Stranger’s P.O.V

Pepper Friberg não era definitivamente alguém interessante de se observar. Mas era definitivamente um ótimo aliado para se vencer a guerra. Patch sabia daquilo. E ele também. Patch iria tentar aliá-lo mas, do jeito errado, ameaçando. Mas ele sabia o jeito certo.

Olhou para os dois lados antes de se aproximar do homem gorducho e cabelos loiros. Os olhos azuis o encaravam de um jeito ameaçador e ressentido, o que não combinava com o rosto de querubim que Pepper possuía. Apesar da expressão, Pepper transparecia puro medo e pavor.

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– O que você quer? – Pepper perguntou cortando a tensão.

– Ah, você sabe bem o que eu quero. – Ele respondeu dando um sorriso diabólico.

– Não vou fazer o que você quer. Fim de papo. – Pepper respondeu se virando para ir embora.

– Nem mesmo se eu dissesse que se fizesse o que eu quero, conseguiria seu posto de arcanjo novamente? – Pepper se virou no mesmo instante, seus olhos demonstravam desejo e excitação. Um segundo depois sua testa se franziu e um longo suspiro saiu de sua boca.

– Não quero voltar a ser um arcanjo. – Disse por fim. Ele arregalou os olhos com a resposta do loiro. – Por mais estranho que isso possa parecer.

– Então o que você quer? – Ele perguntou irritado. Seus planos iam por água abaixo. E ele odiava quando as coisas não saíam do jeito que ele queria. Ele precisava pensar rápido, precisava de uma saída.

– O que eu quero? – Pepper deu uma risada sarcástica e triste. – Nem mesmo você pode me conceder. Está acima de você. – A resposta só deixou ele mais irritado. O que poderia ser tão impossível, que nem ele poderia conceder?

– O. Que. Você. Quer? – Ele repetiu irritado dando ênfase nas palavras. Cuspindo-as com toda a raiva que pulsava dentro dele.

– Ser humano.

Harry’s P.O.V

Acordei com a luz do sol invadindo meu quarto pelas brechas da janela. O relógio marcava oito e quinze. Da manhã. De um domingo. Ah, que maravilha! Bufei e resmunguei com o travesseiro. Eu sabia que o sono não voltaria mesmo, o jeito era levantar.

Levantei-me preguiçosamente e me enfiei embaixo do chuveiro gelado. O choque térmico veio como uma porrada. Ignorei a sensação e esperei passar. O corpo se acostumou com a temperatura da água e eu finalizei o banho.

Com os cabelos ainda pingando a água gelada, eu terminava de me arrumar para uma corrida rápida. Passei pela minha vó, a doce Blythe Grey, beijei-lhe a testa, tomei um suco em tempo recorde e levei uma maçã comigo.

O tempo não estava frio como de costume, era até agradável. Um milagre para moradores de Coldwater. Quem olhasse para o céu não imaginaria o perigo que vinha junto com o passar das horas do dia.

Embrenhei-me pelas florestas rapidamente e o vento batia em meu rosto como lufadas. As folhas das árvores roçavam nos meus braços, fazendo uma leve cosquinha. O que me deixava arrepiado e me fazia sentir vontade de rir. Mas eu não queria rir. Na verdade, estava mais pra querer chorar.

Eu não tinha que apenas encarar uma guerra pela frente, onde minha família e todos que eu amava podiam morrer. Eu também tinha perdido uma das pessoas mais importantes pra mim. Eu amava Marie. Sim, eu a amava. Não havia dúvidas quanto isso.

Mas o amor é um sentimento estranho. Principalmente para mim. Mas o que não era estranho na minha vida? Desde a minha existência, até meus sentimentos. Comecei a pensar que talvez, só talvez, viver não era uma coisa feita pra mim.

Diminui a velocidade para uma leve caminhada, logo depois desisti de correr e sentei em uma pedra para descansar. Meu corpo estava coberto pelo suor, e olhando para o céu parecia ser umas dez e pouca da manhã.

Deitei-me no chão, onde as gramíneas fofas serviam de colchão, pus os braços em volta do pescoço, apoiando a cabeça e servindo como travesseiro e deixei que meus pensamentos vagassem para longe.

A prioridade, acima de tudo, era manter as pessoas a salvo. Nora, Patch, Vovó Blythe, Emily, Marie... A lista era grande e provavelmente seria quase impossível salvar a todos. Vovó Blythe estaria a salvo, ela nunca soube mesmo o que somos, então não teria problema. Marie não deveria ter mais problemas, já que agora eu não a encontrava mais. Emily deveria ter algum crédito por ser filha do serafim, eu esperava que isso contasse para salvá-la. Nora e Patch... Eu não sabia bem o que fazer em relação a meus pais, sabia que eles pagariam conosco. Castiel havia deixado bem claro isso. Eu também queria poder salvar Mason, mas isso seria pedir demais. Eu esperava apenas que ele não sofresse.

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Não sabia o que fazer, mas de uma coisa eu tinha certeza: Mason me apoiava em relação a salvar os outros.

O medo de perder alguma dessas pessoas definhava-me por dentro. Queria poder colocar todas as pessoas que amo dentro de uma redoma, mantê-las ali, seguras de qualquer perigo e qualquer mal que pudesse acontecer. Queria poder carregar o mundo nas costas, sentir toda a dor e sofrer ao invés de deixar os que eu amo pagar o preço.

Se ao menos houvesse um jeito...

Talvez houvesse um jeito! Talvez pudéssemos usar um juramento de sangue, onde Patch e Nora prometeriam nunca mais procriar. Onde Mason prometeria nunca mais fazer algo de errado. Talvez se eu pudesse pagar sozinho, como exemplo, talvez, mas só talvez, os arcanjos poupassem os outros.

Eu não tinha certeza se iria adiantar mas valia a pena tentar. Valia a pena morrer pelos outros. Um último ato heróico para salvar os que ama. Soava um bom jeito de morrer.

Os meus pensamentos foram divagados com a chegada, nada discreta, de Mason. Os passos pesados batiam na grama sem pudor e logo ele estava perto de mim.

– Olá irmãozinho. – O tom irônico acompanhava o sorriso.- Vejo que andou se exercitando. Estava precisando mesmo. – Bufei e ele riu. – Que tal uma velha luta, para não perder o ritmo?

– Pode haver trapaças? – Perguntei me levantando enquanto ria.

– É claro que pode haver truques de mente. – Ele riu enquanto se jogava em cima de mim. – Mas não vai conseguir brecha para se concentrar.

– Você que pensa , irmãozinho. – Dei ênfase no “irmãozinho” enquanto contra atacava. Mason pulou para trás, não dei tempo dele se estabilizar e chutei seu estômago. Ele bateu em uma árvore de costas, arqueando de dor. Antes que ele pudesse pensar, entrei em sua mente e imaginei seus pensamentos em frangalhos. Implantei bombas em todos os lugares. Mason caiu no chão com a mão na cabeça.

– Chega, Harry! – Gritou. Cheguei perto dele e parei com o truque. Mas no mesmo instante, ele pulou em cima de mim, socando meu estômago enquanto ria. Fiquei imobilizado no chão até que ele parasse. Ele levantou e me ajudou a levantar enquanto ria. – Regra número um : nunca pare de atacar seu inimigo quando ele pedir por clemência.

– Você não é meu inimigo.- Mason deu um sorriso triste antes de responder.

– Quem dera eu fosse seu maior inimigo.

XXXXX

Às duas tarde, após o maravilhoso almoço de dona Blythe, fomos até a casa dos Cipriano. O caminho sinuoso me lembrava da infância, onde brincava por aquelas terras ralando o joelho e indo até Nora pedir por um afago de mãe. Se naquela época eu soubesse como a dor do joelho era tão ínfima...

Encontramos Patch sentado no sofá, tomando uma cerveja enquanto assistia a um jogo de baseball. Fiquei me imaginando essa mesma cena alguns anos mais tarde, com Patch com cabelos brancos e uma barriga de tanto tomar cerveja, um dia de domingo passando jogo em que ele gritaria e xingaria com a televisão. Seria um bom futuro, se um dia ele acontecesse.

Patch me observava com uma expressão triste, como se realmente gostasse da visão que eu imaginei. Deu um leve suspiro e pôs seu melhor sorriso irônico no rosto.

– E os bons filhos a casa tornam. – Sorriu ironicamente. – Então, o que fazem aqui meninos? – Sorriu, só que da vez, de um jeito sincero. Parecia realmente feliz por estarmos ali.

– Viemos saber como andam as coisas. – Respondeu Mason. – Alguma novidade sobre... a guerra? – Patch suspirou profundamente, ofereceu lugares para nós e respondeu.

– Segundo minhas fontes, Castiel andou se encontrando com Pepper. Não sei ao certo para que mas parece que o encontro não foi do jeito que ele esperava. Pepper também sumiu do mapa, pelo que parece. Não consigo mais achá-lo. Talvez esteja muito bem escondido, mas no momento, não faz muita diferença. – Mason estreitou os olhos antes de perguntar.

– Vocês seguiram Castiel, sabem onde Emily está sendo mantida refém? – Patch olhou pra mim, como se pedisse ajuda. Era óbvio que não queria acabar com as esperanças de Mason.

– Sinto muito, filho. Tentamos segui-lo mas ele nos despistou. Não sei onde ele a mantém refém. – Patch mantia um olhar triste. Naquele momento, vi todo a velhice e os problemas que Patch carregava consigo durante seus anos de vida. E, pela primeira vez, me senti como se o entendesse.

Sem que nós esperássemos, Nora desceu as escadas apenas vestida com uma toalha de banho. Mantinha um sorriso sedutor para Patch mas logo ficou envergonhada ao nos ver. As bochechas mantiam um tom corado.

– Ahm, oi queridos , como vão? – Ela sorriu, ainda envergonhada, para nós.

– Estamos bem , mãe. – Mason havia adotado o hábito de chamá-los de “pai” e “mãe”. Eu ainda não conseguia fazer isso. O que certamente os deixava muito tristes, mas acho que eles não me culpavam.

–Hm, Patch, será que você poderia me ajudar com o chuveiro? – Ela sorriu docemente e deu uma leve piscadela, acreditando que nós não tínhamos visto.

– Chuveiro? An? Mas... ah... sim, é claro que posso ajudá-la com o chuveiro. Eu sempre vou poder ajudá-la com o chuveiro.* – Ela subiu as escadas logo depois de nos dar um tchau. Patch sorriu maliciosamente para nós. – Desculpe garotos, mas tenho que ajudar a mãe de vocês com o chuveiro. Se é que me entendem. – Ele estendeu o sorriso um pouco mais e foi logo atrás dela.

Mason e eu não ficamos lá para ouvir os barulhos. Tínhamos entendido a mensagem. Acho que sei porque compraram uma casa tão afastada das outras. Faz muito sentido.

XXXXX

Ao final da tarde, eu estava entediado. Mason veio falar comigo. Parecia assustado e um tanto apavorado.

– Será que eu posso contar para você o que Dabria me mostrou enquanto andamos pela cidade? – Não tinha como negar.

Não demorou muito para chegarmos ao centro da cidade. Havia uma feira ocorrendo na cidade, uma festividade de época do ano, barracas cheias de comidas e crianças brincando por todos os lados.

– Foi horrível, Harry. Ela me mostrou todos vocês morrendo. Cada um com uma morte pior do que a outra. Eu não quero nem comentar como foram. Mas a pior, a pior foi Emily. A morte dela era horrível. Ela estava presa e ensanguentada e vinham pessoas e começavam a chicoteá-la e fazerem torturas e depois vinha um homem de preto, acho que era o serafim, ela começava a chorar e pedia pra pararem e...- Ele respirou fundo antes de contar. – Ele enfiava uma estaca no coração dela. E eu estava lá, assistindo e não podia fazer nada.

Eu não sabia ao certo o que dizer. Estava chocado demais, então disse a coisa mais óbvia e estúpida que pude pensar.

– Já pensou que pode ser tudo uma mentira? Um truque da mente que Dabria usou pra te magoar? – Ele pareceu ponderar a ideia.

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– Já, já pensei. Mas ela vê o futuro das pessoas. Vê como as pessoas vão morrer. E se esse for realmente o futuro de Emily? Eu não posso suportar, Harry. É horrível. Ela não merece isso. Ela só ajudou a gente. – Dei um longo suspiro. Eu tinha que dizer algo para acalmá-lo.

– Talvez, seja uma possível morte de Emily. Acho que Dabria vê o futuro que pode ocorrer, não o certo. E sabe por quê? Porque nós temos o poder de mudar o nosso destino. E nós vamos mudar o nosso. Seja lá o que Dabria tenha visto, não é real. Só será se nós permitimos. Eu digo pra você que não irei. E você? – Ele pensou por um momento e sua expressão se aliviou. Pareceu acreditar em mim. Isso me fez me sentir péssimo, eu não tinha certeza das minhas palavras, apesar de esperar ter.

– Eu não vou deixar que nada de ruim aconteça a Emily. – Sorri para ele em resposta. Ele também sorriu mas logo seu sorriso desmanchou olhando para algo atrás de mim. Virei-me para ver o que ele olhava. Mason tentou me impedir mas era tarde demais.

Marie andava pelo parque agarrada com Barry Nichols, o capitão do time de futebol e um grande rival de Mason. Isso significava duas coisas : 1 – ela não havia seguido meu conselho de sair da cidade e se manter em segurança, 2- ela havia arranjado outro alguém, o que, de certa forma, garantia um pouco sua segurança.

No momento em que olhava para a cena, o olhar de Marie encontrou com os meus. Eu vi muitas coisas no olhar dela. Dor, angústia, medo, saudades. Mas ainda assim, não entendi porque ela estava ali, com Barry.

Ela puxou o cara para longe, para um caminho oposto do meu. Mason fez o mesmo comigo. Não pestanejei e deixei que me levasse para onde ele quisesse. Não tinha forças para pensar. Não tinha forças para nada.

O caminho todo Mason foi falando algo para mim. Eu apenas fingia que ouvia e concordava e seguia o caminho. Assim que chegamos em casa, Mason me deu um abraço. Fiquei em choque pela atitude, não era algo dele. Mas isso demonstrava duas coisas: 1- Mason se importava comigo e sabia que eu estava triste, 2 – Mason queria que eu soubesse que estava ali pra mim e que apesar de tudo ainda éramos irmãos.

Entrei no meu quarto e me joguei na cama sem nem pensar. Antes que eu pudesse cair no sono, notei um papel em cima da mesa do computador.

Enquanto minha mão tremia, eu pude ler o bilhete.

“ Caro Cipriano,

Estou com a garota. Caso ainda a queira viva, venha com sua família até Casco Bay. Depois, siga até onde Nora foi sequestrada por Pepper. Tenho certeza que ela ainda se lembra. Não demorem. Vocês tem pouco tempo. Tic tac. Tic tac. O tempo não para.

Com amor,

Castiel.”