Alguns anos depois...

Aproximo-me das lapides com cautela, seco inutilmente as lagrimas de meu rosto, para logo depois senti-lo se molhar novamente com as lagrimas que saem de meus olhos. Eu não posso simplesmente enfrentar isso, mesmo depois de anos, a dor ainda parece bem fresca e solida. Vejo Rye e Willow se aproximarem de mim, o mais velho segura a mão da irmã, porém ambos se separam e cada um fica de um lado meu, segurando ambas as minhas mãos, e de repente eu não me sinto mais tão sozinha, eu tenho meus filhos. Encaro as lapides das duas pessoas que costumavam ser as mais importantes da minha vida, mas esse lugar agora está sendo ocupado por Rye e Willow. Encaro os olhos azuis de Rye, tão parecidos com os do pai, e os de Prim, e isso só me deixa com mais vontade de chorar, ajoelho-me adiante das lapides, Rye é mais alto, então nossas mãos se desconectam, mas a minha e a de Willow permanecem juntas, a menina loira de olhos cinzas fica do meu lado, ela é forte como um dia eu já fui, mas ouço alguém fungar atrás de mim, sei que é Rye, ele tem a sensibilidade do pai, sente tudo com a mesma intensidade que Peeta sentia. Vejo alguns tordos se aproximarem de nós, pousando na arvore em nossa frente.

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— Katniss, cante. – Minha mãe pede com a voz embargada.

— Não... – Eu balanço a cabeça em negação, começando um choro baixo. — Eu não consigo, não sem ele aqui.

— Mamãe... cante. – Ouço a voz doce de Willow pedir e encaro os olhos da menina, ela possui a pele clara como a de Peeta, mas todos os outros traços são meus, inclusive os olhos.

Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro / Um leito de grama, um macio e verde travesseiro / Deite a cabeça e feche esses olhos cansados / E quando se abrirem, o sol já estará no alto dos prados. – Começo a cantar, tento acalmar minha respiração. Lembro-me de como escolhi o nome para Willow, salgueiro, uma das últimas vezes que eu e Peeta fizemos amor antes de descobrir que eu estava gravida foi na Ilha, debaixo do pé de salgueiro. Não poderia ter significado maior, tenho certeza que foi naquele dia, enquanto tudo estava caindo aos pedaços e eu e Peeta nos amamos que ela foi concebida. — Aqui é seguro, e aqui é um abrigo / Aqui as margaridas te protegem de todo perigo / Aqui seus sonhos são doces / E amanhã serão lei / Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei. — Sempre lhe amarei, algumas cenas de Prim e até mesmo da doce Rue aparecem em minha cabeça. Sim, com o tempo eu me lembrei de Rue, e de como ela foi uma boa amiga. — Bem no fundo da campina, bem distante / Num maço de folhas, brilha o luar aconchegante / Esqueça suas tristezas e aquele problema estafante / Porque quando amanhecer de novo ele não será mais tão pujante. – Está errado, ele será sim, cada doce manhã se torna amarga, na maioria das vezes, algumas tristezas nunca vão embora. — Aqui é seguro, e aqui é um abrigo / Aqui as margaridas te protegem de todo perigo / Aqui seus sonhos são doces / E amanhã serão lei / Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei. — Termino a canção, com a ajuda de Willow e Rye, não é nenhuma surpresa que depois de nascerem e crescerem ouvindo essa canção, eles saibam cantá-la de trás para frente.

Sinto todos soltarem sua respiração quando ouço passos atrás de mim, Willow e Rye rapidamente se afastam de mim, e eu tenho certeza que ele está atrás de mim.

— Venha amor, vamos para casa. – Ouço a voz rouca e doce de Peeta me chamando, ele pega em meus braços e me coloca de pé.

— Você demorou muito. – Digo abraçando seu corpo, sentindo o cheiro gostoso do seu perfume. Apenas algumas horas longe, mas para mim, isso sempre será uma eternidade.

— Perdão, eu vim correndo assim que deixei tudo nas mãos de Effie, ela vai enlouquecer hoje. – Ele me abraça de volta, com força, mas é reconfortante, e solta uma risadinha no meu ouvido, e de repente, não estou mais triste, nada pode me abalar, ele está comigo. São e salvo. Sorrio com ele.

— Vamos embora. – Digo, ele enlaça nossas mãos e rapidamente vejo Willow pegar na mão dele e Rye pegar na minha, somos uma família, talvez a mais quebrada, mas nada pode nos separar, ou ficar no nosso meio.

Antes de tomar o caminho para casa, permito-me olhar mais uma vez para as lapides, Prim, e meu pai, é claro que não tem seus corpos ali, mas depois de tantos anos, é bom ter um lugar em especial para você vir nas datas que deveriam ser comemorativas para essas pessoas e chorar por suas perdas. Mas é claro que não tem apenas a lapide deles ali, com a permissão de Annie, fizemos uma para Finnick, para os pais e irmãos de Peeta, e para a família de Johanna, no final, a Campina acabou virando um cemitério, mas Paylor estava de acordo com tudo, e não haveria lugar melhor para fazermos isso.

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Assim que chegamos em casa, eu me senti um pouco apavorada com a situação, Effie estava na cozinha organizando o almoço, enquanto Haymitch estava estirado no sofá bebendo um tipo de Whisky, Johanna estava brigando com Gale por causa de alguma coisa que Hunter e a irmã mais nova Alice fizeram com a pequena Lily, que já não era tão pequena mais. Ignorando o tornado que se fazia ao meu redor, me aproximei de Effie na cozinha.

— Precisa de ajuda? – Perguntei, ela respirou fundo e fez que “não” com a cabeça. Vi Gale, Johanna e Peeta se aproximarem.

— Como está indo o almoço? – Johanna pergunta.

— Saberia se tivesse me ajudando. – Effie retruca.

— Depois de anos casada com o Haymitch, está ficando mal criada como ele. – Johanna respondeu revirando os olhos.

— O que tem eu aí? – Ele se aproximou, passando um dos braços em volta do pescoço de Effie. — Como está o coração para o casamento?

— Está batendo normalmente Haymitch. – Peeta respondeu.

— Depois dele parar tantas vezes, se fosse eu tomava cuidado. – Johanna riu.

— Sem gracinha. – Eu fiz uma careta ao me lembrar dos piores momentos da minha vida. — Vai ser exatamente como combinamos.

— Sabem que podem ser presos, não sabem? – Gale interviu.

— Acho melhor termos um amigo que faz parte do exército então. – Haymitch piscou um olho para Gale, levantando seu copo de bebida na direção dele.

— Não acabem com a minha reputação, pelo amor de Deus. – Ele se fez de desesperado.

— É só não se aproximar de nós pela manhã. – Johanna falou.

— E perder um casamento desses? Nunca. – Ele riu.

— Eu acho muito engraçado que... – Parei de falar instantaneamente quando vi Willow correr atrás de Hunter com um kit de arco e flecha que Peeta deu para ela em seu último aniversário de 5 anos. E acho que ela não queria bem brincar com Hunter. — Willow, pare já com isso, vai machucar o Hunter.

Ela parou, seu rostinho estava vermelho, sinalizando que ela estava nervosa, seus lábios curvados em um bico, e seus olhos cinzas exalavam fúria.

— Essa é a intenção mamãe. – Ela cruzou os braços deixando o arco de lado. Sorrateiramente Hunter se aproximou dela.

— Mas ele não é seu amiguinho? – Johanna perguntou.

— Não tia, ele me deixa nervosa. – Ela se apressou em dizer, descruzando os braços e bagunçando os cabelos loiros. Tive vontade de rir.

— A carranca dela é exatamente igual a sua. – Haymitch falou em meu ouvido, desfazendo meu sorriso e eu o encarei nervosa. — Não disse? – Ele revirou os olhos.

— Largue esse arco, Willow. – Peeta disse, sua voz soou seria, o que fez a menina encarar o pai.

— Mas papai... – Ela não teve tempo de terminar, já que Hunter já tinha tomado o arco das mãos da menina e deixado um beijo rápido em seu rosto, antes de sair correndo. Vi o rosto de Willow ficar ainda mais vermelho, antes dela sair correndo atrás dele.

— Ainda acho que eles vão se casar. – Gale disse e eu sorri o acompanhando. Eu também achava isso, sentia isso.

— E eu acho que vou pegar uma bebida. – Peeta passou por mim, pegando o copo da mão de Haymitch.

— Te acompanho, padeiro. – Johanna sumiu com Peeta.

— Eles acham que os filhos ficam pequenos para sempre? – Effie revirou os olhos. — Venham comer crianças!

*-*

— Amor eu simplesmente poderia dizer que te amo e te fazer várias promessas com as palavras mais bonitas do mundo. Mas você me conhece, não sou boa com palavras lindas, essa parte sempre foi sua, e sinceramente acho que não há nada mais lindo do que as coisas mais simples que vem de dentro do coração. Então, lá vai. Eu poderia dar vários motivos pelos quais eu escolhi me casar com você, de novo, e o maior deles é que ninguém em toda Panem cozinha bem como você... – Ouvi as pessoas ao nosso redor soltarem uma risada. — Brincadeira amor, mas se você levar numa boa é verdade. Agora é sério, por que você tem um coração enorme e soube não somente reconhecer minhas qualidades mais também os meus defeitos, e aceitou todos, me tornando alguém melhor. Todos esses anos que passamos juntos eu aprendi muitas coisas contigo, uma delas é que não existe Katniss Everdeen sem Peeta Mellark, eu realmente, não sei viver sem você, e acredite, eu já tive provas concretas disso. Eu amo a forma como me sinto segura do seu lado, como me sinto viva... e eu sei que nem tudo vai ser alegria sempre, por que nunca é. Mas quem disse que pra sermos felizes tudo tem que ser perfeito? Não, não tem que ser, e não é. Agora eu quero dizer, que eu adoraria envelhecer junto de você, aguentando o ciúme que você sente das suas panelas, ou da forma como você pinta o chão quando vai desenhar algo no ateliê, aguentar o seu ego altamente desproporcional, e escolher nossas dentaduras juntos, ver nossos filhos e netos crescerem ao nosso redor. E quando esse tempo chegar eu te lembrarei desse dia e te direi: eu não te amo mais como aquela época... Hoje eu amo muito mais! E será assim, sempre. – Terminei os meus votos, o papel estava em minhas mãos, mas meus olhos não desviavam dos olhos azuis de Peeta, desde o “Amor”, até o “Sempre”, e eu vi a forma como seus olhos brilhavam a cada palavra, e como tudo o que eu dizia era intenso e como ele absolvia isso, fazendo seu sorriso se alargar mais e mais.

— Uau... – Ele disse respirando fundo. Como é? Deixei Peeta Mellark sem saber o que falar?

— Deixei você sem saber o que falar? – Perguntei sorrindo, limpando algumas lagrimas que saíram de meus olhos sem que eu percebesse.

— Deixou sim. – Ele sorriu, um dos meus sorrisos preferidos. — Eu prometo amar você, avidamente, sempre. E prometo nunca me esquecer de que um amor assim, só acontece uma vez na vida, e saber sempre, que no fundo da minha alma, não importa o que cause nossa separação, sempre vamos voltar um para o outro. – Ele disse olhando em meus olhos, e meu sorriso não podia estar maior.

— Vocês aceitam ser marido e mulher pro resta da vida? – Haymitch perguntou, tomando um gole de licor da garrafa que ele carregava.

— Eu aceito. – Peeta respondeu sorrindo.

— Eu aceito. – Respondi, sentindo o poder dessa palavra.

— Então, pelo poder a mim revestido pelo País de Panem, eu... – Hayamitch parou de falar. — A polícia... eu os declaro marido e mulher e melhores amigos para sempre, beija rápido... corre, corre. – Peeta selou seus lábios nos meus rapidamente e logo todos começaram a correr no meio da praia do Distrito 4, com vários policiais atrás de nós. Se isso era loucura? Com certeza, mas a adrenalina que está correndo em minhas veias, me diz que tudo isso vale a pena, até mesmo invadir uma praia e me casar dessa forma, louca.

Em determinado momento, Peeta me puxou em sua direção, beijando meus lábios sem permissão, fazendo-me ficar tonta. Eu o amava, sempre o amei e sempre vou amar, essa era a única certeza que eu tenho.

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