A longa naguinata fez um arco perfeito antes de encontrar o espaço vazio que Kakashi deixou para trás. A morena que ele descobriu se chamar Yasu, não perdeu tempo lamentando a falha de seu golpe, mas não avançou novamente, pelo contrário, ela deu um salto para trás e se apoiou na naguinata com uma expressão indiferente.

Interessante.

Ela tinha uma forma muito única de combate, Kakashi percebeu, seus ataques pareciam mais como testes para ver o que ele ia fazer do que tentativas reais de lhe tirar a vida. Isso lhe lembrava seu próprio estilo de luta, não que ele se abstivesse de ataque letal, longe disso, mas o homem gostava de saber contra o que estava lutando antes de assumir uma postura realmente ofensiva. Ele mais do que ninguém sabia que isso podia irritar alguns de seus oponentes mais ansiosos e agora entendia o porquê.

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Vamos fazer esse jogo funcionar então.

Ele atacou outra vez, kunai em mãos, esse era um jogo para dois jogarem. Ela abaixou a lâmina para combater a dele, Kakashi conectou uma sequência apurada de taijutsu, aumentando a velocidade dos golpes conforme ela se adaptava. Ele empurrou e pressionou até a morena fugir de seu alcance, ela não tinha problema para recuar.

— Você foi quem entrou em Konoha para levar Sakura.

Ela piscou lentamente, apática, quase entediada - Sim.

Ótimo, estava lutando com Sasuke de saias.

Ela investiu sobre ele dessa vez, sem muita paixão pelas palavras. Monossilabismo de fato é uma coisa frustrante. O longo cabo negro da arma deslizava por suas mãos com fluidez e delicadesa, hora suas mãos agarravam o fim do cabo, hora mais próximas a extremidade onde a lâmina se iniciava. Kakashi não tinha tanta experiência com esse tipo de arma, ele era um lutador de médio e curto alcance com seu punhado de técnicas de longo alcance, e a extensão da arma dela lhe dava conforto para se distanciar razoavelmente e ainda sim atacar.

Do outro lado da clareira uma nuvem verde se elevou, venenosa e maliciosa. Por um momento Kakashi agradeceu ter evitado o confronto com a mulher loira, seu nariz sensível teria sido uma desvantagem. Os sons de luta enchiam a clareira de todos os lados, espadas se chocando, gritos e veneno, mas o centro da clareira permanecia em silêncio. Sakura e Yoshiro, ele podia ver pelo canto do olho, ainda estavam da mesma forma de quando chegaram.

E se por um lado isso era bom, por outro podia ser bem perigoso.

Mas ele confiava em Sakura, tinha que confiar. Ela era sua menina, coragem e fúria corriam por aquelas veias mais do que sangue, e ela odiava perder. Ela não podia perder.

Ele não podia perder mais ninguém.

A morte precoce de sua aluna mais “segura” foi um choque muito grande para seu coração calejado. Por alguns meses ele foi aquele jovem Kakashi traumatizado com a morte recente demais de Rin, Obito e Minato-sensei. O peso de sua decisão nisso era um agravante a mais, foi ele enquanto Hokage que a mandou para lá.

Foi ele que a mandou para a morte.

E como fez por toda a vida ele seguiu em frente, não tão bem quanto gostaria de dizer mas o mais inteiro possível, com mais um nome para ver todos os dias no cenotáfio.

Mas não mais. Não aquele nome.

— Eu devo esperar uma segunda cabeça crescer aí? Se é tempo que está querendo ganhar adianto que não vai ser de muita ajuda.

A mulher olhou para o cenário a seu redor e ele não pôde evitar arquear a sobrancelha. Ou ela realmente o estava subestimando ou era uma declaração muito clara que ela se sentia bem segura em desviar o olhar de seu oponente. Parece que a nova geração não tem mais respeito pelos mais velhos.

— Não vai precisar esperar nada - ela voltou os olhos para ele, indiferentes e impassíveis - Diferente dos meus irmãos eu não fui alterada em nenhum estágio se não o psicológico.

— Humm, então você tem um parafuso a menos?

Ela piscou para ele, e sua falta de reação era frustrante, ainda mais do que lidar com Sai que ao menos demonstrava interesse em aprender sobre as emoções básicas, ela parecia ignorá-las. Não que ele fosse lá um poço de expressividade, se a máscara já não fosse suficiente para ocultar suas reações mais básicas do resto do mundo, sua falta de vontade em interagir de um modo geral completava o resto, evasão ganhava um novo significado quando atrelado a Kakashi.

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— Yoshiro-sama diria que tenho um parafuso a mais.

— É mesmo?

— Você está tentando ganhar tempo, Kakashi-san? - ela pergunta aparentemente curiosa - Com essa conversa, digo.

— O tempo está contra mim, estender essa luta vai beneficiar apenas o seu mestre - ele coloca as mãos nos bolsos em uma falsa postura de descontração - estou mais curioso, já que você não me atacou de verdade até agora enquanto seus companheiros estão claramente tentando dar fim a vida dos meus.

— Faz parte do meu estilo de luta.

— Imaginei que fazia - ela jogou a grande lança de uma mão a outra acompanhando o movimento contemplativa - mas sabe que não vai funcionar certo?

— Ser um Hokage o fez arrogante Kakashi-san? Ou foram seus outros títulos? Copy-ninja, Kakashi do sharingan, o ninja dos mil jutsus?

— Não é arrogância, é um fato, é o que sua postura de batalha indica, está protelando - ele deu um passo em sua direção - ou você talvez tenha outra coisa em mente.

O movimento parou, ela voltou os olhos escuros para ele, tão vazia de expressão quanto o papel em branco - Eu não tenho o melhor arsenal de técnicas para enfrentá-lo, minha maior vantagem nessa luta é que não temo o nome Kakashi Hatake como os demais fariam.

— Estou muito lisonjeado com a sua postura nada favorável, me faz parecer obsoleto.

— Kakashi Hatake jamais será obsoleto, mesmo se as pernas e braços lhe forem arrancadas ainda terá a mente estrategista.

— Agora eu estou realmente confuso - ele tombou a cabeça para o lado - a pouco disse que não tinha medo de mim e agora disse que sou uma ameaça. Perdoe esse velho por não conseguir interpretá-la.

— O fato de eu não ter medo não significa que não o reconheça como a ameaça que é Kakashi-san - ela imita o gesto de Kakashi quase como uma criança - apenas que eu não sinto medo.

O Rokudaime analisou a expressão já não tão vazia da moça, ela parecia quase divertida, mas não maliciosa, de forma alguma mal intencionada mas não menos ameaçadora. - E do que você tem medo?

— Como eu disse - ela deu um passo para perto de Kakashi, apesar de ainda segurar a longa arma sua postura não era de ataque - o único condicionamento a que Yoshiro-sama me submeteu foi o psicológico, sou um sensor por natureza, e um bem sensível, não é do interesse de Yoshiro-sama que eu fosse alterada. Minha única condição especial é ser emocionalmente rasa, principalmente no que diz respeito ao medo.

— Está me dizendo que não sente medo de nada? Que tipo de bem isso faria?

— Yoshiro-sama me contou uma vez que seu pai tinha um subordinado de grande confiança. Certa vez esse subordinado foi encabido de uma tarefa muito arriscada e apesar de sua lealdade, o temor por sua própria vida o impediu de cumpri-la - ela se aproximou mais, e por mais relaxados que ambos parecessem, bastava apenas um movimento e Kakashi estaria indo para ela com a morte nas mãos com o canto de mil pássaros - Ele disse que precisava de alguém que não tivesse medo de se arriscar por ele por perto.

— É uma grande aposta, colocar alguém que nada teme ao seu lado, isso torna a pessoa imprevisível não?

— Não no meu caso - ela deu outro passo, menos de dois metros os separavam - respondendo a sua pergunta anterior, meu único medo tem nome: Yoshiro-sama. Ele cuidou para isso, como eu disse meu condicionamento foi psicológico.

Kakashi arregalou levemente os olhos, isso lhe lembrava muito o que era feito na ANBU-Raiz. Mas por que a menina estóica estava lhe contando tudo isso? - Parece uma boa jogada. Se ele for a única coisa que você teme ele será o único a quem você deverá obediência, mesmo se isso significar prejuízo a si mesma.

— Exato - curiosidade e uma mente afiada brilharam por tras dos olhos negros - Meu medo patológico de Yoshiro-sama me faz capaz de tomar as melhores decisões para seus interesses. Mas o fato de eu ser desprovida de emoções não me tornou burra, e se Yoshiro-sama é a única pessoa a quem temo, bem, ele é também o único que pode realmente me fazer mal.

Kakashi arqueou a sobrancelha com o entendimento das ações de sua suposta oponente - Parece que isso saiu de forma inesperada, não é mesmo.

— Ele pode me matar, e ele vai se isso for necessário, não temo pela minha vida, eu não me importo de morrer, embora não queira, mas tenho medo de ter que passar o resto da vida ao lado dele - gelo e raiva invadiram os traços da mulher - Agora, se me permite, há uma questão importante que vai definir o curso de nossas ações em seguida.

— Fique à vontade.

— Yoshiro-sama, vai sobreviver ao dia de hoje? - ele podia ver a tensão nos ombros, a profundidade e seriedade em seus olhos.

— Não há como lhe garantir nada, mas - Kakashi deu um último passo em direção a ela, ao seu redor a clareira queimava com batalhas em meio ao sol, ele só podia desejar que seus companheiros tivessem tanta sorte quanto ele, embora suspeitasse que não - se eu fosse apostar eu colocaria todas as minhas fichas nisso. Se a própria Sakura não lhe der fim a vida, Sasuke não vai poupá-lo.

Ela olhou no fundo de seus olhos igualmente negros, sugando a luz como um poço sem fundo. Horas poderiam ter se passado enquanto em sua deliberação silenciosa Yasu encarou Kakashi, mas ele foi paciente o suficiente. De sua posição estática ela finalmente acenou em concordância e com um simples movimento de abrir a mão deixou a naguinata cair com um baque surdo na terra.

— Nesse caso, eu me rendo.

Bom, Kakashi pensou, agora entendo porque Naruto gosta de conversar com seus oponentes.


&

— Eu vou destruí-la, de dentro para fora, vou esmagar esse seu coração teimoso que enevoa sua visão.

— Você não sabe o que é ter um coração, o seu peito sempre esteve vazio.

— Então quando eu matá-la tomarei o seu pra mim.

&

Ele teve que chamar sua kekkei genkai uma outra vez.

Definitivamente não era a intenção de Jung usá-la, mas quando a loira começou a cuspir uma nuvem venenosa que corroía a pele, o ruivo não teve opção senão revestir seu corpo com a armadura de sangue. Desnecessário dizer que a loira não ficou contente com sua carta na manga, ou melhor, na veia.

— Isso não vai te proteger pra sempre cabeça de fósforo - ela cuspiu e a grama morreu - vou acabar com você e vai ser um grande desperdício desse rosto bonito.

Jung arqueou a sobrancelha para a loira - Bem, se desistir nada será desperdiçado, tenho certeza que há uma vaga pra você em alguma instalação nobre de Konoha, o que me diz da prisão? Melhor, o prédio de interrogatório, soube que o gerente, Ibiki Morino, é muito receptivo.

Ela balançou seu longo cabelo cor de areia em um movimento desdenhoso, os olhos traiçoeiros se serraram - Você se acha muito engraçado não é mesmo?

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— Eu tento, sabe - Jung deu um passo à frente, espreitando os movimentos da mulher ameaçadora - não sou só um rostinho bonito.

Ela sorriu e mesmo a distância isso enviou uma onda de perigo - Diga, isso faz parte da sua tentativa de roubar o coração dela?

O ruivo franziu o cenho automaticamente, isso era inesperado. Sem querer dar margem para a conversa dela, Jung avançou em seu ataque, uma espada de sangue em cada mão. Rápido como um pensamento ele impulsionou sua investida para interceptar a loira de frente, ela desviou do primeiro golpe, sua agilidade era impressionante mas foi inevitável que ele a acertasse eventualmente. Jung balançou sua lâmina escarlate para o flanco direito de Emi, ela pulou para o lado oposto se livrando do fio da lâmina. A outra espada já a esperava, mas ela não se deixou distrair e se abaixou em um espacate que fez as juntas de Jung doerem apenas de olhar.

Ele desceu sua lâmina sobre ela outra vez, ela rolou no chão se aproveitando de seu corpo estreito para diminuir a área de contato. Jung se abaixou também lançando um chute no plexo solar da inimiga que voou alguns metros longe. Sem esperar por uma reação, o ruivo não parou em seu ataque e sua lâmina lambeu a lateral do corpo dela deixando um rasgo carmin em suas roupas. Ela gritou e se pôs de pé dando vários passos para longe do inimigo.

— Seu miserável de merda, isso foi golpe baixo - cuspiu.

— Você sabe o que dizem, no amor e na guerra vale tudo.

Ela pressionou o corte em seu corpo com dor visível mas sorriu maliciosa - Parece que você não usa isso no amor já que continua sendo deixado de lado.

— Do que você está falando? Essa sua boca venenosa também confundiu o seu cérebro? - atirou o ruivo já irritado com as provocações da loira.

— Oh, você sabe muito bem do que eu estou falando - ela deu um passo na direção dele ameaçadoramente - Não é preciso ser um gênio pra saber que você está apaixonado pela coisinha de cabelo rosa.

Jung franziu o cenho outra vez, onde diabos ela estava querendo chegar com essa conversa? - Respirou muito do seu próprio veneno, víbora?

Ela sorriu, dentes com pontas amareladas brilharam com promessas de morte - Você sabe que estou dizendo a verdade, e sabe também que é a ponta solitária desse triângulo.

Jung já estava farto daquilo, ele olhou ao redor, a clareira estava um caos. A cratera no centro ainda estava silenciosa mas destruição pontilhava o terreno. Não podia ver Kakashi em sua luta mas não esperava nada se não perigoso vindo da morena estóica, Sasuke trocava golpes de espada do outro lado da grandiosa depressão onde Sakura permanecia congelada junto a Yoshiro. Isso estava errado, vários minutos tinham se passado e eles nem haviam se mexido, tinha que terminar com isso logo pra ir até ela.

— Você vê - a voz soou exatamente a sua frente e Jung se amaldiçoou quando deu de cara com a mulher loira a menos de um metro dele, foi descuidado e se distraiu - No meio de sua própria batalha de vida e morte e ainda está procurando por ela, um tolinho apaixonado.

O ruivo deu um passo para trás e se pôs em posição de defesa, ela lhe seguiu mas não avançou muito além disso - Não chegue perto.

Ela riu, um som agudo e venenoso, magoado. Jung encarou as feições tão perfeitas, os olhos cinzentos escondendo uma tempestade - Eu sei como é, amar alguém que não pode ter.

Jung balançou a cabeça, ele não falaria sobre isso aqui, com ela e agora. Ele evitava pensar sobre isso o quanto pudesse, mesmo que depois de anos apenas espreitando o objeto de sua afeição de longe, metaforicamente falando, aquilo ainda doía - Você não sabe do que está falando.

Ela deu mais um passo para ele - Acredite, eu sei - o sussurro baixo era quase uma confidência, os olhos grandes enevoados como se enxergasse um momento passado e o ruivo se perguntou o que ela havia perdido - Doton: shi no tsume.

Não houve tempo suficiente para Jung se defender do jutsu lançado a ele. Os sinais de mão voaram por seus dedos, ela estava muito próxima e ele distraído, a terra tremeu e grossos ramos de cipós brotaram do chão, se enrolaram em seus pés e então pelo resto do corpo em uma velocidade alucinante. Os espinhos pressionaram contra a camada fina e resistente da armadura, ele se debateu e lutou, balançando sua espada de sangue para cortar a hera mas, ao primeiro corte elas se enrolaram firmemente em suas mãos restringindo seus movimentos.

Ele não podia se mexer, era uma estátua esquecida na floresta por anos, uma árvore que brotou e petrificou. Uma segunda armadura cobria sua pele agora, ironicamente, essa de cipós que ao contrário da outra estava alí para lhe dar fim a vida.

— Nada disso ruivinho - Emi deu um passo perigoso para Jung, próximo, muito próximo - você é todo meu agora.

— Se afaste - ele sibilou.

Ela pôs fim à distância e se apoiou em seu corpo envolto nos cipós, as mãos passearam pelos braços onde a hera se enrolava, os dedos seguindo o fluxo da fina camada de sangue onde a pele aparecia ocasionalmente. Os olhos passeavam maliciosos e curiosos e Jung estava completamente tenso, a qualquer momento ela poderia simplesmente abrir a boca e lhe envolver em uma névoa venenosa, ele não tinha como escapar. Os braços e pernas estavam envolvidos pela planta que lhe apertava cada segundo mais.

O ruivo quase podia ouvir o coração batendo em seus ouvidos, a adrenalina correndo por suas veias, o fluxo restrito no pulso por um dos cipós. Ele tinha que sair dali, se livrar daquela armadilha, acabar com aquela mulher e ir ao socorro de Sakura.

— Diga, o que aquela coisinha rosa tem de tão especial? - a voz da mulher se tornou melosa, enjoativa, Jung viu assustado flores brotando dos galhos que lhe envolviam ao som de sua voz - o que ela tem que fez vocês tolos se jogarem ao seus pés?

Havia curiosidade genuína marcando as feições lindamente perigosas de Emi, um brilho malicioso nos olhos, e aquilo despertou a curiosidade nele também - Por que você quer saber?

Ela acariciou uma das flores, as pétalas de um rosa profundo, quase vermelho, pétalas pontiagudas perigosas, lindas e provavelmente mortais crescendo a alguns centímetros de sua cabeça - Tenho estado com Yoshiro-sama por tanto tempo, nunca o vi se apegar a ninguém mas ela, sempre fez os olhos dele brilharem daquele jeito obsessivo, a voz dele mudar e - Jung viu a mão pequena envolver a flor e apertar violentamente até a seiva rosada escorrer por entre seus dedos, ódio profundo incitando tempestades em seus olhos cinzentos.

Ah, era isso então.

— Você inveja o interesse dele por ela.

Ela voltou seus olhos tempestuosos para ele, raiva trovejando - Como eu poderia invejar algo daquela vadia rosa? Tão sem graça e monótona, você já olhou pra mim? Não há nada nela que não seja melhor em mim.

— E ainda sim é por ela que ele fez tudo isso - alfinetou. Era um caminho perigoso, mas ela era cabeça quente pelo que ele tinha visto, e se pudesse desconcentrá-la talvez tivesse uma chance de escapar e terminar com isso de uma vez, não tinha outra opção.

O ódio contorceu as feições sensuais, o cabelo loiro pálido escorrendo por seus ombros tensos, Jung pensou que ela poderia matá-lo a qualquer momento, mas ela não o fez. A mão deixou a flor e passeou por seu rosto imobilizado, o ruivo quase podia sentir a bile subir pela garganta - Como pode isso? Por que ele faria tanto por alguém tão desinteressante? - os olhos se arregalaram e ela se aproximou mais - você parece compartilhar do mesmo interesse, conte-me o que há de tão interessante?

Jung olhou no fundo dos olhos dela, pupilas dilatadas, olhos arregalados maníacos pela obsessão. Emi estava errada, ela se importava com aquilo que os olhos viam mas não era isso que ele havia enxergado em Sakura, não apenas isso ao menos, ela era linda, mas sua maior beleza não estava no exterior daqueles olhos verdes, mas dentro deles.

“- Eu não vou machucar você, vou tratá-lo

— Por que?

— Porque eu posso”

Ele ainda se lembrava daquele primeiro encontro, do sorriso gentil, das mãos suaves e cuidadosas. Ele se lembrava das longas conversas do crepúsculo à aurora, da teimosia, da força e determinação, do pavio curto, do coração enorme e da mente brilhante, da mãe cuidadosa e amorosa, brava e protetora. Ela era toda passional quando a vida lutou para lhe tornar indiferente.

Ela era única e apaixonante, linda por dentro e por fora. E Jung amava Sakura com todo o seu coração, mesmo que soubesse que ela jamais lhe amaria de volta, não como ele queria. Não, ela jamais olharia para ele daquela forma, não o escolheria para dividir o resto de seus dias, para acordar em seus braços e dormir sob seus olhos. Ele nunca teve chance.

Seu coração já tinha sido roubado, tão egoisticamente roubado ainda na tenra idade. Sasuke teve o privilégio de tê-la só pra si e por tanto tempo apenas ignorou sua devoção, mesmo que a amasse. E ele amava, Jung sabia que sim, ele via nos olhos desiguais seguindo Sakura como o girassol segue o sol, como um inseto na luz, como ele próprio seguia.

Mas diferente de Jung, Sasuke era correspondido na mais profunda intensidade. O ruivo não podia se enganar, ele o invejava, houve um tempo que ele o odiava profundamente. Ele era o amor de Sakura, o pai de Sarada e ainda assim ele as havia deixado. Ele tinha tudo o que Jung sonhava em ter e não havia dado valor, como um covarde fugiu da melhor coisa que lhe aconteceu na vida. Ao mesmo tempo ele lhe era grato, se não tivesse sido tão tolo, Sakura jamais teria vindo para ele, e às vezes em seu coração mesquinho ele até agradecia por isso.

Mas então ele foi a Konoha, ele viu o moreno muito diferente do que ele jamais havia imaginado. Onde estava o menino arrogante, indiferente e insensível que tinha construído em sua mente por todos aqueles anos? Onde estava o covarde ingrato? Naquele tempo em que Sakura havia estado em coma, naquelas semanas onde ele e Sasuke rondavam Sakura e Sarada em partes iguais, foi naquele tempo que o ruivo finalmente havia entendido.

A única diferença entre ele e Sasuke era que quando Jung encontrou Sakura, ele já estava pronto para ela, para o amor e para o futuro. Sasuke Uchiha era uma criatura que dividia sorte e azar como ninguém, toda a sua família havia sido arrancada brutalmente dele, manipulado e enganado pelo próprio irmão, levado a matar a única pessoa que lhe restava, toda uma vida destruída pelo bem estar de sua vila. E ao mesmo tempo que tanto lhe foi tirado, muito havia lhe sido dado, amigos leais, amor incondicional e verdadeiro, perdão, futuro.

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Quem era Jung quando encontrou Sakura? Um homem amargurado, perdido e com o coração cheio de mágoa pelo que lhe havia sido feito, mas alguém pronto para seu recomeço. Quando ela lhe estendeu a mão, o ruivo estava pronto. E aquele amor havia feito dele um homem melhor, alguém capaz de amar.

Foi esse homem, pronto para amar e ser amado que ele encontrou em Sasuke. Não mais o menino assombrado pelos fantasmas do passado, alguém pronto para viver o futuro, pronto para aceitar o que ele havia negado por tanto tempo, pelo que lhe havia sido negado. Alguém que merecia uma segunda chance, que merecia ser feliz.

Sim, Jung invejava sua sorte, mas ele amava Sakura e Sarada o suficiente para querer sua felicidade, mesmo que não fosse a seu lado. Mesmo que doesse, ele não se importaria em ser a ponta solitária daquele triângulo, elas já haviam feito por ele mais do que ele podia fazer por elas, apenas existindo.

— Você nunca vai entender - ele respondeu Emi - amor não é sobre aparência, não sobre pessoas interessantes e desinteressantes, monótonas ou não. Yoshiro não ama Sakura, assim como você, ele tem essa obsessão doentia por ela mas isso não é amor.

Os dedos dela se cravaram em sua pele, ele podia sentir as unhas machucando a carne de sua mandíbula - O que você sabe? Meu amor por Yoshiro-sama não pode ser comparado! E quando eu matar aquela vadia nada mais vai estar em nosso caminho, ele vai me amar, me permitir ser alguém normal, capaz de tocar e - ela fechou os olhos, lágrimas delirantes rolaram por sua face - e beijar.

— Não é Sakura que está entre vocês, amar é um encontro entre dois corações e o de vocês dois está seco demais para poder brotar qualquer coisa.

— Isso é mentira! - ela gritou, a raiva já fazendo seu papel, os cipós se enrolaram e apertaram mais. Jung enviou uma pequena quantidade de chakra para seu sangue, ele se agitou, pronto para receber seu comando - Ele vai olhar pra mim, vai me fazer completa por que eu sou a única que entende e ama ele de verdade!

Ela se aproximou mais para olhar nos olhos violáceos, quase um abraço. As flores nascidas dos galhos se abriram, brilhantes e mortais - Você é seca demais pra isso.

Jung sentiu a onda de chakra dela pelos cipós lhe estrangulando, indo até as flores se movimentando perigosamente, do corpo próximo trêmulo de raiva. Era agora ou nunca.

— Chiton: Chimamire no hōyō - ele viu o mínimo arregalar de olhos dela mas já era muito tarde. Ele sentiu como somente ele podia, seu sangue se mover a seu comando, a fina camada de sangue se mover desfazendo a armadura e se tornando espinhos sangrentos por cada centímetro de pele. Ele sentiu seu sangue cortar e furar, transpassar os cipós até perfurar a carne do corpo próximo. Ele viu as flores tremularem vigorosas antes de murcharem, sentiu os cipós apertarem e rasgarem sua pele quando sua proteção se tornou sua arma.

Jung viu a expressão paralisada da mulher ao ser perfurada por seus espinhos de sangue, viu ela se afastar dois passos enquanto sua prisão verde se desfazia e ele caia de joelhos no chão, machucado e sem chakra. Ele viu o corpo perfurado e sangrando, os olhos vazios derramarem uma última lágrima antes de desabar sem vida no chão.

Jung respirou fundo, sentindo o gosto do sangue na boca ele chamou seu sangue de volta para dentro do corpo, deixando de fora aquele que perfurou a mulher venenosa. Ele estava fraco, com pouco chakra e machucado. Mas ele precisava se levantar, Sakura, ela precisava dele.

Juntando toda a força que tinha ele se pôs de pé, pronto para correr em seu socorro. Mas quando ele olhou para onde antes ela ainda era uma estátua, tudo já tinha mudado.

&

— Você está errada querida. Você é a prova de que eu tenho um coração.

— Você não me ama, isso não é amor!

— Pode não ser do jeito certo, mas eu amo você desde o dia que sorrindo me disse que eu poderia ser o que quisesse.

&

Lutar com Hideo era como ele se lembrava, um embate com uma pequena figura rápida, impiedosa e precisa. Uma máquina bem lubrificada e poderosa.

Mas diferente da primeira vez, Sasuke sabia exatamente contra o que estava lutando, e não se deixaria vacilar agora. Sharingan ativo, cada movimento inimigo era lido e evitado com precisão cirúrgica, a lâmina mal passava perto do Uchiha, enquanto sua própria lambia as roupas do adversário repetidamente.

Era estranho lutar com ele outra vez, Sasuke se lembrava bem de vê-lo voando pela clareira onde o embate se deu pela primeira vez, pulmões destruídos pelo soco de Sakura. Mas agora, meses depois, ele estava ali como se nada tivesse lhe acontecido, Yoshiro devia ser um médico verdadeiramente notável. Os movimentos dele ainda eram precisos, fluidos, elegantes e ágeis, nada havia sido comprometido.

Agora, uma clareira diferente, a mesma urgência. O som do combate se espalha pelo terreno como os gritos desesperados de uma viúva, lâminas cantando a morte. Destruição marcava o lugar, o centro, um coração pulsando uma energia estranha que ele podia sentir apenas pelo sharingan ativado, mesmo quietos, algo mortal estava acontecendo lá.

Tinha que se apressar.

Sasuke usou shunshin para se deslocar para as costas de Hideo, uma das lâminas dele esperava o ataque e bloqueou, outro shunshin o levou para o flanco direito, chidori em uma mão, kusanagi na outra. Hideo usou shunshin para evitar o ataque de relâmpagos, mas não pode desviar da lâmina de Sasuke que se enterrou profundamente em seu ombro esquerdo. O moreno agarrou o cabo da arma com mais força para torcê-la mas foi obrigado a retirá-la para esquivar do ataque do inimigo mesmo ferido. Enviando chakra ao rinnegan ele se transportou para a lateral ferida do oponente lançando uma saraivada de kunai e shuriken.

Hideo pulou longe das armas lançadas e novamente para ganhar distância. Um braço agora pendendo inútil em seu lado esquerdo.

— Parece determinado Sasuke-san.

Ele não se dispôs a responder, ao menos não com palavras. Sasuke não permitiu tempo para o oponente respirar ou pensar, suas habilidades estavam comprometidas já que agora uma de suas lâminas estava impossibilitada de ser manuseada. Ele correu e a poucos metros de Hideo inflou o peito para a próxima técnica. Uma imensa e infernal bola de fogo desceu sobre o espadachim com promessa de morte.

Usando sua já conhecida velocidade o oponente de Sasuke desviou do ataque no último instante, como esperado pelo moreno que já o aguardava com sua espada relâmpago para recebê-lo. Apenas o sharingan permitiu que Sasuke visse os rápidos movimentos da única mão do outro homem.

— Ninpō: Gōsutoburēdo - as espadas que ele antes empunhava se levantaram sozinhas e se multiplicaram como clones das sombras formando uma concha ao redor do homem. A parede recebeu o golpe de Sasuke que se esquivou do fio afiado das espadas no último momento, não eram apenas ilusões, eram réplicas reais - parece que você me subestimou Sasuke-san.

— Não vai acontecer de novo - respondeu entre uma respiração e outra. Não podia tirar os olhos das lâminas, agora flutuando ao redor do seu inimigo, tudo o que Sasuke queria era acabar com isso o mais rápido possível para tirar Sakura do centro daquela clareira, levá-la para Konoha, para Sarada.

Logo, logo tudo ficaria bem.

— Bom, vai ver que não será bom fazê-lo - com um simples movimento de mão o oponente de Sasuke enviou seu pequeno exército de espadas em uma ataque em todos os ângulos.

Os tomoes de seu doujutsu original giraram loucamente prevendo o movimento das lâminas em sua direção. Sasuke brandiu sua espada em sua mão esquerda e uma kunai na direita, ele não podia se deixar tocar por nenhuma daquelas espadas negras. Elas avançaram sobre ele rápida e impiedosamente, uma tempestade de armas afiadas que ele ainda mais hábil desviou e evitou, seu corpo era um vulto, o olho de um furacão onde os ventos eram lâminas.

— Uma hora Sasuke-san, você deixará uma brecha - a voz do inimigo soou entre o barulho metálico de suas armas - isso é inevitável, assim como o destino de Sakura-san que em breve irá morrer.

— Isso não vai acontecer - uma espada de lâmina negra avançou para seu flanco direito e ele chocou contra a sua própria desviando seu curso, na outra mão a kunai segurava o avanço de uma outra lâmina enquanto uma terceira se aproximava pelas costas. Elas não podiam ser destruídas, quanto mais Sasuke desviava e esquivava mais elas avançavam. Não podia mais perder tempo nisso, cada segundo era precioso para Sakura.

Todas as lâminas se afastaram juntas e dançaram no ar desenhando uma formação fechada com Sasuke no centro. A ponta afiada de cada uma delas mirando o corpo do Uchiha - Acabou Sasuke-san.

Não.

Quando as lâminas desceram sobre Sasuke as costelas de seu Susanoo já despontavam ao seu redor, o chakra roxo impenetrável na defesa perfeita de sua linhagem de sangue. As espadas ricochetearam para longe ao se chocarem contra a armadura formada pelo chakra de Sasuke. À distância o moreno viu seu oponente praguejar, por mais preparado que ele estivesse para lutar, provavelmente ele esperava atingir Sasuke antes de chegarem a esse ponto.

— Sim, acabou - O arco de seu Susanoo se materializou e o humanoide puxou a primeira flecha para atingir o inimigo. Imediatamente as espadas cercaram seu mestre e quanto a flecha lançada lhe atingiu ele permaneceu firme. Uma segunda flecha foi armada, Sasuke enviou outra onda de chakra para seu doujutsu e as chamas negras banharam a flecha no arco de seu guerreiro.

Dessa vez, quando a flecha se chocou contra a parede de aço as espadas se dispersaram queimando na chama eterna de Amaterasu. Hideo pulou para longe fugindo do calor infernal das labaredas, espadas desgovernadas desapareciam em nuvens de fumaça como clones derrotados. Sasuke não desperdiçou a oportunidade.

Enviando chakra a seu outro doujutsu ele mirou o passo seguinte de Hideo e se transportou para lá. Sasuke sentiu sua própria lâmina perfurar a carne do homem, rasgando os tecidos e órgãos por onde passou até despontar em suas costas. Os olhos castanhos dele se arregalaram surpresos ao entender o que tinha acontecido, ao ver o vermelho de seu sangue manchar suas roupas e encher sua boca. Ele tocou a lâmina que lhe atravessava o abdômen e uma lágrima rolou por sua face.

— Perdão Yoshiro-sama, não tenho mais utilidade - sussurrou antes de deslizar para o chão.

Sasuke perdeu apenas um segundo para olhar para o corpo inerte, em toda sua vida nunca havia encontrado um espadachim tão habilidoso, em outros tempos teria gostado de treinar com ele.

Seu devaneio foi rompido pela onda poderosa que varreu a clareira vinda do centro da cratera. Sakura.

Ele correu para a borda do imenso buraco e seu coração se apertou a cada passo quando percebeu que não podia mais ver Sakura. Ele deslizou pela encosta destruída e logo sentiu a presença de Jung e Kakashi se juntarem a ele e uma terceira, a mulher de cabelo escuro que deveria ter sido derrotada por Kakashi. Ele não se importou com esse detalhe, não agora. Ele correu para Sakura mas havia algo estranho, a cada passo que dava era mais difícil, a atmosfera mais densa e carregada.

— O que aconteceu? - questionou Jung olhando para a névoa cinzenta maciça que encobria o centro da clareira onde minutos antes as duas figuras se encontravam.

— Começou do nada - Kakashi respondeu - em um momento eles estavam lá parados e no outro estava assim.

Sasuke continuou forçando seus passos, era como tentar caminhar debaixo da água, o ar era espesso, queimava a garganta e ficava pior a cada centímetro.

— Mas que merda é essa? - gritou o ruivo.

— É chakra - a mulher silenciosa respondeu, ela havia ficado para trás a alguns metros mas permaneceu próxima - chakra natural denso e poderoso.

Sakura.

Isso não era bom, esse tipo de poder devastador seria tão letal para ela quanto para seu oponente. Sasuke enviou chakra para o corpo tentando forçar seus movimentos contra a atmosfera densa que ficava pior conforme se aproximava. Um furacão parecia ter se iniciado na cratera, o vento uivava, a poeira se levantou violentamente. Uma pedra se moveu na direção deles, Sasuke enviou chakra aos pés fixando-se no chão e moveu seu corpo para o lado oposto do grande escombro, ele viu pelo canto do olho Kakashi e Jung fazerem o mesmo mas foram atingidos por mais terra solta, ele se apressou.

A barreira de névoa densa que impedia de ver o centro estava a sua frente agora, como um monstro de pesadelo se movendo com a força de um tornado se avolumando muito acima de suas cabeças. Sasuke estendeu a mão para a massa cinzenta e quando a tocou…

Por um momento tudo escureceu e cada um dos seus sentidos gritou de dor. Foi uma descarga poderosa e nauseante e o moreno tropeçou um passo para trás desequilibrado. A respiração ficou presa na garganta, a energia corrosiva ainda viajando por suas células deixando minuciosas descargas de dor. Era terrível. Ele olhou para a mão e ela parecia intacta, mesmo que trêmula.

Sasuke mirou a névoa outra vez, ele precisava atravessá-la, Sakura estava do outro lado e nada no mundo ia separá-lo dela, nem a dor, nem a morte. Ele invocou Susanoo outra vez em sua meia forma, a caixa torácica lhe envolvendo como um coração, confiante ele deu outro passo em direção a névoa e…

Quando sua visão clareou ele estava no chão, tremores dolorosos se espalharam por seu corpo em espasmos dolorosos. Sasuke sentia cada célula, cada impulso nervoso, era algo como jamais tinha sentido antes, arrasador - Sakura…

O vento sobrenatural ameaçava lhe jogar para longe quando ele ainda tremendo tentou se levantar. Uma mão pousou em seu ombro e Kakashi apareceu no canto de sua visão, o cabelo grisalho balançando como louco ao vento - Você está bem?

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— Hn - ele respondeu, por mais que a dor ainda se espalhasse ele podia dizer que estava tudo onde deveria estar e isso era o que mais lhe intrigava - A dor é insana mas não machuca.

— Eu disse - ele ouviu a voz da morena atrás dele - é chakra, por isso mesmo seu Susanoo não pode lhe proteger já que ele é feito de chakra. O chakra natural condensado dessa forma, quando você o toca seu corpo não suporta e seu chakra luta contra ele, é muito interessante de sentir acontecendo.

— É como Sakura se sente - a voz de Jung soou perto - todos os dias.

Sasuke se levantou com a ajuda de Kakashi, a tempestade na clareira parecia piorar a cada segundo - Precisamos tirá-la de lá - ele deu um passo em direção ao turbilhão cinza, não importava a dor, ele precisava ira para ela, não podia lhe deixar sozinha outra vez.

A mão de Kakashi pesou sobre seu ombro impedindo outro passo seu - Não Sasuke, se você atravessar e chegar do outro lado inconsciente não vai poder se defender, não sabemos o que está acontecendo lá.

— Não vou deixar Sakura sozinha! - ele gritou de volta.

— Mas se você morrer vai deixar Sarada sozinha.

Sasuke cerrou os olhos com força. Tudo e todos os seus sentidos mais primordiais queriam lhe fazer correr para encontrar Sakura, mesmo que isso significasse a morte, o desespero de não saber o que estava acontecendo congelava o sangue em suas veias, era ainda pior do que a dor de tocar naquela névoa. Impotente e inútil, era assim que ele se sentia. Mas Kakashi tinha razão, ele precisava pensar em Sarada.

— E o que você sugere? - sussurrou meio perdido. Ele era um adulto e a essa altura ainda precisava dos conselhos do sensei, Sasuke voltou os olhos revoltados para o homem mascarado - Que eu sente aqui e espere ela morrer sozinha outra vez?

— Sugiro que espere aqui até que possamos encontrar uma forma de atravessar isso - os olhos negros tão semelhantes aos seus lhe encararam de volta - Sakura não vai morrer hoje, nenhum camarada meu vai morrer enquanto eu puder lutar, você se esqueceu disso Sasuke?

— Não - respondeu, coração partido mas determinado, nada, nada iria impedi-lo de salvá-la.

— Olhe! - Jung exclamou.

Eles não precisaram esperar.

&

O mundo estava parado.

O silêncio era tão infinito quanto o céu sobre ela.

Em algum lugar de sua mente Sakura sabia que lá fora tudo era caos e destruição, mas quando ela olhou para Yoshiro, os olhos dourados injetados com fúria e morte ela soube.

Nenhum de nós vai sair com vida daqui.

Tudo bem, pensou, não era o ideal, não era o que queria, mas ela o faria se fosse para acabar com isso de uma vez.

— Eu teria sido sua amiga - ela sussurrou para ele - se você tivesse pedido, eu teria sido sua amiga e nada disso teria acontecido.

— Depois do que eu fiz naquela vila? Você nunca teria me aceitado como amigo, e eu já disse, nós deveríamos ser parceiros - a voz amargurada dele encheu seus ouvidos.

— Não naquela época, antes - Sakura viu a expressão franzida dele relaxar aos poucos conforme ele entendia suas palavras - eu nunca tinha reparado antes, o erro foi meu. Naquela época eu não tive tempo, agora eu gostaria de ter tido. Você tem razão, teríamos sido parceiros de profissão incríveis, imagina o que teríamos feito juntos?

— Não quero ser só seu parceiro de laboratório - ele sussurrou, e nunca Yoshiro lhe pareceu tão frágil - você me disse que eu poderia ser o que quisesse desde que me determinasse a isso. Eu queria ser o dono do seu coração.

Ela balançou a cabeça para ele, os dedos delgados envolvendo seu pescoço lhe tirando o ar e a vida - O meu coração é meu e apenas meu para dar a quem quiser.

— Você deveria tê-lo dado pra mim.

— Sinto muito, ele já havia sido dado a outra pessoa.

— E você vai se arrepender por isso.

— Nunca.

Sakura fechou os olhos e sentiu tudo ao seu redor, pela primeira vez ela não apenas deixou o chakra entrar, ela o chamou com toda sua força. Ela sentiu a força violenta do chakra selvagem lhe enchendo cada poro e mais. Era muito, mais do que seu corpo podia suportar. Ela sentiu ele se acumular ao redor, denso e poderoso, como uma tempestade dolorosa o chakra se movimentou revoltado e ansioso.

Seus canais de chakra a muito haviam sido destruídos pelo estranho veneno das mãos de Yoshiro, o chakra circulou seu corpo como se fosse apenas um vaso preenchido por ele, seu recipiente, sua casa. Era um oceano, uma onda desgovernada que arrasaria tudo em seu caminho.

— Yoshiro - ela chamou ao abrir os olhos, sua própria mão envolvida no pescoço dele brilhava como uma estrela incandescente, azul e verde como o espectro de uma alma sobrenatural - Sayōnara.

Foi uma das cenas mais lindas que ela se lembrava, e isso era mórbido de certa forma.

Sakura viu o chakra viajar de seu corpo para o dele, a pele quebradiça e anormal se tornando como a sua, banhada de chakra incontrolável. Ela sentiu como se fosse a si própria a pele, o músculo e os ossos dele mergulhando na energia pura do chakra natural, a energia incinerando as células e tecidos.

Ele sorriu uma última vez e ela enviou tudo o que tinha, cada gota de chakra em seu oceano roubado, e mais. Ela sentiu a atmosfera ao redor se agitando e concentrando ao redor do corpo de Yoshiro para onde ela mandou toda a destruição em forma de chakra. Ele brilhou tanto quanto ela com suas células embebidas no puro poder, e quando não foram mais capazes de suportar ele se desfez.

Como se fosse uma estátua de areia, poeira incandescente de estrelas levadas pelo vento. Como as cinzas de uma chama imortal, reluzindo e se espalhando com a brisa. Yoshiro se desfez até que suas mãos não segurassem mais nada além do ar. Foi como presenciar uma chuva de meteoros particular, lindamente destrutiva.

Acabou.

O pensamento enviou uma onda de alívio e Sakura sentiu a exaustão lhe puxar para longe, sentiu o chakra natural recuar e se espalhar para o ambiente outra vez enquanto a gravidade lhe puxava para seu centro. Hora de descansar.

Ela nunca encontrou o chão.

Braços a receberam com carinho, quentes e acolhedores em um abraço desesperado e saudoso. Ela conhecia aquele abraço - Sasuke-kun - sussurrou.

— Sakura, fique comigo, não adormeça - ela sentiu o movimento, sentiu ele correr com os braços ao seu redor. Sakura podia jurar que ouviu a voz de Jung e Kakashi-sensei - fale comigo, não durma.

— Estou cansada - respondeu, mal podia ouvir a própria voz - acho que agora vou precisar dormir um pouco.

— Não! - de perto como estava foi quase um grito e ela abriu os olhos alarmada.

A primeira coisa que viu foram os olhos negros que tanto amava arregalados e chorosos, mas Sasuke-kun nunca chora, pensou. Sakura levou a mão ao rosto dele capturando uma lágrima antes que ela escorresse, era algo que ela sempre quis fazer, enxugar as lágrimas dele quando ele precisasse - Não chore.

— Não se esforce, vamos levar você pra Konoha e Tsunade vai te salvar - o desespero em sua voz era de cortar o coração, ela não queria isso, não queria vê-lo sofrer outra vez.

Mas ela também sabia que estava muito além da salvação.

— Sinto muito Sasuke-kun - dessa vez era ela chorando, seu coração apertado, isso era tão injusto - Sinto muito por deixar você outra vez, por fazê-lo sofrer outra vez.

— Não! - dessa vez ela tinha certeza que foi um grito e não a proximidade - você não vai me deixar!

Ela estava de olhos abertos, tinha certeza disso, mas tudo estava escuro, borrado ou confuso, mexer a boca ficava cada vez mais difícil, ela não tinha mais tanto tempo - Eu amo vocês, todos vocês, diga a eles

— Você vai dizer - ele implorou.

— Diga a Sarada, todos os dias, lembre-se disso todos os dias. Eu amo vocês, e não…. - respire, só mais um pouco - não…. me arrependo….. de nada.

Tudo ficou frio, tudo escureceu, ela sentiu os olhos fecharem, ela ouviu o grito de Sasuke chamando seu nome. Ela sentiu um puxão desnorteador e então não sentiu mais nada.