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Peeta não faz ideia do que causa em mim, ou as vezes penso que sabe, por isso faz o que faz.

— Estou no aguardo, o que tem para me dizer, Katniss? — Me desafia, lançando um sorriso que meu coração tem venerado.

Não, ele não sabe. Tudo o que ele quer é me provocar. Concluo. Sinceramente não sei por que faz isso. Então quando penso em confronta-lo outra vez, um casal se aproxima, o chama pelo nome e ele se afasta de mim.

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Pela forma que conversam, parecem ser amigos de longa data, logo Finnick se junta e Annie também.

Finnick apresenta minha amiga como sua noiva, isso causa um espanto no rosto da mulher que vestia roupas descoladas e aparentemente caras, pela feição que adquiriu no rosto, pareceu não se simpatizar muito com minha amiga. Eles ficam alguns minutos jogando conversa fora e como sou deixada de lado, procuro por meu telefone, não tem nada, nenhuma mensagem, nem de Picasso, será que ele se esqueceu de mim também?

Levanto cambaleante pela bebida, sigo para o banheiro, demoro a entrar, há uma fila, decido esperar, bebi mais do que deveria, faltando apenas três mulheres em minha frente, vejo a amiga de Peeta se aproximar, ela fala ao telefone, acaba não me reconhecendo, se é que me percebeu junto a eles alguma vez, ela fica bem atrás de mim o que me permite ouvir a conversa.

Sua voz é irritante, fala de um jeito enojado de alguém, uma mulher no caso, tento não ouvir a conversa, mas é impossível, o bar está cheio, assim para que a outra pessoa a escute, conversa alto, não consigo ser indiferente, principalmente quando ela menciona o nome da minha amiga, diz que é uma caipira, e de suas roupas ridículas.

Me viro e a encaro, quero que me perceba, se não for agora, será depois ao retornar para o bar, chega minha vez de utilizar o banheiro, não demoro muito, lavo as mãos e passo por ela que não fala mais ao telefone.

Ao me aproximar, noto que Annie está diferente, pergunto o motivo, diz que é apenas o cansaço, sugere voltar para o hotel, ela comunica isso a Finnick que pede mais alguns minutos, então o rapaz alto, loiro e musculoso, que falava com Peeta parece que me nota pela primeira vez e pergunta quem sou eu.

— É a irmã da Annie. — Finnick responde, abrindo um sorriso que retribuo, fico feliz que me considere assim, pois é isso que Annie representa na minha vida a muito tempo. — Além de uma noiva linda, vou ganhar uma cunhada que não é nada mau — ele adiciona, beijando o rosto da noiva e depois o meu.

— Nada mau mesmo. — o rapaz dá uma piscadela na minha direção — E a irmã da Annie tem nome? — indaga interessado.

— Katniss! — Finnick responde por mim.

— Katniss. — Pronuncia meu nome, olhando para meu corpo, parecendo um predador.

— Sou o Gloss!

— Precisamos ir. — Peeta interrompe, desconfortável.

— Como assim, acabei de chegar, fique mais um pouco — O rapaz chama o atendente, e mesmo aos protestos de Finnick, o tal Gloss pede outra rodada de bebida e anuncia, que é por sua conta, enquanto isso aproveita e puxa assunto comigo, sabe que trabalho com Peeta, essa informação logo alcança o ouvido da mulher que estava em sua companhia, e pela forma sem graça que me olha, agora ela se recordou de mim, da encarada que lhe direcionei enquanto falava mal da minha amiga na fila do banheiro, começo a rir.

Mas, eu não ri por muito tempo, ser feliz, talvez, não faça parte da minha vida, não depois do que aconteceu quando chegamos a recepção do hotel e a mesma mulher que correu para os braços de Peeta no aeroporto, o esperava outra vez, com um beijos e abraços exagerados, acho que Peeta percebeu a decepção se formar em meu rosto, pois, pela manhã, enquanto aguardávamos a chegada do transfer que nos levaria ao aeroporto, ele tentou falar comigo, mas eu o ignorei, e corri para os braços de Cato, expliquei que o beijo que ele viu entre Peeta e eu, não passou de um erro e nunca mais iria acontecer.

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— Eu preciso falar com você. — Peeta segura meu braço, assim que ultrapasso as portas da aeronave, já havíamos encerrado nosso turno, só estávamos nós dois no corredor do aeroporto.

— Não tenho nada para falar com você. — Peeta estreitou os olhos, mas, não me soltou.

— Temos sim.

— Não tenho não. — Me desvencilhei. — E fica longe de mim, nunca mais ouse tocar em mim. — Comecei a me afastar e me esbarrei com a chifruda da namorada dele nos olhando.

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Já em casa, corri para meu apartamento, procurei em minhas coisas o presente que Peeta havia me dado, era uma pérola preta.

Revirei meu quarto para encontrá-la. E quando isso aconteceu, segurei a pérola, como se ela fosse a minha vida. Deitei de barriga para cima. Fechei os olhos e contive as lágrimas. Eu queria correr até ele e falar que meu peito enche de saudade. Saudade daqueles dias. Por que ele se foi? Não consigo achar uma resposta. Por isso eu choro. Parei apenas quando ouvi Annie batendo na porta.

— Por que você correu, Katniss, está chorando? — Indaga assim que abro a porta, antes de abri-la, corri para o banheiro e lavei o rosto, mas minha pele é branca, sempre quando choro fico vermelha demais, difícil camuflar.

— Só emocionada com a notícia do seu casamento. — Emito um sorriso morno e volto a ficar encolhida de baixo das cobertas.

— Não é isso — Entra no quarto e fecha porta. — Posso parecer distraída as vezes, Katniss, mas eu sei quando não está bem. Tem oscilado o humor o tempo todo. Atribuí isso a possibilidade de comprar o espaço para construirmos o hotel, mas já descartei essa possibilidade. Se fosse o motivo estaria histérica de felicidade e não tenho visto nada disso. Vai me dizer o que está acontecendo? — Está parada próximo a cama, me sinto uma menina, levando bronca da mãe.

Fico em silêncio. Queria contar. Annie tem sido minha confidente por vários anos. Mas, sempre omiti os detalhes do meu passado. Ela sabe que sou órfã. Que passei parte da minha vida num orfanato e depois fugi até encontrar Haymitch. Mas, ela não sabe os detalhes dessa trajetória. De como foi terrível viver aqueles dias.

— Não está acontecendo nada. — Tento garantir isso, o retorno de Peeta me trouxe muitas lembranças, é um pouco difícil para mim, só preciso me acostumar com isso, tenho certeza que amanhã estarei bem.

Ela aperta os olhos. Ficam miúdos e com ar desconfiado.

— Tem alguma coisa a ver com Peeta?

— Claro que não! — Retruco ligeira — Por que teria, ele disse alguma coisa?

— Ele teria algo para me dizer? — Se eu queria despistar minha ligação com Peeta, não consegui, fiz com muita ânsia essa última pergunta. Isso a deixou curiosa, não vai desistir.

— Não...

— Vou ter que descobrir sozinha?

Me ajeito na cama até estar sentada.

— É uma longa história. — Me dou por vencida.

— Então, conte — ela não hesita em deixar o celular em cima do criado e se aninha ao meu lado na cama — Pode começar — me encara com seus enormes olhos verdes, eu inspiro e suspiro — Quando e como conheceu ele?

— Eu o conheci quando morava no orfanato.

— O Peeta?

— Sim.

— Quando foi isso?

Abraço meus joelhos, apertando a pérola da palma da minha mão

— Eu ainda morava no orfanato, próximo a AllanVille. — Lembro bem daquele caminho, inclusive fora Peeta que, me mostrou alguns atalhos, ficava aflito com possível ideia de eu ser adotada, então passou a me ensinar os caminhos que me levavam de volta ao orfanato.

— O Peeta também morava lá?

— Não. Ele era o garoto metido, filho da assistência social, no entanto, depois de um tempo ele passou a ser mais que isso, em poucos dias se tornou meu melhor amigo e nunca mais me senti sozinha. Após sua ida para o acampamento, contava as horas para o seu retorno. Mas, isso nunca aconteceu, em seu lugar, recebi uma carta. Gostaria de mostra-la, mas eu fiquei tão frustrada quando li que ele não voltaria que a rasguei em pedacinhos, depois que a raiva passou voltei ao local onde havia a rasgado, queria junta-los, mas já era tarde demais o vento já havia levado.

— O que dizia na carta? — Pergunta interessada.

— Que Srta. Trace havia entrado em trabalho de parto, houve algumas complicações durante a cirurgia, precisou ser levada para um hospital mais capacitado, em outra cidade, voltariam assim que ficasse bem, mas não aconteceu, depois disso eu não tive mais nenhuma notícia de Peeta e sua família, fiquei ocupada de mais tentando convencer a nova assistente social que a Srta. Trace já havia encontrado um lar aonde realmente as pessoas me queriam. — Sai da cama e abri as cortinas, depois a janela, deixei o vento entrar, precisava de ar, as lembranças começavam a me sufocar.

— E você fugiu?

— Sim, mas, daquela vez eu fugi para sempre. Não sei se procuraram por mim.

Contar tudo a Annie nunca foi parte dos meus planos. Me isolar do mundo, das pessoas, foi a forma que encontrei para me proteger, segundo Haymitch, quanto menos pessoas soubessem minha verdadeira identidade, mais segura eu ficaria, assim eu fiz, segui seu conselho por todos esses anos, no entanto, agora sei que não preciso mais me esconder.

— O que aconteceu com você depois que eles se foram? — Annie vai direto ao ponto, o mais sensível, naquilo que aconteceu comigo depois que eles partiram.

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— Eu não quero ir — Gritei, com Portia, ela insistia para que eu saísse da cama, eu era a única criança que estava descabelada e com roupas de dormir, as outras meninas já haviam se levantado, arrumado os lençóis e provavelmente já estavam se fartando do cereal a base de vitaminas que apenas nos fazia engordar, e mesmo sabendo que eu deveria estar junto a eles, eu tinha ignorado o sinal estridente que ecoa do alto falante preso ao teto do corredor, assim que o primeiro raio de sol atinge o dia.

— Katniss eu não vou repetir, se eu voltar aqui e você ainda estiver nessa cama, vai levar uma advertência — Ela urra puxando o me u lençol e sai batendo o salto agulha no piso de madeira.

Mesmo com sua ameaça, eu não me movo, prefiro levar outra advertência do que ir para aquele pátio e correr o risco de ser adotada. Eu prefiro mil vezes me submeter aos castigos que Alma Coin impõe do que ser levada por essa gente doida que aparece aqui todos os domingos para escolher o mais bonitinho entre todos.

Na verdade eu não estou tão preocupada em ser adotada, durante a semana chegara uma dúzia de outras crianças, três na minha faixa etária, e mais dois que foram levados para o berçário, então, levando em conta minha extensa experiência, os casais, optarão pelos mais novos, abaixo de seis anos.

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Mas, ainda assim eu sinto um enorme receio, semana passada algo improvável aconteceu, o garoto que tinha a minha idade, foi o único adotado, espero que ele esteja bem, nunca fomos amigos, ele era tão tímido quanto eu.

O casal que o levou, pensou que éramos irmãos já que tínhamos os mesmos olhos, as mesmas características, pelo jeito que ele me olhou, ele queria que eu confirmasse essa dúvida, assim a chance dele ser levado era quase nula, irmãos, quase nunca eram adotados, muitos candidatos a pais, tinham receio em separar crianças nessas situações, afinal, a criança sempre teria um elo, e como alguém nessa situação pode recomeçar do zero, sabendo que seu único elo de sangue foi deixado para trás. Ninguém quer criar filhos com traumas.

Embora, ele tenha feito o pedido silencioso, eu não confirmei, quando perguntaram isso a nós dois, neguei vertiginosamente e minha resposta foi o motivo determinante para o garoto dos olhos iguais ao meu, atrair sua nova família. Ainda não me esqueço do olhar duro com qual ele me olhou assim que entrou no carro e seguiu para o novo destino.

Mas, o que eu poderia fazer, eles estavam dando atenção de mais para mim, e se eles quisessem um casal? É lógico que eles confeririam nossos registros junto a administração do orfanato, mas e se eles se afeiçoassem com a odeia de me levar junto, eu não podia correr esse risco, por esse motivo deixei o garoto ir.

Agora, mais uma semana havia se passado e o maldito domingo havia chegado, mas nada, nem ninguém me fará levantar dessa cama. Eu prefiro lavar o chiqueiro dos porcos, ser submetida a qualquer outra tarefa ou castigo, do que correr o risco de ser escolhida por outro casal como aquele.

Voltei a me encolher debaixo do lençol e me forcei voltar a dormir, no entanto, senti o lençol que me cobria ser puxado levemente por alguém.

Amaldiçoei silenciosamente pensando que Portia havia retornado muito antes do que eu imaginei que fosse acontecer, no entanto, quando coloquei a cabeça para fora do lençol, não vi ninguém além das camas com os lençóis muito bem esticados e as cortinas cor de rosas que produziam um aspecto feminino ao quarto.

— Psiu!!!

De repente, um sussurro preencheu meus tímpanos, esquadrinhei cada canto do quarto e não vi ninguém, assim me levantei e corri para janela na esperança de ser Peeta.

Ele era proibido de entrar nas dependências do orfanato sem a companhia da mãe dele e nem sempre Srta. Trace estava por aqui. Dessa forma, ele usualmente utilizava esse sinal ou jogava uma pedrinha na vidraça para avisar que havia chegado.

Fiquei na ponta dos pés e inclinei a parte superior do meu corpo para fora da janela e olhei para os lados procurando-o. Não havia nada além do sol, além dos pássaros, eu estava ouvindo coisas? Me perguntei ao me deparar com a paisagem que, tornara-se entediante com a ausência de Peeta.

— Aqui!!! — eu pulei quando dedos empunharam meu calcanhar impedindo que me afasta-se — Shiu!!!! — O som vinha de uma menina, dona de belos olhos negros e cabelos volumosos.

Ela estava de baixo da cama, ainda usava as roupas de dormir, e uma pulseira verde indicando que ela deveria estar na ala A do orfanato.

— O que faz aqui? — Rebaixei meu corpo, deixando meu rosto próximo ao dela.

— Escondida!

— Não pode ficar aqui — Temo que se seja pega, e ganhe um castigo, diferente de mim, ela seria levada para um quarto escuro que diretora Coin voltou a utilizar desde que Srta. Trace deixou o orfanato.

Já estive lá, e, é muito pior que limpar o chiqueiro dos porcos ou lavar os banheiros imundos depois que todos tomavam banho.

— Eles não vão me pegar — sorriu com ar de esperteza — Mas, você sim, por que não dá o fora daqui — Gruiu a garota cuja idade não ultrapava os seis anos.

— Esse é o meu quarto, quem deve ir é você — levantei e voltei para minha cama.

A garota bufou.

— Vai estragar meu esconderijo.

Dei-lhe as costas. Aquilo não era problema meu.

— Por favor, saia daqui, se ela me achar, vou ter que participar da seleção e eu não posso ser levada. — Ela rastejou até minha cama e ficou de joelhos, enquanto, que, com a voz doce e amedrontada, implorava para mim.

— Se eu sair daqui serei levada também... — Refutei ouvindo alguém se aproximar, e, eu sabia que era Portia, conferindo os quartos, a menina lançou-me um pedido de socorro, seu olhar era parecido com o garoto dos olhos cinzas que eu deixei ir. Isso mexeu profundamente comigo.

Mexida, eu, respirei fundo e pedi a garota que eu não sabia o nome, voltasse a esconder-se, enquanto eu deixava Portia me surpreender perambulando ainda de pijamas.

Meu plano dera certo, quando ela me viu, ainda, naquelas condições, me conduziu até a sala da diretora Coin que foi bastante severa comigo, ela me alertou que, caso eu não fosse selecionada, como castigo, a limpeza dos banheiros seria minha tarefa durante duas semanas, eu tentei negociar, preferia cuidar dos porcos que eram muito mais higiênicos que aqueles banheiros nojentos. Mas, ela não permitiu.

Desde que Srta. Trace deixou o orfanato, muita coisa havia mudado, com ela aqui tudo era precário, mas ela intervia junto a prefeitura, conseguia doações, tínhamos algumas melhorias, mas agora, estamos à mercê da administração da megera da Alma Coin, e, Portia pelo visto não se importa com os abusos que acontecem aqui.

Sai da diretoria e fui para o banheiro me arrumar, Portia não me pranteava, assim me arrumei de qualquer jeito, apenas o lavei e penteei o cabelo e deixei que eles secassem com o vento. Quando terminei, fui até o quarto conferir se a garotinha continuava onde eu havia deixado, ela não estava lá. O sinal para que fossemos ao pátio tocou. Algo dizia que eu não deveria ir, mas eu fui, em meu peito eu só conseguia me preocupar com aquela menina, eu poderia me esconder, já havia sido castigada mesmo, no entanto, eu só pensava no olhar daquele menino e nos olhos amedrontados da garotinha. Não poderia repetir o mesmo erro.

Fiquei gelada quando dezenas de homens e mulheres começaram a chegar e circular entre as mesas que os pequenos coloriam algum desenho, procurei a menina entre todas aquelas cabeças e não a encontrei, fiquei aliviada, contente por ela ter conseguido escapar, assim eu poderia fazer o mesmo, já que, Portia, e os outros monitores estavam ocupados segurando suas pranchetas e respondendo a curiosidade dos candidatos.

Estava ultrapassando a linha imaginaria da porta quando escutei Alma Coin chamando meu nome, fingi que não era comigo, no entanto ela fora rápida o suficiente para segurar meu braço e preencher meus ouvidos com uma voz doce que ela não costuma ter.

— Katniss, querida, eu quero que conheça esse casal, eles serão a sua família.

∴━━━✿━━━∴

Depois que, contei tudo a Annie, pedi que dormisse comigo, não queria ter pesadelos, embora minha tentativa, nem sua presença impediu isso, as lembranças vieram durante a noite toda, acordei suada e exausta já que fazia tempo que eu não me recordava tão nitidamente do garoto de olhos cinzentos, da pequena Rue e daquele casal miserável.

— Katniss — Annie entra em meu quarto, como estamos de folga, ainda não me levantei. — Sabe o que vamos fazer? — Encarei sem entender o que propunha, não havíamos combinado nada, e como me desgastei ontem, quero tudo, mas só essa tarefa permita que eu continue em minha cama. — Vamos alugar um carro — anuncia decidida — E ir até Allanville, conhecer o espaço para o hotel.

— Annie...

— Ah, de jeito nenhum, não vou permitir que fique deitada nessa cama o dia todo, você já superou tudo o que viveu, é uma guerreira, não quero que fique abatida por minha culpa, eu insisti que me contasse, relembrasse, por favor, não vai inventar alguma desculpa. Vou ligar agora mesmo para o serviço de locação, telefonarei para Darius, pedirei que nos encontre lá, assim, pegaremos a estrada ainda hoje, se arrume...

Acabei sorrindo com o entusiasmo e solidariedade de minha amiga. Annie conseguiu um carro confortável e barato. Seguimos conforme o horário esperado. Ligamos o rádio do carro e vamos cantando músicas pelo caminho... devo observar que minha amiga é um tanto desafinada, mas não importa estamos nos divertindo. Pelo menos tento distrair minha mente de outros pensamentos. De repente uma outra música iniciou e minha amiga deu um berro em alto e bom som.

— Quero essa música no meu casamento!

How long will I love you, (Por quanto tempo vou te amar?)

As long as stars are above you (Enquanto as estrelas estiverem em cima de você)

And longer if I can (E por muito mais tempo, se eu puder)

A música estava mexendo com meus sentidos. Será que era uma conspiração com o que eu sentia?

— Ah, droga! — exclama Annie.

— O que houve? Por que paramos? — Aturdida, pergunto o motivo da paralisação brusca do automóvel.

— A droga do carro parou sozinho. — A ruiva franziu a testa e começou a procurar desesperadamente no painel do carro algo que pudesse apontar falha. — Vou ter que ligar para o Finn. — Ela pegou o celular na bolsa e aguardou por alguns segundos. — Finn, o carro parou no meio da estrada, mal tínhamos pego a rodovia e o carro simplesmente parou. – Finnick pergunta algo relacionado ao combustível. — O tanque está cheio, Finn. Eles entregam o carro abastecido. Tudo bem vou te passar as coordenadas de onde estamos. Te amo! — Annie digita algo, que acredito ser a localização de onde estamos e depois olha pra mim fazendo bico. — Foi mal, Katniss, quis fazer algo diferente e acabou dando merda.

— Essas coisas acontecem... — torço meus lábios e ela me dá um tapa de leve no braço. – Ai! — finjo que doeu.

— Você deve estar pensando que sou azarada em alugar um carro com defeito.

— Eu não disse nada, Annie...

— Mas pensou! Conheço você.

Jogamos um pouco de conversa fora até que o carro de Finnick estaciona atrás do nosso e para meu azar quando desço do veículo alugado dou de cara com Peeta.

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— Oi, sentiu saudades? — Acho que minha irritação fia estampada em meu rosto, porque seu sorriso ladeia de um jeito que vai me irritar mais ainda. — Estou aguardando mais alguns elogios seus — diz cruzados os braços.

— Você não deveria estar em outro lugar, ao invés de ficar me enchendo o saco?

— Ei, calminha vocês dois. Agora somos um quarteto. Lembre-se de que escolhemos os dois para serem nossos padrinhos — bufo revirando meus olhos com o comentário de Finnick que está ligando para a empresa do locatário.

Me afasto um pouco, mas a verdade é que tê-lo tão próximo só me faz desejar estar novamente em seus braços.