Flechas, clavas, espadas, flautas ajudaram a garantir o êxito da armada de renegados de Cailleach no penhasco cabeça de bruxa, seu campo de força estendia por quilômetros, mas o frio era extenso e os ventos uivavam espargindo neve com grande velocidade pelos céus. Jack sentia o gosto de amargura e lama em sua boca quando finalmente abriu os olhos desde o combate e pairou-os sobre o que outrora tinha sido um combate, os corpos dos soldados de Sidh estavam espalhados e cobertos de neve, Os centauros emergiram neles com disparadas de flechas que perfuraram seus membros e faziam o sangue jorrar como grandes fontes de água, o salamandra ainda sentia os ferimentos dolorosos e extremamente ensanguentados nas pernas (impossibilitando-o de andar ainda) e os arranhões, marcas e cortes que se aprofundavam ainda mais. Os dagdas tinham liderado as hags com a recompensa de no final poderem devorar a carne dos mortos, e muitas delas se ocupavam em se alimentar dos hipogrifos mortos, enquanto outros eram açoitados e foram acorrentados para que servissem aos sátiros que os domava com a música obscura e cruel de suas flautas. Jack havia escondido Fang durante a batalha, mesmo que não lembrasse onde, o que aumentava ainda mais a raiva e o ódio em seus pensamentos. Ele tinha liderado os soldados, atacado o máximo que podia com bolas e explosões de chamas crescentes, porém não era o bastante.Estava sozinho, como era desde que tinha nascido, e apesar de estar tão perto de salvar Katherine, fora machucado, presenciado a morte dos valentes sob sua liderança e agora... só ele tinha restado. Jack queria chorar, gritar, consumir sua vida com fogo e entregar todo o seu sangue para trazer de volta os que tinham morrido, mas era impossível, seus olhos estavam retidos, assim como seu rosto sujo de fuligem e as roupas meio esfarrapadas. Seu cabelo ainda chamuscava quando percebeu que não conseguia ter nenhuma reação, impulso, repulsa...ele se sentia vivo por fora, mas tão morto quanto os soldados por dentro.Apesar de estar amarrado em um grande e alto pilar perto do rochedo, de onde sentia as ondas do mar balançarem tempestuosamente, ouviu gritos de briga e discussões entre os sátiros, que praguejavam em uma mistura de grego antigo e a língua dos pássaros, e centauros, que falavam ainda em sua língua desconhecida, por causa dos hipogrifos, já que enquanto os sátiros gostavam de domar e escravizar as bestas, os centauros comiam a carne e usavam os ossos como objetos. Eles pareciam estar prontos para brigar quando o maior dos dagdas bradou na língua comum dos elementais;

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–Não!- de repente, os centauros jogaram seus arcos-flechas no chão e se prostraram, os sátiros lançaram-se no chão como se estivessem rezando e os outros dagdas ajoelharam-se usando suas clavas como suporte. Todo aquele exército parecia estar sob o comando do dagda de quase 10 metros de altura com pele cinzenta e desgastada, dentes afiados e gumosos como pedras lascadas e roupas bárbaras que pareciam peles de waheelas ou algum tipo de primata gigante. O único que não tinha se ajoelhado ou prostrado era um centauro com os cabelos pretos trançados e olhos cinzentos como gelo, pele morena e parte do corpo semelhante a cavalo com cor também negra como ônix. O dagda fuzilou ele com o olhar, reprovando sua ausência de submissão, mas o centauro continuou a olhá-lo arrogantemente em pé. Quando o "líder" se virou de costas, com o olhar no horizonte, o sátiro com quem brigava sorriu, pegou uma pedra e lançou no dagda sem se preocupar caso algum deles via ou não. O dagda parecia não ter sentido nada mas se virou de costas, bramou de ódio e passou a gritar vários comandos. O centauro injustamente preso gritava por misericórdia, mas os outros centauros não o reconheciam mais como um dos seus.

Jack olhou em volta e viu que a antiga e premeditada melodia dos sátiros ecoava agora como gritos em todas as falésias de Moher, suas raízes penetravam cada vez mais fundo na terra, e ressurgiam da floresta em relação a beira do penhasco formando uma ponte grossa e resistente. Mãos frias, esqueléticas pegaram o salamandra e o arrancaram do pilar, amarrando-o com raízes de videiras quase que impenetráveis e levaram-no para quase a beira do penhasco. Os dagdas batiam em seus escudos de aço com as claves com uma cantoria infernal, que combinada com a melodia incessável dos sátiros, o trotar dos centauros, o grunhido e uivos de hags, waheelas e outros renegados, enchiam as falésias com relâmpagos distantes e trovões, as águas batiam com tanta força que explodiam em um fundo negro e caótico. O centauro rebelde havia sido capturado com correntes pretas e espinhosas por hags que puxavam-nas com seus dentes enquanto rastejavam-se pelo chão com sua aparência medonha. O dagda chefe olhou para ele com desprezo e gritou como se fosse o fim do centauro, logo em seguida, dagdas subordinados começaram a socá-lo, esmagá-lo e rasgar sua carne arrancando a pele e deixando o sangue escorrer até que as raízes que formavam a ponte ensanguentaram-se e começaram a penetrar nas feridas e partes abertas do corpo até consumi-lo, para o horror indecifrável de Jack aquilo era um sacifício, um ritual, uma invocação. Estavam invocando Cailleach, a primeira mãe.

Quando as hags começaram a rodear Jack e empurrá-lo para a beirada, e fazer com ele o mesmo que fizeram com o centauro, o dagda impediu com um gesto e com sua grande assustadora mão o lançou metros nos ar, até cair na ponte e quase despencar centenas de metros de altura nas águas logo abaixo dele. As trevas sobre a face do que parecia ser um abismo infinito ficaram salpicadas e neve, o salamandra pode ver a nevasca vir do norte e tentar sugar sua alma, quase tinha sido jogado para trás, porém conseguiu se segurar. Algo primordial estava se aproximando, algo antigo, poderoso, cruel e quase que inominável pelos mais corajosos elementais, todos atrás de Jack não conseguiam permanecer de pé, já que toda aquela fúria da natureza se manifestava apenas em um único som e visão. As próprias estrelas pareciam ter se escondido, e a lua agora era negra. Um portal parecia estar sendo aberto quando cortaram o corpo do centauro em vários pedaços ensanguentados com as videiras e lançado-o nas águas abaixo. Jack sentia um frio e um medo tão intenso que tudo estava congelando em seu corpo, o próprio fogo estava se extinguindo. A ponte agora assumia uma parecia gélida como neve e branda como cristal assim como toda a floresta, o ar foi envenenado e o salamandra não sabia como tinha sobrevivido quando ousou abrir um pouco os olhos ali ajoelhado e viu que no lugar do fim da pone e beirada iminente do cabeça de bruxa, estava agora uma espécie de portal que aparentava ser mais uma fenda deforme, fria estridente, dela ecoava uma voz feminina e primordial;

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–Quem é aquele que ousa despertar-me da destruição e da minha virtude? Porventura o Samhain é chegado, e a porta das portas foi aberta com a chave do abismo só então chegada. Apenas um filho do dia ou uma filha da aurora poderia se aproximar de mim– O dagda chefe aproximou-se com temor e exclamou palavras na língua desconhecida dos renegados. Mas o ser primordial parecia ter se enfurecido e por isso gritou como se sua voz soasse da própria terra e então chegou as ouvidos do dagda explodindo seus tímpanos e fazendo-os sangrar até explodir seu crânio em gelo e seu corpo petrificar no chão caído. Os outros renegados exclamaram, porém com a ordem de Cailleach obedeceram;

Pois que sirva de exemplo a aqueles que sacrificam alma imunda qualquer, seja ela do dia ou da noite. Puro ou impuro. O sangue é meu!– Jack passou a se sentir inspecionado quando a brisa que parecia sair da voz de Cailleach soprou sobre ele;

Filho da luz, nascido do fogo e do ar, detentor da armada, te conjuro para seu julgamento perante toda a corte do inverno, diante de mim, a primeira mãe, senhora da terra e dos renegados, rainha das montanhas e patrona das bestas. Eu, Cailleach, chamo-te para que responda sob aquilo que deve servir ou então morrer. Os mares converterão-se em sangue, os jovens gritarão, as viúvas clamarão, e só então quando finalmente se prostrar, saberá que sua existência terá terminado, e seu fim já realizado. A destruição hoje nasce sob minha vinda, o início do seu fim, o gênese do grande inverno. Apoliom emerge sobre você- As hags, centauros, dagdas e outros renegados começaram a cantar e adorar a Cailleach, ecoando a palavra Apoliom no gelo e frio intenso que crescia cada vez mais. "Destruição" pensava Jack "Destruição" quando o portal começou a arrastá-lo, ele tentou agarrar-se em alguma coisa, ou segurar-se na ponte, mas suas lembranças e pensamentos se dissolviam até que finalmente entrou no portal.