Outro alguém

Capítulo 3


Hayato reconheceu o par de sapatos extra assim que entrou no apartamento, afinal não tinha muita gente na sua lista de contatos que podia se dar ao luxo de comprar algo de uma marca famosa e menos ainda que gostava daquele estilo. Imaginou que veria o sócio aprontando mais uma com seu namorado, dando em cima dele ou sentado perto demais, mas a imagem mental foi destroçada ao encontrá-los jogando videogame em sua sala.

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— Por isso você não apareceu na cafeteria… – Hayato murmurou ao adentrando o cômodo, sendo recebido pelo namorado que se aproximou para cumprimentá-lo com um selinho.

— Algo pra resolver por lá? – Mikaru questionou de volta, mostrando que o escutou, mesmo sem encará-lo.

— Não, nada de mais. É que você costuma passar sem falta na metade do mês.

— Hm… abri uma exceção. Passo lá amanhã. – deu de ombros, despreocupado, retomando o jogo quando Shiroyama voltou para seu lado.

— Estão parecendo dois adolescentes. – Hayato riu baixinho, apoiando o corpo contra o encosto do sofá, observando-os por um instante. Takeo tinha aquele semblante de quem está sempre pronto pra aprontar, mas era raro ver Mikaru tão descontraído e relaxado. Nunca imaginou que ele soubesse jogar! – Pelo visto não vão parar tão cedo. O jantar fica por minha conta.

— Não exploda a cozinha!

Mikaru não segurou o comentário irônico, recebendo um olhar incrédulo do vocalista que não perdeu tempo em tentar retrucar, mas foi interrompido por Takeo, que o encarou divertido, inventando uma tradução para o suposto pedido.

— Mikaru disse mais cedo que queria omurice.

— Hei! Eu não disse isso!

— O seu é muito bom, Hayato! Hora de pegar esse ranzinza pelo estômago!

— Eu não concordei em comer aqui!

— Ótimo, porque eu também não disse que ia cozinhar pra você. – Hayato se afastou quando Mikaru retrucou de volta, indo se trocar antes de começar o jantar. Ao passar novamente pela sala, ouviu Takeo reclamar por estar perdendo, já que Mikaru havia descontado nele a respeito da brincadeira sobre o que queria comer.

* * *

Não que Hayato quisesse agradar o sócio, mas Takeo tinha razão; ele era bom em preparar aquilo. Quem não conseguia preparar algo tão simples? Exceto Mikaru, claro… E não custava fazer algo que um amigo gostava… Pelo que conhecia dos pais dele, duvidava que algum dia tivessem preparado algo que ele quisesse comer. Apesar que, se fosse o contrário, duvidava que Mikaru fizesse por ele.

Voltou para a sala assim que terminou de preparar a comida, parando no batente ao notar o teor da conversa.

— E por que ele contou isso justamente pra você? – Mikaru questionou fingindo desinteresse, mas desviou o olhar da televisão para ouvir a resposta.

— Acho que ele queria contar pro Hayato, mas não deixei. – dessa vez quem venceu a partida foi Takeo, aproveitando a distração que causou – Quais as chances de procurar por ele?

— Abaixo de zero.

— Pensa pelo lado bom, se der errado de novo, você vai estar com tanta raiva, que vai terminar de um jeito que ele não vai querer te ver nunca mais!

— Você é um maldito sádico filho da mãe!

— Mãe que você queria ter e chama de tia, então não fale dela assim.

Hayato guardou o celular rindo baixinho, adentrando a sala e interrompendo a briga infantil, acenando com um gesto para a cozinha.

— Está pronto, meninos.

— Acabou a brincadeira… – Mikaru entregou o controle para Takeo, se levantando do chão – A gente se fala, Shiro.

— Hei, eu fiz pra você também! Mesmo que você seja um ingrato e não mereça.

— Não vou comer comida envenenada.

— Oh, fazia tempo que você não me acusava de tentar te envenenar. – Hayato sorriu de canto, se aproximando mais – O que eu fiz pra te chatear?

— Nada, na verdade. – Mikaru deu de ombros, olhando divertido para Takeo – Mas como estou livre agora, vou voltar pro plano A e tentar conquistar o Shiro de novo. Imagino que você vá voltar com a ideia que tinha de mim.

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— Como você é amável! – Hayato comentou ácido, encarando-o incrédulo. Esperava que o sócio não desse em cima do seu namorado, nem de brincadeira – Eu não achei que Katsuya merecesse mais uma chance depois de descobrir o que ele aprontou com você, mas visto suas intenções pra cima do meu noivo, acho que voltar com ele seria um ótimo castigo, pros dois. Vocês se merecem!

— Hmm alguém está azedo… – Takeo se afastou dos dois, contornando Hayato pelo lado mais longo da sala e apontando para a cozinha com um sorriso zombeteiro – Vamos continuar a discussão enquanto comemos? Quem sabe não rola uma guerra de comida!

* * *

Shibuya contava animado sobre seu último passeio por Akihabara e as aquisições que havia feito. Desde simples mangas até itens super raros e colecionáveis; nada passava batido pelos olhos do otaku.

Hayato escutava atento, aproveitando a calmaria no café para apreciar a companhia do primo. Fazia alguns dias que não o visitava e nem tinha notícias de sua tia, então vê-lo por ali foi uma surpresa muito boa.

— … e o maid cafe agora tem butlers! – Shibuya sacou o celular, procurando as fotos que tirou com os funcionários, passando o aparelho para o primo conferir – O uniforme deles é muito legal! Alguns tem orelhinhas de gato e rabinho felpudo!

— Que fofos, Jin. Parece um bom lugar. – apesar que Hayato não costumava frequentar aquele tipo de cafeteria. Eram fofas e um prato cheio para os otakus, mas o exagero no atendimento às vezes o deixava constrangido – Hei, espera. E esse aqui? Esse rapaz de costas?

— Ah, ele não quis tirar foto. Eles não são obrigados, mas a maioria aceita se a gente pedir com jeitinho.

Hayato não tinha certeza, mas conhecia aquele rapaz. O cabelo era longo e escuro, como o de Katsuya. Claro que havia outros rapazes de cabelo longo, mas algo na imagem lhe pareceu familiar. O amigo não disse onde trabalhava atualmente e ele era perito em encontrar os mais diversos bicos pra fazer, além do mais, ir pra outra cafeteria não seria tão estranho. Contudo, aquele tipo de café não parecia o tipo de lugar que Kurosaki frequentava. Será que foi por isso que não quis tirar foto? Por vergonha de onde estava trabalhando? Não tinha certeza se ele conhecia Shibuya, então não podia julgar que o rapaz estava se escondendo.

Precisava tirar aquela história a limpo.

— Primo, me leva com você quando for lá de novo?

* * *

— Me explica mais uma vez: por que tenho que vir junto? – Takeo fez uma careta ao desviar de mais um transeunte espalhafatoso, preferindo andar atrás dos primos para que eles abrissem caminho.

Nada contra otakus, cosplayers e afins, ele gostava de alguns animes e games também, mas daí a ser arrastado para Akihabara era outra história.

— Porque Mikaru acredita mais em você do que em mim. Se você ver com os próprios olhos, não vai precisar me usar como intermediário na história. – Hayato explicou a Takeo enquanto o encarava por sobre o ombro, rindo com os surtos do primo ao seu lado, que queria entrar em cada loja por onde passavam.

— Eu confio em você, Hayato! Se me disser que viu Katsuya aqui e pedir pra recontar como sendo verdade, eu vou fazer!

— Obrigado pelo voto de confiança, mas pensa assim: estamos num encontro diferente do nosso usual! Vamos aproveitar!

Shiroyama sentiu arrepios com a ideia de ter um encontro ali. Com tantos lugares bonitos e divertidos na cidade, para agradar desde os casais mais românticos até os mais excêntricos, e Hayato queria ir justo naquele bairro. Ainda se lembrava da última vez que os três foram ali, não recordava o que aconteceu direito ou a conversa que tiveram, mas sabia que gerou uma briga.

— Chegamos! – Shibuya anunciou assim que viraram em uma esquina, apontando para uma loja no meio do quarteirão – Quero um milk shake gigante!

O otaku entrou na cafeteria sem cerimônias, o sorriso aumentando ao ser recebido com o típico cumprimento de ‘goshujin-sama’. Os três foram encaminhados para uma mesa livre, onde a moça praticamente se ajoelhou ao lado deles, estendendo o cardápio e perguntando se eles tinham algum tipo de preferência pelas atendentes, ao que Shibuya não perdeu tempo pedindo pelo garoto-neko.

— O que você tanto gosta nesse lugar, Ikeuchi? É bizarro ouvir esses ‘nyan’ e ver as caras que elas fazem!

— Tachi não gosta de maids? Elas são fofas, não são, primo?

— Sim! E são especialistas em hipnose! Você sai daqui fazendo os movimentos fofos igual elas fazem!

— Isso! E elas enfeitam os lanches e as bebidas! Tachi não gosta de lanche com carinha fofa?

— Ahm… não. Desde que esteja gostoso, não importo muito com a aparência. E elas não fazem meu tipo de mulher.

Shibuya estava animado e distraído demais para notar a tensão e o silêncio que se instalaram entre o casal. Takeo engoliu em seco ao perceber o que havia dito, se arrependendo mais ainda ao receber um olhar enviesado.

— Não fazem seu tipo de mulher, é? – Hayato questionou baixinho e ameaçador – E qual seria seu tipo, senhor Shiroyama?

A conversa entre o casal acabou ficando para depois com a chegada do atendente, mas não era quem eles esperavam. O rapaz se desculpou diversas vezes ao ouvir o pedido por um atendente específico, explicando que o outro colega que se vestia de gatinho trabalhava no período da manhã e o terceiro deles estava de folga naquele dia.

Shibuya não deixou aquilo afetar seu passeio, fazendo o pedido e se divertindo como em suas visitas usuais ao local, enquanto o casal sentado à sua frente tentava não deixar a animosidade à mostra.