A instabilidade da Irene era cada vez mais visível, ela sabia que precisava de alguém para trazê-la de volta de seus delírios alucinógenos. E nunca haveria ninguém melhor para esse trabalho do que John Smith.

Irene decidiu se livrar do Sigerson voltando para a 221B, porém seus dias ao lado desse sombrio parente tinham deixado mais sequelas do que ela imaginava.

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Certa noite ela acordou com uma dor indescritível e se percebeu na cozinha de sua casa com uma faca atravessada em sua mão. Irene decidiu não ir ao hospital, pois o ferimento poderia lhe ser útil, então apenas retirou a faca, da melhor forma possível, e fez um rápido curativo.

John e Miller estavam em um encontro, eles andavam pela rua comendo algo, quando uma pessoa dobra a esquina correndo e para alguns centímetros antes de esbarrar neles. John percebeu que Irene estava machucada, mas não tinha certeza se ela estava assustada ou drogada.

—O que aconteceu? – Perguntou Miller.

Irene olhou rapidamente de um para o outro.

—Finja que não me viu.

Ela passa pelos dois e continua andando após puxar o capuz.

Miller tenta voltar a conversar normalmente. John sorri para ela fingindo não ter se importado em vê a consultora investigativa naquele estado. No entanto, ele não resiste em dá uma breve olhada para trás.

Por mais que tenha tentado, John não conseguiu conter a sua preocupação e depois de tanto tempo voltou a entrar na 221B. Ele ainda tinha as chaves, entretanto nem precisou usá-la, pois a porta se encontrava aberta. Parecia ter sido arrombada.

Tudo ali lhe fez pensar que a casa se transformou em um grande lixão. Tudo revirado e bagunçado. Ao subir as escadas e entrar na sala, ele vê Irene sentada no chão em meio aquela zona. Ela estava encostada na parede com as duas mãos na cabeça. Uma das mãos enfaixada com uma gaze imunda.

—O que diabos aconteceu aqui? – Ele perguntou.

Irene o olhou como se estivesse sozinha no meio do deserto há muito tempo e finalmente encontrasse um oásis. Seus olhos estavam inchados, parecia cansada como se não dormisse há semanas. Seu rosto estava molhado, mas John preferia não pensar que eram lágrimas, afinal se tratava de Irene Holmes. Se ela estivesse chorando seria para manipular alguém.

Mas como ela poderia saber que eu iria aparecer aqui nesse momento?

Ela não estava bem, esse era o fato principal. O coração de John ficava apertado por vê-la assim.

—John, você voltou!

—Eu não voltei Irene. Apenas queria saber como está.

—Como você acha? Apenas olhe pra mim.

Ele apenas vai ao banheiro e retorna com uma caixinha de primeiros socorros.

—Deixe-me ver isso. – Ele tira a atadura da mão dela. – Por Deus, Irene! Você precisa de pontos. Está começando a infecionar. Como isso aconteceu?

—Eu não sei. Apenas acordei na cozinha com a faca atravessada na mão.

—Nós vamos ao hospital agora.

—John...

—Sem protestos. Vamos!

John notou a dispersão da Irene durante todo caminho. No hospital, ele tentou fazê-la deduzir algo sobre os enfermeiros, porém, para sua surpresa, ela acabou errando a grande maioria.

—Eu não quero fazer isso!

—Fazer o que? – Perguntou John.

Irene toma consciência de estar sentada no sofá de sua sala com John limpando parte da bagunça daquele lugar.

—Como chegamos aqui?

—Táxi. Você devia descansar. Eu tenho um longo trabalho pela frente.

—Você não precisa fazer isso.

—Eu sei.

—Por que está aqui?

—Eu tinha de saber se você estava fingindo. Tentando me manipular... Mais uma vez.

—Eu não estou. Talvez exagerando um pouco, mas não estou fingindo. Essa sou eu! – Ela abre os braços como para fazê-lo enxergar no que havia se transformado.

—Como posso ter certeza?

—Apenas olhe pra mim, John. Eu estou uma bagunça. Sigerson é mais forte que pensei; mais forte do que me falaram.

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—Não devia tê-lo deixado mexer com sua mente.

—Eu precisava saber do meu passado. Precisava saber quem eu sou. Cometi um grande erro, mas... Por Deus, eu sou apenas humana. – Lágrimas começam a descer pelo rosto dela. – Eu odeio admitir, John, mas sou apenas humana. – Ela enxugou as próprias lágrimas e naquele momento parecia mais cansada que nunca. – Eu não sei o motivo de estarmos tento essa discussão de novo já que você nem está aqui.

—Eu estou aqui, Irene.

Ela já não o ouvia, apenas deitou no sofá e dormiu. John a cobre com uma manta e retoma seu serviço de limpeza.

Em uma casa bastante escura e úmida, uma Irene criança vinha puxando uma boneca pelos cabelos. Ela tinha uma faca na outra mão. Apesar de repetir diversas vezes que não queria fazer aquilo, uma voz a acompanhava afirmando que se ela não fizesse o sofrimento da boneca seria muito maior, então seria mais gentil da parte dela finalizar isso rápido.

—Eu sinto muito. – Irene disse ao colocar a boneca em uma cadeira.

—Você sabe que tem de fazer isso, Irene. Para o bem dela e de todos. No fundo você quer fazer isso.

—Eu não quero.

—Sim, você quer. Apenas pense um pouco. Sentir uma vida se esvair... É poderoso. Você será poderosa, minha criança.

Obedecendo a essa voz, ela apenas se virou e enfiou a faca na barriga da boneca que começou a se contorcer. O rosto da boneca foi se despedaçando, se transformando aos poucos em alguém conhecido. Porém, nesse exato momento, Irene é retirada desse pesadelo.

—Ei, você está bem? – John disse sentando no sofá ao seu lado. – Você estava gritando.

—Foi só um pesadelo. O que faz aqui? Você realmente está aqui?

—Eu sempre estarei quando precisar de mim, Irene.

Ela sorriu.

Os dois estavam próximos, John queria ter certeza se tudo aquilo não passava de fingimento. Se ele a beijasse e ela o rejeitasse, então nada ali era mentira.

Esse não seria um ótimo jeito de descobrir?

Pensou nisso com um leve sorriso em seus lábios. No entanto, ele foi retirado desse pensamento por alguém na porta da sala. Sigerson se mostrou extremamente irritado pela proximidade do inspetor e sua sobrinha. Ele caminhou vagarosamente até a janela dizendo para Irene se trocar para irem a casa dele continuar com as sessões.

—Eu não vou, Sigerson.

—Nós concordados, minha criança, que não haveria interrupções.

—Nós também concordamos que eu teria uma folga.

—Se ela não quer ir – John levantou – ela não irá.

—John...

—Você tem um protetor. Não queira ser um paladino, Sr. Smith.

—John, por favor. - Irene o puxa e vai perto do tio. – Só me dê um minuto.

Sigerson passou bem perto a olhando direto nos olhos, após lançar um cínico sorriso vitorioso para John. Irene estremeceu com o sentimento de fraqueza por não conseguir resistir a nada disso. Ela sabia o quanto seu tio havia mexido em sua cabeça quando criança e como a história estava se repetindo.

—Você não deve ir. É um jogo muito perigoso, Irene, mesmo para os seus padrões.

—Eu tenho de ir.

—Por quê?

—Porque ele ainda tem as provas contra o Sean.

—Irene...

—Por favor, John – ela colocava a jaqueta – volte.

John observou, através da janela, o momento em que ela entrou no carro que partiu com pressa.

Miller preparava algo para comer quando John entrou na cozinha. Ele parecia nem ouvi-la. Logo a beijou. Uma intensa cena de sexo se iniciou ali e foi terminar no sofá da sala.

—Por onde andou o dia todo? – Miller perguntou.

—Eu fui até a 221B.

—Por quê?

—Você a viu.

—John, eu não acredito que vai cair nisso de novo. Ela está te manipulando.

—Mesmo se for, Jess... Escuta, o tal Sigerson apareceu, Irene não queria ir com ele, mas com apenas duas frases... Eu nunca a vi daquele jeito, Jess. Ela estava vulnerável, manipulável... Assustada.

Ela saiu dos braços dele e começou a se vestir.

—Você está caindo na teia dela novamente. Depois de tanto tempo deveria conhecê-la melhor.

—Eu a conheço. O encontro no outro dia foi armado, mas não tenho como negar que ela está com problemas.

—E daí? Vai mesmo esquecer tudo que aconteceu?

—Não, mas eu irei ajudá-la.

—O que?

—Eu não posso abandoná-la agora. Mesmo contra a minha vontade, Irene nunca me abandonou.

—Como pode... ? Ela sumiu por meses!

—Os ajudantes dela sempre estavam por aqui. Os agentes do Mycroft... Da Alex sempre estavam por perto. E a Alicia conversava com alguém toda noite. Alguém que teve de parar com as ligações no mesmo momento em que a Irene reapareceu para enfrentar esse Sigerson.

—Você acha... ?

—Eu sei. É coisa dela. Não faço ideia de por onde andou, mas apesar da manipulação, eu posso garantir que a Irene precisa de mim. – John respirou fundo. – Amanhã vou retornar a 221B.

—Você já se decidiu. O meu pensamento não tem importância.

—Não fique assim. – Ele a puxa para voltar a abraça-lo. – Nós estamos juntos. Jess, você não tem com que se preocupar.

—Não? Ela reaparece e você logo corre como um cachorrinho adestrado.

—Oh, pare com isso! – Ele levanta, veste a cueca e vai em direção ao quarto.

—Você nunca vai me amar como a ama, não é? É por isso que vai arriscar nosso relacionamento para ajudá-la.

John retorna ao sofá apenas para dá um beijo na testa dela, em seguida vai para o quarto sem dizer nada.

Sigerson entra com a Irene na salinha onde costumam fazer suas sessões para trazer as memórias dela de volta. Eles discutem fervorosamente. Essa discussão termina com Sigerson acertando a sobrinha no roso com a bengala.

Irene caída coloca a mão no sangrento ferimento feito por aquele inesperado golpe. Ela não acredita no que acabou de acontecer, afinal, ele nunca havia sido fisicamente agressivo.

—Você não é meu bichinho de estimação, Irene. No entanto, temos um acordo. Você é minha propriedade e não agirá comigo igual a uma rebelde adolescente. Eu não sou o Mycroft.

—Você pode fazer o que quiser comigo, Sigerson, mas se tocar nele...

—Hora da sessão.

Três homens entram, dois deles agarram Irene a colocando na poltrona, enquanto o terceiro prepara uma injeção.

—NÃO! Não... Singerson, por favor, eu não quero mais lembrar. Não... Por favor!

—Nunca se desiste perto da linha de chegada, minha criança.

Irene tenta lutar, mas logo fica grogue com seja lá o que tenha sido injetado nela. Sigerson se aproxima e beija suavemente seus lábios.

—Você vai começar a aprender, Irene... Você pertence a mim.

Ao acordar, Irene nota mais alguém na cama. Tratava-se do John. Ele estava morto! Ela sai desesperadamente de cima da cama, sem tirar os olhos do corpo ensanguentado, indo de encontro a parede. Irene escorrega devagar até sentar-se no chão. Ela dá uma olhada nas mãos cheias de sangue e solta um grito de terror.

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Alguém começa a sacudi-la e, nesse momento, ela vê o rosto da irmã que estava de joelhos na sua frente. Irene olha ao redor, ela estava em uma cena de crime. Miller estava perto de um corpo morto a fitando de forma estranha; alguns peritos tinham a mesma expressão no rosto. John também estava de joelhos na sua frente.

Irene demonstrou surpresa e alívio ao vê-lo ali vivo. Ela vagarosamente colocou a mão no rosto dele como se tivesse medo de que aquilo não fosse real, então o abraçou com força.

—Você está vivo!

—Claro que estou vivo.

—Eu pensei... – Ela se afasta. – Esquece.

—Irene, você está bem? – Diana perguntou. – O que aconteceu? O que você viu?

—Nada. Só fiquei um pouco confusa.

—Você não explicou o corte no rosto. – Disse John. – Você não estava assim ontem.

—Singerson ficou chateado sobre algumas coisas.

—Ele fez isso com você!

—John, por favor, não.

—Irene, o que viu aqui? – Diana insistiu.

—Eu vi o John morto! Eu pensei... Eu pensei que tivesse o matado. – Ela levanta com pressa. – Esse crime é muito ridículo pro meu gosto. Preciso ir.

Uma vez do lado de fora, ela retira um cigarro do bolso e o acende com a mão trêmula.

John decide ir atrás dela, mas Miller o faz parar.

—Se você for... Não precisa voltar.

—Ela não está fingindo, Jess.

—Eu posso afirmar isso. – Disse Diana. – Desculpe me intrometer, porém, Irene está precisando do John ao lado dela. Esse nosso tio é muito perigoso.

—E você quer colocar o John no meio disso só para salvar sua irmã?! Depois de tudo que ela já causou você vem pedir isso?

—Irene não é fácil, isso é fato. Mas ela tenta o seu melhor. Olha, Miller, minha irmã é viciada. Ela pode dizer que não, mas essa é a verdade. Nosso tio está usando essa doença ao seu favor. Irene quer sim descobrir a verdade sobre o passado, no entanto minha irmã está também tentando conseguir provas que esse homem tem contra o meu marido, porque é assim que ela é. Não consegue não se envolver quando sabe que um inocente pode perder a própria vida por causa de um cretino.

—Precisa pôr meu noivo em grande perigo só para auxiliar a sua irmã a salvar o seu marido?!

—Corta essa, Miller. Você não engana ninguém. Sua preocupação não é com a segurança do John e sim com os sentimentos dele em relação a minha irmã. Agora, pense bem, é assim que quer começar um casamento? Sempre preocupada se o seu homem vai te deixar sozinha e sair correndo toda vez que a Irene estalar os dedos? – Diana se vira para John. – Irene não está fingindo. Talvez exagerando, mas não fingindo e você é o único que ela deixa se aproximar. Então, eu te peço para ajudá-la, John, ou minha irmã acabará morta.

—Eu te ligo. – John disse para Miller antes de correr para fora do prédio; Irene estava guardando a garrafinha de uísque quando ele se posicionou ao seu lado. – Desde quando você fuma?

—Eu não fumo.

—Você me ensinou a vê os traços de nicotina nos dedos.

—Oh merda!

—Então?

—Ajuda a acalmar.

—Junto com?

—Uísque e algumas pílulas.

—Irene, nós combinamos...

—Você não faz mais parte da minha vida, lembra-se John? Oh, finalmente um táxi.

John segura a porta do carro pouco antes dela fechar, Irene o fita com curiosidade e depois afasta dando espaço para ele entrar.

—Pode me dá. – Ele estende a mão. Irene o entrega o frasco com as pílulas e o maço de cigarros. – Eu quero tudo.

—Oh pelo amor de Deus! – Ela o entrega a garrafinha com uísque.

John joga as pílulas e o cigarro pela janela. Após um gole no uísque, ele guarda a garrafinha no bolso. Irene se vira para a janela e sorri. John a observa por um tempo antes de, também, voltar a sua atenção para a rua. Nenhum deles precisa dizer nada. Ambos sabem que sentiram falta de estarem juntos lutando contra o crime. O gentil inspetor e a arrogante consultora investigativa estavam juntos novamente. Apenas os dois contra o mundo! Como nunca deveria deixar de ser.