Paraíso de Verão

Lembrança Pra Vida Inteira.


A loira respirou fundo enquanto encarava seu reflexo. Seu último reflexo no hotel. Seu último dia. O verão finalmente chegou ao fim.

A canga cinza usada em forma de vestido que havia visto em um tutorial da internet lhe caia bem, combinando com o cabelo solto. Ela estava agitada, nervosa. Não por causa do que acontecera no outro dia. Resolveram aquilo na tarde anterior.

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Não sabia mais o que fazer. Cada passo que dava era como se deixasse um pedaço do coração para trás.

Mas mesmo assim sorriu, mesmo meio vacilante, pegou a pequena vasilha e colocou na bolsa.

Desceu as escadas do hotel e quando chegou lá fora, o carro já a esperava. O moreno sorriu sem mostrar os dentes enquanto desencostava do carro para recebe-la.

Ele abriu os braços e ela o abraçou, sentindo-o depositar um beijo em sua testa. Eles desejavam que aquele momento pudesse ser capturado por mais do que câmeras fotográficas para serem para sempre repetidos.

— Vamos?

Ela assentiu sorrindo e entrou no carro que era tão familiar.

— Para onde vamos?

Ele deu um sorriso de lado, que sempre a fazia pensar que ele estava aprontando alguma coisa.

— Um lugar mais afastado, longe dessa gente toda.

Ela sorriu enquanto colocava o óculos escuro, lembrando-se da última vez em que estiveram em um lugar afastado e toda aquela embolação começou.

A mão dele descansava calmamente na perna dela, que apenas conseguia pensar na confusão que se envolvera. Aquele tinha tudo para ser só mais um verão. O verão. Thalia e ela haviam planejado aquelas férias por tanto tempo. Finalmente seriam independentes, fariam tudo por conta própria, romances de verão, festas, tudo sem se apegar, milhares de histórias para contar quando voltassem. Pelo jeito, não deu muito certo.

“Nem os céus me ajudarão agora”, ela pensou ao encarar o moreno que dirigia calmamente para uma das praias mais afastadas, provavelmente. “Isso vai me derrubar”.

Mas ela decidiu que não pensaria nisso. Não ainda. Podia ser um dia surpreendente.

Ele não conseguia pensar – e nem queria – em muita coisa além da estrada, da textura da pele dela abaixo de seus dedos e da ótima tarde que teriam. Nada era necessário além daquilo.

Quando finalmente chegaram até a praia ela só pode ficar, como sempre, sem ar pela vista. Era sempre assim, ele conhecia os lugares mais bonitos, as praias vivas, as florestas mais vistosas.

Ela saiu rápida do carro e colocou as coisas deles na areia. Pegou a canga que usava como vestido e estendeu no chão, colocando sua bolsa e as bebidas e lanches por cima.

Ele a abraçou pela cintura, trazendo-a para perto de si.

— O que acha de um mergulho?

Ela sorriu, fingindo que ia beijá-lo, mas correu em direção à água.

— O último a chegar perde! – ela gritou, com o vento levando as palavras para longe, sendo seguida pelo moreno que não ficou muito atrás.

— Você roubou! Não vale.

A risada dela ecoava pela praia quase vazia. Não era apenas o verão deles que estava terminando.

— Para de chorar. – ela disse calmamente com a água pela cintura. – Eu ganhei.

— Ah, ganhou? E qual é seu prêmio?

— Adivinhe?

Ela chegou perto, colocando a mão na nuca dele, fazendo o pedido silencioso pelo prêmio.

As mãos dele em sua cintura lhe passavam toda a confiança e conforto de que precisava. Era como se se conhecessem desde sempre. Talvez seus caminhos já tenham se cruzado mais vezes do que pensavam. Em outras histórias, outras vidas, outras memórias.

— Pelo jeito eu também vou ganhar então.

Ao invés de beijá-la, como seria o romanticamente correto, ele a levantou, surpreendendo-a e a jogou embaixo de uma onda, indo com ela.

Quando emergiram, ela sorria com a boca aberta, cabelo grudado na cara, escondendo seus olhos.

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— É agora que eu mato você?

Ele riu, afastando o cabelo.

— Não, é agora que eu beijo você.

Dito e feito. Ela não pode resistir, e provavelmente não teria resistido nem se pudesse. Porque era assim que tinha que ser. Percy deve estar com Annabeth, assim como o mar deve sempre beijar a areia.

Ela passou os braços por cima dos ombros dele, e ele abraçou a cintura dela, aprofundando o beijo que nunca fora raso. Eles poderiam ser confundidos com qualquer casal de adolescentes comuns vivendo um amor de verão. Uma garota da cidade e um garoto sabe-se lá de onde. Mas eles sentiam que era mais que isso. Não podia ser só isso.

Voltaram para a areia sem dizer nada, o clima pesando em volta deles.

— Você sabe para onde Nico levou Thalia?

Ele negou com a cabeça.

— Ou eles chegaram depois de nós ontem e saíram mais cedo ou nem voltaram para casa. Se bem que sair mais cedo que nós ia ser difícil.

Ela rolou os olhos incrivelmente cinza e ele não pode deixar de notar o quanto eles pareciam azuis com o sol do verão.

— Percy, você apareceu lá quase às dez da manhã.

Ela procurava por sanduíches enquanto ele servia suco para os dois.

Quando ela entregou o lanche dele não pode deixar de observar mais uma vez, além das outras milhares, o quanto ele era lindo. Tudo parecia se encaixar perfeitamente. Percy não era o tipo de cara que parava o trânsito e fazia todas as garotas se apaixonarem. Annabeth só havia conhecido um cara desse tipo e esse cara era Jason, o irmão de Thalia. Fala sério, ele era uma espécie de Superman loiro. Mas não negava a beleza do rapaz que estava com ela. Cabelos negros e mais compridos do que quando se conheceram, agora era uma mistura revolta. Os olhos mais verdes que o mar e a boca impressionante carnuda que ela invejava.

— Você sabe que esse sanduíche só está bom porque fui eu que fiz, né.

Ela rolou os olhos mais uma vez naquele fim de manhã.

— Você ama minha comida que eu sei.

— Olha. Você faz algumas coisas muito bem. - ele disparou a frase carregada de malícia - Mas já discutimos que salgado não é com você.

— Você amou aquela macarronada que fiz que eu sei.

Depois que terminaram de comer simplesmente deitaram sobre a canga. Ela por cima, queixo apoiado no peito sem camisa dele, cabelo esparramado nos ombros, dando aquela impressão felina que ele sempre tivera.

— Eu não posso acreditar que estamos indo embora.

Ele finalmente pronunciou aquelas palavras que ambos estavam tentando evitar. O assunto que ambos tentavam fugir, mas que estava mais do que presente.

— Nem eu.

— Eu não sei o que fazer.

Ela suspirou olhando para um dos lados, encarando o céu azul, quase sem nuvens.

A água do mar chegava até os pés deles, e recuava.

— Vai passar, você não vai nem notar.

— Quando?

A voz dele era baixa, os olhos se fechando, respirando fundo para absorver o perfume dela.

— E eu lá vou saber? – ela deu uma risadinha. Passou os dedos pela barba por fazer dele. Pequenos pontos que faziam cócegas em seus dedos. – A única coisa que eu sei é que você vai se lembrar de mim.

Ele suspirou exasperado, jogando a cabeça para trás.

— Disso eu sei, eu quero saber é de novidade.

— Acontece que eu estou aqui – ela colocou uma mão no peito dele – E aqui. – Os dedos esguios se infiltraram nos fios negros do cabelo dele, fazendo um carinho agradável.

— Sempre.

Ele fechou os olhos aproveitando o toque, o carinho. Aquilo que acontecera na lanchonete o fez perceber que não podia deixa-la ir.

Ela depositou um beijo nos lábios dele. Longo e calmo, quase parado. Era um pouco diferente dos outros, ele carregava todas as incertezas e inseguranças que eles compartilhavam. Corações jovens que não estavam prontos para serem partidos.

— Eu ainda vou encontrar meu caminho de volta para o meu paraíso de verão.

Ela piscou, sorrindo.

— O que você disse?

— Você ouviu o que eu disse. Por quê?

Ela deu risada.

— Nada. Só que você usar “Paraíso de Verão” foi engraçado.

— Engraçado por quê?

— Thalia e eu sempre usávamos isso.

Ele assentiu por alguns segundos e virou o corpo, deitando a garota na canga.

— Espere aqui, tudo bem?

Ela concordou, sentando um pouco. Tentou prender o cabelo, mas ele sempre voltava a se soltar.

O coração do garoto afundava conforme ele ia se levantando para longe dela. Ele só iria até o carro, mas sabia que em algum momento iriam para lugares mais distantes. Muito longe.

A garota abraçou as próprias pernas, evitando que a água chegasse até elas. Ela já sabia o fim daquela história antes de ter começado.

Ela mandou uma mensagem com o celular praticamente intocado e voltou a encarar o mar.

O biquíni azul contrastava com a pele clara e o cabelo incrivelmente dourado. Ele gostaria de saber o que fazer para poder voltar para o início do verão e vê-la daquele jeito para sempre. Ele havia feito algumas coisas idiotas ao longo do verão, mas provavelmente não as mudaria. Isso só serviu para uni-los.

— Então… – ele murmurou sentando ao lado dela. –Eu sei que você detesta clichês, mas planejei coisas ridiculamente clichês para hoje. – ela sorriu revirando os olhos. – Você já deve ter notado. Estamos em uma praia linda, nosso almoço foi praticamente um piquenique, se você olhar para a esquerda, – ela encarou o espaço que ele indicou – verá nossos nomes escritos na areia, e agora… Isso.

Quando ela finalmente parou de encarar o modo como os nomes deles ficavam bonitos escritos juntos na areia, encarou o que ele tinha nas mãos.

Era um daqueles colares simples, feitos com barbante trançado e uma pedra pendurada na ponta. Aquele tinha uma pedrinha azul.

Ela permitiu que ele passasse o colar por seu pescoço e o depositasse ali.

— É lindo. – ela encarou os olhos dele – Obrigada.

— Vem cá. – ele murmurou, puxando-a novamente para os seus braços e os deitando.

Ela depositou outro beijo nos lábios dele. Pareciam desesperados por beijos, sentindo suas últimas oportunidades irem embora.

— Me diz… – ela tentou começar, meio incerta. – Que… Você vai me ver de novo.

Ele fazia carinho nas costas dela, subindo lentamente.

— Eu farei tudo o que puder.

E ele não precisou dizer mais nada. Ela acreditou naquelas palavras. Sabia que ele realmente faria, se o disse.

— Eu daria mil dias, só pra ter mais um com você.

Ela se enroscou no peito dele, querendo nunca ir embora, apesar de precisar.

Ele se lembrava da primeira vez que se beijaram, embaixo das estrelas, e de como ele nunca se sentira tão exposto, levando alguém naquele lugar. Ele não tinha nada de especial, mas seus ambientes para ficar com garotas sempre foram outros. Aqueles com camas, lençóis e travesseiros sempre tiveram preferência.

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Ela pegou uma das mãos dele e a entrelaçou na própria. Era engraçado como algumas mãos conseguem se encaixar tão bem, mesmo sem esforço. Parecem simplesmente feitas para estarem juntas.

— Você precisa ser tão clichê Jackson?

— Eu te prometi uma tarde de clichês, não? – ele riu, mas suspirou logo em seguida. – A vida real podia esperar. E nós podíamos ficar aqui pra sempre.

Ela suspirou apoiando-se nos cotovelos e elevando o corpo.

— Podia… Mas não vai. Depois de amanhã eu preciso estar indo pra universidade. E você também. Thalia vai continuar em NY, não sei quanto a Nico… Mas a vida não vai parar porque nós precisamos.

— Nico vai para Duke comigo. – ele ficou em silêncio por quase um minuto. – É tão injusto.

— Eu sei.

Ela levantou a cabeça ao ver o próprio carro parar ao longe com Thalia no volante, esperando-a. Mesmo a morena no carro mantinha a cabeça baixa, apoiada no volante.

— Preciso ir.

— O que?

— Thalia veio me buscar. Mandei uma mensagem com o endereço. Não ia… Você sabe. Conseguir, caso você me levasse.

Ele assentiu, jogando a cabeça para trás.

— Não vá. – ele pediu enquanto acariciava o rosto dela. – Ainda é cedo. E eu não vou conseguir me despedir.

— Então não se despeça. – ela exclamou, sentando num pulo no abdômen dele.

Ela estava tentando ser forte pelos dois. Tinha de ser. Precisava ser.

— Parece fácil falar. – ele murmurou enquanto sentava, dando beijos no rosto dela.

— É fácil. Vai ser fácil. Não confia em mim?

Ele rolou os olhos, apoiando as mãos nas pernas dela, fazendo um pouco de força.

— Claro que confio. Mas sei quando você mente. E você está mentindo.

Ela sorriu de lado.

Terminou aquilo com mais um beijo, intenso. Aproveitando os últimos segundos ao lado dele. Não queria deixar os lábios dele.

Ele sentia o gosto salgado da boca dela e desejou que a vida parasse ali, ele não se importaria de beijá-la para sempre.

Ela se levantou num pulo, juntando as coisas e enfiando tudo na bolsa que trouxera. O colar balançando em seu pescoço se acostumando.

Ele levantou também, batendo a areia do short branco.

— Eu já vou.

— Eu te acompanho até lá.

— Não. Por favor. Fica aqui. – ele queria negar, contra argumentar, mas não queria estragar aquele último dia. – E nem vá até o hotel, por favor.

Ele abaixou a cabeça e finalmente encontrou a tristeza no rosto dela, colocou uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha.

— Eu quase esqueci! – ela exclamou, revirando a bolsa, – Aqui. – Estendeu um pote com um conteúdo amarelado, ficando vermelha imediatamente. – Fiz o mousse que você gosta.

Ele deu uma risada ante a aparente timidez dela, e negou com a cabeça.

— Vou comer.

— Sei que vai. – ela sorriu.

— Estou indo. – ela colocou as mãos nos ombros dele para mais um beijo. – Eu…

As três palavras quase sairam da boca dela. Ela sentia aquilo. Havia se passado tão pouco tempo, mas tudo o que sentira fora mais intenso do que qualquer outro relacionamento. Mas ela não pronunciaria aquilo, pareceria loucura. Quem pode amar em tão pouco tempo?

— Eu vou sentir sua falta. – disse por fim, e disparou em direção ao carro, não dando chance do moreno corresponde-la.

Ele ficou ali com o pôr-do-sol que já não parecia tão romântico. Finalmente se permitira ser engolido pelas milhares de lembranças do verão, todos os finais de tarde que compartilharam. Mas antes de se afundas nas lembranças de uma vez por todas viu o carro se afastar levando a loira de volta para a sua vida e o mar finalmente cobrir seus nomes na areia.