Our love is like a song

Capítulo 5 - Preciso Dizer Que Te Amo


“Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei em que hora dizer
Me dá um medo, que medo.”

Preciso Dizer Que Te Amo – Cazuza

~~

Achei estranho chegar ao apartamento e ver tudo apagado por debaixo da porta. Antes de abri-la me questionei se Jean não havia chegado e se eu devia ligar para perguntar se estava tudo bem ou se ele queria que eu o buscasse. Resolvi primeiro checar se ele não estava dormindo.

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Abri a porta e chamei seu nome. Nenhuma resposta. Deixei minha pasta ao lado da porta, afrouxei a gravata um pouco, coloquei as chaves em cima da mesinha ao lado da entrada do apartamento. Lar doce lar. Essa rotina, para mim, era uma daquelas coisas que nunca perdem a graça. Afinal, chegar em casa todo dia e tê-lo lá era maravilhoso.

Já com a luz da sala acesa notei um post it na parede da escada que levava à parte de cima da cobertura. Sim, morávamos em uma cobertura de um prédio. Eu havia ganhado aquele apartamento de meus pais quando consegui meu primeiro emprego como advogado. Era muito grande e extravagante, não era muito a minha cara. Então decidi tomar a liberdade de chamar um amigo para morar comigo. Claro que o amigo seria ele, meu, até então, namorado escondido.

Depois de três anos morando juntos havíamos aberto nosso relacionamento para nossas famílias e Jean fora oficialmente renegado por seus pais, extremamente conservadores. Desde então vivíamos sem contato algum com sua família, mas felizes. Pelo menos eu acreditava que éramos felizes. Acho que se ele não fosse ele já teria ido embora. Jean não era o tipo de pessoa que ficaria comigo se não gostasse de mim ainda.

No post it amarelo havia uma seta para cima. Hesitei por um instante, contemplando a ideia de mudar de roupa antes de ir, mas não o queria deixar esperando. Na verdade eu mesmo não estava querendo esperar muito para vê-lo. O dia no trabalho havia sido estressante e tudo o que eu mais queria era ficar ao lado dele, abraçado com ele e conversando sobre coisas bobas, sobre programas de TV, sobre memórias engraçadas do passado, sobre nós dois. Relembrando nosso começo de relacionamento, relembrando as noites em claro, os dias de drama e percebendo como tudo isso havia passado.

Subi os degraus com cuidado porque tudo estava escuro no andar de cima também.

‘Jean?’ chamei seu nome. Levei um leve susto quando o rádio começou a tocar sozinho e alguém acendeu uma vela. Pude ver os traços de Jean. Aos poucos o ambiente foi se iluminando com várias velas. Ele estava de terno e gravata. No centro da sala havia uma mesa de toalha branca com uma pequena vermelha por cima. Quem acendia as velas era nosso amigo Connie e, ao lado da porta de vidro que dava para o pequeno espaço não descoberto que havia lá, nossa amiga Sasha assumia posição de garçonete.

‘Oi.’ disse timidamente. Notei, no chão, pétalas de rosas de diversas cores. Eu sabia que cada cor representava algo diferente, fiquei um instante tentando identificar cada significado. ‘Senta aqui.’ fui em sua direção. Connie puxou a cadeira para mim e a empurrou também depois. De repente meus olhos se arregalaram. Que dia era? ‘Eu sabia que você ia esquecer, não se preocupa.’ Sorriu de maneira sincera. senti-me péssimo.

‘Ah, meu amor, me desculpa, eu ando com a cabeça tão cheia...’ ele riu de leve e assentiu.

‘Eu sei, Marco, já disse que eu sabia que você não ia lembrar. Você esqueceu seu próprio aniversário esse ano. E o da sua mãe também. Relaxa, de verdade.’ ele puxou dois saquinhos de debaixo da mesa. ‘Até me preveni comprando o meu próprio presente, olha só.’ senti meu rosto ardendo de vergonha.

‘Desculpa...’ Jean pegou minha mão e a beijou.

‘Relaxa. Só aproveita a surpresa, tá? A noite não tá nem começando ainda.’ Seu sorriso era tão sincero. Toda e qualquer dúvida que eu pudesse ter sobre Jean estar feliz comigo mesmo não falando mais com sua família sumia sempre que eu via aquele sorriso em minha frente.

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‘Só lembrando que a gente ainda tá aqui então cuidado com o que vocês forem fazer.’ Brincou Connie servindo nossos pratos. Jean lhe deu um soco no ombro, fazendo todos nós rirmos. Sasha servia vinho em nossas taças.

Apesar de o ambiente todo ter sido decorado e de estarmos todos “bem vestidos”, de terno e gravata, a comida em nossos pratos era pizza de quatro queijos. Qualquer pessoa do mundo pensaria que isso era a situação menos romântica do mundo, mas eu entendia Jean. Ele estava remetendo o dia ao nosso primeiro encontro.

Lembro-me como se tivesse sido ontem mesmo. Havíamos saído pela primeira vez juntos. Eu insisti em leva-lo em um restaurante do qual eu gostava bastante. Como cresci em uma família com um nível financeiro alto, estava acostumado com lugares finos desde pequeno. Jean não. Já é imaginável o desastre que foi. Jean não sabia o que pedir, acabamos ficando amos extremamente envergonhados e sem jeito. Eu pela minha falta de consideração extrema e ele por pensar que eu o acharia um idiota e não quereria mais sair com ele. Depois de uns trinta minutos lutando contra o cardápio, contra a vergonha e sabe-se mais lá o que ele sugeriu que fossemos comer em alguma pizzaria. Acatei a ideia na hora.

Fomos nós dois, vestidos socialmente, em uma Pizza Hutt comer pizza de quatro queijos. Foi o melhor primeiro encontro da minha vida.

As rosas eram porque nós gostávamos muito de plantas. Ok, eu gostava muito de plantas. Jean havia sido praticamente obrigado por mim a compartilhar desse gosto de tanto que eu falava de plantas.

Se eu não tivesse me formado em Direito eu, provavelmente, teria aberto uma floricultura em algum canto da cidade. Mas não era como se minha família fosse permitir isso, portanto virei advogado trabalhista.

Quanto ao rádio: ele só tocava uma música. Nossa primeira dança. Fora em uma festa alternativa que Connie havia nos chamado para, então era uma música diferente, não uma eletrônica qualquer.

‘Feliz sete anos.’ disse levantando sua taça. Brindamos a nós. ‘Caralho... Sete anos... Quando eu ia pensar que eu ficaria tanto tempo com uma mesma pessoa?’ ele riu baixinho.

‘Fico feliz que você esteja ficando.’ beberiquei meu vinho, ele fez o mesmo. Ignoramos os talheres e pegamos as pizzas com a mão mesmo. Aquilo era muito nós. ‘Como foi seu dia?’

‘Chato. Começou a ficar legal quando cheguei aqui e começamos a preparar as coisas. Antes disso a mesma coisa, sabe? Semana de provas é insuportável. Sinto falta de dar aula de fato.’ ele era professor de história, dava aula para colegiais do primeiro ao terceiro ano. ‘E o seu?’

‘Extremamente estressante.’ seus olhos brilharam com aquela declaração. Jean sabia que em dias como aquele tudo o que eu mais queria era estar em seus braços e ele, geralmente, adorava aquilo. Ele adorava que eu precisasse dele porque ele era extremamente inseguro e eu sabia. Eu não era totalmente diferente, então o compreendia quase que por completo.

Fomos jogando papo fora até acabarmos de comer. Connie e Sasha se despediram e foram embora assim que acabamos nos dando parabéns e dizendo que estavam muito felizes por nós dois. Jean abaixou o som e sentou no sofá que ficava no canto da sala de onde estávamos, me chamando para sentar ao seu lado. Eu o fiz rapidamente. Os dois pacotes, outrora embaixo da mesa, agora estavam ao seu lado.

‘Fecha os olhos.’ arqueei uma sobrancelha. ‘Vai logo, cara, fecha os olhos.’ suspirei e acabei obedecendo. Ouvi o barulho de ele abrindo ambas as sacolas. ‘Pode abrir.’ o fiz e dei de cara com uma caixinha aberta em minha frente. Meu cérebro entrou em colapso e eu congelei. ‘E-eu...’ ele respirou fundo, também nervoso. ‘A gente tá junto faz sete anos e... A gente mora junto, aí eu pensei...’ puxou todo o ar que podia antes de falar. ‘Marco Bodt, você quer casar comigo?’ meu queixo caiu. ‘Antes que você se preocupe com qualquer coisa...’ ele me entregou a outra caixa. ‘Essa é a minha, pra você me dar.’ sorriu.

‘Não sei se é bem assim que funciona, Jean.’

‘A gente não é igual aos outros. Então vai funcionar bem assim.’ sorriu para mim e esperou. ‘E então? Casa comigo?’

Tentei encontrar quaisquer palavras que fossem, mas não conseguia dizer nem ao menos um simples sim. Era óbvio que eu queria casar com Jean Kirschtein, mas era como se meu cérebro não estivesse processando as informações direito.

‘Ok, isso tá começando a ficar estranho... Marco?’ assenti.

‘Sim, sim! Eu caso com você, Jean Kirschtein. Eu, com certeza, caso com você.’

~~

“Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto.”

Preciso Dizer Que Te Amo – Cazuza