Estava decidido.

Seríamos soldados da Armada da Raposa até o fim da guerra.

Embora eu não deixasse de rir com o cômico nome dado ao exército de Vahlam.

Além disso, Lonpak, que nada tinha a ver com a confusão entre sobrinho e tio naquelas terras, partiu em busca de outra metrópole. Disse que o que procurava(um grande mercado livre) estava na Segunda Terra, distante dos territórios sextantes. De fato, ele só ficara sabendo da nossa localização após cinco dias de viagem.

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Quanto a mim, Gustaf e o príncipe Dyseus, após um tedioso ritual de iniciação(que envolvia, entre outras coisas, beber um suco azedo feito de algum fruto local e ser marcado com uma tatuagem de raposa), nos tornamos oficialmente membros do exército de Vahlam Markreej, o Segundo, filho legítimo e primogênito de Valitar Markreej, O Astuto.

Desde então, já havia se passado uma semana. Tempo mais do que suficiente para que eu contasse a Vahlam e seus conselheiros tudo que sabia sobre o inimigo cada vez mais próximo, Demite Primrule.

Demite lutara pelo lado de Westka e Ningoroud na Guerra da Tempestade, e desde aquela época já se envolvia com vampirismo e magia negra. Foi um dos sobreviventes do Dia, e desde então se escondera sabe-se lá onde. Aparentemente, nas Oito Terras. Foi um dos meus piores inimigos nas sucessivas batalhas contra a coalizão dos humanos do oeste e dos elfos-dos-campos.

Revelei ao Senhor da Armada da Raposa todas as informações possíveis sobre suas fraquezas e as propriedades de seu vampirismo, inclusive de quem ele ganhou o poder amaldiçoado.

Icifer, o Maldito.

– O próximo passo é fazer as pazes com a fadinha. E destruir o vampiro. – disse com um tom sarcástico Auberon Kax. Embora tudo que ele dissesse soasse da mesma maneira irritante.

Era mais uma das constantes reuniões de Vahlam com seu pequeno e improvisado conselho. Eles pareciam gostar de discutir, pois uma vez a cada dois dias o príncipe Markreej convocava seus subordinados mais confiáveis para tomar algumas decisões.

A pauta do momento, obviamente, era Demite Primrule.

Era meio que minha obrigação estar ali, embora eu já estivesse repetindo minhas palavras. Apesar de saber mais do inimigo que os outros, não queria dizer que eu sabia tudo sobre Primrule.

Wrland, o guarda-costas de Vahlam, apesar de tudo, ainda não confiava em mim, muito menos em Gustaf ou Dyseus. Pensei em questionar os outros se havia algum motivo para toda essa suspeita, mas não gostava de fazer perguntas demais. A questão viria à tona em algum momento, de qualquer forma.

– Errado, Kax – Yvisput pigarreou – O próximo passo é acharmos uma estratégia que nos traga o sucesso com o menor número de baixas possíveis. Temos no mínimo três grandes batalhas por vir, então um acordo com Demite não seria má ideia. – ele olhou ao redor, como que procurando alguém que concordasse.

– Não acho que existam mais chances de acordo algum com Demite. Kalaroth e Ylvar fizeram a cabeça dele. Ele está decidido a nos exterminar. – disse Elrigh de maneira serena.

Ótimo. Mais nomes para decorar.

– Com licença – interrompi – Quem fez a cabeça dele?

Vahlam olhou pra mim.

– Oh, de fato. Havia esquecido que alguns de nós não sabem sobre os Vamlurt. – ele pareceu prever que eu faria outra pergunta – Os Vamlurt, ou, caso prefira a tradução, Olhos da Noite são o clã de vampiros mais poderosos das Oito Terras. Acredito que já tenha comentado que Demite tornou-se o líder deles anos atrás. Kalaroth e Ylvar são seus conselheiros. Eles foram banidos dos domínios Markreej antes mesmo do reinado do meu avô Farian, e até hoje tentam achar meios de se vingar de nós. A guerra entre dois membros da família parece ter sido perfeito para os planos deles, e agora finalmente estão nos confrontando com suas reais forças.

– Então Demite não passa de uma marionete?

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Markreej hesitou.

– Tecnicamente, sim. Porém ele é mais poderoso do que qualquer outro vampiro que se possa encontrar nesse lado do mundo. Embora não seja um puro-sangue, ele é…digamos que um prodígio. Conseguiu o poder que a maioria dos vampiros demoram milênios para apenas entender.

Isso parecia mesmo coisa de Primrule. Ele sempre fora bastante ambicioso.

Mas fazer parte de um clã de vampiros? Nunca esperei algo do gênero vindo dele. Ele sempre fora do tipo solitário. Passava longe de um líder.

Embora eu tivesse certeza que os Vamlurt não fossem tão poderosos quanto os Faendar ou os Nocterin de Gargos, vampiros sempre são ameaça. E se há uma coisa que eu aprendi, ainda mais depois do golpe contra minha família anos antes, foi que ameaças devem ser eliminadas, por menores que pareçam.

– Alteza, esqueçamos por um tempo o momento informativo. Acho que a questão aqui é mais importante. – Yvisput mexeu em seu cabelo, colado na testa devido ao suor. A tenda estava um verdadeiro forno – Elrigh, apesar das influências dos dois malditos vampiros, ainda acho que podemos fazer um acordo, ao menos um temporário. Demite mostru disposição a colaborar, se tivermos a moeda certa.

Pude notar uma certa ênfase em “moeda certa”. Elrigh pareceu também perceber, pois arregalou os olhos e esbravejou.

– Você está louco? Acha que daríamos a Demite o que ele quer? O Grimório não poderá, em hipótese alguma, sair da nossa proteção. Nem mesmo a Ordem dos Paladinos conseguiu resistir a seus poderes!

Uma das poucas vezes em que eu sabia do que eles falavam. O Grimório de Ynix, a maior necromante que Yrdan já viu. Até hoje os habitantes das Terras Gélidas tremem ao ouvir esse nome. É dito que a alma de Lucard, o último vampiro puro-sangue a ser visto, está selada no Grimório.

O livro amaldiçoado já passou pelas mãos de muitos, e nenhum deles sobreviveu para conseguir usar seus poderes de forma plena.

Era possível entender o porquê do desejo de Demite pelo artefato. Mas não o motivo para ele estar com os Markreej, ou para o Grimório estar mais seguro nas mãos deles.

– Tem razão. – Yvisput abaixou a cabeça – Peço desculpa pela minha ideia estúpida. Mas se temos forças limitadas pela guerra, como lutaremos de igual para igual com um exército de vampiros? A não ser, é claro, que tenhamos o próprio Sol em pessoa conosco.

Vahlam parecia pensativo.

– Seu plano pode não ter sido dos melhores, Frislee – ele olhou para o soldado, que imediatamente levantou o olhar em sua direção – Mas me deu uma ideia que acho que pode dar certo.

– Lá vem o gênio das estratégias – resmungou Elrigh. Segundos antes, ele estava concentrado e nervoso. Agora, tornara a ser o piadista de costume.

Vahlam, para variar, ignorou o comentário do primo, e prosseguiu.

– Se fingirmos um acordo, e fizermos uma emboscada, talvez consigamos finalmente derrotá-lo.

Antes que ele pudesse continuar, Auberon interrompeu.

– Acho que todos assimilamos a ideia, mas que garantia temos de que ele virá em pessoa, ou em monstro, selar o acordo?

Aquela era uma boa questão. Mas o príncipe raposa parecia sempre saber como completar as lacunas faltando em sua estratégia.

– Por que eu irei em pessoa entregá-lo. E mesmo entre os vampiros há uma hierarquia. Para se selar um acordo com um líder, é preciso outro líder.

Gælius se surpreendeu um pouco mais do que o resto de nós.

– Alteza, você não deve… Há um exército precisando de um líder aqui! O que faremos caso o pior aconteça e o plano falhe? Cairemos frente ao tirano Elthan?

– A última coisa com que deve se preocupar é com minha morte, Wrland. Você é o capitão de um exército, não o meu mordomo. Admito que o plano pode falhar, mas minha ausência não deve fazê-los desistir. Em último caso, procurem meu irmão.

– Desculpe a descortesia, mas me recuso a concordar com essa ideia. Mande-me se for preciso, mas clamo para que não arrisque a vida de tal maneira.

– Não pode me convencer, Wrland. Eu tomei minha decisão. É o necessário para derrotarmos Primrule e sua horda de vampiros. – Vahlam se levantou de seu “trono” de marfim, em direção à entrada da tenda – O conselho está encerrado. Já tomei minha decisão.

O capitão da guarda ainda esboçou uma queixa, mas Elrigh o puxou pelo ombro, antes que a discussão se acalorasse. Todos começaram a sair, inclusive eu, mas Vahlam me impediu.

– Nerlinir, Kax, vocês ficam.

Auberon obedeceu, embora não parecesse muito feliz em fazê-lo. Vahlam dirigiu-se para mim.

– Chame aquele seu companheiro, o rusko. Ele deve estar com outros soldados junto à tenda médica. – ordenou.

Antes de sair, resolvi tirar uma pequena dúvida.

– Por que Gælius está tão obcecado pela sua sobrevivência?

Ele me olhou com desdém.

– Acho que é o tipo de história clichê que lemos nos contos infantis. O velho braço-direito do rei que serve à família real há gerações. Wrland tinha uma família, um lugar para morar. Mas a guarda particular do meu tio matou ou queimou tudo que ele amava por motivos que até mesmo eu desconheço, e quando ele tentou atacar Elthan, não conseguiu achar provas contra ninguém a não ser ele mesmo. Mas ele sempre foi um bom soldado, servindo quando jovem ao meu avô e crescendo ao lado do meu pai. Após isso passou a viver no castelo como um dos conselheiros do rei, longe das mãos do meu tio. Cresci com ele me observando. Foi como um segundo pai para mim. Entendo as boas intenções dele em tentar me proteger, mas se almejo governar um reino, não posso viver debaixo da sombra de ninguém.

Dei um sorriso melancólico. História triste, mas pelo menos Vahlam sabia resumir uma história de vida, diferentemente de Heldad. Engoli em seco, pois agora sabia do passado de mais uma pessoa ali. Talvez isso me ajudasse a conquistar um pouco da confiança de Wrland.

– Agora vá buscar o rusko, como eu disse antes.

Fiz o que foi ordenado e saí, à procura de Gustaf.

E teria sido melhor não encontrá-lo.

Segui o conselho de Vahlam e logo o encontrei perto da tenda médica, junto a uma dúzia de soldados bêbados ou imbecis por natureza.

– Gustaf, Vahlam o chamou. – toquei no ombro dele, que estava de costas para mim.

– Me larga, Nerlinir – soluçou – Você não manda em mim. Muito menos aquele reizin... – antes que terminasse a frase, despencou no chão enlameado. Em seguida, se levantou, sujo, e voltou a rir com os outros como se nada tivesse acontecido.

Surpreendente. E ultrajante.

Minhas tentativas seguintes de conseguir contato com o espadachim rusko não surtiram efeito algum. Ele sequer parecia se lembrar de mim. Me aproximei, então, de um dos soldados que gargalhava incessantemente. Um dos poucos que não parecia embriagado.

– O que, por mil luas cheias, vocês estão bebendo?

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– Hidromel gargosi – respondeu ele. Não conseguia entender como apenas hidromel teria feito aquele estrago nos miolos de Gustaf, que quase nunca ficava bêbado – Exceto aquele ali – ele apontou justamente para Gustaf – Ele tomou gim de ervas roxas. Com um pouco de rum que pegamos de piratas. Quer um pouco?

Recusei com um olhar de desprezo.

– Por acaso estão loucos?! Acredite, é apenas a segunda vez que o vejo embriagado na minha vida. E nunca a tal ponto. Já o vi beber três barris de cerveja e sequer dar um sorrisinho. O que passou na cabeça de vocês?

– Acalme-se. – ele não estava me levando a sério – Pra falar a verdade, foi ele que pediu. Nós o avisamos de que era um anestésico.

–Anestésico?!

– Exatamente. Você tem bons ouvidos.

– Por favor, me diga que há uma maneira de cortar os efeitos disso.

– Não entendo o porquê de tanta preocupação. Ele só vai ter algumas alucinações, e logo o efeito terá passado. Embora ele tenha tomado o suficiente para deixar alguém completamente retardado. Já tome a gim, é como flutuar. Sério, você devia experimentar.

Eu estava prestes a protestar, mas uma figura feminina no meio de todos aqueles homens chamou minha atenção.

Era a mulher que eu vira conversando com Vahlam antes de Mljet e Hvar partirem.

Eu não lembrava o nome dela.

– Com licença, sinto em me intrometer nessa discussão, mas acredito que eu tenho uma maneira de ajudar o seu...colega. – ela viera da tenda médica, e carregava uma bandagem numa das mãos. Tinha um corpo belo, não escultural, mas bem definido. Era claro que ela vivera muitas batalhas pelas cicatrizes nos braços nus e definidos para uma mulher. Sua pele era castanho-claro. Seu cabelo castanho-escuro(em contraste com a pele)estava amarrado num rabo de cavalo com flores vermelhas entrelaçadas. – Talvez já saiba meu nome, mas por via das dúvidas, me chamo Jeann Vilyet. – ela estendeu a mão, e eu devolvi a cortesia – Herbalista e médica-chefe da comitiva de Sua Alteza Vahlam.

– Bom saber. Prazer em conhecê-la. Acho que também me conhece. Sou Nerlinir. Como pode nos ajudar, ou melhor, ajudar a Gustaf?

– Simples. Tudo que precisa fazer é convencê-lo a tomar isto – ela abriu uma das incontáveis caixas de poções e remédios, essa em especial com a inscrição “ANESTÉSICOS E SOROS”, e pegou uma garrafa achatada cheia de um líquido de cor carmesim – Hidromel de sangue. – notou os olhares estranhos, inclusive o meu – Não se preocupe. Não é sangue mesmo, é só por causa da cor. Eu acho. De qualquer forma, não fui eu quem deu o nome. Estúpidos ancestrais.

– Sem problemas.

Para ser franco, me custou cerca de meia hora até que eu conseguisse convencer Gustaf a ingerir a bebida vermelha(na verdade, eu tive que o arrastar e o estapear até ele começar a sentir alguma dor). Quando me dei conta do tempo que havia perdido, corri com um ainda sonolento Gustaf logo atrás até a Grande Tenda. Vahlam devia estar furioso.

Agradeci a Jeann pela ajuda, e disparei. Passei novamente por metade da extensão do acampamento, entre escravos, servos livres e soldados beberrões, até chegar ao destino.

– Desculpe a demora.

Estranhamente, eu não via Auberon em lugar nenhum.

– Antes que pergunte, já falei o que eu queria com Kax. A propósito, meu plano para você é o mesmo. Por que a demora?

– Tive alguns…contratempos. Acho que devia criar algumas regras sobre o álcool por aqui. De qualquer forma, não parece bravo. Quanto tempo esperou?

– Quarenta minutos. Não contando, é claro, com o tempo que passei conversando com Auberon, além de Elrigh, que passou rapidamente. Paciência é uma virtude.

O príncipe era estranhamente calmo, mesmo naqueles tempos de tensão no ar.

– Então, tudo bem…Sobre o que desejava falar? – eu me sentia desconfortável, mesmo com Vahlam afirmando que estava tudo bem. Talvez fosse por Gustaf ainda estar um pouco afetado pelo álcool, falando coisas sem-sentido ao meu lado. Todo sujo de lama.

– Sobre Demite.

– Acredito que eu já tenha dito absolutamente tudo que sei sobre ele...

– Sei bem disso. Mas não quero mais informações do inimigo. Quero lhe fazer um convite. – obviamente, eu seria obrigado a aceitar – Auberon foi atacado por servos de Primrule, então tem algum conhecimento sobre eles. Pedi, então para que ele me acompanhasse no encontro com os vampiros. Considerando que você, junto com seu amigo rusko, – ele olhou com um pouco de nojo para Gustaf, ao meu lado – é o único que teve real contato com Demite, e conhece as fontes do seu poder, lhes faço o mesmo convite. Acredito que já imagine isso, mas não, você não tem escolha.

– Não há problema. Nessas viagens, já vi muitos dos meus antigos companheiros de batalhas que o tempo esqueceu. Um a mais, um a menos, não fará diferença. Agora, sobre ele – apontei para Gustaf, que ria de alguma coisa misteriosa, olhando fixamente para o nada – Não faço ideia. Gustaf, você aceita?

– Com certeza, milorde. Sua Alteza deseja um chá? – falou, risonho. – Talvez um pouco de vinho das montanhas? Não é todo dia que o Príncipe Fantasma aparece nas redondezas. – e voltou a gargalhar, embora agora em tom menos elevado.

– Err...

– Com certeza, eu adoraria um chá. Estou precisando me tranquilizar nos últimos dias. – Vahlam respondeu, como que entendendo perfeitamente o que meu companheiro acabara de dizer.

Gustaf meneou com a cabeça e saiu da tenda, gritando por “vinho de banana”. Em seguida, Vahlam se aproximou novamente. Tinha aquele pote com o olho de lobo em conserva na mão, segurando-o cuidadosamente, como se realmente acreditasse que aquilo trouxesse a ordem ao seu exército.

– Posso perguntar por que está segurando isso?

– Não. E “isso” não é apenas parte de uma lenda. Este artefato realmente possui poderes. Você acredita em mim, Ishtar? – ele subitamente deixara de se comunicar de maneira informal.

Minha expressão não mentia, e eu sentia que contar inverdades para aquele homem poderia ter resultados catastróficos. Sendo assim, falei o que pensava.

– Não.

– É de se imaginar. – ele sorriu, sem parecer ofendido. – Venha comigo e lhe mostrarei o que este olho pode fazer. Ou quase isso.

Achei que a conversa acabaria ali, mas tive que aceitar. De qualquer forma, estava curioso para saber o que o maldito olho tinha de tão especial.

– Por que confia tanto em mim? Por que me inseriu em assuntos tão importantes de um dia para o outro? Duas semanas atrás eu era apenas um viajante, estava pouco acima do que poderiam chamar de prisioneiro de guerra; Por que de repente sou tão importante para este exército? – era a hora de fazer todas as perguntas que me afligiam desde que me tornara um soldado Markreej.

– Você terá a resposta se vier comigo. Então...?

Olhei para fora, tentando desviar o olhar daquelas orbes. Ouro e Ébano. Os olhos de Vahlam eram profundos e pareciam querer atrair quem quer que tentasse entendê-lo cada vez mais para perto, até engolir sua alma. O que havia de diferente naqueles olhos bicolores? E o que o deus Faeris tinha a ver com aquilo?

Mais importante, qual era o mistério do maldito olho de lobo, a primeira coisa que ele nos apresentou quando o conheci?

Chovia lá fora. Novamente. Não tanto quanto antes, mas o suficiente para que todos se sentissem incomodados com a água e entrassem nas tendas, ou se escondessem debaixo de árvores. Era possível ver o oceano, uma pequena porção dele. Eu atravessara tudo aquilo para chegar até as Oito Terras. Quando pensei que estava próximo do meu destino, me vi forçado a entrar no meio de uma guerra. Mais de uma, na verdade. Três inimigos. Quanto tempo eu teria que perder servindo a Vahlam?

Eu não sabia, mas por algum motivo seu espírito de liderança me levava a fazer o que ele ordenava. Eu questionava, mas acabava obedecendo. Parecia que ele sabia tudo sobre mim. E o que eu sabia sobre ele? Praticamente nada. Só que ele estava em guerra contra seu tio, usurpador do trono do irmão.

Estava na hora de entender ao menos uma parte do grande caldeirão de conceitos que formavam Vahlam Markreej.

– O que estamos esperando? – como em muitos momentos da viagem, dei um passo à frente, indicando iniciativa. – Mostre-me o que pode fazer com essa...coisa.