Outra Dimensão

O futuro a nossa frente


Distrito Hyuuga, dezoito anos atrás

Os gritos ecoavam pela mansão, deixando o jovem rapaz já nervoso ainda mais estressado. Observado pelo pai e por seu irmão gêmeo, andava de um lado para o outro, mas nada dizia.

Seu irmão, Hizashi, apenas o observava em silêncio. Nunca vira seu irmão tão nervoso, como líder era esperado que ele sempre mantivesse um controle rígido sobre suas emoções, como um Hyuuga deveria ser, mas também não era todo dia que o primeiro filho vinha ao mundo. Até seu pai, Hisame, olhava impassível sem manifestar qualquer contrariedade.

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Depois de alguns momentos, o irmão desviou o olhar para o lado de fora da casa principal. Apenas duas semanas antes, seu primeiro filho também nascera, forte e saudável, mas, por infelicidade, sua mulher não resistira as complicações e viera a falecer apenas horas após. Como ele, Neiji integraria a família secundária assim como a criança que logo nasceria, independente de ser menino ou menina.

Os sons ainda ecoavam pela casa quando a porta da sala onde estavam se abriu e uma figura apareceu e observou-os. Hisame e Hizashi voltaram-se e a encararam, mas Hiashi somente a fitou por um momento antes de continuar sua peregrinação. Hana era a esposa oficial dele, o casamento se realizara apenas um mês antes após o líder ter recusado várias pretendentes. Somente sob a ameaça de anularem seu casamento com Akemi, apesar do fato dela já está em estado avançado de gravidez, concordara com uma das pretendentes. O relacionamento, no entanto, era amistoso, sem grandes tropeços, mas a mulher basicamente ignorava a presença de Akemi na casa. Sabia bem que não tinha autoridade alguma de se contrapor a sua presença ali, afinal Hiashi estava dentro de seu direito mantê-la sob seu teto, mas, desde que o trabalho de parto se iniciara horas antes, ela se trancara em seu quarto.

— Está demorando demais… Será que está tudo bem?

— Hiashi foi pessoalmente até o hospital solicitar a presença da melhor parteira já que temia mover Akemi – respondeu Hizashi, voltando-se em direção ao irmão. Fora justamente o que complicara ainda mais o já conturbado trabalho de parto de sua esposa. – Se houvesse algum problema já teríamos sido notificados.

De súbito, um grito agudo se fez ouvir, fazendo o líder estremecer, mas foi logo seguido pelo choro baixo, mas inconfundível, de um bebê. Foram instantes de expectativa até a jovem morena surgir limpando as mãos sujas de sangue em uma toalha. Sorriu, tranquilizadora, antes de dizer:

— É um menino. Mãe e filho passam bem!

Hiashi passou direto por ela e foi até o quarto. Se deteve na porta do quarto, vendo sua esposa embalar o bebezinho, enquanto sorria. Ela se voltou para o portal, ainda ostentando o mesmo sorriso, mas ele sumiu lentamente quando viu Hana. Desviou o olhar, sem nada comentar, mas relaxou quando seu marido sentou ao seu lado na cama olhando o bebê.

Após alguns momentos, Hana se foi, sem nada dizer.

Um ano e um mês depois, fora a vez da esposa principal dar a luz, mas a uma menina, nomeada Hinata. Apesar de nada comentar, Hisame ficara imensamente contrariado, principalmente quando dezoito meses após Akemi tornara a dar a luz a um outro menino, Tadashi.

Hiashi, embora não dissesse abertamente, parecia satisfeito com aquela configuração, era uma afronta ao Conselho que o empurrara a um casamento que ele não desejava, mas que não produzira o herdeiro que eles tanto desejavam. Com três filhos e Hana desaconselhada pelos médicos a tentar um nova gravidez, parecia que sua família já estava formada e não havia nada que qualquer um deles pudesse fazer.

No entanto, a morte de seu irmão Hizashi o abalara terrivelmente e Akemi se tornara seu porto seguro. Hana sentiu isso no amago de seu ser e se tornou uma mulher ainda mais amarga, presa a um homem que, embora não a maltratasse, claramente seria muito mais feliz se ela não estivesse ali.

Assim, quando Akemi anunciara a terceira gravidez, quando Ren estava com quase seis anos, Hinata estava para completar cinco e Tadashi tinha três, fizera algo para atingir a inimiga.

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Certa manhã, Akemi fora acordar os filhos para o café da manhã, mas não encontrara Ren em lugar algum. O desespero bateu forte no coração da mãe, lembrando-se do quase sequestro da pequena Hinata, e ela saira correndo pela mansão gritando. Mas logo descobrira onde seu menino estava e seu mundo caiu.

No salão do Conselho, Hiashi estava ajoelhado no chão, o olhar derrotado enquanto tinha o filho mais velho deitado em seu colo. O menino sempre sorridente que adorava brincar e treinar com o primo apenas semanas mais velho agora jazia inconsciente no chão, o selo amaldiçoado do Clã Hyuuga ainda brilhante em sua pele alva.

Seus joelhos falsearam e ela deixou-se cair ao lado do corpo inerte do filho. Sempre soubera que isso um dia aconteceria, eles sempre adiaram aquele dia desde que o garoto completara quatro anos, a idade mínima para o selamento, mas agora não tinha mais volta.

Incapaz de dizer algo que aliviasse a dor que via nos olhos de sua mulher, Hiashi se mantinha em silêncio.

— Agora ele sabe exatamente o seu lugar – ironizou uma voz, o veneno pingando de cada letra, fazendo a outra cerrar os punhos. – Arrumem suas coisas, amanhã mesmo será encaminhado a casa dos avós.

Akemi se levantou, colocando-se entre o filho e a rival, seu Byakugan ativado em ameaça, mas subitamente ela se curvou em agonia. Segurou a cabeça com as duas mãos vendo em meio a uma nuvem de dor a pose imponente da outra enquanto seu sogro controlava o selo. O sorriso que ela ostentava era cruel, enquanto acariciava a barriga ainda pequena.

Mas, sem que qualquer um deles pudesse prever o que aconteceria a seguir, Hiashi agarrou seu pai, tirando sua concentração e arremessou-o contra a parede da sala. Após pegou Hana pelo pescoço, seu Byakugan em um aviso cruel. A mulher empalideceu e seu sorriso sumiu, a expressão assumiu um ar apavorado.

— Arrume as suas coisas e desapareça da minha casa.

— Não pode fazer isso, eu sou sua mulher.

— Ativar o selo de uma mulher grávida é um ato altamente condenado por nossa lei, a punição é a morte se não sabe – disse, aumentando ainda mais seu pavor. – Só não a mato agora mesmo por respeito ao meu filho que espera, mas não espere qualquer consideração adicional da minha parte.

Ele a largou no chão, indo amparar Akemi que ainda tentava reordenar-se. Hisame se recuperou, olhando de forma repreensiva para o filho.

— Leve-a embora, se quiser pode coloca-la em sua casa, mas na minha ela não é mais bem-vinda.

— E Hinata…

— Ela vai ficar examente onde está, com os irmãos.

— Não pode me afastar da minha filha.

— Para que a quer? Para poder contaminá-la com a sua amargura, manchá-la com seu ódio? – perguntou o líder, seu olhar frio capaz de congelar tudo. – Poderá vê-la uma vez por dia, sempre acompanhadas, mas nada mais do que isso.

Ele lhes deu as costas, sem dar atenção aos seus protestos.

Os Conselheiros fizeram de tudo para convencê-lo a aceita-la de volta, alegando que era um péssimo exemplo para os demais. Pela primeira vez na vida, ele se recusou a atender a uma ordem deles, causando uma grande tensão.

Ren fora morar com os avós maternos, pela primeira vez vira seu filho com ar triste e dali em diante quase não mais sorria. Aquilo destruiu seu coração, pensar que logo o pequeno Tadashi teria o mesmo destino do irmão.

Quatro meses depois, Akemi tornara a dar a luz, mas dessa vez foi a uma menina, Yumi. Dois meses depois, fora a vez de Hana, após uma gravidez complicada, também dar a luz a Hanabi e morrer em amargura por mais uma vez falhar em dar um filho homem ao marido.

Cinco filhos, dois deles criados longe de seus olhos, Hiashi sempre se questionou sobre os motivos pelos deuses terem imposto tal destino aos seus. O que eles esperavam dele agora?

Dias de hoje, Distrito Hyuuga

Hiashi olhava ao redor com ar perdido. Ao seu lado, Akemi e sua filha caçula, Yumi, já com doze anos, apenas aguardavam em silêncio. A casa vazia já não era atrativa para nenhuma das duas e, sinceramente, nem a ele.

Lentamente, o salão foi se enchendo com os membros da família principal, tomando seus lugares. Em seguida, os membros da família secundária também o fizeram em silêncio. Alguns rapazes olhavam enquanto Yumi, em silêncio, se juntava aos membros de sua casta, seus olhares avaliativos de cobiça que logo foram reprimidos por um olhar duro do pai.

Embora ainda fosse bem jovem, a menina já desmonstrava os primeiros traços da linda mulher que se tornaria. Isso somado ao fato de quem era seu pai a tornava altamente atraente a maior parte dos rapazes de ambas as casas. Buscavam claro elevar o status de suas famílias casando um de seus membros com uma das filhas do atual líder e irmã da futura líder. Por isso, ela ignorava a maioria deles sumariamente.

Hiashi suspirou vendo todos devidamente acomodados.

— Boa noite! – disse, em alto e bom som, encarando todos. – Decreto em aberto a reunião. Tudo o que for dito e decidido aqui será transcrito para a posteridade.

Todos assentiram até enfim um dos Conselheiros se pronunciar:

— Viemos informar a todos que ambas as filhas de Hyuuga-sama tomaram por decisão desertar do Clã – revelou, fazendo com que todos se entreolhassem confusos. Embora certamente tivessem ouvido os boatos, não esperavam que a situação fosse confirmada pelo Conselho. – Que seja lavrado em Ata, Hinata e Hanabi não tem mais permissão de ostentar o nome Hyuuga e a posição de herdeiro passará ao próximo herdeiro da Casa principal…

Antes que ele pudesse continuar, Hiashi ergueu a mão direita fazendo-o silenciar na mesma hora.

— Quero colocar algo em discussão antes.

— Perdoe-me, Hyuuga-sama, mas essa é uma questão que não pode esperar…

O olhar duro do líder o fez se calar.

— Quando eu era jovem, meu irmão, Hizashi, me contou a verdadeira história de uma guerreira cuja versão oficial eu já tinha ouvido várias vezes. Uma garotinha que foi criada na rua, sem pai nem mãe, porque seu pai estava mais preocupado em satisfazer seus próprios desejos do que ser o líder que ele deveria. Sua mãe morreu ao lhe dar a luz e por dez anos ela sobreviveu dependendo da caridade dos outros. Mesmo assim, se tornou uma das guerreiras mais respeitadas e fortes que tivemos noticia. Outras como ela tiveram destino semelhante, ignoradas por cidadãos “respeitáveis”, e tudo o que fizemos foi fingir que elas não existiam. Porque era mais fácil desse jeito para manter as coisas do jeito que estavam. Mas a que ponto chegamos? Ignoramos tudo aquilo que nos afeta simplesmente porque não queremos perder a vidinha medíocre que temos? – disse, fazendo os Conselheiros empalidecerem frente a menção a eles. – Há algum tempo, soube que a morte de meu irmão, Hizashi, já era de conhecimento do Conselho e do meu pai antes mesmo dele nascer e o que eles fizeram? Nada… porque mudar os fatos tal como aconteceram mudaria a forma como nosso mundinho se organiza e seus próprios privilégios.

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Os membros do Clã começaram a discutir entre si, incrédulos, mas Hiashi levantou a voz fazendo-os se calar.

— E sabe o que fizeram quando a minha filha se recusou a atender a uma ordem deles e seguir seu próprio caminho? Propuseram selá-la, sacrificar uma jovem que só queria seguir outro rumo… Ou seja, minha vontade está acima do bem-estar de qualquer um, foi o que quiseram dizer com a sua proposta – disse, fazendo todos olharem os conselheiros em completa descrença. Até mesmo os membros da família principal pareciam descrentes.

— Mas uma coisa tenho de concordar com eles: o Clã é maior do que apenas uma pessoa – afirmou, fazendo-os relaxar por minutos antes de revelar: – Contudo, temos que considerar que cada individuo tem suas próprias vontades e anseios, desejos que por muito tempo ignoramos. E um verdadeiro líder tem que considerar tudo isso para verdadeiramente ser respeitado e admirado pelos seus. Meu irmão era esse líder, eu nunca fui.

Ele baixou o olhar por segundos.

— Para construir um novo Clã, onde absolutamente todos se sintam aceitos pelo que são e não pelo que gostariam que fossem, a partir de agora estou destituindo o Conselho e será marcada uma eleição onde dois membros de cada Casa serão escolhidos, com igual poder de decisão, para instituir…

— Eu protesto – disse um dos Conselheiros mais jovem, levantando-se.

Todos o olharam, a esmagadora maioria parecendo pensar o mesmo que o líder. Para leva-los a novos dias, as coisas tinham de ser mudadas.

— Não estou colocando em discussão, estou apenas informando um fato.

— Para tomar decisão, precisa do apoio da maioria do Clã e não tem.

Hiashi o fitou seriamente.

— Acredita piamente que eu não tenho?

O homem olhou ao redor e finalmente se sentiu derrotado ao ver suas expressões.