Outra Dimensão

A estrela de oito pontas


Os dois jovens sabiam que mereciam todas as broncas e nem mesmo tinham o direito de contestá-las, mas admitir isso em voz alta era pedir muito. Somente se mantinham em um silêncio que transmitia muito mais do que qualquer palavra.

Era até estranho ver Boruto sempre tão falante e explosivo cabisbaixo e verdadeiramente conformado. Assim, Hinata nem mesmo disse algo quando ele chegou em casa naquela noite. Simplesmente serviu seu jantar que ele comeu em silêncio, provavelmente se preparando para a punição de seu sensei no dia seguinte. Algo lhe dizia que ele não deixaria por menos.

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Quando ele terminou, pediu permissão para se retirar, mas, antes disse, quando passou pela irmã:

— Hima... - disse, fazendo a garota levantar o olhar e encará-lo. - Toma cuidado quando for escolher seu marido, tá legal, não quero ter de me preocupar em proteger o rabo de nenhum idiota que não sabe se defender...

A menina ficou mais vermelha que um tomate. Queria perguntar se ele sabia de algo, até abriu a boca para questioná-lo, mas ele desapareceu nas escadas antes que sua voz saísse.

— O que será que aconteceu com ele? - disse a menina, voltando-se para a mãe que parecia se fazer a mesma pergunta.

Na manhã seguinte, conforme o combinado, ele foi se juntar aos companheiros no Campo de Treinamento andando pela Aldeia lentamente pois era muito cedo ainda. Ao contrário do costume foi o primeiro a chegar e ficou a esperar pelos outros sentado debaixo de uma árvore frondosa.

Foi assim que Sarada e Mitsuki o encontraram naquela manhã perdido em seus próprios pensamentos. Enquanto que ele ficou preocupado com o comportamento totalmente fora do comum do amigo, ela simplesmente começou a se preparar para mais um dia longo de treinamento.

Mitsuki sabia por alto sobre o que ocorrera no dia anterior, mas algo lhe dizia que ali tinha muito mais do que se podia imaginar. Estava acostumado as extenuantes horas passadas junto com seus dois companheiros sempre se provocando. Sua mãe costumava dizer que eles a lembravam seus pais quando eram crianças. O lendário Time 7 tinha exatamente aquela mesma interação, mas agora...

Ele se aproximou de Sarada que permanecia em silêncio se preparando.

— O que é que está acontecendo, hein? - questionou, percebendo pelo canto do olho que Boruto passara a prestar atenção nos dois.

A companheira se manteve em silêncio, o que não era nada incomum. O que não era nada comum era o clima estranhamente tenso entre aqueles dois.

— Ninguém vai me dizer nada? - questionou-os, mas Boruto apenas desviou o olhar e Sarada continuou o que fazia. Ele balançou a cabeça em negativa, as mãos na cintura com revolta.

— Nós encontramos nossa família no futuro, Mitsuki - revelou Boruto, recostando-se mais ainda na árvore. - Acho que ela ainda está tão chocada quanto eu.

O rapaz voltou-se para sua amiga, mas ela não negou as palavras do companheiro, apenas continuou o que fazia.

— Isso só pode ter sido ideia sua ideia, não é, Boruto? O que você tem na cabeça?

O garoto fez uma careta.

— Acredite, a teoria é muito menos chocante do que a realidade. Não é a toa que não é recomendável uma viagem temporal. Pode ser um tanto quanto chocante.

Seu amigo ergueu uma sobrancelha.

— O quê? Descobriram que se tornarão mais chatos do que o costume?

Como um relâmpago, Sarada pegou o companheiro pelo pescoço. Finalmente, surgiu uma reação, mas Boruto nem saiu do lugar. Parecia até mesmo que ele ansiava por vê-la sair do casulo em que se metera desde que voltaram para casa.

— Hei, foi mal! Foi apenas uma piada.

A garota o soltou bruscamente e só foi quando ele reparou seus olhos avermelhados com um símbolo estranho. Seu tronco subia e descia enquanto seu olhar fixo assustava mais do que qualquer comportamento estranho. No mesmo instante, Boruto se pôs diante dela e a olhou fixamente. Instantes depois, os olhos dela voltaram ao normal e ela caiu de joelhos ofegante.

Mitsuki se pôs do lado do amigo, vendo seus olhos brilhantes também voltarem a cor azul comum. Aquela habilidade incomum, uma espécie de doujutsu, já salvara a equipe de enrascadas antes, mas ele jamais fora obrigado a usar com um companheiro.

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— Quando foi que você despertou o Mangekiou? - questionou Boruto, muito sério.

Ela se levantou, mas não respondeu imediatamente. Olhou para os dois amigos enquanto mordia o lábio inferior.

— Por favor não contem aos meus pais...

— Você precisa de treinamento - disse Mitsuki, cruzando os braços. Seus longos estudos com seu pai, um expert nos mais variados doujutsus existentes, cruzaram sua mente naquele momento e nenhuma das conclusões era tranquilizadora.

Ver sua melhor amiga em meio aquela situação lhe causou um aperto no peito.

— Eu sei - disse, balançando a cabeça e suspirando. - Mas eu não quero que meus pais se preocupem mais do que o necessário.

— E certamente com razão - disse Mitsuki, revirando os olhos. - A história dos membros que foram capazes de despertar o Mangekiou não são dos mais tranquilos ou satisfatórios.

— Foi ontem, não é? - disse Boruto, lembrando-se do momento em que tinham se separado na noite anterior e o ar diferente que sentira ao redor dela.

— Passei a noite relembrando tudo o que aconteceu - revelou a garota, jogando-se no chão empoeirado. - Todos os meus sonhos se realizando... Mas o que mais me marcou foi a última conversa que tive com a anciã que minha mãe havia se tornado. Sabe, eu tive a sensação que ela estava se despedindo e dizendo tudo o que quisera dizer para mim quando eu ainda era jovem. Tudo o que me lembro depois disso é de acordar na floresta com uma dor de cabeça infernal e com a luz do sol machucando meus olhos.

Os dois rapazes se entreolharam. O pai dela enlouqueceria mais do que quando souberam que Madara despertara o Mangekiou e seus pais não o chamaram para orientá-lo.

— Posso falar com o Madara - disse Boruto, cruzando os braços. - Ele pode ajudá-la, mas, sinceramente, ele seria o primeiro a contar aos seus pais. Sabe que seu primo mais do que ninguém sabe da dificuldade que é lidar com o Mangekiou sozinho.

Sarada suspirou. Sua prima lhe contara da vez que o irmão quase se matara ao tentar treinar sozinho e da grande preocupação que isso causara aos seus pais.

— Dêem-me alguns dias, tá bem?

— Só não acione essa coisa por enquanto - disse Mitsuki, sentando-se ao seu lado, sério. - Sou muito jovem para morrer...

Sarada deu um soco na cabeça dele, mas Konohamaru escolheu esse momento para se juntar aos seus alunos. Ele ficou observando os três de longe por longos momentos, considerando tudo o que ouvira na noite anterior. Quisera ele ter a chance de ter mais algum tempo para observar o comportamento de Boruto e Sarada, principalmente depois do que haviam descoberto, mas não teria essa chance.

— Bom dia, meninos! - cumprimentou-os, sério, fazendo os três voltaram-se assustados. - Primeiramente, Boruto e Sarada... A travessura de vocês foi totalmente irresponsável e incompatível com o cargo que exercem atualmente. Isso reflete a imaturidade de ambos e sua total falta de noção das consequências de seus atos. Por mim, vocês seriam rebaixados a genins, mas o Hokage decidiu lhes dar apenas uma advertência. Não se esqueçam de que tem direito a apenas mais duas antes do rebaixamento compulsório.

Os dois assentiram, apavorados.

— Segundo, esse é até o motivo do meu atraso - disse, retirando um pergaminho de seu bolso. - Temos uma missão nível A...

Os três amigos se entreolharam. Com a paz, essas missões haviam se tornado raras e muito disputadas, mas Konohamaru estava atrás de uma missão assim para acabar de arrumar as coisas para mobiliar sua casa. Ele morava em um pequeno apartamento, mas, com a proximidade de seu casamento, queria oferecer um lugar mais confortável para sua noiva. E não ter de ouvir mais as indiretas de sua sogra sobre a inadequação de sua casa para uma família.

Embora soubesse que ela tivesse alguma razão...

— Mas sensei... eu acho que não vai rolar não - disse Mitsuki, recebendo uma cotovelada de Sarada. - Qual é, Sarada? Sabe que não pode ir em uma missão dessas...

— Ele tem razão - disse Boruto, sentando-se ao lado dos dois.

— Hei, tem alguma coisa que eu não sei? - perguntou o jounin, estreitando os olhos, mas os três se mantiveram em silêncio. - Olha, eu posso entregar essa missão para outra equipe, claro, sabe que elas estão disputando a tapa, mas eu quero uma boa razão para isso.

De repente, Sarada gemeu, segurando a cabeça. Konohamaru se ajoelhou diante dela, mas se preocupou verdadeiramente ao ver o sangue rubro que manchava a gola de sua blusa. Ela acordara tão atrasada que não tivera tempo nem de ir em casa se lavar e trocar de roupa.

Ele afastou sua mão dos olhos e levou um susto ao se deparar com o padrão da estrela de oito pontas.

— Está ardendo, não é? - questionou, fazendo com que ela assentisse. - Os meninos tem razão, não pode ir em missão desse jeito.

— É importante para o senhor. Eu posso lidar com isso!

— Sem chance - negou o sensei, ajudando-a a se levantar. Fora um dos jounins que socorrera o primo dela quando esse quase perecera em um treinamento que dera terrivelmente errado e o garoto tinha somente dez anos de idade. - Vou te levar para casa e a entregarei a sua mãe. E isso não está em discussão.

Os outros dois deram de ombros, sabendo que aquilo não estava em discussão. Naquele mesmo dia, conseguiriam alguém como membro temporário da equipe e não teriam de desistir da missão.

Sakura estava de folga naquele dia e estava voltando das compras quando o jovem jounin irrompeu em sua casa trazendo sua filha nos braços. Levou alguns segundos para que ela entendesse o que estava acontecendo, mas logo ela os levou para a sala e passou um longo tempo examinando a filha.

A mulher estava nitidamente preocupada, pois ela não deveria estar sofrendo com os efeitos por tanto tempo. Quando Sarada despertara o Sharingan, muito se temia sobre as consequências, mas ela quase não sentira nada. O que fora um alívio, mas com o Mangekiou a história era outra.

Ela poderia usar o tratamento padrão para as crianças que acessavam o doujutsu pela primeira vez, mas algo lhe dizia que não adiantaria. Então, fez algo drástico, deteve o fluxo de chakra para a área aliviando a pressão sobre os nervos visuais. Foi dolorido, mas teria de falar com os anciões antes de tentar uma abordagem mais direta ao problema.

A garota ficou sonolenta, mas sentiu alivio.

— Obrigado, Konohamaru! - agradeceu, fazendo o jovem assentir. - Agora eu cuido dela.

Ele se despediu das duas e logo foi procurar pelos outros dois.

— Por que não veio me procurar? - questionou a mãe, assim que o jounin saiu, mas a menina ficou em silêncio. - Achei que não tínhamos segredos, querida, e achei que soubesse que poderia confiar em mim para tudo.

— Mãe... - murmurou, fazendo a matriarca olhá-la em duvida. - Lembra o que foi que lhe disseram quando você se inscreveu na Academia?

Sakura suspirou, olhando para o nada.

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— Que eu nunca seria ninguém? Que eu estava destinada a ser apenas uma civil?

A menina assentiu.

— Sabe que as pessoas me diziam a mesma coisa? Eles diziam que o sangue de Indra jamais se misturaria ao de Ashura e eu estava fadada a nunca ser nada mais do que uma vergonha a família. Claro, nunca na sua frente ou do meu pai, mas...

— Crianças podem ser cruéis, eu sei - disse a mãe, sorrindo amargamente. - Mas não tem de enfrentar isso sozinha, seu pai, seu irmão e eu estaremos aqui a cada passo do caminho...

Ela deitou a cabeça no colo da mãe querendo desesperadamente acreditar nisso.