ALVO ACORDOU NA MANHÃ SEGUINTE, cansado, mas bem. Em sua mesa de cabeceira, doces e mais doces, cartas e mais cartas, e algumas bombas de bosta – Roxy e Fred. Em camas ao seu redor, Tiago, Hannah, Rosa, Mary, Michael e Escórpio, também acordados.

Madame Pomfrey não estava à vista, mas duas pessoas cochilavam no chão ao lado das camas. As irmãs Martin.

– Hum, Alex, Lavie – chamou Michael – Acordem!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Elas acordaram assustadas. Alex andou até Michael e lhe deu um peteleco na ponta do nariz.

Madre de Dios! – disse ela – Estamos esperando pra falar com vocês há horas, e é assim que retribui?

– Por que razão vocês querem falar conosco? – perguntou Tiago.

– Mas é um poço de sutileza, não é mesmo? – comentou Hannah.

As Martin se sentaram na beira da cama de Michael.

– Queríamos ver se vocês estavam bem – disse Alex – Sabe, temos poucos amigos. Michael é um deles. E amigos de Michael são nossos amigos.

– Me sinto elogiado, embora não possa acreditar que você gosta desse traste – disse Tiago maroto.

Michael jogou uma bolinha de papel nele.

– Os boatos que correm – continuou Alex – Diz alguma coisa, Primavera.

Lavie, que permanecera calada até então, respirou fundo e disse:

– Um dos boatos diz que vocês receberam uma mensagem em código do Caliginem nos bilhetes e agora que tinham desvendado, foram atrás dele – sua voz era doce, melodiosa, e Alvo sentiu-se um pouco melhor ao ouvi-la – Outro diz que vocês piraram e resolveram se matar.

– Até já dá para imaginar quem soltou este aí – disse Hannah, referindo-se à Patrícia Zabini.

– São muitos – disse Alex – Patrícia soltou os mais maldosos. Os que te defendem são os dos admiradores. E os que... – ela parou subitamente e baixou a cabeça.

Lavie pareceu pressentir algo.

– Essa não – disse Lavie – Alex! Lexi! Hermana! – ela sacudiu Alex pelos ombros, mas esta não se alterou.

Quando Alex ergueu a cabeça, seus olhos estavam arregalados e sem foco, ela olhava para o vazio. Parecia mais pálida, e quando falou, sua voz estava grossa e parecia multiplicada por três:

Aquele nascido no décimo dia de maio... Cujo pai foi controlado pelas garras do Lord das Trevas... Será o líder da guerra contra a tempestade... Em quatro anos... Os servos serão novamente controlados pela tempestade... A besta se erguirá a partir das almas corrompidas... As guerras travadas serão congeladas... Para o sono eterno o Senhor da Nuvens Tempestuosas irá... Apenas a pessoa escolhida poderá fazê-lo fechar os olhos... E a besta morrerá com seus irmãos à luz do dia.

Alex baixou a cabeça e quando a ergueu estava normal. Todos a olhavam aterrorizados. Ela estava confusa.

Alvo engoliu em seco. Ele sabia o que era aquilo, graças às histórias do pai. Ele sabia do que aquilo falava, graças à sua própria experiência. E ele sabia, por mais que relutasse em ir, com quem teria de falar para esclarecer aquilo.

– Uma profecia? – perguntou Sibila Trewlaney.

Ela era uma mulher magra, alta, com cabelos castanhos secos e alguma mechas grisalhas. Usava óculos que deixavam seus olhos de um tamanho desproporcional ao resto do corpo e tinha cara de psicopata de carteirinha. Parecia um louva-deus, exatamente como Harry a havia descrito.

– Exatamente – disse Tiago.

– Minha querida, há quanto tempo você faz isso? – perguntou Trewlaney a Alex, que estava ligeiramente assustada.

– Faço o que? – perguntou ela – O que é que está acontecendo?

– Desde sempre – disse Lavie – Às vezes ela baixava a cabeça e falava como se estivesse possuída.

Trewlaney ofegou dramaticamente.

– O espírito das profecias! – disse a professora. Ela pegou a mão de Alex – Você foi escolhida para profetizar o futuro.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Da maneira como ela dizia aquilo, era mais uma maldição do que um dom.

– Mas... Mas... – dizia Alex, olhando para todos os lados da sala abafada.

Trewlaney abriu a palma da mão de Alex e passou os dedos compridos lentamente por suas linhas da palma.

– Ah, sim – disse Trewlaney – Estão aqui as marcas do grande profeta Merlin...

Trewlaney olhou bem nos olhos de cada um deles, e por uns instantes, não parecia uma louca.

– Queremos saber a que a profecia se refere – disse Rosa por fim.

Trewlaney levantou-se e pegou uma xícara de chá.

– As profecias tem duplo sentido – disse ela – A quem vocês pensam que a profecia se refere?

Silencio. Todos sabiam, mas ninguém queria dizer. Mas Alvo admitiu:

– A mim – Trewlaney o olhou – A mim que a profecia se refere.

– Não há mais ninguém que se encaixe nessa descrição? – perguntou a professora.

Eles pensaram. Dez de maio. As história de Harry. Draco sendo controlado por Voldemort para matar Dumbledore.

– Escórpio – disse Tiago. Todos encararam Escórpio, que estava de cabeça baixa – Escórpio pode ser o da profecia.

Trewlaney bebeu do seu chá aos golinhos enquanto tudo se decorria. Ela pôs a xícara na mesinha e disse:

– Pode ser. Mas a Adivinhação é completamente imprecisa. Um enigma.

Eles olharam para a xícara. Uma sombra. Uma enorme sombra skyleanna, o esqueleto de um leão feroz e faminto. A besta.

Trewlaney tirou seus óculos e disse baixa e pausadamente:

– As profecias são uma dica do futuro, uma lembrança do passado, e cheia de lacunas que se completarão com o presente.

Pensando na frase, os nove saíram da sala. Despediram-se de Lavie e Alex na torre oeste e seguiram para a Sala de Hogwarts, e lá ficaram, sem discutir, sem conversar, apenas sentados nos degraus, indagando porque o destino resolvera colocar aquele fardo nos ombros deles.


Era uma manhã alegre e enevoada, exatamente como no dia em que Alvo embarcou pela primeira vez no Expresso de Hogwarts. Naquele dia, eles estariam voltando para casa.

O banquete de fim de ano, na noite anterior, fora tranquilo. A distribuição das notas confirmou que Rosa havia sido a melhor da escola e Michael o pior, embora conseguisse passar. O resto ficou na média.

Naquela manhã, sentados pela última vez nos degraus da Sala de Hogwarts, Alvo, Mary, Tiago, Rosa, Hannah, Michael e Escórpio receberam uma visita surpresa.

– Estou orgulhoso – disse Neville Longbottom surgindo do arco dourado – Estamos todos orgulhosos.

Eles sorriram cansados. Era uma honra ser o orgulho de outras pessoas, mas era um fardo ter de enfrentar o que enfrentaram.

Longbottom sentou-se nos degraus ao lado deles.

– Não é fácil, não é? – perguntou. Os sete fizeram que não, sincronizados – Alvo, você sabe por que gastou mais energia em destruí-lo do que os outros.

Alvo fez que não. Pensara longamente nisso, mas não chegara a nenhuma conclusão aceitável.

– Você é um líder, Alvo – disse Longbottom. Alvo o mirou – Você nasceu para liderar, para ser o primeiro a cair, mas o último a desistir. Como seu pai.

– Não gosto de ser comparado a ele – disse Alvo bruscamente.

– Nenhum de nós – acrescentou Hannah – Há uma razão por odiarmos tanto o Clube do Slugue. Nós não estamos lá por nosso próprio mérito. Não estamos lá por causa de minha habilidade em Poções, ou o fato de Mary estar treinando animagia.

– Estamos lá por causa deles – disse Michael amargo – Nossos pais.

Longbottom ficou em silêncio.

– Seus talentos serão já são reconhecidos – disse finalmente – Vocês serão grandes. E não como seus pais. Como vocês mesmos.

Ele levantou-se, e sem mais palavras, saiu.


– Pro trem! – mandou Victoire dando petelecos em Tiago – Agora! Malas prontas, certo? Já comeram? Ah, não importa, para o trem, agora!

– Sabe de uma coisa? – comentou Tiago – Acho que tudo bem o Teddy namorar a Victoire.

Eles riram enquanto seguiam para a estação de Hogsmeade, arrastando malões e corujas.

Eles seguiram até achar um compartimento no trem. Por fim, eles acharam, acomodaram-se e olharam pela janela.

“Estranho, não é?” comentou Rosa mentalmente “Voltar para casa”.

“Estranho é não termos topado com os Zabobos até agora” disse Michael referindo-se aos Zabini.

“Cala essa boca” disse Hannah “Ou mente, o que quer que seja”.

“Voltar para casa...” refletiu Alvo “Bem, Hogwarts tornou-se nosso lar, certo?”.

“Lar é onde nosso coração está” disse Michael.

“Isso foi profundo, cara” comentou Tiago, com uma ponta de confusão diante à fala do amigo.

“Minha mãe que fala isso” respondeu Michael.

“Tá explicado”

Eles ficaram em silencio por algum tempo, apenas se encarando.

“Querem saber?” pensou Escórpio “Longbottom estava certo. Seremos grandes, apesar de tudo”.

“Mas para ser grande há um porém” disse Mary, amarga.

“Largar a paz” disse Hannah.

“E uma vida normal” completou Rosa.

Mas nesse momento, duas pessoas adentraram no compartimento, e não é preciso ser gênio para saber quem eram.

– Estávamos espiando – disse Vincent. Sua irmã lhe deu um tapa na cabeça – Ai!

– Vocês ficaram muito tempo se encarando, sem falar nada – disse Patrícia com falsa preocupação – Quem sabe devíamos mandá-los para o St. Mungus para um... Exame de sanidade.

Os gêmeos riram debochados.

– Sério, Zaboba? – disse Hannah impassível – Um ano, e você ainda não viu que palavras não podem nos atingir?

– Prefere que usemos magia? – perguntou Vincent.

– Duvido que consiga sequer nos desarmar, Cara de Sapo – zombou Tiago – Afinal, fomos nós que reduzimos o Tal a cinzas, eh?

Vincent pareceu desarmado ante a isto.

– Vocês não ousariam... – disse Patrícia em voz baixa.

– Quer apostar? – Escórpio tinha um sorriso malicioso no rosto. Talvez, depois de tantos anos os aturando, uma vingança cairia bem.

Os Zabini se afastaram lentamente, olhando atentamente para os sete, procurando qualquer sinal de ataque.

– Boo – disse Michael de brincadeira, e os gêmeos saíram correndo.

Os sete explodiram em gargalhadas. Quando pararam, miraram-se atentamente.

“Isto é lar” pensaram todos ao mesmo tempo. Porque lar não era Hogwarts, o trem, ou a casa de cada um deles. Lar era quando estavam juntos, divertindo-se, detonando um bruxo das trevas, conversando simplesmente. E aquilo era algo que Alvo jamais poderia registrar em seu álbum de fotos, mas sim em seu coração: a verdadeira amizade.


Quando eles desembarcaram do trem, milhares de olhos os perfuraram, repletos dos mais diversos sentimentos: ódio, admiração, inveja, esperança, raiva, solidariedade, medo, felicidade. Pessoas que poderiam amá-los ou odiá-los pelo que havia acontecido naquela noite que parecia ter sido há anos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Não liguem – disse Mary – Se tem uma coisa que eu aprendi nesse ano é que se você os confronta acaba mal.

– Ou morto – acrescentou Tiago encarando um sujeito de aparência não muito amigável que os olhava torto pelo olho de vidro.

Seus pais os esperavam juntos, com um brilho nos olhos que Alvo só pode definir como orgulho.

Harry pôs as mãos nos ombros de Alvo e Tiago.

– Meus garotos – disse orgulhoso.

– Mary! – uma garota de uns 17 anos, pálida, de olhos verdes, cabelos loiros com mechas coloridas, roupas de um estilo meio punk, e maquiagem forte e escura abraçou Mary Ann – Acabei de voltar do St. Mungus. Na verdade, estava bem há semanas, mas aquele pessoal é paranoico – os pais Duprée a olharam feio – Quer dizer, cuidadosos e preocupados – corrigiu-se Nicole Duprée.

Mary riu de leve, e voltou pra junto dos amigos. Rosa atualizava Hugo e Lílian sobre o que acontecera. Afinal, eles haviam prometido contar tudo aos dois nos mínimos detalhes.

Escórpio carregava a irmãzinha nas costas. Eles pareciam ter um bom relacionamento, diferentemente de Hannah e Cody.

– Leon, você não entrou no meu quarto, não é? – perguntou Hannah.

– De forma alguma, Aravis – respondeu Cody, mas tirou um caderninho do bolso – Vejamos. Eu gostei especialmente dessa página. Eu não sabia que você colecionava fotos do Austin Lermoove, aquele jogador dos Tornados. Deve ser por isso que quando ele foi lá em casa você não conseguia falar direito.

– LEON! – gritou Hannah, tentando pegar o caderno do irmão, que ria.

Michael conversava com os pais. Quando eles foram visitá-lo na ala hospitalar, não houvera muito tempo para conversarem. Alvo não podia ouvir o que falavam, mas viu que a mãe de Michael parecia um pouco pálida enquanto falava com o filho, e viu que Michael voltou para junto dos amigos ligeiramente atordoado.

– Mike – chamou Rosa – O que foi?

Michael sacudiu a cabeça, como se quisesse afastar um pensamento.

– Nada – disse. Mas eles podiam sentir o que o garoto sentia: medo, desespero, dor, surpresa – Conto depois, então.

– Nas férias – disse Tiago – Vocês tem que ir à nossa casa. Falei com mamãe. Ela disse que vamos nos mudar pra antiga casa de papai.

– A dos Dursley? – perguntou Alvo.

– Não, idiota, a que ele morava quando era bebê, em Godric Hollows – respondeu Tiago revirando os olhos para a tolice do irmão – Papai finalmente a terminou. Eu nunca gostei mesmo do Largo, mesmo depois que Alvo, eu e Lílian incineramos a idiota da sra Black.

– O quê? – perguntou Escórpio.

– Longa história – respondeu Rosa.

– Minha casa é em Godric Hollows – disse Michael, parecendo novamente animado – Não é grande coisa, mas a vizinhança é legal. Tirando o babaca do meu vizinho da esquerda, o Jerome Jensen.

– Aquele idiota do segundo ano? – perguntou Escórpio – Quando eu virei amigo de vocês ele tacou fogo nas cortinas da minha cama.

– Ele é meu irmão – disse Mary. Os outros a miraram.

– Tipo, o quê? – falou Tiago.

– Costumes estranhos dos Duprée. O único homem da casa é o meu pai. Eles doaram o Jerome para os Jensen, mas ele continua, infelizmente, sendo meu irmão. Por isso não queremos que nasça um menino. Ele vai ser despachado como se despacha uma maçã podre.

Eles sorriram com a ideia dos Duprée. Não poderiam rir de tamanha besteira porque os Duprée estavam ali ao lado deles, conversando com as filhas.

Uma mulher aproximou-se deles, com um fotógrafo ao lado. A mulher tinha cabelos escuros, olhos castanhas, era baixa, magra, com orelhas enormes e pontudas como as de um duende. Ela disse, com um porte profissional.

– Olá, crianças! Sou Melanie Abercrombie, do Profeta Diário – eles assentiram lentamente – Hum. Quero fazer uma reportagem de primeira página sobre vocês. O que fizeram... Incrível! Já conversei com seus pais. Não se importam certo?

– Ahn, não, de forma alguma – disse Hannah.

– Ótimo! – exclamou Melanie animada – Então, vamos fazer tudo aqui mesmo. Algumas fotos. Uma de cada um, que tal?

Eles se entreolharam, passando entre eles uma mensagem que não necessitava de uma ligação mental. Alvo deu um passo à frente, para falar por todos. Você é um líder, Alvo, dissera Longbottom. Talvez estivera certo.

– Não – disse Alvo simplesmente – Vamos fazer uma só foto. Juntos.

–--------------------------------------- FIM–-----------------------------------

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.