Paizão Adolescente

Aquele que voltou a ser adolescente... Mike Torrance com 17 Anos


Conversava tranquilamente com o meu ex-treinador quando uma mulher da faxina se meteu entre nós. A inconveniente se virou para nós e eu quase tenho um troço quando a vejo. Como assim? Eu a demiti poucas horas atrás, não dava tempo dela entrar num outro emprego, e ela não tinha um segundo emprego pois saía depois das quatro da tarde. Desirée é, por acaso, uma bruxa.

— Pode sim. Mas seja breve, pois terei aula prática daqui a pouco.

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— Com licença... Senhores — ela disse olhando para mim e deu uma piscadinha de olho. Congelei até a alma.

Desirée. Pouco se sabe sobre ela. Eu nem sabia que ela existia até hoje, mas resolveu se mostrar para mim de um jeito meteórico. Desrespeitou-me na minha sala, foi demitida e agora me aparece feito uma alma penada trabalhando de faxineira da escola. Deve ter acontecido um erro na Matrix, é a única explicação.

— Mike!

— Oi!

— Tá no mundo da lua, rapaz.

— Foi mal. Treinador, já estou indo... Melhor, vou dar uma checada na minha filha — peguei meu celular e fui verificar o horário. Era o momento exato do intervalo.

Saí da quadra ainda pensando naquela mulher, mas tive que esquecer assim que eu vi Jessica. Minha filha era uma típica adolescente de 17 anos, bonita, morena de cabelos pretos, olhos claros e um tanto popular entre as amiguinhas. Aproximei-me dela e dei-lhe um beijo na sua testa. Ela ficou encolhidinha no armário com vergonha. Tão fofinha a minha menininha.

— Pai, tá me deixando com vergonha.

— Não precisa ficar com vergonha de mim. Decidi que vou ficar aqui até a aula de vocês acabar. Vou levá-los para casa.

— Esse é seu pai? Ele é um gato! Com todo o respeito — disse uma jovem loira que estava acompanhada de uma jovem morena e outra ruiva. O que era aquilo? As patricinhas de Beverly Hills?

Fomos todos para o refeitório da escola. Ficamos sentadinhos. Eu fiquei verificando alguns emails pelo celular enquanto as moças se divertiam batendo papo, verificando wattsapp, instagram ou caralho a quatro. No meu tempo, anos 90, as pessoas eram mais sociáveis. Conversávamos mais pessoalmente. Hoje temos amigos até no inferno que dá para nos comunicar.

— Conversou com a mamãe?

— Hoje ainda não. Quando eu levá-los para casa, terei uma conversa com ela. Ainda não entendo o porquê dela cismar em se divorciar de mim.

— O senhor não entende, não é? Se olhasse para ela por alguns minutos entenderia que ela está triste com a sua ausência. Mas tudo bem, não vou repetir.

Fiquei observando alguns alunos no refeitório. Apesar de ter mudado um pouco, aquele ambiente era o mesmo. Passei meus olhos por todo o canto quando vi as amiguinhas de Jessica, as patricinhas, me comendo com os olhos. Acho que elas não têm medo de serem "pedofiladas", só pode. E depois sou eu quem vou preso.

Após o término da aula, levei meus filhos para casa. Era a casa onde eu morava até ontem. Sair de casa foi tão repentino que minhas coisas ainda estão lá.

Meus filhos fizeram um silêncio sinistro. Tentei até quebrar o gelo, porém achei mais apropriado apenas levá-los para casa. Estacionei meu carro na garagem. Ambos saíram em disparada sem ao menos se despedirem. Eu também desci do carro e entrei. Meu cachorro pastor alemão veio correndo da sala e ficou brincando comigo.

— Fester! Você está com a pata enfaixada?

— Ele teve uma infecção por bactéria na pata e eu tive que fazer uma cirurgia. Isso faz uma semana, mas, se tratando de você, eu não estranho o seu desconhecimento.

Annelise era uma excelente veterinária. Sempre sonhou em ser uma e conseguiu. Apesar da idade, ela ainda era muito linda e estava em forma. Ainda é a mesma líder de torcida que eu namorei e conheci desde a mocidade.

— Mike, veio saber sobre o divorcio?

— Claro que sim. Sua advogada me notificou ontem.

Ela me chamou para conversar na parte externa que ficava ao lado da casa. Sentamos à mesa de pedra que ali ficava. Ela olhou séria para mim.

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— Qual mulher se sente feliz com um homem que não dá atenção? Mike, você é esse tipo de homem.

— Está me acusando de ser negligente? Eu propiciei um bom conforto a vocês. O meu salário é alto o suficiente para ninguém reclamar. Eu não entendo, Ann.

— Mike, seu problema é que você não consegue enxergar que mudou, e para pior. O cara que eu me apaixonei por ser gentil, por ser atencioso. Aquele que decidiu viver comigo e não fazer a bolsa de estudos em Nova Iorque. Aquela pessoa eu sinto falta, o Mike humano. Você reclamava tanto do seu pai que acabou ficando pior que ele.

— Mas por que não me disse antes?

Annelise encostou a mão no meu rosto e sorriu... logo depois fez cara de psicopata. Sério que eu mudei tanto assim nesses últimos 25 anos? Não é possível.

— Não é que eu não disse antes. Você que é teimoso e sempre achou, ainda acha, que é o dono da razão. Quando a sua esposa e seus filhos dizem que você é um pai e marido ausente, acredite neles.

O papo não tava muito bem. Piorou quando a melhor amiga da minha esposa chegou em casa. Sabe quando você tem uma esposa e ela sempre tem pelo menos uma amiga alcoviteira que vive metendo o nariz onde não é chamado? Pois é. A mulher chegou bem na hora que conversávamos. Esse tipo de ser humano merece ser estudado pela ciência, porque parece que tem poderes de prever o futuro. Como ela soube que eu viria aqui em casa? De tantos dias e horários que ela poderia vir, resolveu aparecer no dia e na hora em que estou. Coincidência, não? COINCIDÊNCIA É O CARALHO! Essa mulher deve ficar atrás de uma moita espreitando aqui em casa.

— Olá, Mike. Veio pedir perdão de joelhos depois de aprontar?

— Nunca traí a minha esposa, Dora. Além de nunca ter traído, eu nunca fofoquei a vida alheia.

— Insinua que estou xeretando na sua vida, Mike? Eu não preciso me esforçar para saber um podre seu. Você mesmo se auto-destrói.

— Chega os dois, por favor. Dora, o que quer?

— Eu resolvi te pedir uma ajuda. Sobre meu gato que tá doente.

— Mike, agora eu vou ficar ocupada. Acredito que não temos mais nada para conversar. Se quiser ficar aí pode ficar, afinal ainda estamos casados.

Sério que um maldito gato é mais importante do que eu? Fiquei chocado com aquilo. A minha vontade era de fazer um churrasco com aquele gato e enfiar o espeto na dona dele. Decidi sair dali e voltar para a casa de Jack. O dia foi intenso para mim.

Cheguei à mansão do meu amigo. Era um local bem grande, parecia uma triplex. Jack era rico, nasceu em berço de ouro e teve tudo o que quis, por isso não se preocupava muito em trabalhar e só vivia como fã de animes e personagens de filmes e quadrinhos. Nunca entendi como um cara de 40 anos consegue ser mais moleque que os moleques. Estacionei o carro na garagem e entrai na casa. A sala era bastante espaçosa e as paredes brancas deixavam-na ainda mais ampla. Jack tava lá fantasiado de sei lá o quê.

— E agora, que fantasia é essa?

— Estou de Gandalf

Hã?

— Gandalf. Meu Deus do céu, você viveu numa caverna nesses últimos 17 anos? Gandalf é um personagem da trilogia do Senhor dos Anéis. Cara, você precisa viver de novo, é sério isso.

Eu estava tão cansado que acabei me sentando no sofá da sala. Minha cabeça estava a mil e latejava de dor.

— Tá com a cara um pouco abatida. Vou nem perguntar como foi teu dia porque já sei a resposta. Se encontrou com a Anne e não chegou a lugar algum, e de quebra alguém chegou para atrapalhar.

— Visitei a escola hoje. Há anos eu não pisava naquele lugar. Joguei até um pouco de basquete e vi o treinador depois de tantos anos.

— Cara, não sei se eu teria essa sua coragem. Nos tempos de Saint Marko eu sofri tanto bullying. E era anos noventa, imagine hoje — ele me entregou uma latinha de cerveja e fiquei bebendo. — E os seus filhos?

— Ainda estão chateados comigo...

— Bom, já havia me esquecido. Vou sair hoje para um evento na casa de um amigo e terei que te deixar sozinho aqui. Vai ficar bem? — fiz sinal positivo. — Que bom. Toma conta da casa. Provavelmente só chegarei amanhã mesmo.

Jack me passou os dez mandamentos de como ser um bom hóspede naquela casa. Ele é pirado naquela residência luxuosa, diga-se de passagem. Seus pais são donos de uma cadeia de hotéis e bastante ricos. Tanto que aquela mansão é uma das mansões da família dele. Jack pegou o seu porsche preto e foi embora me deixando sozinho naquela casa. Tranquei todas as portas e janelas e fui para o quarto de hóspede trabalhar. Peguei o meu notebook e continuei o trabalho ali mesmo.

— Que belo dia foi o meu.

Escuto um barulho de trovão. Observei pela janela que chovia enquanto relampejava. Provavelmente cairá uma tempestade na cidade. Los Angeles precisava, era muito quente. Enfim, não liguei muito para isso e retornei para o trabalho. Escutei algo como se fosse passos vindo do térreo. Puta merda, só me faltava essa... A casa era mal assombrada. Minha vida já é uma assombração.

Desci pensando que era meu amigo. Talvez tenha se esquecido de algo importante, no entanto a sala estava escura. Apaguei as luzes antes de subir e agora que desci estava do mesmo jeito. As janelas e portas estavam todas trancadas. Senti um vulto passar do lobby para a sala de estar. Meu Deus, um fantasma! Engoli em seco e fui para a sala e acendi a luz. Apareceu... Pior do que um fantasma!

— Quem é?

Uma mulher estava sentada no sofá da sala. Ela se vestia de preto, com lantejoulas, olhos profundamente maquiados e cabelos pretos que iam até a cintura. Era a filha da Mortícia?

— Não está me reconhecendo, ex-chefe?

— De... De... Desirée? Está diferente.

— Eu costumo me vestir de várias formas. Sou eclética quanto a isso.

— Espera um pouco. Como entrou aqui? Tranquei tudo!

— Isso é segredo. Mentira, eu vou contar. Na verdade eu sou uma feiticeira e a minha missão é ajudar as pessoas a se tornarem pessoas melhores e... EI!

A peguei pelo braço e estava prestes a colocá-la no olho da rua.

— Ouvi muita besteira o dia todo para você chegar aqui e me falar disso. Não se cansou de ter me feito aquela pegadinha na escola? Faça-me o favor, não acredito nem em algumas coisas da nossa realidade quanto mais nessa baboseira.

— Baboseira? Mudo.

— ...

Tentei falar algo, porém a minha voz não saía. Eu estava completamente mudo. Ela me pegou pelo braço e me sentou no sofá. Eu fiquei desesperado sem a minha voz.

— Agora acredita? — ela estalou os dedos e voltei ao normal.

— Como fez isso?

— Eu estou te observando há muito tempo. Parece mentira mas eu sou muito mais velha que você. Eu sei que tenho rostinho de vinte, mas fazer o que né... As feiticeiras possuem a expectativa de vida dez vezes maior que a dos seres humanos.

— E o que quer comigo?

— Eu sei quem é você desde que tinha dezessete anos. Estava lá quando você ganhou o campeonato contra os Shawns. Desde então você foi para o fundo do poço, hein? — ela materializou duas cervejas, deu-me uma e ficou com a outra. — Tornou-se uma pessoa ambiciosa e autoritária. Tem vergonha na cara não?

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— Quem você pensa que é para me dar lição de moral?

— Você na minha frente ainda é uma criança. Aliás, mesmo se você tivesse 100 anos ainda seria um bebezinho na minha frente. Portanto, me respeite. Estou aqui para te falar algo muito importante. Queria que o tempo voltasse e consertasse tudo de ruim que aconteceu com a sua família?

— Por acaso possui alguma máquina do tempo?

— Que saco, viu? Colocar juízo na cabeça da Britney Spears foi bem mais fácil. Seguinte, amanhã, quando você acordar, terá uma surpresinha. Tente se olhar no espelho e não gritar. Vai ser uma pena, eu te acho mais bonito agora do que como ficará pela manhã.

— Espera! Eu vou virar um ogro? Eu odeio Shrek!

— Nos veremos brevemente. Isso só vai acontecer quando eu quiser e ponto final. Beijinho no ombro pra você, meu amor. Se vira.

Ela simplesmente virou fumaça e sumiu... Fumaça rosa! Acho que bati a cabeça e tava delirando. Fui pegar mais umas latinhas de cerveja e me acabei bebendo no quarto. Estava tão cansado que acabei dormindo com o notebook ligado em cima da cama.

...

Tive um sonho estranho noite passada. Sonhei que aquele estrupício da Desirée era uma bruxa e que estava na casa do meu amigo. Levantei-me da cama ainda um pouco abatido pela leva de cervejas que havia bebido. tenho que parar com isso. Ainda é terça-feira e tenho que trabalhar.

— Já acordou, Bela Adormecida? — disse o Jack atrás da porta.

— Tive um dia difícil ontem.

— E que raios de voz é essa? Parece voz de adolescente.

— Acho que acordei um pouco doente.

— Certo. Depois desce aí que estou preparando o café.

Eu realmente estava me sentindo mal. Até minhas roupas estavam um pouco folgadas. Não tenho barriga, mas sou mais forte com 42 anos do que quando eu era mais novo. Retirei as roupas e coloquei o roupão. O quarto de hóspede era bem grande e possuía banheiro próprio. Entrei, abri o armário para pegar o creme de barbear e a lâmina. Passei a mão no rosto e não tinha barba? Será que eu fiz ontem? Olhei-me no espelho. Opa! Para tudo, para o mundo! Olhei mais uma vez. Que merda é essa?

— AAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!

Eu estava olhando para o meu reflexo de vinte e cinco anos atrás. A história da Desirée era verdadeira, ela me transformou em adolescente de novo. Minha vida que já estava complicada... AGORA TÁ UMA PORRA!

CONTINUA...