ParaLelo

A fenda de um universo paralelo


de: João Pedro

para: Bruno Garcia

30 de nov. de 2019 21:00

assunto: Re:Estou bem

enviado por: hotmail.com

assinado por: hotmail.com

Bruno

Eu já havia ouvido falar sobre setealém, mas para ser sincero, nunca havia acreditado nisso.

Agora estou tendo minhas dúvidas.

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Depois do seu e-mail, resolvi fazer uma pesquisa extensa.

Você tem entender uma coisa sobre mim: eu tenho a tendência de ficar obcecado por assuntos. Mal de ser um escritor em criação (sim, eu trabalho em uma editora e quero ser um escritor, sou um clichê ambulante). Quando nosso amigo se tornou figura comum em minha vida, tudo o que eu queria entender era a razão de aquilo estar acontecendo. O resultados foram os livros e cadernos que encontrou.

Quando ele sumiu, tudo o que eu queria entender era a razão de ele ter ido embora. Foi quando eu entendi que talvez minha obsessão não era apenas com o sobrenatural da situação, mas com ele. Então resolvi que seria melhor deixar ir.

Até você entrar em contato comigo. Agora cá estou de volta, atolado em livros e sites e fóruns de pesquisa, com três dias de café e perguntas.

Foi o mais vivo que me senti nos últimos tempos e agradeço por isso.

Se não foi o umbral que experimentou - e acredito em você quando fala sobre ter sido uma experiência física, porque a minha também foi. Ponderar sobre isso me deixou insone por muito tempo -, então, por mais absurdo que seja, uma realidade paralela não está fora da mesa. O que você disse faz mais sentido do que deveria, principalmente em relação às suas experiências mais intensas com ele.

Eu fiz um coletânea dos relatos que encontrei que parecem os mais confiáveis, a sirene que disse apareceu em dois deles. Vou enviar o link para que dê uma olhada.

Se cuide e me deixe informado.

Fico feliz que esteja indo tudo bem no trabalho, Thiago é uma ótima pessoa, está em boas mãos.

P.S: Estou surpreso de ser o 'crush das velhinhas', não esperava por isso.

Atento à sua situação.

O cara estranho.

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de: Bruno Garcia

para: JotaPedro@hotmail.com

01 de dez. de 2019 09:00

assunto: Universos paralelos

enviado por: gmail.com

Caro estranho

Que bom que assumiu seu papel de estranho, caro estranho.

Eu agora te imagino como um cara que usa blusa de gola alta, sentado em uma poltrona de frente a uma janela de vidro, vendo a chuva caindo enquanto segura uma caneca de café (cappuccino com dois marshmallows por cima) e escreve sobre seu próximo romance. Você apenas tem aquele ar de escritor atormentado e solitário. Tipo aqueles caras que décadas atrás moravam em sótãos de pousadas, com uma máquina de escrever como amiga, que morriam de tuberculose e se tornavam famosos anos depois da morte.

Sem ofensa.

Eu acho isso super bacana. Quem sabe eu que não sou o estranho da história?

Pois bem. Setealém. Com o perdão da palavra: taquipariu.

Não aconteceu novamente, ainda, mas notei John mais alerta. Ele realmente não me quer indo lá. Lendo os relatos eu entendo, há muito depoimentos sobre como não somos muito bem-vindos por lá, mesmo eles estando bem cientes que de vez em quando vamos por acidente.

Prefiro não repetir a experiência.

John concorda, claro. Estamos melhorando nossa comunicação, agora que sei que ele não é apenas uma aparição. Estou ensinando sinais para ele.

Eu tenho tantas dúvidas, que nem sei por onde começar. Por exemplo, quando fui para (fico repetindo lá porque não sei se devo chamar de setealém ainda ou não) eu estava físico e presente, mas quando John vem aqui ele parece menos sólido. É como se ele fosse apenas um espectro, ou uma imagem sobreposta. Os dois apartamento, daqui e de lá sobrepostos com nossas imagens caminhando juntas, nos nossos mundos, mas os reflexos aparecendo no do outro. Entende? É minha teoria.

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John está aparecendo menos. Talvez eu esteja um pouco obcecado com ele também, porque não fico feliz com isso.

Meu consolo é que ele também não parece feliz. Será que sou o único amigo dele? Qual será o tipo de vida que ele leva por lá? Ele me parece tão solitário, vivendo em um apartamento sujo e sempre sentado naquela poltrona e olhando pela janela. Esperando, não sei o quê.

Eu me preocupo com você também, espero que não ache estranho.

Você e John tem muito mais em comum do que havia percebido.

Espero que assim como John, me considere um amigo.

P.S: Aposto que tem um quadro de teorias na sala.

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de: João Pedro

para: Bruno Garcia

01 de dez. de 2019 22:00

assunto: Re:Universos Paralelos

enviado por: hotmail.com

assinado por: hotmail.com

Bruno

Você fez uma descrição assustadoramente próxima. Tem certeza que não é um vidente? Amo minha camisa de gola alta verde musgo, que finalmente posso usar longe desse calor escaldante em que agora você vive.

Eu sou o escritor atormentado que morreria de tuberculose anos atrás. Eu só espero fazer sucesso antes da minha morte.

Eu tenho até o quadro de teorias, admito.

Quanto a você, já que me descreveu, te vejo como aquele estudante que mora em um apartamento minimalista, vivendo de macarrão instantâneo e café (quando não recebe as ofertas de todas as senhoras que te amam como neto delas e vai comer lá), que é fã de seriados de investigação policial e decora as falas do seus filmes preferidos. Que quando era criança chorava quando algum animal se machucava e que até hoje tenta ajudar todo mundo, mesmo com o risco de não receber nada em retorno.

Acertei?

Eu fiquei pensando em sua teoria o dia inteiro. Eu fico imaginando o que há de especial nas pessoas que conseguem 'navegar' entre as duas realidades paralelas. Se pode definir isso como um reflexo (já que falou dos apartamentos sobrepostos) isso significa que as mesmas pessoas que existem lá, existem aqui? Será que essas pessoas que navegam são únicas por alguma razão, como por exemplo, de haverem outros deles no outro universo ao mesmo tempo?

Sobre John, ele tem razão de estar preocupado. Setealém parece um lugar fascinante, mas não muito seguro. É bom que ele esteja preocupado, estamos na mesma página. Prova que nós dois estamos preocupados com você e que tem alguém aí para te impedir de fazer algo estúpido regado por sua imensa curiosidade.

Sem ofensa também.

E sim, eu te considero já meu amigo. Você tem algo familiar em suas conversas, é quase como se fosse aquele velho amigo com o qual não conversava há muito tempo e que de repente retornou contato. Sabe aqueles amigos que ficam em rádio em silêncio por meses e do nada te enviam um meme e é como se nenhum tempo houvesse passado? É essa a sensação.

Aguardo notícias.

Cara estranho.

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de: Bruno Garcia

para: JotaPedro@hotmail.com

02 de dez. de 2019 07:00

assunto: O sósia.

enviado por: gmail.com

Caro estranho

Me chame de Mãe Dináh, é o que sempre digo. Para quem? Não sei.

Mas ei, não se preocupe, se publicar eu com certeza vou comprar seus livros. Nem pense em desanimar.

Mas tenho que falar que inicialmente achei seus talentos de dedução em falta. Estudante que come macarrão instantâneo e toma café é meio que uma característica bem geral em todos nós, junto a ansiedade e ter algum professor com um currículo lattes recheado, mas que não sabe como ligar o retroprojetor. Menti? Não menti.

Mas aí veio a segundo parte. Tinha um crush em Nick do CSI de tanto que assistia e sei todas as frases decoradas da múmia de 1999. Não recuso um almoço na casa de ninguém, porque não sou nem besta. Sim, já chorei por muito passarinho machucado na minha vida. Não sei sobre isso de tentar ajudar todo mundo, mas com certeza já fui chamado de trouxa por muita gente.

Porque aparentemente a norma é ser uma pessoa mesquinha, ajudar o outro te faz uma exceção. Por que estamos tão acostumados a esperar o pior das outras pessoas?

John e você realmente tem muito em comum, até o mesmo discurso. Aposto que tem o mesmo olhar reprovador dele sempre que esqueço de beber água.

Sobre Setealém, eu li algo interessante ontem! Sobre uma mulher que foi parar lá e conheceu uma outra mulher que ajudou ela a se esconder 'quando uma sirene começou a tocar' que indicava, de acordo com essa mulher de lá 'que notaram que ela estava lá.' Então é bem como você disse. Essa mulher de lá também disse que ela era daqui, mas que não conseguiu voltar e acabou sendo aceita por elas, casou e teve uma filha. Agora ela não podia voltar, porque teria que deixar a filha para trás, já que ela pertence ao mundo de lá.

Ela pediu a mulher que foi parar lá por acidente para procurar a mãe dela e avisar que ela não estava morta, mas viva e naquele lado.

Eu fico me perguntando, quantas pessoas desaparecidas não foram parar em Setealém, ou outro universos paralelo, e ficaram presas por lá?

Há tanto que não sabemos.

Então eu entendo a preocupação, porque eu também fico preocupado. Se eu sumir pelo menos uma pessoa sabe da situação, certo?

Meu Deeeus, sua teoria sobre o espelho faz um sentido (na verdade nada faz sentido nisso tudo, mas ao mesmo tempo faz?) e eu me pergunto a mesma coisa agora. Será que existe um John do lado de cá?? Será que a gente conseguiu contato com ele, porque temos que encontrar o John do lado de cá???

E essa moça que ficou presa lá, será que a versão dela de lá ficou presa aqui????

Tenho mais uma novidade: eu andei conversando com algumas pessoas do prédio, se já viram algo estranho também, para testar a teoria se realmente tem uma 'fenda' aqui para o lado de lá. E adivinha? Descobri coisas interessante.

Quatro das pessoas com quem falei relataram 'sonhos estranhos' que não tinham certeza se eram sonhos. Pessoas nos corredores que pensaram que era alguma visita de alguém no meio madrugada, para depois descobrirem que ninguém assinou visita na portaria. Dona Mercedes comentou que um dia, antes de você até morar aqui, deu maior confusão com uma mulher exigindo entrar porque morava no prédio e que a polícia foi chamada pela balbúrdia, apenas para não a encontrarem mais.

No entanto, você estava certo, nunca houve nada de diferente no nosso apartamento. Até você vir, pelo jeito. Eu consegui até contato com um antigo morador, mas ele disse que não havia nada de errado.

Interessante, não é?

Eu estou tentando cavar mais ainda, descobrir se tem algum envolvimento com a construção do prédio, talvez algo que existisse antes no lugar. Eu vi que anotou sobre isso, vou puxar o gancho de lá. Se tiver algo sobre para me ajudar, eu agradeço demais!

Me deseje sorte!

P.S: Sobre o que mais gosta de escrever?

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

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de: João Pedro

para: Bruno Garcia

03 de dez. de 2019 20:00

assunto: Re:O sósia

enviado por: hotmail.com

assinado por: hotmail.com

Bruno

Você é incrível. De verdade. As coisas que está descobrindo em tão pouco são um reflexo não só da sua curiosidade, mas do quanto é brilhante. Se com sua idade já é assim, só quero imaginar daqui uns anos como vai ser.

Agora estou ainda mais intrigado.

Posso te ajudar na sua busca: esse prédio data de 1953, ele é bem antigo sim. Abaixo dele havia uma apotecária, que foi vendida pelos antigos donos e derrubada. No início não tinha tantos andares, eles foram feitos depois. Ele foi feito como prédio comercial. Brevemente entre os anos 70 e 80 eles foi esvaziado por um tempo e invadido por moradores de rua, mas no começo de 80 foi reapropriado e depois de uma reforma se tornou um residencial, desde então não foi mexido na estrutura, por ser considerado patrimônio da cidade

Você pode ver que quase todos os prédios da rua são assim, antigos, apesar de serem relativamente bem conservados.

Vou aguardar para saber o que fará com essas informações!

John está certo, beba água. Que bom que alguém está de olho em você por aí.

O que me contou é fascinante e preocupante em igual escala. Eu havia visto sobre as sirenes, como falei. Me conte se as ouvir de novo.

Sobre o que gosto de escrever? Suspense policial é um favorito. Eu gosto de criar pistas e resoluções de mistérios.

Eu sou apaixonado por mistérios, Bruno. Confesso. Acredito que percebeu.

Fico feliz que pelo menos alguém compraria um livro meu haha, mas não diga isso antes de ler nada!

Do seu amigo.

Cara estranho.

P.S: Conhece o trabalho de Stephen Hawking?