Priam, 00:01, 03/02/2260

Eu não fazia muita ideia de quanto tempo havia se passado, mas tinha a noção de que algumas horas se foram com certeza. O grande veículo sobre rodas tinha aparência metálica com poltronas grandes e confortáveis, mas não grande o suficiente para mim, meu pescoço ficou sem encosto. Eu e o homem engravatado sentamos em uma das primeiras poltronas, já que eu liderava aquela missão à Terra. Na nossa frente havia um painel que limitava as pessoas que governavam o veículo dos passageiros, nele se projetavam o meu reflexo e o do homem engravatado. Por um momento formulei em minha mente, vendo aquele reflexo que nossos povos diferentes podiam se aliar desde que nossa missão de ajuda-los fosse bem sucedida, olhei para o corredor e vi que ainda havia homens armados dando incansáveis voltas no corredor, muito provavelmente ainda desconfiando de nós. Era essa a consequência de tanta guerra por poder nesse planeta, os humanos sempre esperavam que o pior acontecesse e isso os impedia de confiar.

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Quando comecei a sentir pena da situação humana me lembrei do meu desejo desde a infância de conhecer os humanos e que nem sequer o nome do engravatado eu sabia, eu não precisei me apresentar, pois eles já tinham pesquisado tudo a respeito de cada orbiano, por questão de segurança, sabiam até quantos fios de cabelo havia em nossas cabeças. Eu finalmente disse:

– Qual o seu... Seu nome?

Ele parecia se esforçar para entender cada letra, cada expressão no meu rosto e por fim respondeu:

– Joshua Rivers, você é o Priam Nadav não é, cara pálida? – Ele perguntou provavelmente para ter motivo para conversar. Ele parecia nervoso ao me chamar de cara pálida ao mesmo tempo em que parecia estar contado uma piada engraçada, eu tentei achar graça, juro que tentei, mas simplesmente assenti.

Um silêncio de cerca de dez minutos seguiu, um tempo que pareceu uma eternidade como se nós dois estivéssemos pensando a mesma coisa: Que tipo de coisa se conversa com alienígenas? Afinal eu era tão alienígena para ele, quanto ele era para mim. Depois de tanto pensar, resolvi expor minha real dúvida que sempre me afligira desde a infância:

– Joshua, o que aconteceu? Digo... O que houve para que esse planeta chegasse a esse ponto?

Ele parecia calcular na mente cada palavra que diria para mim, como se selecionasse o que eu podia saber e o que eu não podia.

– Sabe, nas instituições de ensino nós aprendemos que teve uma época há uns três séculos atrás que o planeta era relativamente pacífico com pessoas alegres e a guerra era escassa, a Terra não era tão cinza, tinha bem menos poluição e lindas paisagens naturais – Ele pausou e suspirou - É TUDO CULPA DA NATUREZA HUMANA, OKAY? É... A natureza humana é o problema! Nós somos assim. – Ele falou aquilo como se estivesse provando algo para si mesmo.

Aquela resposta só me deixou mais pensativo, se a Terra já foi relativamente boa e hoje não é mais, alguma coisa houve.

Meus pensamentos me distraíram a tal ponto que não me dei conta do tempo que tinha passado e que finalmente chegamos ao nosso destino, olhei pela janela e vi um prédio enorme cujos últimos andares já não eram visíveis de tão alto. Era espelhado, olhei ao redor, a altura daquele prédio de alguma forma humilhava os outros prédios nos arredores.