Os Cuecas e as Chiquititas

Planos por água abaixo


Na noite em que Davi mandou a mensagem a Clarinha, o celular dela estava sem bateria e ela não percebeu porque estava ocupada corrigindo umas atividades de seus alunos. No dia seguinte, como o despertador não tocou por conta da falta de bateria do celular, ela acabou se atrasando pra escola e teve que levar o carregador pra carregá-lo lá. O deixou assim na sala dos professores e partiu para a sala do 4° ano dar suas aulas. Clarinha confiava em todos que trabalhavam na escola, além de ser muito desapegada do celular, então não via problema em deixá-lo lá. Porém, uma certa professora (sim, a Suzana) viu o celular de Clarinha ali dando sopa e resolveu dar uma olhadinha nele. Foi quando viu a mensagem de Davi. E respondeu. Por isso a resposta era tão seca, não era mesmo de Clarinha. Em seguida, Suzana apagou a mensagem, então a outra professora nunca saberia que o noivo havia se desculpado com ela e a convidado pra casa dele. Uma pena, não é mesmo?

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E Davi, mesmo achando a mensagem esquisita, realmente estava achando que Clarinha estava com raiva dele e achou melhor não incomodá-la. Se ela não tinha tempo naquela semana, tentaria falar com ela na próxima. Clarinha, por sua vez, já tinha resolvido que não ia mais incomodar a Davi e esperá-lo se acalmar para ir atrás dele. E, como ele ainda não tinha se manifestado, a mulher achou melhor não se intrometer.

Quando chegou o feriadão, ficou na esperança de que ele a procurasse, mas, como não acontecia, alguns professores da Escola Mundial combinaram de sair e ela aceitou. Mas nem conseguiu se divertir, pois ficava o tempo todo pensando em Davi e se ele tinha conseguido fazer algum progresso em relação à situação dos meninos.

— Ué, ele não te contou? — Perguntou Suzana.

— O quê?

— Eu apresentei aquele advogado que eu conheço pro Davi, ele já tá cuidando do caso.

— Sério?! Que notícia boa! Mas... que estranho... Por que será que ele não me contou?

— Não sei... talvez seja porque... ah, deixa pra lá.

— Você sabe de mais alguma coisa que eu não sei?

— É que parece que o pai biológico dos meninos quer que o processo todo seja meio escondido, sabe? Pra não chamar a atenção da mídia e tal... Então talvez o Davi tenha medo que isso aconteça e prejudique os meninos e as coisas pesem mais pro lado dele...

Bom, isso fazia sentido. Mas ainda não fazia sentido Suzana saber dessas coisas e Clarinha não.

— Isso ainda não explica o porquê dele não ter me contado...

— Como não? Quer dizer que, quanto menos gente souber de detalhes, melhor.

— Mas eu sou a noiva dele, eu mereço saber! E ele sabe que eu não ia sair por aí comentando com qualquer um...

— Talvez ele não confie tanto assim em você... Tipo, você pode até ser noiva, mas não é a esposa. Aliás, por quanto tempo mais ele vai ficar adiando o casamento, hein?

Nessa hora, Clarinha teve uma leve impressão de que Suzana preferiria que eles continuassem adiando mesmo ou até que cancelassem. Mas por que ela iria querer isso? Já não tinha o namorado de Fernando de Noronha... Bom, talvez sua amiga só estivesse exagerando um pouco na sinceridade, mesmo.

De qualquer forma, a noiva de Davi preferiu descobrir por si mesma o motivo pra ele não ter contado sobre o advogado. Sendo assim, no dia seguinte, foi até a casa dos Civil sem se preocupar se estava sendo inconveniente ou não. Mais importante do que isso, para ela, era acompanhar tudo o que estava acontecendo com as crianças. Falando nelas, quem abriu a porta pra ela foi Téo, que a abraçou sorridente e parecia positivamente surpreso com a visita dela.

— A gente achou que você não tinha tempo pra vir pra cá essa semana — disse ele, enquanto entravam —, mas que bom que você veio! Só que ia ser melhor ter avisado antes, porque aí a gente ia poder... — Téo ia contar sobre a surpresa, mas então se deu conta de que ela ainda podia acontecer, era só eles chamarem Clarinha de novo pra lá à noite ou então na noite do dia seguinte. Sendo assim, ao invés de continuar a frase, disse: — Eu vou chamar o meu pai, espera aqui!

Téo foi até o quarto de Davi enquanto Clarinha ficou esperando na sala. O menino achou melhor falar sussurrando pra que ela não ouvisse nada quando comentasse sobre a surpresa. Davi ficou muito confuso, mas muito feliz em saber que ela estava lá, significava que o tinha perdoado.

— Espera... ela parecia com raiva? — Perguntou ao filho.

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— Não, ela tava como sempre.

Davi sorriu e foi falar com ela, que, a essa altura, já estava conversando com os gêmeos, que tentavam explicar a ela por que Davi não tinha falado sobre o advogado ainda sem contar sobre a surpresa e falhavam miseravelmente. Clarinha percebia que tinha alguma coisa estranha no ar, então Davi dispensou os meninos e disse que era melhor falar com ela a sós para explicar tudo.

Aí ele teve que contar todo o plano da surpresa de aniversário de namoro atrasado. Davi parecia se sentir muito culpado pelas coisas não terem dado certo, mas Clarinha amou tanto ouvir aquela explicação! Isso significava que o fato dele não ter contado não tinha nada a ver com falta de confiança, só com o perfeccionismo e a mania dele de querer planejar tudo com antecedência e essas características não a incomodavam nem um pouco! Na verdade, ela preferia muito mais ele assim do que quando era o adolescente impulsivo e imprevisível que a abandonou sem avisar.

E agora, Clarinha tinha mais uma resposta pra uma pergunta que ficava martelando em sua cabeça (que Suzana martelava na cabeça dela, né?): Davi ainda queria, sim, ficar com ela e se casar com ela! Só não queria fazer isso estando preocupado demais com outras coisas, queria que fosse no momento certo e que fosse perfeito, e Clarinha não se importava de esperar. Ela, então, deu um beijo no noivo e agradeceu pela surpresa que teria acontecido. Disse que ele não precisava se preocupar em preparar nada, eles podiam só jantar, mesmo. E ele ficou grato por ter uma noiva tão compreensiva.

***

Foi tudo num piscar de olhos. As crianças não tiveram tempo de enviar suas cartas e também não podiam participar do tribunal, então todo o seu plano foi em vão. Com as denúncias que Henrique fez e a ajuda do advogado que contratou, conseguiu a guarda dos meninos. O advogado de Davi tinha tentado impedir, mas agora não havia mais nada que pudesse fazer. Sentia muito por não poder ajudar.

A casa dos Civil ficou na maior depressão quando os meninos receberam a notícia. Então era isso? Eles não podiam fazer mais nada?! E nunca mais iam ver Davi??? Não teve jeito, os quatro caíram em prantos. Logo, Henrique apareceu já querendo levá-los para sua casa, mas disse que esperaria eles se despedirem do pai adotivo e de suas amigas. Sim, os Cuecas teriam que se despedir não só de Davi e Calrinha, que com certeza não veriam mais, mas também das Chiquititas, pois Henrique disse que além de saírem da gravadora eles passariam a estudar numa escola mais perto de sua casa.

Foi horrível! Eles mal tiveram tempo de processar essas informações todas e já tinham que arrumar suas coisas pra ir embora e se despedir das pessoas que mais amavam. Flora chegou com as meninas um tempo depois e elas não acreditavam no que estava acontecendo.

— Por favor, Joaquim, me diz que você tem um plano! — Implorou Sandy.

Suas irmãs e sua tia eram testemunhas de que ela tinha passado o caminho todo dizendo em voz alta que sabia que aquilo era só uma pegadinha de Joaquim e eles não iam embora coisa nenhuma ou que ele com certeza ele já tinha pensado num plano pra sair dessa. Mas disse essas coisas rindo de nervoso, porque estava mesmo muito nervosa! Diferente de Janete e Eleanora, que sentiam tristeza e raiva. Em proporções diferentes: Janete sentia mais tristeza do que raiva e Eleanora o contrário.

Infelizmente, Joaquim não tinha um plano. Nem Samuca. E Téo estava convencido de que aquele era só mais um de seus pesadelos e não parava de pedir para os outros o beliscarem. Eleanora foi a única que se atreveu, mas ele não acordou, então estava acontecendo mesmo. Mais do que nunca, ele entendia o porquê de todos aqueles pesadelos...

Quando os meninos terminaram de arrumar suas coisas, era o maior chororô. Até tia Flora estava chorando, ninguém escapou, a não ser Henrique. Mas se alguém prestasse atenção, veria que ele parecia se sentir mal pela dor que estava causando. Cada menino se despediu individualmente de cada pessoa na sala e depois os três abraçaram Davi. Em seguida, Clarinha e as Chiquititas se juntaram ao abraço.

E então chegou a hora de partir.

***

Clipe musical: "Um Cantinho de Luz" por Joaquim, Samuca, Téo, Sandy, Janete e Eleanora.

***

Os meninos ficaram um tempo sem dizer nada enquanto estavam no carro de Henrique, só tentavam parar de chorar. O homem também não dirigia a palavra aos meninos. Por fim, Téo quebrou o silêncio:

— Pai... você vai deixar a gente continuar vendo o Davi, né? Ele não é mal como você pensa, sempre fez de tudo pra dar o melhor pra gente e...

— Desculpa, mas eu não posso permitir isso.

— Tudo bem... — Disse Téo, sem conseguir conter as lágrimas.

Por sorte, Joaquim finalmente estava conseguindo pensar num plano. Ele não ia aceitar ficar sem ver seu pai e sua namorada, então ia dar um jeito de fugir disso tudo. Por precaução, tinha pegado a carta que escrevera com os irmãos e colocado em sua mochila. Então iria enviá-la ao juiz e acrescentar um pedido para uma reconsideração daquela decisão super injusta. Ia dar tudo certo! Pensando nisso, Joaquim não tinha mais vontade de chorar. Começou a olhar pela janela do carro, esperançoso pelo amanhã. E então percebeu uma coisa estranha:

— Onde a gente tá? — Perguntou a Henrique.

— Indo pra nossa casa.

— Você se mudou? Esse não é o caminho pra sua casa, eu não tô reconhecendo essa rua.

— Ah... acho que você não se lembra direito do caminho, então...

Samuca e Téo, intrigados, também olharam pela janela e também não reconheceram o caminho. Não tinham um senso de localização tão bom quanto o de Joaquim, mas tinham certeza absoluta de que nunca tinham estado naquela rua!

— É que... — Disse Henrique — eu tô pegando um atalho, o outro caminho é muito engarrafado... Tá bom. Não consegui enganar vocês, né? É, eu me mudei. E a casa é um pouco longe, por isso não dá pra vocês continuarem na mesma escola...

— No que você disse que trabalhava mesmo? — Perguntou Samuca.

— O quê?

— O seu emprego deve pagar muito bem pra você ter conseguido alugar um apartamento, depois contratar um advogado e agora já morar em outro lugar...

— É que... eu tinha dinheiro guardado.

— Depois de ficar preso na Amazônia? — Perguntou Joaquim, desconfiado.

— É... eles... pagaram todos os ex-prisioneiros pelos anos perdidos.

— "Eles" quem? — Perguntou Téo.

— Vocês tão fazendo perguntas demais!

Os 3 meninos começaram a ficar com medo. Será que seu pai biológico estava metido em alguma atividade criminosa e por isso tinha conseguido dinheiro tão fácil??? Ficaram com vontade de sair do carro, mas estavam numa rua quase deserta, era perigoso... e muito suspeito! Estavam com um péssimo pressentimento. Samuca pegou o celular pra ligar pra Davi ou pra polícia, mas Henrique estacionou o carro na frente de um lugar esquisito que parecia um galpão abandonado e os mandou sair do veículo.

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— É melhor você não usar esse celular ou vai sofrer as consequências! — Disse uma voz que os meninos conheciam bem.

Com calafrios, os três olharam na direção de onde vinha o som e o identificaram: era ninguém mais ninguém menos que Ian Falcão.