de fora. Só que eu nunca ia ficar beijando ou fazendo algo a mais com um guri, e muito menos em um ambiente escolar.

Quando percebi o Nagel já estava no corredor com a minha mochila em um dos ombros. Seu sorriso se alargou ao me ver, mas logo se desmanchou ao notar quem estava perto de mim. Será que odiava o tal de Lorenzo? Não sabia, mas isso foi no mínimo estranho.

– Está aqui, e coloquei o caderno que esqueceu em casa na bolsa também. – esbravejou.

Não me esperou, brincou ou me chamou de Amy, apenas caminhou a passos rápidos e as mãos em punho. O James o acompanhava e parecia conversar com ele de maneira sussurrada e preocupada. O que está acontecendo com esse pessoal do colégio?

Sabia que teria que ir embora, então me despedi e cheguei em minha casa após pegar aquele ônibus lotado. Coloquei meu uniforme e o presente para a chefe deixei em minhas mãos e fui para o trabalho com o pensamento de que a veria. E ao nota-la ali caminhei com a caixa em minhas mãos e um alivio no peito.

– Trouxe algo para mim anjo? – questionou com um sorriso.

– Que tal a senhora mesmo ver o que é. – falei em um tom baixo.

Fomos para a cozinha e um bolo foi revelado dentro daquele embrulho, o que a deixou com os olhos brilhando.

– É torta de Martha Rocha? – a alegria igual de uma criança.

É... eu tinha feito o preferido dela.

– Isso mesmo. – balbuciei.

Abraçou-me em felicidade e apenas deixou um pedaço para mim, comendo quase tudo sozinha. Ensinou-me hoje a fazer uma sopa de legumes e almoçamos juntas antes de começar a trabalhar com ardor. O que eu não me importava tanto, até porque eu tinha de novo ao meu lado a minha mãe do coração.