Os quatro reinos

Capítulo 6


Quando anoitece decido me vestir novamente com dificuldade com todos aqueles tecidos e fujo na noite sem ninguém me ver ou notar. Caminho pelas ruas sem acompanhante e percebo olhares incriminadores de mulheres em minha direção. Como se dissessem que sou uma idiota. Observo os restaurantes abertos cheios de homens, mulheres e casais parecendo felizes em sua doentia vida. Ouço um grito de doer os ouvidos.

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—Diga que é uma vagabunda traidora – grita uma homem.

Desvencilho-me na multidão e chego a uma pequena praça onde um homem bate em uma mulher nua no chão.

—Com quem me traiu sua puta? – ele grita.

Imagino que seja sua própria esposa. Os homens ao redor olham admirados e as mulheres parecem amedrontadas.

—Me diga?! – ele grita e a chuta na barriga – sua vadia escrota!

—Eu não te trai – diz ela chorando aos prantos enquanto seu corpo sangra.

Ele pega uma arma que tem na calça e aponta para cabeça dela.

—Eu vou atirar na sua cabeça sua vadia se não me contar o nome dele. Ele tem esposa não tem? Os dois vão morrer.

Meu coração parece acelerado e estou prestes a me intrometer quando um braço extremamente forte me mantém quieta.

—Fala sua puta! – A boca da mulher sai sangue.

—Matem ela – grita alguns homens e mulheres.

—Mate ela!!

—Mate ela logo!

Fico horrorizada de encontrar aquele povo sustentar aquela realidade.

—Por favor – ela diz enquanto chora.

O homem a puxa pelo braço e se volta para todos.

—Isso é o que acontece com mulheres que traem seus maridos.

—Irmã – uma mulher sai correndo na multidão porém as pessoas a seguram.

A mulher no chão olha para a irmã esperançosa.

—Me soltem! não mate ela seu covarde! – ela grita porem um homem lhe da um soco e ela cai no chão.

—Cuide de sua esposa Herrory – diz o homem com a arma na mão.

—Me desculpe cunhado, é que ás vezes Niory não sabe se calar – ele diz parecendo preocupado.

Niory é levantada do chão pelo marido que a segura.

—Me solta! – ela diz – como vai o deixar matar minha irmã?

—Cale a boca esposa – ele diz sério e aponta a mão para bater nela novamente em público.

O homem chuta a esposa que se contorce no chão enquanto todos assistem e então aponta a arma. Tento me desvencilhar do braço que me segura e então olho nos olhos de Kawell que parece furioso como eu nunca vi.

—Me solta seu desgraçado – digo.

Ele me mantém presa aos seus braços.

Quando retorno a cena Niory se desvencilhou do marido e corre em direção à irmã porem o marido pega a arma e atira contra sua cabeça e sangue voa na platéia. Meus olhos se arregalam enquanto pedaços de crânio voam contra nós. Ela cai no chão e sua irmã parece em choque. Tento correr e então vejo o homem atirar na própria esposa, primeiro na perna, depois na barriga e então na cabeça como se por diversão. Não consigo mover um músculo sequer, meu corpo parece congelado e minha mente agitada. Sinto uma picada no meu pescoço e adormeço.

Quando acordo, meu corpo se sobressalta e encontro Erlian sentado na cadeira de frente a cama.

—Mandei ficar aqui! – ele fala tão grosso comigo que me encolho – que diabos estava fazendo a noite no centro da cidade?

O olho furiosa.

—Você não deveria estar bravo comigo e sim com aqueles homens que assassinaram as próprias esposas a sangue frio.

—Elas não são minha responsabilidade – ele diz frio.

—Você é um monstro como eles – digo tentando me levantar porem parece que vou desmaiar.

—Fica quieta – ele diz – aplicamos algo em você.

—Desgraçado – digo.

—Você prometeu – ele diz se levantando – parece que não posso confiar na sua palavra.

—A mulher jurou que não o traiu, ele atirou três vezes nela depois de espancá-la e ninguém fez nada!

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—Eu sei – ele diz – mas leis são leis e o marido tem poder para fazer o que quiser com a mulher que seja sua.

Minha mão volta contra seu rosto lhe estapeando e deixando um corte de sangue em seu rosto.

—Seu monstro!

Me apoio na cama para não cair, minha cabeça ainda dói.

Ele me olha irritado e passa a mão pela bochecha onde o sangue escorre.

—Você precisa aprender a ter melhores modos – ele diz – acho que vou deixá-la descansar e pensar na merda que esta fazendo.

Ele sai do quarto irritado. Eu fico parada ainda com o ódio correndo em minhas veias.